Primeiro, reunimos o equipamento do trio em um só lugar. Então, dei a Kharon a primeira escolha. — Se precisar de algo, pegue.
— Não sou tão sem vergonha assim.
— Não recuse. Você derrubou um deles.
— Se você diz… — Parecia que, de fato, havia algo que ele queria, pois Kharon acabou pegando parte do saque para si mesmo… uma bolsa de couro de boa qualidade e algumas garrafas de poção.
— Isso e um martelo de duas mãos? É só isso?
— O resto é pequeno demais para o meu corpo, então não adianta. — Isso era verdade. Logo, Kharon sorriu amplamente, segurando um machado em uma mão e um martelo de guerra na outra. — Posso matar qualquer coisa difícil com um machado e com isso! — Embora sua forma de falar fosse rude, o que ele dizia era bastante razoável. Armas contundentes eram mais eficazes contra monstros como os Golens de Pedra.
“Sim. Empunhar duas armas é uma necessidade para os bárbaros.”
A visão de Kharon parecendo mais um bárbaro adequado me agradou, então entreguei mais algumas peças de equipamento. — Mesmo que não precise, fique com isso e venda.
— Mas…!
Sem ‘mas’. Sério, por que todos os bárbaros eram tão gentis? Se ele fosse humano, teria um olhar ganancioso nos olhos. — Não se esqueça de que, quanto mais forte você se tornar, mais seguro será para os jovens guerreiros.
— …Certo. Vou definitivamente vender esses itens e transformá-los em equipamentos que me ajudarão.
Minha razão para entregar o equipamento à força enquanto persuadia um senso de responsabilidade nele era simples. Se eu pegasse essas coisas para mim, receberia duzentas mil pedras adicionais, mas, a longo prazo, isso me beneficiaria mais. — Fique mais forte, Kharon, filho de Tarson.
— Eu vou. Pelo menos pelo bem do meu povo.
Das seis raças, os bárbaros eram os mais fracos em termos de influência. Cada indivíduo tinha um bom potencial, mas a maioria deles morria no início. Claro, os ventos da mudança não começariam a soprar apenas porque uma pessoa tinha mudado, mas e se o número aumentasse gradualmente, começando com este? E se isso levasse a um ciclo vicioso de mais e mais jovens guerreiros sobrevivendo para se tornarem os melhores aventureiros?
“Então, a quantidade de influência que os bárbaros têm vai crescer gradualmente.”
Quer goste ou não, eu era um bárbaro. Quanto mais influência minha raça tivesse, mais eu poderia desfrutar do efeito cascata. Basta olhar para os magos. Sem a enorme comunidade da Torre Mágica, eles seriam todos tão arrogantes?
— Então vamos. Se alguém nos ver aqui, haverá problemas.
Nesse espírito, eu acompanhei Kharon até o primeiro andar e lhe dei todos os conselhos que consegui pensar. Como, ao procurar por um grupo, escolha um com pelo menos um membro de uma raça diferente. Seja mais cauteloso com pessoas amigáveis, mas ao mesmo tempo não torne óbvio demais e não mostre suas fraquezas.
— Agora eu entendo o que você quis dizer com ‘esconder um machado por trás de sua inocência’! — Será que isso foi devido ao ótimo exemplo que eu tinha dado com o trio hoje? Kharon entendeu exatamente o que eu queria dizer. — Acho que seria uma boa ideia encontrar intencionalmente companheiros humanos durante a noite e fingir estar dormindo. Se eles tiverem segundas intenções, isso definitivamente irá revelá-las!
“Ah… uh… um… Isso não é algo que eu disse para ele fazer…”
— …Essa é também uma boa estratégia.
Parecia que ser tratado como um monstro e traído por seu grupo hoje havia sido um grande choque para ele. Ele estava absorvendo todos os meus conselhos como uma esponja.
Por volta do início do quinto dia, às 23:49, nós dois retornamos à Terra dos Mortos depois de levar Kharon para o primeiro andar. Então, nós aceleramos um pouco e nos concentramos em nossa busca, já que tínhamos desviado de nossos planos e perdido quase um dia inteiro. No décimo dia, o segundo andar seria fechado. A menos que pretendêssemos concluir esta exploração no segundo andar, tínhamos que nos mover um pouco mais rápido, especialmente porque tínhamos trabalho a fazer antes de subir para o terceiro andar.
— Hmm? Nós vamos lutarrr contra um Cavaleiro da Morte? Isso é possível? Ouvi dizer que é difícil até mesmo encontrá-los…
O monstro de sexto nível Cavaleiro da Morte era uma peça difícil de encontrar que, em ocasiões muito raras, aparecia na Terra dos Mortos no segundo andar. Tive que passar por vários personagens antes de descobrir as condições para encontrá-lo.
— Não se preocupe. Rastreá-lo não será um grande problema.
Parecia que ela estava se acostumando com conversas assim, porque a Missha nem se preocupou em perguntar de onde eu tirei aquela informação e apenas expressou uma preocupação diferente. — Hum, mas mesmo assim, não sei se nós dois conseguiremos lidar com um deles.
Não era uma preocupação estranha de se ter. Encontrávamos monstros de sexto nível de vez em quando no quarto andar, mas atualmente, éramos apenas duas pessoas em vez de um grupo completo.
“Como ela só caçava monstros de oitavo nível, ela não terá uma noção de quão forte ela está agora.”
Missha tinha uma história de atividade no quarto andar com duas essências antes de me encontrar. Embora seus atributos estivessem no lado mais baixo, ela havia compensado o que faltava com suas habilidades em artes marciais, que ela adquirira com muito esforço. Mas desde então, ela havia feito um contrato com um Animal Espiritual e até conseguiu duas essências. Uma delas até pertencia a um guardião.
“E se você adicionar a compatibilidade de combo de suas essências a isso… é seguro dizer que ela agora está várias vezes mais forte do que costumava ser.”
Olhei para os fatos concretos do ponto de vista de um jogador. Com nossa força combinada, a caçada poderia acabar sendo bem-sucedida. No entanto, não havia necessidade de explicar isso em detalhes, já que os bárbaros tinham o jeito certo de comunicar conceitos como esses. — Missha, confie em mim.
— Se você diz isso… Não é como se eu pudesse dizer não.
— É isso, então.
Com o consentimento de Missha, continuamos a procurar na área circundante. Expandimos o raio de busca ao derrotar todos os monstros de oitavo nível que vimos — Demônios da Morte, Lobos Quimeras, Ghoul Anciões, e assim por diante.
— Vamos parar por aqui hoje e armar acampamento.
O quinto dia terminou sem sucesso. No dia seguinte, o sexto, foi a mesma coisa. Com pouco mais de uma hora antes do início do sétimo dia, soltei um longo suspiro.
“Não pensei que seríamos malsucedidos depois de mais de dois dias.”
Quando um labirinto se abria, uma lápide era criada em um local aleatório na Terra dos Mortos. No início do sétimo dia, ela convocava o Cavaleiro da Morte. Em outras palavras, se você encontrasse a lápide, poderia facilmente encontrar o Cavaleiro da Morte esperando na frente dela.
“Claro, minha vida é assim.”
Embora tivéssemos caçado e procurado de maneira desanimada por todo o lugar por dois dias, não conseguimos encontrar nem mesmo um rastro de uma lápide. Isso foi inesperado. Não importava o quão grande fosse o segundo andar, tudo o que tínhamos que fazer era procurar na zona de oitavo nível. Eu tinha determinado que dois dias deveriam ser suficientes.
“Caramba, devemos desistir do Cavaleiro da Morte?”
Enquanto eu lambia os lábios, não querendo que os últimos dois dias tivessem sido em vão, a Missha correu até mim. — Não fique tão desanimado. Como um livro pode estarrr certo o tempo todo? Uma grande lápide na Terra dos Mortos? Eu nunca ouvi falar de tal coisa antes.
“Hum, ela está tentando me confortar, certo?”
— Então pare de se procurar na biblioteca todos os dias e venha sair comigo de vez em quando.
— …Qual é a moral dessa história?
— A-a-a o Hikurod também disse a mesma coisa. É mais útil ter algumas conversas com os outros aventureiros em um bar do que lerrr alguns livros!
Agora que eu estava pensando nisso, parecia que o anão era uma má influência sobre a Missha. Mas eu não podia realmente discordar dela. Na verdade, a maioria dos aventureiros sentia o mesmo. Preferiam socializar e obter informações em um bar do que lendo um livro. Havia algumas pessoas por aí que afirmavam que beber e jogar eram extensões do trabalho, o que dizia tudo.
— …Prrr que você não está dizendo nada?
— Simplesmente não tenho nada a dizer.
— Prrr que você não tem nada a dizer?
— Pare de falar sobre isso e vamos seguir em frente por agora. — Eu não queria perder tempo me envolvendo em uma discussão sem sentido, então retomei nossa jornada.
Há quanto tempo tinha passado desde então? Verifiquei meu relógio e afastei qualquer decepção persistente. Faltava um minuto para meia-noite. O sétimo dia começaria em breve. E assim que o Cavaleiro da Morte fosse convocado, ele começaria a vagar, então o fato é que esta exploração já era um fracasso.
“De qualquer forma, era da experiência que eu estava atrás…”
Deixando meus arrependimentos para trás, tirei minha bússola.
— Oh, finalmente vamos para o terceiro andar?
— Sim.
Em vez de vagar sem rumo em busca de uma lápide, viramos para o norte. E naquele momento…
— Nyah? Bjorrrn?
— Você também sentiu?
— Sim, um arrepio percorreu minha espinha.
O ar ao nosso redor mudou. Era difícil descrever, mas no momento em que mudou, meu corpo registrou antes mesmo de minha mente. De tão óbvia que foi a mudança.
“Será que pode ser?”
Uma possibilidade veio à mente, e eu peguei uma faca emprestada de Missha e cortei a parte de trás da minha mão.
Tec.
Quando pressionei a lâmina e arrastei-a pela minha pele, o sangue ácido fluía da fenda aberta.
— Ah! O que você está fazendo?! Você está danificando a lâmina!
Ignorando as reclamações da Missha, observei o ferimento e contei o tempo.
“Um, dois, três, quatro, cinco, seis…”
À medida que o número aumentava, um sorriso se espalhava pelos meus lábios. O ferimento, que deveria ter cicatrizado em questão de segundos, ainda não estava cicatrizando.
【Você foi exposto a Rancor. Os efeitos de cura e regeneração diminuem significativamente】
Isso significava que o tão esperado Cavaleiro da Morte estava perto de nós, e muito próximo.
“Não é de admirar que não conseguíssemos encontrá-lo em lugar nenhum. Realmente estava próximo.”
Mesmo que eu me sentisse um pouco deprimido com isso, meu ânimo foi reforçado por uma informação que percebi logo depois.
“O Rancor já foi ativado…”
A aura de maldição Rancor era uma habilidade ativa, que era ligada ou desligada dependendo da vontade do monstro ou personagem que adquiriu a essência. Simplificando, não havia motivo para usá-la fora de combate… as circunstâncias para ativá-la eram muito claras. Menos de um minuto após ser convocado, o Cavaleiro da Morte saltou para a batalha assim que abriu os olhos. Não era impossível que um aventureiro que estivesse passando pelo local exato na hora certa pudesse se envolver em combate com ele, mas…
“Isso é improvável.”
Seria muito mais razoável assumir que, em vez de tal coincidência incrível acontecer, alguma pessoa desconhecida estava esperando na frente da lápide.
“Poderia ser um jogador?”
Essa foi minha primeira impressão. No entanto, eu não podia descartar outras possibilidades. O grande clã Dzarwi sabia como invocar um Herói Orc. Era possível que a informação sobre Cavaleiros da Morte não fosse tão de alto nível.
“Bem, saberei com certeza quando chegarmos lá.”
Decidi reservar meu julgamento por enquanto e me movi rapidamente com a Missha. Estava escuro ao redor, mas não era difícil encontrar a direção certa.
Bam!
Julgando pelo som, a luta parecia ser bastante explosiva. Missha foi capaz de chegar a uma conclusão apenas com essa informação e agarrou meu pulso. — Bjorrrn, você acha que é um Cavaleiro da Morte? E alguém já está lutando com ele? — ela perguntou.
— Sim.
— Espere um minuto, pare! O que você vai fazerrr lá?
“O que você acha? Dar um soco e pegar os pontos de experiência.”
— O quê? Se você fizer isso, pode ser atacado! — Missha se assustou quando traduzi meus planos futuros em palavras deste mundo. Era uma preocupação legítima dela. Embora não tão horrível quanto pilhar, o ato de intrusão ou roubo de presas durante a batalha era considerado extremamente imoral entre os aventureiros.
— Tudo bem. Não tenho intenção de reivindicar o direito a uma essência ou pedra de mana, então vou apenas fingir que pensei que quem quer que seja estava em perigo.
— Hmm, mesmo assim…
— Não se preocupe. Se acontecer algo, eu assumirei a responsabilidade por tudo…
— Seu idiota! Parece que eu quero que você assuma responsabilidade? Argh, como eu acabei envolvida com alguém como você? De qualquerrr forma, vamos lá! Não ligo mais!
“Hum, isso é um pouco injusto. Não é como se eu estivesse fazendo isso apenas por mim… De qualquer forma, acho que, como não estamos saqueando, isso está dentro dos limites razoáveis.
Fazendo uma nota mental dessa informação adicional, acelerei um pouco. Talvez dez segundos tenham passado quando…
— Kyaaagh!
Vi quatro aventureiros passarem pelo Cavaleiro da Morte, que empunhava uma espada e tinha as costas voltadas para nós.
— Hã?
Parece que eles também nos viram. Portanto, sem dar tempo para que eles me parassem, acertei o Cavaleiro da Morte com minha maça.
Whack!
“Ok, isso vai me render pontos de experiência.”
Como se estivesse esperando por isso, gritei as falas que havia preparado. — Não se preocupem! Eu vou salvar vocês!
Era por isso que os bárbaros eram personagens fraudulentos.
— Behelaaah!
Não seria o mesmo entre humanos, mas quem pensaria que isso foi intencional?
O Cavaleiro da Morte levou o golpe pesado e tropeçou.
— Kyaaak?! — Aparentemente, o monstro também estava perplexo com minha interrupção repentina. Não tanto quanto o grupo de quatro, no entanto.
— O que você está fazendo!? — O guerreiro humano que estava mais perto de mim gritou, percebendo tardiamente o que estava acontecendo.
Em seguida veio a arqueira elfa na fileira de trás. — Por que está ajudando? Se você não recuar, vou atacar você também. — Sua voz era suave, mas ainda muito afiada.
Fingi estar confuso e gritei: — Eu só estava tentando ajudar!
— Quem pediu ajuda?
— Hã? Você não pediu? Eu pensei que ouvi você…
— Deixa pra lá, apenas recue se não quiser se envolver nisso e sair ferido!
— T-Tudo bem! — Mesmo enquanto falávamos, desviei os ataques do Cavaleiro da Morte várias vezes com meu escudo antes de recuar para onde a Missha estava.
— Maldição, o que diabos foi isso de repente? — Apesar de suas reclamações, o guerreiro humano assumiu habilmente o aggro e a batalha recomeçou suavemente.
Abandonei meu ato desajeitado de bárbaro e falei para que apenas a Missha pudesse ouvir. — Como foi? Acho que não há nada com que se preocupar. — Eu queria tranquilizar a Missha, que estava preocupada em ser vista como uma aventureira rude.
No entanto, a reação que recebi foi um pouco inesperada. — Você é realmente… — Minha atuação pareceu ter deixado uma impressão sobre ela porque ela não conseguiu terminar sua frase. — Hah… não importa. O que posso dizerrr aqui? Outras pessoas precisam saber que você é assim.
— O que você quer dizer? Eu só mostro tudo isso para você.
— Nyah? M-Mesmo assim. Quero dizer… o quê?
A conversa fiada terminou ali e eu observei a batalha que se seguiu. Quantas oportunidades teríamos de assistir outra equipe caçando?
“Não é um grupo completo, mas o equilíbrio está bom.”
O guerreiro humano conseguia tankar 1 sozinho habilmente.
— Vou dar outro golpe, então recuem! — A linha de dano era composta por um mago e uma arqueira elfa que usava magia de fogo.
“Acho que esta é a primeira vez que vejo um invocador neste mundo.”
Havia até mesmo um homem humano em uma posição de suporte que causava dano ou dava buffs usando monstros que ele chamava através de sua habilidade de invocação.
— Bjorrrn, aquele homem… ele não parece familiar para você?
Com o comentário repentino da Missha, olhei novamente para o invocador, uma figura pequena de cerca de 1,57 metros. Era difícil ver seu rosto por causa do capuz, mas ainda assim, senti uma estranha sensação de déjà vu.
“O que é isso? Onde eu o vi? Não tem como eu não me lembrar de um invocador…”
No momento em que estava tentando entender por que seu rosto era tão familiar… — T-Todos saiam do caminho! O ataque do qual eu estava falando e-está vindo! — O invocador gaguejou e deu instruções. Graças a isso, minhas memórias confusas se tornaram mais claras. Logo, olhei novamente para o rosto da elfa perto do homem e cheguei a uma conclusão.
“Ah, aquele filho da mãe daquela época.”
Tinha que ser ele.
- Tankar, vem da posição, ‘tank’, é um termo usado em jogos de RPG para aquele que assume a posição frontal e recebe os golpes pesados do inimigo.[↩]
