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Capítulo 73.1 ❃ A Evolução.

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Neste momento, um leve tremor sutil começa a invadir o quarto de Isabel. As mobílias do ambiente, como mesas, cadeiras, escrivaninha e alguns travesseiros, anteriormente arrumados em seus devidos lugares, são arremessados para longe por uma poderosa força invisível de pressão de ar.

A energia mágica do núcleo que havia preenchido o local pouco antes é absorvida por Isabel, e agora é liberada por ela ao se tornar parte da jovem neste momento.

A energia mágica liberada após a absorção do núcleo torna-se muito mais densa e pesada do que a anterior. Isabel revela um sorriso animador em resposta, notando a diferença em seu poder.

Ao se levantar do chão, Isabel se prepara para arrumar a bagunça que sua liberação de poder provocou. Mesmo com seu controle mágico, a garota momentaneamente perdeu o controle devido à força do núcleo que havia absorvido, fazendo com que seu poder se tornasse instável por alguns segundos antes de ser novamente controlado.

Assim que se ergue, algo parece diferente na garota, tornando-a ainda mais marcante.

Seus longos cabelos brancos, que brilham com um tom prateado sob os raios alaranjados do entardecer, parecem ter crescido desde a última vez que Anastácia a viu. E não são apenas os cabelos que aumentaram de tamanho. A estatura de Isabel e o tamanho de seu busto também se tornam mais aparentes, fazendo-a parecer quase uma jovem adulta.

Isabel não nota as mudanças drásticas em seu corpo, pois não sente diferença alguma em relação a quando se viu no espelho pela última vez. Agora, ela começa a arrumar a bagunça em seu quarto com entusiasmo, completamente alheia ao tempo que passa e com um sorriso radiante no rosto, enquanto canta uma melodia baixinho pelo ambiente.


Momentos antes da liberação do poder de Isabel, Lukas e Trevor se dedicam a ajudar as crianças da escolinha a praticarem e aperfeiçoarem o controle de seus atributos mágicos dentro de suas esferas respectivas.

Em todos os cantos da sala de aula, são visíveis vestígios de danos causados pelos pequenos alunos. Paredes chamuscadas, poças de água e lama espalhadas pelo chão são um testemunho da falta de habilidade das crianças em controlar seus atributos mágicos com as novas técnicas propostas por Evangeline. Devido a isso, uma série de pequenos desastres tem acontecido durante o treinamento.

Trevor solta um sorriso constrangido ao ver a bagunça na sala de aula, enquanto se pergunta por que o novo método de ensino é tão difícil em comparação com o antigo.

— Aiai… Quem diria que essa nova abordagem seria um tanto mais distante do que ensinávamos a elas…

Lukas ergue os óculos com os dedos e assume um semblante analítico enquanto retruca com uma simples explicação.

— Vejamos… de acordo com Evangeline, ela conseguiu ensinar Isabel desta forma. E, se parar para analisar, Isabel terminou o ensino no passar de uma semana. Então, a abordagem criada por Evangeline é com certeza a melhor maneira de tutelar um mago iniciante.

— Bom, parando pra pensar. Evangeline até pouco tempo só ajudava o senhor Balmor com a ordenhação das vacas. No entanto, pouco tempo depois se tornou uma maga com excelentes práticas e ensinos quando voltou de Nakkie. Além é claro que ela é uma ótima usuária de magia espiritual… Dito esta coisas, se ela disse que essa é uma abordagem certa, com certeza deva ser mesmo.

— Falando desse modo, até parece que você está perdidamente apaixonado por ela…

Removendo o olhar das crianças de forma rápida para encarar Lukas, Trevor o observa com um sorriso zombeteiro ao contar que sabe dos sentimentos do rapaz.

— Não vou negar… mas de qualquer forma. Isabel se tornou uma garota muito avançada para a idade dela por causa dessa técnica de controle mágico. Se essas crianças aprenderem isto, com certeza as coisas no vilarejo irão mudar drasticamente.

— Isto eu posso concor…

Antes que pudesse concluir sua explicação, Lukas é abruptamente interrompido pela sensação de algo extremamente denso e poderoso cruzando seus sentidos, desaparecendo tão rapidamente quanto chegara.

Uma gota de suor percorre rapidamente sua bochecha, enquanto Lukas percebe que a imensa e maciça concentração de energia que sentira há pouco tempo atrás era de uma mana incomparável.

”Que poder… é esse…? Em toda a minha vida, nunca senti um avanço tão… intenso…”

Completamente aturdido com o que acabara de sentir, Lukas encontra-se extasiado diante da situação.

O poder mágico que acabara de perceber é algo completamente novo para ele, em todos os aspectos. Devido à sua escolha de carreira, ele deixou para trás as batalhas e evoluções dos magos, o que prejudicou sua experiência mágica e o fez retornar apressadamente ao observar Evangeline pela primeira vez. No entanto, agora, esse poder ultrapassa em muito o da meio-elfa que ele conhece.

”Que mana impressionante! Nem mesmo Evangeline demonstrou um poder tão denso como esse… De quem será que é? Será um visitante que teve um avanço no vilarejo? Teria um mago tão poderoso nos visitando hoje…?”

De repente, a fala do seu companheiro ressoa em seus ouvidos, o puxando novamente para a realidade.

— I-Isa…bel?

Uma expressão incrédula toma conta do rosto de Trevor neste momento.

Assim como seu colega, Trevor teve a oportunidade de sentir o tamanho do poder monstruoso por poucos segundos. No entanto, diferentemente de Lukas, ele nota algo familiar neste poder, um resquício de algo que ele sentiu recentemente… 

A mana de alguém que não deveria ter tanto poder assim.

— Isabel? Do que está falando?

Lukas sente uma confusão interna ao ouvir Trevor pronunciar o nome da garota prodígio, e um arrepio percorre seu corpo enquanto aguarda a possível confirmação do colega. Mas não vem.

Trevor, abalado pela magnitude do poder que presenciou e pela semelhança com a mana de Isabel, parece perder a capacidade de compreender a realidade à sua volta. Ele permanece estático, dominado pelo choque da situação.

‘’Essa frequência… esse sentimento… Até mesmo o aroma… não é possível que seja…’’

— Trevor!? Qual é a tua cara? Por que está aí suando que nem um porco antes do abate?

Com os olhos arregalados, Lukas observa a inércia de Trevor, que parece ter sido tomado pelo terror indescritível da cena que acabaram de testemunhar. Sem pensar duas vezes, ele o chacoalha com toda a força, na tentativa de trazê-lo de volta à realidade.

Os movimentos bruscos de Lukas parecem despertar Trevor de seu estado catatônico, mas sua mente ainda está presa nas sombras sinistras que se escondem por trás daquele poder avassalador.

— Huh? Quê? Eu…eu… não sei explicar…

Observando a expressão confusa no rosto de seu colega, Lukas percebe que Trevor também foi impactado pelo poder mágico que acabaram de experimentar. Com essa constatação, ele rapidamente avança para o cerne da questão.

Com uma agilidade mental invejável, Lukas conecta os pontos entre o ocorrido e a possível confirmação do nome da garota prodígio. Sua mente é como um relâmpago que corta a escuridão, iluminando os mistérios que se escondem naquela cena aterrorizante.

— Nem precisa, já concluo o que te fez suar deste jeito… Foi a pressão mágica, não é? Também senti ela agora pouco…

— Então…

— … Contudo, o que me prende a atenção é o fato de você dizer o nome de Isabel… Por acaso você iria dizer algo relacionado a ela, porém neste momento sentiu a pressão e foi interrompido?

Trevor permanece em silêncio por alguns instantes, como uma estátua imóvel que tenta processar a realidade que o cerca. Seus pensamentos parecem vagar em um mar de incertezas e dúvidas, enquanto ele tenta recuperar o controle sobre sua mente.

Depois de alguns segundos, Trevor balança a cabeça, como se quisesse afastar as sombras que o cercam. Seu olhar ainda está turvo, mas Lukas pode perceber uma nova determinação se formando em seus traços.

— Essa mana de agora… não sentiu nada familiar nela? Logo você o que mais se adéqua a energia mágica, Lukas.

— O que você quer dizer? Está me dizendo que essa onda poderosa de mana veio da Isabel e não de um mago poderoso que está nos visitando? Você só pode estar brincando… não está?

Com a firmeza de uma rocha, Trevor encara Lukas, deixando-o concluir por si mesmo a possível conexão entre o poder mágico que sentiram e o nome da garota prodígio. Sua expressão é impávida, como se já tivesse aceitado o inevitável e estivesse pronto para enfrentar o que quer que viesse a seguir.

Lukas sente um arrepio percorrer sua espinha ao encarar aqueles olhos determinados. Ele sabe que precisa confiar em sua intuição e na sua habilidade de interpretar os sinais que a realidade lhe apresenta.

— Argh… Esperava que fosse você tentando me fazer deixar de acreditar, mas parece que os papeis se inverteram… Se eu senti algo familiar? Sim, senti…

— E, então?

— A frequência em si se parece mesmo com a de Isabel… mas isso é impossível. Claramente não dá para acreditar e você entende isto. Isabel é uma criança! Ela pode ser uma garota prodígio que terminou os ensinos um pouco rápida, no entanto, ela não passa disto! Este poder… não é de uma garotinha, não há como ela ter tido um avanço tão poderoso. Nem nós…

— Tivemos?

Completando a última sentença de Lukas, Trevor continua o dialogo em seguida.

— Lukas eu entendo que pode ser um pouco chocante, todavia concordo com você. Mesmo que a frequência seja similar, não existe apenas dez magos no mundo. Com certeza há muitos magos com frequências parecidas, mas isso seria de mil para uma de um estar exatamente aqui para isso acontecer. De todo o modo, o que eu quero dizer é que: Se não for ela, não tem problema…

— E se for?

Trevor vasculha a sala com os olhos, percebendo que algumas crianças estão visivelmente abaladas pelo poder mágico que acabaram de sentir. Isso reforça em sua mente a ideia de que aquela situação pode representar uma verdadeira ameaça.

Quando volta seu olhar para Lukas, ele responde com serenidade, mas sem deixar transparecer a tensão que sente. Trevor sabe que precisa manter a calma e a lucidez, se quiser encontrar uma solução para aquele enigma assustador.

— Ela tera que deixar o vilarejo…

Lukas endireita os óculos na face, gesto que já se tornou um hábito seu, e responde prontamente à ideia radical que Trevor acabara de expor.

— Argh… fracamente. As vezes você consegue ser mais sério do que eu as vezes… o que será isso, pratica? Preste a atenção, esta é uma ideia completamente impensável. Anastácia e nem Evangeline concordariam com isso. E, não só elas, como muitos do vilarejo impediriam a saída dela por causa disso.

Ele sabe que precisa manter a mente clara e analisar todas as possibilidades antes de tomar uma decisão precipitada.

— Veja bem, esse poder é prejudicial para as crianças. Um poder muito forte sem o devido controle pode selar a magia dos outros. No momento que senti essa pressão, meu próprio poder foi empurrado para baixo. Se não fosse minha base mágica, estaria na mesma situação daquelas crianças…

O cenário que se apresenta diante dos rapazes é cada vez mais sombrio e assustador. A possibilidade de um poder tão esmagador que seja capaz de selar as habilidades mágicas das crianças do vilarejo é algo que realmente preocupa ambos.

No entanto…

— Contudo, isso se Isabel realmente fosse dona desse poder monstruoso, não acha? Afinal, não tem como uma garota de dez anos sem herança mágica evoluir tão rápido assim.

Após concluir sua suposição, Trevor coloca a mão no ombro de Lukas. No entanto, o toque vem acompanhado de um aperto tão forte que assusta o rapaz, demonstrando a intensa preocupação que Trevor sente ao falar sobre o assunto.

A sensação de opressão é quase palpável, como se um véu de sombras se estendesse sobre a cena, obscurecendo a esperança e a luz.

— Você… está certo…

Desprendendo a mão com firmeza do ombro de Lukas, Trevor assente com sua sugestão, entretanto, um sentimento de apreensão toma conta de ambos os rapazes, dada a gravidade da situação.

Após a breve troca de palavras, cada um segue seu caminho de volta à sala de aula. Entretanto, algo chama a atenção de ambos quando alguém surge na entrada do local. Ao fixarem seus olhares na figura, uma sensação de gelo percorre suas espinhas, paralisando-os momentaneamente.

— A-Anastácia…?


O ambiente calmo é quebrado abruptamente. As crianças que praticavam magia pouco antes ficam em transe, perturbadas pelo poder sentido. Trevor e Lukas, sem sequer terem a oportunidade de acalmá-las, observam uma jovem mulher invadir o local com uma expressão grave.

Um semblante belo e sereno surge na sala, apresentando uma jovem de tez clara, cabelos longos e negros presos em um rabo de cavalo, trajando vestes comuns. Ela adentra a sala de aula, buscando pelos rapazes responsáveis pelo comando do local.

— Anastácia?

Totalmente surpreendidos com a inesperada aparição da ferreira, os dois jovens pronunciam o nome dela em uníssono, enquanto uma sensação gélida percorre suas espinhas como água, contradizendo a temperatura quente de seus corpos.

Os rapazes sentem-se atônitos com a chegada surpreendente de Anastácia à escolinha. Apenas alguns momentos atrás, uma onda mágica poderosa percorreu todo o vilarejo, levantando suspeitas sobre quem poderia ser o detentor de tal poder. No entanto, essa era apenas uma suposição que eles não queriam aceitar tão facilmente. E agora, diante deles, está a pessoa que pertence diretamente à garota em seus pensamentos.


Os três indivíduos se encaram em silêncio por alguns instantes, mas a aparência cansada e surpresa de Anastácia leva Lukas a se aproximar primeiro para questionar o que teria causado aquela expressão nela.

Com passos apressados, como se fugisse de um espectro invisível da morte, Lukas chega à entrada da sala que dá para o pátio externo. Ele questiona o motivo da presença de Anastácia ali, buscando entender a situação que a fez aparecer daquela forma.

— A-Anastácia, algum problema? Parece que correu uma maratona até aqui… então, presumo que seja algo sério…

— Você… tem… razão…!

Anastácia, parecendo ofegante por ter corrido da sua casa até a escolinha, tenta explicar o motivo de sua visita. Trevor se junta aos dois para entender a situação junto com Lukas.

— Relaxe, tente recuperar um pouco de fôlego antes de falar.

Com um aceno de cabeça, Anastácia se esforça para recuperar o fôlego, tentando ser mais clara em suas palavras. Depois de alguns instantes, ela respira fundo e expõe o que tem em mente.

— Meninos… tenho algo a dizer, não sei explicar exatamente o que é, mas algo aconteceu com Isabel a pouco tempo.

Uma onda de choque percorre os corpos dos rapazes quando ouvem o nome de Isabel sair da boca de Anastácia. Eles já haviam deixado o assunto de lado para prestar atenção à ferreira, mas a menção da garota prodígio imediatamente os prende novamente à conversa. A tensão no ar é palpável enquanto esperam por mais informações.

Lukas ajusta os óculos em seu rosto de forma instável e, em seguida, formula a pergunta que lhe aflige para afastar todas as incertezas que atormentam sua mente.

— E-e-e-e… o que aconteceu exatamente?

— Bom, não é algo ruim… eu acho, mas também não parece ser algo normal…

— Tudo bem, pode contar desde o início, viemos atendê-la exatamente por que queremos entender o que está te preocupando. Então não meça palavras em sua explicação, tudo bem?

Trevor tenta reconfortar Anastácia, embora seu próprio rosto esteja molhado de suor neste momento. Ele busca expressar uma ideia que nem ele mesmo está seguro de ser possível, mas que possa trazer algum alívio para a situação.

— Argh… certo… me desculpem por isso…

— Não se preocupe com desculpas, nos entendemos. Apenas nos diga tudo.

 — Muito bem… Um pouco antes da chuva começar, eu estava na casa da senhorita Kamila, estava ajudando ela com alguma coisas relacionadas aos utensílios na antiga casa do patriarca. Após um longo processo, ela me… Ahem! Bom, eu retornei para a casa para me encontrar com Isabel, minha ideia foi presenteá-la com o núcleo que a senhorita Evangeline me deu como pagamento pela armadura.

Mantendo sua postura firme, Lukas, com sua mão direita apoiada no queixo, emite uma pergunta que expressa sua curiosidade.

— Só um minuto. Você disse que entregou o núcleo para ela, certo? O mesmo núcleo que Evangeline disse que são dos monstros que ela matou na floresta e, que possuíam mutações?

— Sim… a-algum problema?

— Não… Bom, eu acho que não, por enquanto não… apenas continue, por favor…

”É só uma hipótese, mas se realmente for o mana de isabel…”

— Certo… Chegando no quarto dela, eu a encontrei com os livros que vocês emprestaram para ela, no entanto, não foi isso que me impressionou. Mesmo eu não tendo a facilidade que vocês tem em sentir poder mágico, percebi algo em volta dela, algo como uma aura transparente que estava oscilando o espaço em volta dela.

— Interessante… Então você conseguiu ver a aura mágica dela, mesmo não tendo conhecimento nem prática de como perceber o poder dos magos… Por acaso, mesmo que de relance… você viu isso na Evangeline?

Com os braços cruzados em um gesto confiante, Trevor aguarda com expectativa a resposta de Anastácia, na esperança de que ela possa confirmar uma teoria que começa a se formar em sua mente.

— Para ser sincera, não reparei nada na senhorita Evangeline. Eu nunca vi nada assim antes, mas já entendo o que são, porém a primeira vez foi com Isabel. Mas o problema em questão não é a aura dela e sim sua aparência.

— Aparência? Algo de errado com a aparência dela?

— Sim e não. Não é algo errado, mas estranho. Aparentemente, desde ontem… ela envelheceu três anos…

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