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Capítulo 70 ❃ A Invocadora.

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A poeira dança no ar enquanto os destroços se acumulam no chão. Rachaduras nas paredes e no chão e colunas caídas mostram a grande desordem no interior da sala. 

O duelo que durou apenas alguns minutos, mas que pareceu horas para a jovem, finalmente chegou ao fim. Evangeline emerge como vencedora, mas não pode deixar de sentir um certo pesar em seu coração. Ela sabe que terá que lidar com as consequências dessa batalha por muito tempo a seguir, mesmo enquanto tenta encontrar paz em meio à turbulência.

As emoções conflitantes correm desenfreadas dentro dela, lutando pela supremacia em sua mente e em seu coração. Tudo o que resta agora é a quietude, interrompida apenas pelo som de seus próprios soluços enquanto ela tenta processar tudo o que acabou de acontecer. As emoções conflitantes batalham em seu interior, e ela se sente sobrecarregada pelo fardo da batalha recém-encerrada.

Apesar de ter emergido vitoriosa desse confronto intenso, Evangeline não consegue deixar de sentir o peso da batalha que acabou de travar. As paredes, o chão e as colunas arruinadas são uma evidência física da ferocidade do combate que se desenrolou. Agora, ela precisa lidar com o resultado da luta enquanto tenta encontrar algum tipo de paz em meio à ruína ao seu redor.

— Argh…! Mas que droga!

Ainda angustiada com o destino da variante rara do zumbi que encontrara por acaso no início da masmorra, Evangeline se culpa por não ter outra escolha, a não se finalizá-lo, antes dele fazer o mesmo com ela.

As emoções conflitantes em seu interior continuam a lutar pela supremacia em sua mente e em seu coração. Ela sabe que agiu por instinto de sobrevivência, mas ainda assim se sente triste pela criatura que teve que eliminar. Mesmo assim, ela não teve escolha senão se proteger. A masmorra é um lugar perigoso, cheio de criaturas e monstros desconhecidos ávidos por carne e sangue fresco.

Evangeline se lembra do momento em que encontrou a variante rara do zumbi. Ele parecia diferente do outro, como se ainda houvesse algo de humano nele. Mas, apesar de seus instintos compassivos, ela sabia que não podia se dar ao luxo de ser complacente. Ela o enfrentou em um duelo brutal, e embora tenha emergido vitoriosa, o fardo da luta ainda pesa em seu coração.

— Se eu não tivesse feito… ele teria me matado como o outro tentou… Talvez se conseguisse reproduzir a minha matriz de contenção…

Shirogane, o habilidoso jogador de Worldland Sephyra Online, tinha em sua vasta lista de feitiços e habilidades uma das mais poderosas: as matrizes. As matrizes são simplesmente caixas fechadas com espaços próprios, que podem variar de acordo com sua resistência. No game havia matrizes com camadas finas e outras quase indestrutíveis, e elas eram frequentemente usadas como prisões para restringir jogadores e monstros.

Mas agora, em um mundo real, mesmo que se assimile ao seu antigo game, Shirogane não consegue usar suas matrizes.


Enquanto lutava em um embate tenso, diversas ideias passaram pela mente de Evangeline. Ela ponderava sobre o que poderia fazer para derrotar o oponente. “E se eu o jogasse em um buraco fundo?”, pensou ela. Ou talvez pudesse congelá-lo com seus gases gélidos? No entanto, nenhuma dessas alternativas parecia viável naquele momento, e ela se viu obrigada a matá-lo.

No mesmo momento em que observa a fumaça negra do zumbi desperecer gradualmente e guiar-se para dentro do seu corpo, Evangeline senta-se no chão para tentar descansar um pouco. Seus olhos percorrem a sala que antes estava em completa desordem, agora dominada pela quietude. 

A luta contra ambos os monstros a desgastou. Os dois zumbis eram tão rápidos quanto ela e demonstram uma força comparável. Durante todo o embate, Evangeline tentou se manter longe de seus ataques por pouco. Se não fosse a proteção mágica envolvendo seu corpo, estaria em péssimas condições agora.

A mana usada para criar as sete esferas de fogo modificadas, agora reduzida a seis, deixou Evangeline no limite antes mesmo do início do embate. E, como se não bastasse, o restante de sua mana se esvaiu no decorrer da luta, deixando-a completamente exausta.

Enquanto observa suas mãos trêmulas, Evangeline percebe que seu coração ainda bate forte, e que ela escapou por pouco da morte durante o combate. Ela relembra que diversas vezes o destino a colocou no caminho da morte, mas graças ao seu preparo, conseguiu sobreviver.

— Essa… foi por pouco… Eu já esperava que os monstros fossem fortes, mas eles não só tinham força como agilidade… e logo… zumbis… A minha mana está completamente esgotada, tudo que me resta e essas bolas de fogo comigo…

Com um semblante cansado, Evangeline encara a fileira de esferas flutuando em suas costas, movendo-se no sentido horário. Ela conclui que cada luta do passado esgotou sua reserva de mana, deixando-a impotente e desmaiando em seguida. No entanto, graças ao treino e à tutela de seus mentores, aprendeu a controlar sua mente para evitar colapsos quando a mana acabasse.

Ao observar a área com a coluna jogada no chão, a meio-elfa relembra como o primeiro zumbi a acertou no abdômen.

— Aquele primeiro zumbi… se eu não estivesse com minha proteção de mana, tenho certeza que estaria com um grande corte na barriga agora. Ou até pior, o companheiro dele iria usar isso contra mim e me matar.

Enquanto observa a coluna jogada no chão, Evangeline relembra das façanhas do segundo zumbi, como sua agilidade e habilidade em aprender durante o combate, algo que inicialmente a impressionou e despertou um forte interesse nela. No entanto, no final não teve escolha senão matá-lo para evitar que ele fizesse o mesmo com ela.

PAH!

Um poderoso som estridente de tapa ecoa por toda a sala, interrompendo os pensamentos de Evangeline. Com as bochechas ruborizadas, ela tenta se recompor e sair da depressão causada pela derrota.

Afinal, seu objetivo não é colecionar espécies raras, mas sim se fortalecer e encontrar o colar lendário.

— Vamos lá! Não posso perder tempo me importando com isto. Não é para eu ficar lamentando a perda daquele monstro. É chato, mas com certeza deve ter muitos outros igual a ele por aí, ou até melhores. Quando tudo ficar estável, retorno para procurar alguns e talvez capturar.

Erguendo a cabeça e olhando para um futuro possível com um sorriso convicto, a meio-elfa jura para si mesma que irá voltar e procurar por mais monstros como o último, capazes de pensar e lhe oferecer uma boa luta.

— Certo, está decidido! Quando eu voltar com uma cura para Karenn, quando ela estiver bem, voltarei aqui para procurar mais monstros como este. Vai ser uma boa se eu tiver um grupo de monstros no meu comando… heheh…

Nesse período, a meio-elfa simula que está em volta a um pequeno grupo de monstros em seu comando, enquanto ela, esboça um sorriso sádico em meio ao caos.

Agitando a cabeça para sair dos pensamentos que a levam a divagações estranhas, Evangeline se prepara para se recuperar.

— É melhor eu recuperar minha mana por agora. Não sei quais ameaças estão por aquela direção…

Um pouco mais adiante, Evangeline avista um longo corredor, amplo e rodeado por colunas idênticas às da sala em que está. O corredor é iluminado por tochas, mas é tão longo que não se consegue ver o fim.

— Ali deve me levar para próxima sala. Talvez lá deva ter mais monstros fortes como esses dois… se eu não recuperar minha mana… Bom… melhor não pensar nisso…

Evangeline está certa de que pode encontrar monstros naquela direção, então ela assume a posição de lótus, sentando-se com as pernas cruzadas no chão para meditar, ativando assim sua técnica de absorção de mana.

Pequenas ondulações começam a surgir no espaço ao redor da jovem, à medida que ela começa a absorver a mana. De repente, pequenas partículas azuis semelhantes a pó de diamante aparecem nessas ondulações, direcionando-se diretamente para o corpo dela, — que começa a brilhar com uma camada fina e fluorescente de cor azul.


No caminho em direção ao extenso corredor, há uma sala completamente escura que emite um som costumeiro de um assobio agudo e estridente, ecoando pelas paredes e pelo chão, criando um ambiente sombrio e assustador. 

O som parece vir de todos os lugares ao mesmo tempo, fazendo com que quem o ouça fique alerta e com os sentidos aguçados. É como se houvesse algo escondido na escuridão, esperando para atacar.

Neste recinto sombrio que renega completamente a entrada de luz externa, uma figura espectral de formato humanoide surge à vista, movendo-se de forma serena e cadenciada enquanto solta um som assustador e singular, semelhante a um assobio feito pelos ventos violentos.

Esta figura, que se revela feminina, continua a caminhar serenamente pelo lugar completamente privado de luz, mas à medida que se aproxima da entrada daquela região, a luz das tochas no corredor ilumina sua silhueta de maneira tênue e sutil.

A figura feminina que se aproxima tem uma aparência espectral, parecendo estar envolta em uma névoa pálida que esconde sua forma completa. Ela usa um longo vestido branco que parece ter sido deteriorado pelo tempo, com rasgos aqui e ali que revelam suas suaves coxas pálidas. Manchas escuras, talvez de terra ou poeira, pontilham o tecido desgastado.

Essa entidade etérea aparenta não se importar com sua aparência, já que mantém os olhos cerrados e se concentra em seu assobio monótono. Contudo, algo a faz parar subitamente em sua caminhada.

A interrupção repentina do assobio sombrio faz com que a figura espectral abra seus olhos, revelando um brilho ruborizado em suas órbitas.

Os olhos que antes estavam fechados, agora se abrem e deixam à mostra um brilho rubro intenso, que invade toda a escuridão da sala com um ar de fúria e ódio. A criatura espectral parece transbordar de emoções negativas, e suas órbitas vermelhas brilham com intensidade, como se estivessem em chamas.

Subitamente, uma linha tênue surge na boca daquela figura assustadora, indo do queixo até o topo do nariz. 

O traço começa a vibrar inquieto, como se algo estivesse prestes a romper a delicada pele da criatura. Num piscar de olhos, a mandíbula da entidade se abre em duas partes, — uma se deslocando para a direita e a outra para a esquerda.

A boca desta criatura é adornada com dentes finos e pontiagudos, que se aglomeram em uma espiral sinistra. Porém, no fim do caminho, perto da garganta, uma luz frágil de coloração azulada irrompe de dentro dela.

Neste momento, um estridente e poderoso grito de desespero, que carrega consigo tanto raiva quanto melancolia, ecoa ensurdecedoramente em todo o lugar.

— YAAAAARRHHHHHHHHHH!!

Do grito da criatura espectral, seus longos cabelos pretos voam revoltadamente para trás, e à sua frente, quatro brechas se formam, com a mesma cor do interior de sua boca.

Dessas quatro brechas, — que se assemelham a pequenos portais, saem quatro criaturas humanoides, sendo três delas portadoras de armaduras de corpo inteiro e a quarta com apenas um capacete e um arco. 

Assim que as quatro figuras saem por completo de suas brechas, as mesmas se fecham, encobrindo suas silhuetas ocultas pelas trevas da sala.

Enquanto isso, a criatura espectral fecha os olhos e sua monstruosa boca, afastando-se das quatro figuras que seguem caminho pelo corredor, distanciando-se da sala envolta por trevas. 

Apesar de estarem envoltas em sombras, devido a um fator desconhecido, as silhuetas humanoides se equiparam às dos zumbis anteriores, tornando-se um pequeno grupo de mortos-vivos.


Na sala inicial da masmorra, Evangeline cobre fortemente os ouvidos, abalada pelo grito melancólico do monstro e compreendendo a origem do som. 

Um semblante assustado a assombra enquanto ela olha em todas as direções, mas o único caminho visível é o corredor em frente a ela.

Embora esse corredor seja o único caminho que continua a partir daquele lugar, o grito da figura espectral é tão especial que Evangeline não consegue medir sua distância ou direção, — deixando-a ainda mais apreensiva.

— A Banshee… deve está naquela direção… mas…

Logo após sua declaração, Evangeline escuta o som de passos pesados ecoando pelo corredor, acompanhados das quatro silhuetas humanoides envoltas em sombras se aproximando rapidamente.

Ao observar as figuras se aproximando para perturbar seu momento de descanso, a meio-elfa pragueja contra a má sorte que a persegue.

— Tsk! Só me faltava essa…

Ao notar a aproximação dos monstros, Evangeline se levanta apressadamente e retira suas duas adagas das bainhas, — as inflamando instantaneamente com chamas ardentes.

— Não consegui recuperar muita mana… mas não tenho escolhas…

Evangeline assume uma postura de combate, preparada para enfrentar as criaturas que se aproximam. Porém, sua atenção é abruptamente desviada por algo que quebra sua postura.

Uma flecha de aura gélida cruza rapidamente em sua direção, fazendo-a instintivamente se jogar no chão. A meio-elfa se levanta confusa, tentando identificar a origem da flecha.

Mas não há dúvida alguma sobre quem arremessou a flecha. Ela reconhece imediatamente a criatura portando um arco longo, emanando uma aura gélida. Um sorriso amargo surge em seu rosto, enquanto ela encara o inimigo.

— Então, eles têm um arqueiro… Isso vai ser bem interessante…

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