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Capítulo 78.3 ❃ Negócios e Mistérios no caminho a Cidade das Trocas.

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O lobo de três cabeças encara suas presas, exalando uma sede de sangue intensa que parece dobrar a própria gravidade do ambiente. 

Num instante, ele se lança contra os dois, sua avidez por vingança evidente em cada movimento poderoso. 

No entanto, uma muralha de pedra ergue-se rapidamente em seu caminho, — bloqueando o avanço da monstruosidade.

Isabel, com as mãos trêmulas, usa seus últimos resquícios de mana para invocar essa barreira, mas logo cai ao chão, exaurida pela drenagem total de suas energias.

— Desculpe… professor Lukas… esse é meu limite…

Lukas a observa com preocupação, a sensação de desespero se instalando. 

A realidade agora é cruel, — não há mais escapatória. 

— Mas que inferno! Isso é tudo culpa minha! — Ele se culpa por tê-los levado até aqui, por aceitar a proposta de Isabel. 

— Anastácia… espero que um dia você possa me perdoar por isso, me perdoar por levar a vida de sua filha nesse dia… — Um nó de culpa aperta seu coração enquanto murmura um pedido de desculpas quase inaudível a Anastácia, por não poder cumprir sua promessa de proteger sua filha.

Enquanto Lukas luta com seus próprios pensamentos, o monstro de três cabeças continua atacando as muralhas, criando rachaduras e buracos com cada golpe violento. 

Skritch! Scratch!

O som de garras contra pedra é ensurdecedor, ecoando na mente de Lukas como um tambor funesto. 

Ele imagina a tristeza e raiva que Anastácia sentirá ao receber a notícia de que todos os que partiram do vilarejo foram massacrados por este monstro.

Então, num momento de aparente desespero absoluto, quando o muro de pedra finalmente cai, uma onda de pressão surge das costas de Lukas, eclipsando toda a intensidade do lobo de três cabeças.

O ambiente treme como se submetido a uma chuva de agulhas invisíveis de poder. 

O monstro parece ficar mais lento, suas investidas perdem o ímpeto, fazendo o parar de correr e observar a figura que se aproxima dele.

Antes que Lukas possa virar para entender a origem desse poder misterioso, uma figura imponente emerge diante deles. 

Uma mulher trajando armadura negra como de ébano e uma capa rubra se posiciona entre eles e o lobo monstruoso. Seus olhos irradiam confiança, uma presença majestosa capaz de rivalizar com a própria besta.

“Argh… que decepção. Pensei que aquele mago divergente do atributo raio estaria aqui, mas tudo que vejo é uma maga do atributo Terra e outro do Água… além de tudo, parece que foram eles que estavam lutando contra esse monstro…” 

Ela expressa sua decepção interiormente, esperando encontrar um mago divergente do atributo raio, mas ao invés disso, depara-se com uma garota e um rapaz quase à beira da morte.

— Espere, quem é você?! Você preci…

Lukas, prestes a dizer algo, é interrompido pela mulher, que questiona se precisam de ajuda contra a besta mágica.

— Vejo que vocês dois estão precisando de uma mãozinha. Gostaria de saber, se eu ajudar vocês dois, poderiam fazer um favor para mim?

”Mãozinha? Quem é essa mulher de armadura? Será ela uma aventureira ou faz parte de algum exército?”

— Então, quatro-olhos, aceita ou não?

— Qua-quatro-olhos!? Ahem! Sim, claro, por favor, se… se tiver força o suficiente para derrotá-lo, irei fazer o possível para recompensá-la. Porém, tenha cuidado, esse Lobo da Noite Alfa acabou ficando mais forte depois que evoluiu para algum tipo de besta superior… — Lukas, ainda confuso sobre quem é esta mulher, concorda fervorosamente, mas tenta alertá-la sobre o Lobo da Noite, agora mais forte após devorar três de seus semelhantes.

— Argh…! Você disse que ele ficou mais forte? — A mulher suspira ao ouvir a palavra “mais forte” escapar dos lábios de Lukas.

‘’Vim até aqui correndo pensando que encontraria algum resquício de uma pista sobre aquele Collurso mutante… até imaginei que o Alfa fosse algum tipo de mutante, mas olhando de perto… não passa de um Cerberus comum’’

Com uma rapidez impressionante, ela desembainha sua espada, e uma aura mágica começa a emanar da lâmina negra. As runas vermelhas nela se iluminam como estrelas cadentes, exsudando um poder inigualável. 

A besta, subestimando a mulher, parte para o ataque, suas presas afiadas prestes a despedaçá-la.

Nesse instante, a jovem vira-se até Lukas, dando de costas para a besta mágica e lança um olhar de tédio para rapaz, que ainda não compreende a situação. 

Ele observa a besta mágica, prestes a dilacerar a mulher com suas terríveis mandíbulas. Porém, num único movimento da espada, ela parte o Cerberus Inferior ao meio, as duas partes do monstro continuando sua trajetória antes de caírem, cada uma de um lado, — criando uma cena macabra de destruição.

— Tsk! Se esse Cerberus é forte, o que eu sou para você… quatro-olhos?

A jovem retorna em direção a Lukas, retirando um pequeno frasco de coloração vermelha de sua armadura e derramando seu conteúdo sobre o rapaz. 

Os ferimentos graves e as dores agudas em seu corpo começam a retroceder, mas não desaparecem completamente. 

”Uma… poção de cura!? Além de nos livrar daquele Cerberus, ela está disposta a gastar um item tão caro para me curar…? Quem é essa mulher afinal de contas?”

Lukas questiona por que ela usou um item tão caro dessa forma, mas a mulher, percebendo sua expressão, sorri e conta de onde ela que pegou essa poção:

— Relaxe, eu não paguei por está poção. Um pouco antes de chegar aqui, passei perto de um acampamento, numa barraca tinha um velho dormindo e aproveitei pra vasculhar seus itens. Curiosamente peguei essa poção de cura para me ajudar mais tarde, mas percebo que isso foi o certo, pois aquele velho, que mais parecia uma pedra dormindo, não iria precisar disso, por isso usei em você.

— Ah… entendi… Espera! Você disse que pegou de um velho dormindo em um acampamento aqui perto?

— Isso mesmo… algum problema?

— Bem… — Lukas recorda ter pedido a Isabel para buscar sua poção de cura, e ao juntar as palavras de sua salvadora, percebe que ela usou sua própria poção nele, como se fosse um gesto notável. 

— Não é nada… obrigado pela cura… 

— Ah… que isso… Isso não foi nada…

Um sorriso amargo aparece no rosto de Lukas, mas o que mais o surpreende é a força demonstrada por ela, que derrotou o Cerberus Inferior como se fosse um saco de lixo.

Nesse instante, Lukas observa o corpo da besta mágica, partida ao meio, jogada um pouco mais distante deles. 

O corte desferido está completamente limpo, sem nenhuma sequer imperfeição. 

O rapaz se questiona quem realmente é essa mulher de armadura de ébano e de onde realmente ela veio e como é tão forte para derrotar tal monstro tão facilmente.

Enquanto isso, a jovem não deixa de olhar para Isabel, desacordada no chão, sentindo uma energia familiar vindo da garota que a intriga profundamente. 

Entretanto, com as mãos na cintura, ela volta seu olhar sério para Lukas, prontamente cobrando o favor que ele deve a ela.

— Bem, agora está tudo acabado, vamos falar do que eu disse antes…

— Ah… tudo bem, vamos até ao meu acampamento, discutiremos isto lá.


6º dia do mês, Grande Inverno. Grande Floresta de Arrow [Periferia Leste] – 02:40 AM.

Ainda debilitado devido aos hematomas e cortes que marcam seu corpo, Lukas fita suas mãos, notando pequenos calos pontiagudos e cortes. 

As memórias da força que empregou na batalha contra o Lobo da Noite alfa enquanto vestia sua Armadura Oceânica retornam. 

A habilidade, apesar de incompleta, lhe proporcionou uma chance considerável contra um inimigo de categoria superior, mas essa força não foi suficiente para proteger a garota que jurou guardar.

Sentado na grama, Lukas contempla o céu noturno e suas duas luas, vermelha e turquesa, — derramando um brilho majestoso sobre o cenário. 

O vento suave agita as gramas e as folhas das árvores, conferindo um toque de vida após o perigo recente. 

”Que tolo eu fui lá traz. Pensei que eu seria o suficiente para proteger a caravana, mas também… quem imaginaria que esse monstro iria aparecer aqui para nos enfrentar…” Ele considera a ironia de como antes imaginava enfrentar simples monstros, como raposas, coelhos e esquilos, bestas mágicas comuns em sua maioria, não horrores tão aterrorizantes quanto o que enfrentou. 

Comparado essas criaturas com o temível Lobo da Noite alfa, esses animais agora parecem inofensivos

A mente de Lukas se volta para sua amiga Evangeline, imaginando como ela está lidando com ameaças constantes na masmorra, imersa no perigo semelhantes a esse, em busca da cura para Karenn. 

”E a Evangeline… como será que ela está indo lá na masmorra…? Será que suas ameaças são mais desafiadoras que esse Lobo da Noite…? Argh… Karenn… por que tinha que ser logo você…? Me pergunto se Evangeline conseguirá achar a cura naquele lugar e te trazer de volta…” Ele se pergunta se ela conseguirá completar essa missão. 

A imagem de Karenn, antes alegre e gentil, invade sua mente, ressaltando a importância de Evangeline em encontrar a cura para sua irmã.

Seu olhar recai sobre Isabel, deitada na grama sob a luz das luas. 

Ele admira a beleza inegavelmente cativante da garota de cabelos brancos e olhos safira, a garota que ele jurou proteger durante essa viagem.

Ao perceber que a mulher o observa de modo intrigado depois de notá-lo olhando amorosamente para Isabel, ele pigarreia, pedindo sua ajuda para levar a aluna ao acampamento.

— Ahem! A-a-ah… poderia me dá uma mão aqui e levar minha aluna até o acampamento? — Há um desconforto sutil em seu pedido, e ele se questiona se a mulher terá pensado algo inadequado sobre ele ao vê-lo olhando para Isabel desse jeito. 

Imagens da forma anterior de Isabel como uma mulher madura piscam em sua mente, uma beleza inegável que ele jamais esquecerá.

”Oh… então essa garota é aluna dele? Será ele é seu mestre?” A mulher de armadura, um pouco impressionada, ergue a sobrancelha ao ouvir que Isabel é sua aluna.

Ela se aproxima silenciosamente da garota caída, a pega com extremo cuidado e depois encara Lukas, esperando liderar o caminho em direção ao acampamento.

Lukas observa a atenção meticulosa com que ela segura Isabel e lembra que ela a estava encarando antes. 

Uma leve suspeita brota em sua mente sobre o que uma mulher capaz de derrotar uma criatura de Rank C vê em Isabel, uma maga ainda inexperiente.

— Ahem…! Bem… vamos indo… — Sem perder tempo e com seus pensamentos inquietos, Lukas estala seu ombro direito de volta ao lugar e começa a se dirigir ao acampamento, com a mulher de armadura seguindo alguns passos atrás.


Em passos vagarosos, a terra sob seus pés granula com um som característico, ecoando um silêncio quase desolador próximo ao acampamento. 

Lukas se questiona se toda a luta e o horror enfrentados não passaram de fruto de sua imaginação. No entanto, uma dor aguda o faz perceber que sua luta não foi mera ilusão.

Pouco tempo depois, à distância, a fogueira do acampamento surge em sua visão, lançando sua luz alaranjada sobre o escuro. 

A luz oscilante e crepitante da fogueira contrasta vividamente com o ambiente noturno. 

Uma onda de alívio invade Lukas, ele finalmente retornou vivo para junto de seus amigos.

Avançando com passos apressados, ainda que lentos e difíceis, ele chega às barracas de Balmor e Kamila. 

Lukas abre a barraca de Balmor, encontrando-o profundamente adormecido, como a mulher de armadura lhe dissera antes. Nem mesmo um dragão pareceria capaz de acordá-lo. 

Balmor, aos olhos de Lukas, é um homem idoso, e essa noite longe do trabalho árduo e das artes mágicas foi um tipo de férias para o velho.

Com cuidado, fecha a entrada da barraca de Balmor e segue até a de Kamila.

Fica de longe, hesitante quanto a abrir a barraca abruptamente. Kamila é uma dama, e ele não quer correr o risco de vê-la em situação constrangedora. 

A preocupação o faz abandonar a ideia de abrir a barraca e, em vez disso, chama por ela do lado de fora. 

— Senhorita Kamila… a senhorita está acordada…? Se não, peço que me perdoe, mas poderia sair por um momento? — Apesar de sua condição combalida, ele esquecera que Isabel estava vestindo apenas seu pijama, e a ideia de uma visão indevida de Kamila o aterroriza.


Kamila encontra-se envolta em um vasto campo verdejante, o ar repleto de vida e o calor do sol a abraçam. 

Seus longos cabelos negros dançam ao vento enquanto ela os ajeita suavemente atrás das orelhas. 

Um pensamento atravessa sua mente: talvez este seja o lugar que seu avô mencionara tantas vezes, um local sereno e pacífico. 

Ela se pergunta como chegou ali, mas antes que possa formular uma resposta, uma voz familiar a interrompe.

Os ventos cessam e, ao olhar ao lado, Kamila encontra Lukas chamando por ela. 

A visão do rapaz de óculos num cenário tão inusitado a faz perceber que não está em lugar algum, exceto em um sonho. 

‘’Então… aqui não é exatamente aquele lugar que meu avô disse… Mas… se não é o lugar, como aqui parece tão vivido… será que realmente… não é lá…?’’ Uma sensação de desorientação a envolve, mas a voz de Lukas a faz focar. 

— Senhorita Kamila, a senhorita está aí…? — Ele a chama com urgência, e ela decide acordar, compreendendo que algo importante está acontecendo. 

Diferentemente de Balmor, — que teve suas coisas reviradas sem perceber, Kamila consegue despertar rapidamente.

Ela se ergue com cautela e abre a entrada da barraca, mesmo que vista apenas com seu pijama. 

Lá fora, o ar noturno a envolve com sua frescura, e o céu estrelado com suas duas luas a surpreendem, fazendo-a pensar que ainda não é manhã. 

Ela se questiona sobre o que aconteceu com Lukas para ele chamá-la a essa hora da noite.

— Então… Lukas, o que aconte… — Kamila examina o estado de Lukas, notando suas roupas desgastadas e sujas, bem como manchas vermelhas e um cheiro metálico de ferrugem.

— Lukas! O que aconteceu com você!? I-i-i-isso são feridas!? Suas roupas estão completamente surradas! O que aconteceu?! Onde você se feriu desse jeito!? —  Um pânico imediato a invade, e ela apalpa seu amigo, perguntando ansiosamente o que ocorreu e onde ele se machucou.

 — B-b-bem… — Lukas fica ligeiramente desconcertado com a situação, afinal, Kamila, uma das mulheres mais bonitas do vilarejo e anteriormente conhecida como “princesa” pelos rapazes por ser filha do chefe, coloca-o em uma situação constrangedora.

Enquanto ele a observa com um olhar peculiar, ela continua a perguntar, sem compreender o que se passa na mente dele, sobre o que aconteceu com ele.

— Vamos, Lukas! Diga! O que aconteceu com você!?

— Ah…. me desculpe… Deixa eu contar tudo do início… Bem, há pouco tempo eu senti um… — Num esforço visível para liberar suas palavras, devido ao cansaço acumulado, Lukas descreve em minúcias tudo o que ocorreu na última hora nos arredores da Floresta de Arrow. 

Ele conta com detalhes em suas palavras como, enquanto dormia, sentiu a presença do Lobo da Noite Alfa se aproximando do acampamento. 

Com Isabel, eles conseguiram derrotar a fera, mas no último instante, o monstro evoluiu, tornando-se uma ameaça ainda maior.

Enquanto escuta atentamente, Kamila sente um nó apertar em seu peito, um calafrio percorre suas costas. 

Em questão de minutos, eles poderiam ter se tornado presas de uma besta infernal, mas graças à coragem de Lukas e Isabel, o acampamento foi protegido.

Kamila pensa nas histórias que leu, onde príncipes protegem suas amadas de demônios, e agora, incrivelmente, esse papel recai sobre seu amigo Lukas. E nesse instante, uma emoção complexa a envolve.

O relato de Lukas parece se desenrolar em câmera lenta, seus batimentos cardíacos acelerados. 

Seu rosto, antes tão familiar, agora parece irradiar uma beleza até então não notada por Kamila. Em um instante, um desejo estranho começa a tomar conta dela, o desejo de abraçá-lo, de compartilhar seu calor com ele. 

Ela se questiona sobre suas próprias emoções, mas seus pensamentos sobre Lukas é interrompido quando ela percebe a figura da cavaleira que segura Isabel nos braços.

Lukas prossegue, explicando como ele e Isabel estavam exaustos quando a besta evoluiu e como a cavaleira interveio a tempo, evitando sua morte certa.

”Então foi aquela mulher que salvou eles…” Kamila fita a cavaleira da cabeça aos pés e nota sua beleza, apesar da armadura. Um impulso a leva a querer impressionar Lukas.

Sem hesitar, ela se aproxima dele, seus seios roçando sua figura. Colocando sua mão sobre seu corpo machucado e coberto de hematomas, ela pergunta com genuína preocupação se ele está bem.

— Eu entendo… mas Lukas… depois disso tudo, você está bem…? Não está gravemente ferido e fingindo ser forte na minha frente não, não é? 

— A-a-ah… — Lukas perplexo e um tanto embaraçado, momentaneamente sem palavras, balbucia uma resposta gaguejante, enquanto sua visão é atraída para os seios de Kamila que estão logo acima dele.  

Ela percebe seu olhar, consciente de sua vestimenta reveladora. Ruborizada como um tomate maduro, ela recua rapidamente envergonhada. 

Lukas, percebendo a situação inesperada, menciona que está um pouco melhor graças a uma poção de cura que o ajudou a se recuperar dos ferimentos graves.

— Nã-não… precisa se preocupar, eu já usei uma poção de cura para cuidar de alguns ferimentos no meu corpo…

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