Um longo período se passa, o sol está completamente visível no céu azul, ao lado de uma das luas vermelhas que descem no horizonte das cordilheiras Behemoth. Evangeline, ainda escondida entre as rodas da carruagem, assente em confirmação, ao perceber que a agitação dos soldados pararam.
”Não vejo mais aquela movimentação de soldados como anteriormente. Aparentemente posso concluir que eles conseguiram resolver aquilo. Escutei alguns deles gritando um nome meio estranho… Therraniin… ou algo assim… O que será que é isso? É algum criminoso famoso da cidade e eu não estou sabendo?”
Evangeline guia a mão para o queixo e olha para o céu para tentar imaginar como seria a aparência do tal criminoso “Therrariin”.
No começo, ela o veste com roupas completamente pretas com um sobretudo, uma cartola circular, coloca óculos escuros e… um rosto de um lagarto?
”Estranho, por que será que eu… tô imaginando um jacaré agiota? Ah, esquece! Isto não é importante, preciso dar um jeito de sair daqui sem chamar muita a atenção.”
Levantando furtivamente a cabeça para fora do excesso de rodas, a jovem nota que uma das carruagens a sua frente começa a sair. Ao colocar a mão direita em umas das suas algibeiras, percebe nela que há alguns trocados, deixado pela criada para ajudá-la a pagar a passagem de volta.
”Amice… ela deve ter deixado este dinheiro para a viagem de volta, mas eu não posso fazer isso…”
Pelo curto espaço de tempo que Evangeline imagina-se retornando para o vilarejo da carruagem, percebe algo que pode prejudicar muito esta ideia, — ela ainda é uma criminosa. Se por alguma razão um dos cocheiros vê-la e alertar os soldados da cidade, certamente não só Evangeline, como também todos do vilarejo pagarão muito caro.
”Eu não posso me dar ao luxo de ir de carruagem para o vilarejo. Se um dos cocheiros viu o cartaz de procurado, certamente ele irá me reconhecer… de um jeito ou outro, mesmo não entendendo como aquele soldado conseguiu… Enfim… Se eu for de carruagem e ele me reconhecer, é bem provável que os soldados acabem invadindo o vilarejo. E, não quero que a vida pacata deles sejam interrompidas por minha culpa… dei muito problema para o senhor Ivan, aproveitar da bondade do povo do vilarejo não é algo certo a fazer, já que foram eles que me aceitaram do jeito que sou.”
Logo após, uma próxima carruagem começa a mover-se também, revelando pouco a pouco uma pessoa escondida entre os carros, — a, Evangeline.
”Droga! Não da pra ficar aqui muito tempo. É melhor sair quanto antes.”
Esgueirando-se para fora, — engatinhando, a jovem passa por baixo de todos os carros, até chegar no final de um deles.
Enquanto levanta vagarosamente de baixo da locomotiva, a meio-elfa olha para os lados. De esquerda a direita, de frente e na retaguarda, ela constada para ver se alguém está vindo lhe pegar de algum modo, — concluindo não haver ninguém suspeito ou soldado por perto.
Aproveitando-se da situação, Evangeline corre para o sul, indo em direção a uma pequena colina coberta por pedras e flores, — além da vegetação alta.
Correndo sem recorrer a sua habilidade, a jovem passa por diversos matos, tropicando em alguns, até que, de repente, uma das pedras pontudas enrosca em um dos babados do seu vestido, criando um buraco no decido e prendendo-o, — algo que faz o movimento da jovem frear abruptamente e fazê-la desequilibrar e cair com tudo em uma poça de lama.
O rosto dela cai em cheio na poça de barro.
Um tremendo ódio floresce na meio-elfa. Pequenas bolhas de ar começam a borbulhar da poça, que no momento após secam-se com as chamas que imbuem os cabelos dela.
Levantando vagarosamente com uma expressão enraivecida, a jovem amaldiçoa as roupas que veste.
— Maldito vestido!
A expressão dela persiste no rosto, durante o levantar.
Já de pé, observa completamente a situação de suas roupas. Estão completamente sujas de grama, pequenas pedras e lama, — além de molhadas.
Um ódio inato a preenche.
Por um pequeno espaço de tempo, imagina-se retirando as roupas, as arremessando no chão e as incinerando em seguida, mas ela não pode fazer isto, pois ficaria nua, — e, ela não quer ficar exposta desta maneira no meio do nada, a fazendo repensar novamente o que pode ser feito.
— Ótimo… Maravilha… Agora a situação ficou completamente melhor que antes… Por causa deste maravilhoso vestido, o mais comum de toda cidade, usado por todas, eu digo, todas as mulheres de Nakkie, ficou inteiramente melhor que antes…
Um bufar de ódio é desferido por ela após o comentário sarcástico, continuando com um olhar coberto de raiva, enquanto continua com a declaração.
— Maldita roupa comprida! Eu odeio com todo o meu ser roupas compridas… Raios! Por que eu tinha que ter um corpo de mulher? Por que não um homem ou um andrógeno? Nãããoo~, tinha que ser uma mulher, para eu ter que usar estas roupas…
Ela para, guia todo ar para os pulmões e os libera, — tentando acalmar os ânimos e pensar corretamente.
— Certo… certo… vamos pensar com calma… Certamente ninguém do vilarejo vai se importar em me ver assim, mas as outras pessoas vão. Eu não ligo para o que eles pensam sobre mim, mas o problema não é só as roupas, também é minha bendita raça. O que eu posso fazer? Pensa… pensa…
Colocando as duas mãos na cabeça, Evangeline anda para direita e esquerda tentando bolar algum jeito de retirar a imundice de suas roupas.
Ao olhar para a direita, ela finalmente percebe um enorme mar azul, que brilha completamente com os raios solares, — refletindo a sua luz calorosa entre as ondas.
Ela também observa que alguns navios pesqueiros estão pescando inúmeros peixes com uma espécie de rede especial.
Enquanto admira a cena um tanto impressionante para a situação dela, esquece por um instante da condição de suas roupas, — algo que a faz relembrar fortemente, ao perceber que uma carruagem que vem da direção sul, aproximá-se.
”Pensando que não podia melhorar, me aparecem pessoas para me verem neste estado. Com certeza eu sou muito azarado neste corpo. Não me lembro da última vez que fui tão judiado pela vida assim. Jurava que em isekais os protagonistas tinham vidas maravilhosas, mas pelo que vi até agora, de protagonista eu não tenho nada…”
Preenchida de raiva e vergonha, Evangeline vira o rosto para o mar, — enquanto guia a palma da mão direta ao semblante para tampá-lo parcialmente, até que as pessoas passem por ela.
No mesmo instante que as pessoas da locomotiva observam a situação precária da jovem, — além das suas roupas completamente sujas, algo faz o carro parar. Uma das pessoas é do vilarejo e reconhece a meio-elfa.
— Tia Evangeline!
A jovem para de observar o mar e olha abruptamente para pessoa que chama pelo seu nome. Em seguida, um rosto de uma criança aparece na janela da carruagem.
Um garoto de aparecia perto dos 8 anos, pele bronzeada por conta de exposição solar, vestindo roupas simples de um camponês.
”Espera, aquele ali é… o garoto que limpou meleca no meu vestido?”
— Tia Evangeline! A tia está voltando pra casa?
— Jhonas, querido, por favor, não coloque a cabeça para fora da janela, é perigoso.
Uma senhora de idade elevada e cabelos grisalhos chama a atenção do garoto, Logo após, ela se dirigi para Evangeline também.
— Então, você é a famosa Evangeline, a que todos comentam no vilarejo, hein?
Uma expressão de surpresa e confusão invade o semblante da meio elfa. Saber que todos falam dela, no vilarejo, é algo que ela não esperava ouvir.
— Que to-todos… co-comentam?
— Sim… você não sabia? Ah, deixe para lá. É grosseria da minha parte não me apresentar a uma das tutoras de meu neto. Muito prazer, eu sou Martha Elecreyer Terceira, da casa dos Elecreyer. Certamente a senhorita não me conhece, mas eu sou a avó por parte de pai de Jhonas.
— Não… eu não sabia não… Eu pensei que ele estava órfão, mas parece…
— Sim, sim, ele estava. Quando soube da existen… Anhrm! Quero dizer… Quando soube que meu amado neto estava no vilarejo, eu vim buscá-lo o mais rápido possível. No entanto, por algum motivo ele gosta de viver lá naquele lugar precário e afastado… sem ofensas, é claro…
Um sorriso sarcástico é desferido para a senhora dentro da carruagem, seguido de um retrucamento não tanto amistoso, por parte de Evangeline.
— Não… não… não me ofendeu em nada. Estou surpresa de que Jhonas seja de uma família que o abandou e só fora lembrar dele agora…
— Como é!?
— Tia!
O clamor do garoto barra uma possível desavença.
— Tia Evangeline, a tia vai dar mais aulas quando voltar no vilarejo?
Colocando o dedo indicador no queixo, a jovem lembra das diversas coisas que aprendeu com Ivan e Áurea. Após alguns breves segundos, ela assente com a cabeça animadamente para o garoto, — o fazendo liberar um sorriso enorme no rosto.
— Pode deixar, Jhonas, quando você voltar para escolinha, ensinarei todos de lá novas coisas que aprendi.
— Ebaaaa!
— É… com licença!
Uma voz masculina com um tom roco interrompe a conversa.
— Olha… não quero interromper a conversa de vocês, mas meus cavalos ainda estão com peso nas costas. Se vão ficar conversando, digam, assim poderei desprendê-los da carruagem.
— Não, não. Podem seguir o seu caminho. Não quero interromper a viagem de vocês, pois de qualquer forma, eu já estava indo para o vilarejo.
— Você vai a pé!? São praticamente dez horas de carruagem! Isso fica em torno de dois dias a pé!
A senhora Martha indaga em dúvida. Para ela, andar um longo percurso a pé é algo extremamente incabível. Tendo em vista que, o jeito mais fácil seria de carruagem ou a cavalo e, mesmo optando por tal locomotiva, ainda demora um extenso período do vilarejo aos arredores de Nakkie.
— Sim, irei a pé. Exercitar as pernas, sabe? A senhora deveria tentar um dia desses…
Uma pequena veia se expõe na têmpora esquerda da senhora seguido de um sorriso descontente. De repente, a locomotiva começa a andar e, para não sair como perdedora, Martha libera a sua cartada final.
— Gostei do vestido, senhorita Evangeline. Combinou muito bem com você… kufufufu!
A expressão da meio-elfa fecha-se no momento após. O seu punho levanta vagarosamente enquanto treme, que por final é guiado de um retrucamento enraivecido.
— Sua…
Porém é interrompida de continuar ao observar que o garoto acena para ela como despedida, que a faz o seu punho cerrado se transformar em um aceno de volta.
Amparo.
A jovem observa a felicidade no rosto do garoto. Mesmo não dando muito bem de início com a avó dele, Evangeline sente-se satisfeita ao saber que ele não estará mais sozinho como antes.
”Realmente. Este mundo pode ter sido duro comigo até agora, mas ainda tem muito para mostrar. A felicidade daquele garoto é uma prova disto, além desta bela paisagem que mostra o extenso mar, o calor do sol e este… ar puro na atmosfera. Eu consigo lembrar claramente como é difícil de respirar na cidade. Muito daqueles carros movido a bateria espalham mais poluição do que os de gasolina. Mesmo não liberando nada, a fabricação deles arruinou um pouco o ecossistema da Terra…”
Olhando para a localização da cidade, avista mais a frente uma cordilheira enorme de montanhas avermelhadas, que fica ao norte.
Durante o momento que vislumbra as majestosa cordilheira pontiaguda, uma forte brisa refrescante, que vem diretamente da costa do mar, passa por ela, — levantando fortemente os seus lindos e longos cabelos ruivos ao ar, — que a faz arrumá-lo em resposta, pondo uma das mechas para atrás de uma das suas orelhas pontudas.
”Meus pais ficariam felizes de ver isso, sentir isso, viver isso… Se eles estivessem aqui…”
Chacoalhando a cabeça para retornar para o objetivo atual, observa que a carruagem está bem longe.
— A felicidade de ter uma família é algo admirável. Viver sozinho deve ser muito ruim, mesmo que Jhonas não estivesse solitário no vilarejo, o sentimento de algo faltando na vida dele ficou evidente agora.
— Meu objetivo ainda não mudou, minha missão atual é clara como a água deste mar. Preciso trazer Karenn de volta, ela precisa ver a felicidade que seus alunos conseguiram enquanto ela estava dormindo, além de que, só ela poderá me dizer que foi o babaca que fez isto com ela… Eu juro… que ele sofrerá dez vezes o que ela sofreu naquele beco… isto é uma promessa!
— Mas agora…
Agora, com a mente mais espairecida, — livre de raiva, Evangeline finalmente pensa calmamente em um modo de tirar o barro de sua roupa.
Observando uma vez mais a situação do vestido, cria uma pequena bola de água na palma da mão direita e um pouco mais embaixo pequenas chamas, — que aquecem completamente a água em cima.
Uma pequena surpresa preenche o entendimento da jovem.
Anteriormente, ela apenas conseguiria fundir e usar duas magias ao mesmo tempo em mãos separadas, mas agora, — após o seu treino com Ivan e Áurea, — no uso adequado de controle de mana natural e espiritual, ela consegue realizar esta etapa da mesma forma que imagina em sua mente.
— Incrível! Agora eu consigo usar duas magias em uma única mão. Parece que meu controle mágico foi realmente aumentado. Fiquei tão presa na ideia de fugir da cidade que nem tive tempo de testar o que aprendi… Enfim, vamos parar de papo furado.
Movendo a bola de água calorosa para próximo do corpo, despeja a água morna por toda a mancha de terra, grama e lama. De uma a uma, a sujeira e desfeita e, como resposta a este processo, as roupas ficam completamente encharcadas.
— Certo, agora que as roupas estão limpas, eu deveria secá-las com o feitiço de vento constante, mas não é uma boa ideia ficar usando magia aqui. Querendo ou não, ainda estou muito próximo da cidade, e isto pode ser um problema se sentirem minha mana aqui. Além daquela sensação estranha de alguém me seguindo. Ela se dissipou nas ruas, mas não é bom eu ficar esperando ela voltar… Então, é melhor eu ir andando… porém, ainda existe algo que está me incomodando…
Cortando a declaração com uma lâmina de insatisfação, Evangeline olha para os babados exagerados que a sua roupa comporta.
— Muito bem, estou molhada e isto aqui não vai prestar durante minha corrida. Posso ta sendo chata em relação a isto e desrespeitosa com o presente da Amice, mas quem se importa? Estou sozinha aqui mesmo. Se eu cortar a parte inferior, pode me ajudar a me locomover normalmente como antes.
Levantando o dedo indicador, concentra uma pequena parcela de mana natural nele. No decorrer dos segundos, uma pequena massa condensada de ar é formada. De um momento ao outro, a pequena massa modula-se em uma lâmina, — usada em seguida para cortar a parte inferior do vestido.
Com um pouco de dificuldade, — por parte de ainda não conseguir dominar construtos feitos de mana, Evangeline corta de um a um os babados. Por fim, transformando o longo vestido de antes em um de porte menor, — mostrando despreocupadamente as pernas.
— Beleza, agora está bem melhor. E é melhor eu me apressar, não é bom ficar vadiando muito tempo nesse lugar.
Agachando vagarosamente no chão, põe as mãos no solo, ao criar uma pose similar a de um corredor olímpico profissional. Guiando uma poderosa quantidade de mana para as pernas, faz a energia circulá-las por completa, — ativando por fim a habilidade 《Mana Flash》.
Na fração de segundos que ativara a habilidade, a jovem corre em direção ao sul.
Como resposta a imensa massa de ar provocada pelo impulso de velocidade no local, a parte do solo desprende-se do chão, sendo arremessando fortemente para trás. As gramas que comportam o local são instantaneamente quebradas com a massa de ar impostas sobre ela e, as pedras, são altamente esmagadas ao serem pressionadas com os pés da jovem.
Já bem longe do local de partida, Evangeline guia-se rapidamente até o seu destino, em contrapartida, alguém revela-se um pouco mais atrás de onde ela estava.
Caminhando na mesma direção a que a meio-elfa segue, — com uma expressão completamente enraivecida no rosto, uma bela moça de cabelos curtos prateados e pele bronzeada, — expõe sua angústia.
— Tsk! Aquele tenente desgraçado pagará por aquilo! Ele pensa que pode me obrigar a fazer suas missões quando bem entender!?
Estalando a língua com bastante irá do homem, Karlaya olha fixamente para o destino da meio-elfa.
— Estas missões de coleta são um saco, pelo menos consegui ver algo interessante naquela cidade… Aléééém é claaaaaroooo da Evaaaziiiinhaaaa~, que majin impressionante… Beeem~, é melhor eu entregar o relatório para aquele quatro-olhos, antes que aquele tenente tarado venha me encher o saco de novo…
Movendo a mão, — equipada com sua manopla com garras douradas ao alto, cria uma pequena esfera roxa nela, — a arremessando ao ar e, resultando em uma pequena explosão energética.
— Isto deve ser o suficiente para chamar a atenção daquele esquisitinho para trazer minha montaria.