A primeira vez que ouvi falar sobre a Pedra dos Registros foi durante minha conversa com o GM.
— Não há motivo para eu não acreditar nele. Pelo menos, a Pedra dos Registros corrobora a afirmação dele, de qualquer forma.
Em resposta à minha pergunta sobre por que ele acreditava em toda a história de Auril Gavis, de que um jogador específico abriria o Portão do Abismo no futuro, ele insinuou que isso estava praticamente profetizado. No momento em que essas palavras saíram da boca dele, eu soube que Baekho Lee provavelmente também tinha alguma ligação com a Pedra dos Registros, porque, assim como o GM, Baekho Lee também era obcecado pelo usuário Elfnuna.
— Hm, é mesmo?
Naquele dia, eu não queria correr o risco de fazer algo que pudesse irritar Baekho, então deixei minhas suspeitas de lado e não mencionei nada. Também pensei que deveria investigar por conta própria antes de perguntar a ele sobre isso, mas minhas descobertas apenas confirmaram o que eu já sabia.
“Não há registro disso na biblioteca. Até mesmo Versyl parecia estar ouvindo sobre isso pela primeira vez quando perguntei.”
Passei algum tempo livre pesquisando sobre isso, mas não consegui encontrar nenhuma informação sobre a Pedra dos Registros. Portanto, restava-me apenas uma opção: perguntar a alguém que pudesse me dar uma resposta direta.
Em resposta à minha pergunta, Baekho ficou em silêncio. No entanto, assim como ele havia dito a Hyeonbyeol anteriormente, o silêncio já era uma resposta por si só.
“Sim, então ele sabe o que é a Pedra dos Registros.”
Fazia sentido ele ficar quieto e pensar bem antes de me responder, mas a oportunidade de fazer isso parecer natural já havia passado. Mesmo assim, Baekho continuou em silêncio, olhando para mim como se estivesse enxergando minha alma.
— Irmão. — Ele finalmente quebrou o silêncio. Nem parecia perceber que o sorriso que ele tinha antes havia desaparecido. Com uma voz fria e baixa, ele perguntou — Onde você ouviu falar disso?
Senti um arrepio estranho na espinha, mas não demonstrei. Esse cara sempre tinha segundas intenções por trás de cada palavra. Então, por que ele estava tão interessado em descobrir minha fonte primeiro?
“Ele deve estar curioso sobre o quanto eu sei.”
Armado com esse conhecimento, eu tinha apenas uma opção.
— Quem sabe. — Eu precisava manter minhas respostas vagas e evitar ser impaciente. Essa era minha melhor aposta para ganhar vantagem nessa interação. — Importa onde eu ouvi?
Os olhos de Baekho não se desviaram dos meus, estudando-me atentamente enquanto eu dava de ombros. Ele parecia estar refletindo profundamente, provavelmente pensando em como abordar essa conversa.
Eu estava perguntando porque realmente não sabia o que era a Pedra dos Registros? Ou já sabia de algo e estava apenas tentando cruzar informações? Nesse caso, como ele deveria me responder? Ou talvez ele não pudesse responder de jeito nenhum?
Conforme o tempo passava lentamente, eu podia sentir que ele estava cuidadosamente analisando possibilidade após possibilidade e ponderando suas opções. Percebendo que dar mais tempo a ele não me traria nenhum benefício, decidi ir direto ao ponto. Mesmo que isso parecesse completamente inesperado para ele, isso só tornava meu movimento ainda mais eficaz.
— Elfnuna.
Então eu trouxe à tona o que eu sabia que o desestabilizaria mais. Não importa o quão grande seja a árvore, se você continuar sacudindo-a, pelo menos uma folha cairá.
Quando mencionei o apelido pela primeira vez em nossos anos de encontros, os olhos de Baekho se arregalaram levemente. A reação dele não era o suficiente para mim, então fiz meu próximo movimento rapidamente.
— Você já sabe que sou eu.
Era hora de colocar uma das minhas cartas na mesa.
— O que você quer dizer com isso?
A resposta dele, embora quase instantânea, não foi nem positiva nem negativa, apenas uma simples pergunta. Era um padrão frequentemente visto em pessoas que mentem. Responder com uma pergunta neutra em vez de outra mentira os deixava mais tranquilos.
Isso significava que eu precisava pressionar mais.
— Baekho, você não percebeu? Desde que nos conhecemos, nunca falei sobre Elfnuna com você. — Bati com o dedo no texto acima da minha cabeça que dizia Elfnuna. — Você não acha isso estranho?
Era uma armadilha inescapável. Xeque-mate.
Crep, crep.
O som de lenha queimando encheu o ar pesado entre nós. Em vez de pressioná-lo ainda mais, dei a Baekho algum tempo para organizar seus pensamentos. Normalmente, em situações como essa, o mentiroso era quem ficava mais desconfortável com o silêncio prolongado.
— Irmão… — Depois de um longo momento, Baekho finalmente cedeu. — O que você quer me perguntar?
Parecia que esse cara ainda pretendia andar na corda bamba. Eu estava familiarizado com essa mentalidade dele, querendo dar aos outros o mínimo possível enquanto tentava tirar o máximo em troca. Mas havia uma maneira simples de contornar isso.
— Não é que eu queira te perguntar algo.
Quando a oposição restringe fortemente o fluxo de informações, o melhor é deixar a bola no campo deles.
“Onde eu ouvi essa palavra? Quanto eu sei? Nada disso é relevante.”
— Eu só quero ouvir…
O som da lenha estalando voltou.
— …e ver que tipo de resposta você vai me dar.
O desfecho dessa conversa estava agora totalmente nas mãos de Baekho. E ele fez sua escolha mais rápido do que eu esperava.
— Hahaha, você é realmente intenso, irmão! Sério, eu nunca consigo ganhar de você!
Ele de repente voltou ao seu estado usual. Do meu ponto de vista, muitas vezes parecia que havia dois Baekhos totalmente diferentes que às vezes trocavam de lugar. Eu costumava ficar surpreso com a forma como ele conseguia mudar de personalidade num piscar de olhos, mas já estava bem acostumado com isso agora.
— Eu vou te contar tudo. Então, do que você está mais curioso?
“Haha, esse desgraçado ainda está tentando jogar comigo.”
Se eu não estivesse em alerta, talvez tivesse caído nessa. Eu não respondi e, em vez disso, fiquei esperando em silêncio, apenas olhando para ele.
Baekho se mexeu um pouco antes de soltar um suspiro pesado. — …Você realmente era um trabalhador de escritório antes? — Quando continuei em silêncio, ele prosseguiu: — Só estou curioso, só isso. Que tipo de vida você tem que levar para acabar assim?
“Do que esse cara está falando?”
Finalmente percebendo que eu ia ficar em silêncio, não importava o que ele dissesse, Baekho soltou outro suspiro profundo. — Hah… Tudo bem, eu vou te contar. Honestamente, tenho certeza de que você só está me testando… Deve ser por isso que estou tão nervoso… Bem, talvez seja melhor confessar logo.
— Então me responda.
— Ok. Você acredita em destino? — Ele fez uma pausa e esperou por minha resposta, que não veio. — Ah, você nem vai responder isso? Então vou explicar do meu jeito, independentemente de você entender ou não.
— Eu já te disse. O que importa é o que você quer me contar.
— Certo. Entendi.
Baekho parecia ceder, percebendo que eu não planejava dar nada com que ele pudesse trabalhar tão cedo. Afinal, qualquer pergunta que eu respondesse, por menor que fosse, poderia levar a um grande deslize.
— Tenho certeza de que você já sabe que a maioria dos artefatos antigos e seus mitos foram perdidos quando esta cidade foi construída, certo? Mas você sabia que um desses artefatos antigos apagados dos registros públicos foi a Pedra dos Registros? E que essa Pedra dos Registros supostamente contém toda a história deste mundo. Não estou falando apenas do passado, mas também do futuro.
“Isso não é apenas algum tipo de mito antigo?”
Foi o que me pareceu, pelo menos, mas decidi ouvir a história dele até o fim.
— De qualquer forma, até algo como a Pedra dos Registros tem um fim. Claro, esse fim significaria o fim do mundo. E o começo do fim era onde a Bruxa entrava em cena… Embora eu honestamente não saiba muito sobre isso. Só há uma coisa que eu realmente sei com certeza.
Fiquei em silêncio.
— Alguém destruiu a Pedra dos Registros para impedir o fim do mundo. E por causa disso, este mundo ainda existe hoje.
Eu absorvi tudo isso, meu silêncio já não era mais nem um ato.
— O que importa aqui é o seguinte: os fragmentos da Pedra dos Registros estão agora espalhados por todo o mundo.
Assim que ouvi isso, algo fez sentido na minha mente.
“O Fragmento da Pedra dos Registros.”
Um item mágico deixado para trás por Gabrielius. O mesmo que enviou tanto a mim quanto a Amelia de volta no tempo.
— Alguns desses fragmentos foram realmente encontrados. E eu até vi alguns deles pessoalmente.
Essa notícia me irritou um pouco, considerando algo que ele me disse alguns meses atrás.
— O Fragmento da Pedra dos Registros…? Já ouvi falar disso antes, difícil acreditar que realmente existe.1
Então o desgraçado mentiu desde o começo. Eu queria confrontá-lo sobre isso, mas não queria interrompê-lo no meio da história, então, por enquanto, segurei minha língua enquanto ele continuava. Estávamos finalmente chegando às partes importantes.
— Um dos fragmentos dizia isso. — Baekho fez uma pausa por um minuto antes de recitar — E assim, tal, um espírito maligno de outro mundo, foi capaz de abrir o Portão do Abismo e finalmente realizar seu desejo.
A frase parecia ter sido tirada diretamente de um livro de histórias.
— Como o nome desse espírito maligno não foi escrito em letras propriamente ditas, é impossível dizer com certeza quem ele é. Isso porque, na Pedra dos Registros, os nomes das pessoas são escritos com símbolos únicos. Algo sobre como é o verdadeiro nome ligado à sua alma ou algo assim. — Ele fez uma pausa para ver se eu tinha algo a dizer sobre isso, então continuou. — Mas esse não é o ponto. O principal é que eu também vi esse mesmo padrão único escrito em outros fragmentos. E eles diziam isso.
Ba-dum!
— Tal, que foi o primeiro a passar pelo teste original, abriu seus olhos neste mundo.
Só depois de ouvir isso, finalmente entendi por que Auril Gavis estava tão obcecado com a pessoa que completou a versão original do jogo. Também fez sentido de repente por que o GM estava tão interessado em Elfnuna e, por fim, por que Baekho Lee tinha tanto medo de criar inimizade comigo.
— Irmãozão… Você não disse uma palavra esse tempo todo. Se você não sabia nada sobre a Pedra dos Registros antes disso, então esta parte vai despertar seu interesse. — Enquanto eu ainda tentava organizar meus pensamentos, Baekho continuou sua história. — ‘Qual é a importância desses registros, afinal? Eles não são irrelevantes agora que a pedra está quebrada?’ No começo, era o que eu pensava. Mas não é o caso. Na verdade, algo no último fragmento que vi se tornou realidade.
— …E o que foi?
Quando finalmente abri a boca, Baekho respondeu com um sorriso malicioso — Isso é segredo.
— …O quê?
Eu o encarei, irritado com a atitude descarada dele, mas ele agiu como se não se importasse. — Não vou te contar. Acredite ou não, é porque é uma questão pessoal. Não se preocupe, não tem nada a ver com você.
Se isso fosse verdade, então não havia motivo para insistir mais. Por algum motivo, quando ele disse que era uma ‘questão pessoal’, fiquei inclinado a acreditar nele.
— É… acho que isso é tudo que há para dizer sobre a Pedra dos Registros… então, que tal eu falar sobre Elfnuna agora?
Quando assenti com a cabeça, Baekho passou para o próximo item da pauta.
— Eu criei esta sala de bate-papo depois de saber sobre a Pedra dos Registros. E esperei. todo esse tempo. Isso porque eu tinha certeza de que a pessoa que tinha a maior chance de completar a versão original do jogo era ninguém menos que Elfnuna, e obviamente, Elfnuna tinha que ser coreano. Depois disso, bem, é como você adivinhou. Todo esse tempo, eu pensei que essa pessoa poderia ser você. Mas pensar que eu estava realmente certo…
Baekho então olhou para mim com os olhos arregalados e perguntou: — É você, né?
Todo esse tempo, nós enganamos um ao outro, incapazes de ter uma conversa honesta. No entanto, como ele estava disposto a compartilhar tanto comigo, não havia razão para eu esconder a verdade dele por mais tempo.
Eu calmamente confirmei para ele. — Sim.
Embora ele estivesse finalmente ouvindo isso da minha própria boca, Baekho não teve muita reação. Ele já devia ter certeza disso antes. Ele simplesmente acenou com a cabeça.
— Acho que te contei tudo que podia. Então, o que você acha? Isso responde todas as suas perguntas?
— Não, ainda não. — Balancei a cabeça. A maioria das minhas perguntas foi respondida, mas uma coisa importante permanecia. E talvez fosse a pergunta mais importante de todas. — Por que você estava escondendo isso de mim esse tempo todo?
Em outras palavras, qual era o jogo de Baekho Lee?
— Depois de te ouvir, nada disso parece ser algo que você precisava esconder de mim — eu disse firmemente.
Ao confrontá-lo diretamente, Baekho respondeu com um sorriso amargo e um leve tom de saudade na voz. — O destino é como a pata de um macaco.2
— …Pata de macaco?
Olhei para ele, confuso, incitando-o a explicar, mas ele simplesmente deu de ombros como se já tivesse dito tudo o que precisava. — O quê? Você não sabe o que é a pata de macaco?
— Eu sei o que é, mas por que você está trazendo isso à tona de repente?
— É exatamente o que eu disse. As coisas escritas na Pedra dos Registros estão destinadas a acontecer, não importa o que aconteça. No entanto, é impossível para mim saber se o que eu quero vai acontecer ou não.
— …Continue.
— Irmãozão, tenho certeza de que, um dia, você abrirá o Portão do Abismo. Mas isso garante um final feliz? Seu desejo pode se realizar, mas e o meu? É por isso que eu não disse nada sobre a pedra até agora. Eu queria ganhar algum tempo para tentar mudar seu desejo para que fosse o mesmo que o meu.
Acho que entendi o que ele estava pensando. Afinal, eu já tinha feito algo parecido antes.
— A irmã mais velha de Amelia, Laura, morreu.
Naquela época, eu tentei de tudo para mudar o futuro e, no fim, consegui. Então, talvez Baekho Lee estivesse tentando fazer o mesmo. Provavelmente foi por isso que ele mostrou suas verdadeiras cores no momento em que eu disse a ele que não queria voltar para casa.
— Então por que você se aliou ao Erudito Caído? — Se ele ia responder tudo que eu perguntasse, achei que valia fazer mais uma pergunta. — Tenho certeza de que você não se tornou amigo dele só porque precisava de um mago na sua equipe.
A expressão de Baekho endureceu por um momento antes de ele soltar uma risada incrédula. — Hahaha… Você tem algum tipo de detector de mentiras na sua cabeça ou algo assim?
“Um detector de mentiras na minha cabeça? Como diabos isso faria sentido?”
— Esqueça isso e me responda. Esta é minha última pergunta.
Embora eu o tenha incitado a ir direto ao ponto, Baekho demorou a responder. — Não sei como isso vai soar para você, mas…
— Tudo bem. Apenas diga.
— Aquele velho… Você não precisa se preocupar com ele. Ele é apenas meu Plano B.
— Plano B…?
— Sim. As coisas nem sempre saem como você quer, certo?
Baekho sorriu, enterrando todos os seus verdadeiros pensamentos e sentimentos bem no fundo.
— Eu preciso ter uma reserva caso tenha que abandonar o Plano A. Porque, de um jeito ou de outro, eu definitivamente vou sair deste lugar de merda.