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Capítulo 56.3 ❃ Interlúdio.

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Avistando o homem de longe, Evangeline guia-se com os animais até próximo de onde ele está, — ajoelhado sob o chão, movendo parte de sua mana para fertilizar o plantio.

Enquanto guia parte de sua mana para o solo, com o intuito de fortalecer ainda mais a composição do local, Balmor, escuta relinchares de cavalos que aproximam-se pouco a pouco. 

Ao parar por um momento com o que faz, ele vira em direção ao barulho dos animais, — pensando que se trata de mais um cocheiro que quer comprar um pouco de ração, contudo, ao constatar o que é, surpreende-se com a pessoa que traz os cavalos.

— E-Evangeline?

Ao notar que o homem já a viu se aproximar, a meio-elfa acena, até aproximar-se em fim do local que ele encontra-se.

Já bem próximos, Evangeline cumprimenta o senhor de idade elevada com um sorriso carismático no rosto.

— Olá, senhor Balmor, como tem passado? Está trabalhando muito no campo, como de costume?

Por um certo período, o homem fica encarando a jovem com uma expressão curiosa. Durante todo o tempo inicial que a meio-elfa ficara fora do vilarejo, ele não tinha noção do que ela estava fazendo. Mesmo não sendo parte de sua família, Karenn e Evangeline, foram crianças que ele cuidou durante muito tempo. E, ao receber a notícia do que aconteceu com Karenn e Evangeline na cidade, Balmor ficara completamente abalado.

Enquanto observa a jovem, ele alegra-se ao vê-la bem e com saúde. 

Evangeline por um momento estranha a falta de palavras do homem para com a sua pergunta, no entanto, ela entende como o homem deve se sentir. Em sua concepção, o fazendeiro possuía muito esmero consigo e sua irmã e, graças as memórias que recebera deste corpo, Shirogane presenciou toda a disposição que o homem ofereceu a Evangeline e Karenn durante anos.

Com o intuito de remover-se desta situação, Evangeline dá um forte passo a frente, — abraçando o homem em seguida, algo que o faz derramar pequenas lágrimas de emoção, — retrucando em fim.

— Bem-vinda de volta, minha criança.

— Obrigada.


Após um pequeno período de reencontro entre ambos, Balmor estranha o fato de Evangeline agora possuir cavalos consigo, — a questionando o motivo.

— Evangeline, me responde uma coisa, filha. Por que agora você tem dois cavalos consigo? Conseguiu comprá-los de alguém, ou está ajudando um cocheiro para alimentá-los? Se sim, ali no estábulo tem alguns grãos e…

— Não, não…

Interrompendo a dedução do homem, a jovem o responde como conseguiu os cavalos, — omitindo quase completamente como os adquiriu.

— Não, senhor Balmor, eu não os comprei. Na verdade, eu os ganhei numa… aposta… em uma aposta de força…

— Uma aposta de força?

O homem estranha o modo como ela adquiriu os animais, algo que faz Evangeline reforçar, para não ficar mais estranhado do que está.

— Sim, sim… uma aposta de força! É tipo um…

Parando por um momento para ponderar, ela tenta encontrar algum modo que possa usar de exemplo, para explicar a aposta de força, — que acabara de inventar para não contar a verdade.

— É tipo uma aposta de queda-de-braço. E, o ganhador leva tudo.

— Queda-de-braço, é? E o que acontece com o perdedor?

Com uma expressão confusa no rosto, referente ao jogo queda-de-braço, o homem questiona a jovem para se informar melhor de como realmente funciona.

— Bem, o perdedor…

Virando o rosto para o lado, — com um sorriso preocupado e uma gosta de suor ao lado do rosto, Evangeline recorda da expressão feita pelo cocheiro, que no momento depois fugiu murmurando algo para si.

— Bem, o perdedor… grita e foge…

— Grita e foge, hein…?

Cruzando os braços, o homem olha para o céu, tentando imaginar esta possível cena, em que o perdedor corre gritando pelo local em que perdeu o jogo.

Com uma expressão um tanto curiosa e meio assustada, Balmor retruca receosamente, para caso existe uma possibilidade dele participar também.

— Hmm… Espero que eu nunca jogue este jogo, “aposta de força”. Eu não quero gritar e fugir caso eu perca…

Demostrando um leve sorriso no rosto, referente a resposta do homem, Evangeline solta uma pequena risada do que ele diz, — fazendo-o sorrir em conjunto.

— Não se preocupe, senhor Balmor. Você não precisa participar do jogo se não quiser.

— Ufaa… que bom…

Com uma expressão de completo alívio, o homem expira todo o ar de frustração dos seus pulmões. Porém, voltando a teclar novamente em relação aos cavalos.

— Então, Evangeline. O que fará com os cavalos? Trabalhará como cocheira agora?

Movendo o dedo indicador para o queixo, — além de inclinar a cabeça, a jovem pondera em uma possível simulação de como trabalharia de cocheira. No entanto, ao lembrar de como as pessoas não gostam dela só por ser de uma raça diferente, — chocalha a cabeça, removendo a possível ideia da mente.

— Não, não. Estes cavalos agora pertencem ao senhor. Quero dar a você estes animais para ajudá-lo a arar mais rapidamente o campo.

O homem fica boquiaberto com a proposta da jovem. Ele não esperara que os animais fossem para ele, ainda mais para ajudá-lo a cuidar do campo, — uma rotina que demanda muito tempo na semana e, que atrasa em muito no plantio.

— Eu sei que o senhor demora muito tempo para arar o campo. E, também, vejo que possui alguns ajudantes que fazem seu trabalho um pouco mais rápido, mas com estes cavalos, arar o campo será mais vantajoso para o senhor e para todos do vilarejo.

— Evan-geline… isto é…

— Eu sei, eu sei. Não é certo medir o trabalho do senhor, pois eu nem mesmo sei como é feito. Entendo ser grosseria de minha parte me intrometer na ação da plantação. Porém, eu quero ajudar o senhor. Compreendo que 30% dos ganhos da plantação é envida para a capital, tudo para conseguir uma renda e comprar mais coisas para este local. E, mesmo não sendo o chefe do vilarejo, o senhor ajuda muito, por isso, eu quero ajudar…

A jovem interrompe as falas ao observar lágrimas no semblante de Balmor. Sem entender o que passa na cabeça do homem, Evangeline tenta se desculpar, pois pensa que disse algo que ofendeu muito o homem.

— Ah, não… senhor Balmor… Sinto muito por ofender o senhor. Por favor, me perdoe…

Abaixando a postura em arrependimento, a jovem desculpa-se por algo que fez o homem se entristecer. Todavia, tem seu rosto levantado por ele, que a responde, — para não entender errado o que ele está sentindo.

— Não, minha criança, não houve ofensa em suas palavras. Tudo que disse está correto. As minhas emoções atuais é referente a este lindo presente que está me oferecendo. Eu sou um velho bobo e emotivo, não deveria ficar chorando assim, mas eu não consegui me conter com tanta generosidade, ainda mais vindo de você.

— …

A jovem fica sem palavras para responder a este momento.

— Não me entenda mal, não é porque eu não esperava isso de você, que eu não a considerava, pelo contrário. Durante toda a sua infância, eu sempre tive um receio em cuidar de uma majin. Meus irmãos foram mortos por sua raça, porém, eu mudei de ideia. Culpar uma criança por algo que ela não fez é muito errado, ainda mais quando ela considera uma humana como sua irmã. E, receber isso de você, a criança que eu quase não contribuí na vida, é a confirmação de eu estava realmente errado naquela época. Desculpe-me por entender de outra forma.

Retirando seu chapéu de palha e, o movendo para o peito, o homem desculpa-se por fazê-la entender mal.

Porém, no meio deste processo, Evangeline estranha completamente tudo que está acontecendo ao seu redor. 

A todo o momento que ela ajuda alguém, as pessoas sempre se desculpam e agradecem, contudo, para ela isto não é um problema, mas sim a forte comoção que isso traz junto, — algo que Shirogane não entende.

”Mas o que tem de errado nesse mundo? As pessoas são completamente sinceras demais com seus sentimentos. Não sei se sou eu que estou errado em estranhar isso, ou as pessoas por serem muito abertas comigo… Enfim, mesmo sendo estranho, eu entendo, não é como se eu não sentisse uma emoção extremamente forte a todo momento por causa da minha segunda alma…”

Colocando a mão no ombro do homem, Evangeline assente com as palavras dele, respondendo logo após.

— Está tudo bem, senhor Balmor. Não há motivos para se desculpar por algo que pensou há muito tempo, isto não é totalmente errado. Como o senhor mesmo disse, o senhor mudou de ideia e, isso é o que importa. Ajudou a mim e minha irmã e por causa disso estamos aqui agora conversando.

— Evangeline…

— Não, por favor, senhor Balmor, não precisa disso tudo. Este é meu presente para o senhor, não há motivos para se sentir assim. Se quer um palpite, aceite e use os cavalos do mesmo modo como eu disse. Tenho certeza que acelerará em muito o seu trabalho, isto eu posso afirmar.

Esboçando um sorriso no rosto, Balmor recoloca seu chapéu de palha na cabeça, assentindo com o pedido da meio-elfa.

— Tudo bem, farei como pediu, Evangeline.

— É isso aí, senhor Balmor… espero que…

— Evangeline, você retornou!

A jovem para seu diálogo com Balmor, ao ser interrompida por uma voz masculina que a chama de bem longe.

— Trevor?


Um pouco antes do reencontro de Evangeline e seus companheiros do vilarejo, nas redondezas de Nakkie, uma jovem moça, de cabelos curtos prateados e pele bronzeada, espera sentada em uma pedra a chegada de alguém, — enquanto desenha algo no chão com uma das garras douradas de sua manopla.

Durante a ação de desenhar no chão, uma pequena figura de uma forma rotunda com coloração púrpura surge na frente dela. 

É um portal, que a cada segundo cresce e estica, modulando-se em algo retangular, — semelhante a uma porta.

As suas laterais são cobertas por uma névoa púrpura brilhante, e no decorrer do seu interior, tal coloração segue para algo mais escuro, finalizando em um preto, — totalmente sem luz alguma.

Do portal, uma silhueta humanoide começa a sair. 

Colocando o pé para fora, revela algo bem peculiar. A pele de sua perna é completamente cinza e escura, seus dedos são esqueléticos, além dos músculos serem quase escaços nela.

Ao revelar-se com o corpo por completo, algo muito semelhante a sua perna o predomina, — a sua falta de músculos. Se existe uma definição para descrever tal criatura, seria… fome. Seu rosto é tampado com uma máscara de carcereiro de metal, mostrando apenas luzes amarelas que brilham no interior dos buracos oculares da máscara.

Em seu corpo há uma espécie de túnica preta, completamente rasgada nas partes inferiores, que mostram boa parte das pernas desprovidas de músculos. Em sua mão direita, ele possui uma espécie de chave purpura e na esquerda carrega consigo um cabresto amarrado em um saco de pano, — usados para carregar batatas.

Após sair por completo de dentro do portal, a figura chama a atenção de bela moça, distraída em seu desenho.

— Mas… olha só… Karlaya…

A sua voz é completamente roca e sem força, ouvindo-se apenas a entonação que o ar faz ao sair da sua boca.

Levantando vagarosamente a face para encarar a criatura em sua frente, Karlaya esboça uma expressão cansada, repudiando a aparência dele.

— Aiii… por faaaavoorr nééé~, não fique falando meu nome assim. Você é muito esquisitinho para ter esta liberdade…

Esboçando um sorriso omitido pela máscara de metal, a figura retruca a ofensa da bela moça.

— Cruel… como sempre… mestra Karlaya…

— Tsk!

Estalando a língua, ela escuta o que ele tem a dizer.

— Mas… me conte… quais são… as… novidades…? Conseguiu… fi…nalizar… a missão… daquele homem…?

Esboçando uma expressão um tanto zangada no rosto, Karlaya o retruca, — a fim de finalizar a conversa desnecessária.

— Vamos parar com a conversinha fiada, tudo bem, Peína? Só te chamei aqui para trazer minha montaria e, nada mais. Você tá faminto de saber que tooodaaas~ as informações, é contado no conselho. Então, não vejo motivo para te dizer nada…

Aproximando-se para mais perto de Karlaya, Peína, a responde.

— Mestre Karlaya… mesmo… demonstrando… estouvamento… possui… bastante idônea… nas regras do… concelho… Fico até… surpreso… mas… já que… não quer con…versar… lhe entrego en…fim… seu animal…zinho…

Levantando apressadamente e batendo a sujeira das roupas, Karlaya estende a mão para finalmente pegar a montaria que esperara até então.

— Certo, certo… Agora me dê logo ele. Possuo pressa…

— Claro… claro…

Aproximando o cabresto amarrado em um saco de batatas, para próximo da beldade, Karlaya, encosta no saco que, como resposta e, por ser um saco mágico, — expõe uma poderosa luz ofuscante.

No momento seguinte a esta luz, algo começa a formar-se ao lado da moça.

Uma massa energética começa a se moldar sob o solo, — crescendo e modulando-se para algo animalesco que, por final, revela totalmente como é a criatura.

O animal detém aproximadamente 190 centímetros de comprimento e 200 centímetros de altura, com uma pelagem completamente preta e felpuda. 

A sua cabeça é similar de um cachorro, portando um focinho ligeiramente pontiagudo. Suas orelhas pontudas são eretas e o crânio e achatado. Em volta do pescoço, possui um colar de pelo laranja felpudo.

As suas pernas finas e torneadas traz uma membrana de pele que percorre o corpo inferior, unindo as patas dianteiras e traseiras, algo que o possibilita fazer pequenos voos planados de uma ponto alto a outro, direcionando o voo com o auxílio de uma cauda achatada que funciona como leme.

Após a criatura avistar sua dona, um regougar dócil é feito por ela. 

Aproximando-se para perto de Karlaya, a montaria oferece sua cabeça para que a moça faça cafuné nela, — algo que Karlaya realmente faz, demonstrando um sorriso em sua face, chamando a atenção de Peína.

— Ora… ora… ora… Então… você conse…gue… sorrir co…mo… alguém nor…mal?

Após o comentário presunçoso de Peína, o sorriso amistoso de Karlaya, transforma-se em um sorriso sádico.

Virando-se em direção a figura faminta, a beldade, vagarosamente, levanta a sua mão — que porta a manopla de garras douradas. 

De um momento a outro, uma névoa negra cobre completamente a mão dela e, surgindo de lá, uma mão característica, — feita exclusivamente de escamas de um dragão terrestre.

Com esta mão dracônica com escamas, — que mais se assimilam a pedras, Karlaya, — emitindo uma forte bola de fogo verde em sua mão, retruca com a mesma expressão sádica de antes.

— Sim, caro Peína, mas o meu sorriso de verdade vem do sofrimento alheio… quer testar um pouquinho?

Uma forte inquietação ilusória surge no semblante metálico de Peína. Ele sabe que Karlaya não está brincando, pelo fato dela não cantarolar nenhuma de suas palavras, — algo comumente feito por ela.

De modo a retroceder com seu comentário anterior, Peína curva-se, movendo a mão direita ao peito e com a esquerda oferece uma carta selada, — informando a ela o fato dele ter demorado trazer a montaria.

— Espere… um mo…mento… Não… questionasse… minha… demora… mestre Karlaya…? Esta… carta… é ex…clusiva… do con…celho… dirigida… para ti… e para… os outros… doze…

Arrancando a carta das mãos desprovidas de músculos de Peína, Karlaya desfaz a sua mão escamosa para pode ler o que está escrito no documento.

Removendo vagarosamente o selo com uma de suas garras douradas, ela finalmente abre o papel, — o lendo de cima a baixo.

Após alguns minutos de leitura, uma expressão enraivecida é emanada por ela, algo que chama a atenção de Peína e sua montaria que rosna para a figura faminta.

Um olhar de fúria é desferido para Peína em resposta no que leu na carta, complementando com a declaração dela.

— Do que se trata isto!?

Tão confuso quanto Karlaya em relação ao que lera, Peína sacode as mãos ao ar tentando explicar-se.

— Eu não… sei… Não possuo… liberdade pa…ra ler… estes… docu…mentos… mestre… Karlaya…

— Tsk!

Estalando a língua em resposta com a falta de informação da figura escassa de músculos, Karlaya expõe uma expressão altamente enraivecida, movendo o polegar em direção a boca e arrancando a unha completamente dele.

A forte raiva que ela sente em relação ao que leu no documento a faz ignorar a dor momentânea da perda de unha em um dos seus dedos, — que jorra uma pequena quantia de sangue do local.

Movendo-se em passos pesados até a montaria, Karlaya por uma última vez, dirige-se para Peína.

— Fale para o concelho que estarei de volta em cinco dias. Nem mais e nem menos. Ouviu!?

— Sim…

— Tsk! Droga! Como isso aconteceu do nada?

Subindo em cima da criatura, ela o atiça para começar correr. 

A montaria, em praticamente um instante, faz com que suas patas brilhem em uma coloração rosa, que no momento seguinte ativa a habilidade de locomoção, — 《Mana Flash》, indo o mais rápido possível em direção ao vilarejo.

Ainda confuso com a reação de Karlaya em relação ao documento, Peína move a mão para o queixo metálico de sua máscara, ponderando sobre o que ela leu na carta.

— Curi…oso… O quê… será… que… ela leu… naque…la car…ta…?


Ilustração de Karlaya e sua forma dracônica.

Karlaya 1
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Olá, eu sou HOWL!

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