Tromp, tromp, tromp.
Ela corria pela caverna com seus novos companheiros de equipe, olhando para as costas deles após oferecer a desculpa de que ficaria na retaguarda.
— Senhor, por favor, explique. Por que estamos subindo para o segundo andar?
Havia um abismo entre eles, um que impedia que ela se aproximasse muito. Ainda assim, ela poderia superá-lo em um segundo, se tentasse. Sim, ela tinha certeza de que poderia.
No entanto…
— Não é qualquer lugar no segundo andar. Estamos indo para a Floresta dos Goblins.
Por que de repente parecia que ela poderia passar o resto da vida tentando e ainda assim nunca conseguiria fechar esse abismo?
“Eu tinha certeza de que isso aconteceria… que com o tempo, as coisas voltariam ao normal…”
Ela estava tentando não ficar impaciente, mas sua confiança começava a desvanecer à medida que os dias passavam. A interação que testemunhou há pouco falava por si.
— Acho que isso seria melhor para você.
— Yandel, não se ofenda e apenas me escute. Você está muito instável agora.
Ao ver aquelas palavras surtirem efeito em Bjorn, o primeiro pensamento que ela teve foi: ‘eu deveria ter sido a pessoa a dizer isso’.
Ela havia perdido.
Nunca tinha sequer passado pela cabeça dela dizer algo assim. A resposta que deu foi a que achou que Bjorn queria ouvir. Mas, depois de tantos anos, ela já nem tinha certeza do que ‘o que Bjorn queria ouvir’.
— Não sei. Acho que os matar… seria melhor…?
Ela não expressou sua própria opinião. Não, ela apenas olhou ao redor e deu a resposta que achou que a maioria deles concordaria. Pensando bem, as coisas sempre foram assim. Ela nunca questionou Bjorn ou o aconselhou sobre qual caminho ele deveria seguir. Ela havia decidido segui-lo em silêncio, não importava o que ele fizesse. Isso era tudo que ela sempre fez.
“Amelia Rainwales…”
A diferença fundamental entre as duas era palpável. Ela olhou para a Amelia e percebeu que ela devia ser o que as pessoas queriam dizer quando falavam sobre uma verdadeira companheira. Não era que a posição de Missha no grupo tivesse desaparecido enquanto ela estava fora. Ela sempre sentiu que poderia voltar e recuperar seu lugar a qualquer momento, mas agora estava percebendo que não era um lugar tão especial assim.
— …Você está bem? — Amelia diminuiu o passo para acompanhá-la na retaguarda, andando ao seu lado. — Você parece estranha há um tempo.
Ao olhar para Amelia, sentiu os dentes se apertarem. — Não se preocupe comigo. Estou bem.
Não importava se ela ainda tinha um lugar ali ou não. Nem importava se ele olhava através dela.
— Se não fizer isso, Bjorn Yandel vai morrer.
Porque ela tinha algo mais importante para cuidar.
Cerca de uma hora depois do início do terceiro dia, toda a caverna começou a tremer enquanto os cristais brilhavam em vermelho. Isso significava que o Lorde do Terror, Dreadfear, havia sido invocado em algum lugar, provavelmente resultado de um dos oito pedidos de raid que já haviam sido enviados para a Guilda dos Aventureiros. O problema era quão cedo o estavam invocando.
“Faz apenas uma hora e ele já está aqui. Quantas pessoas estão esperando pela vez de enfrentá-lo?”
Claro, nada disso importava para nós, já que tínhamos nossos olhos voltados para outra coisa. Ainda assim, as oito equipes que receberam a permissão de raid provavelmente estavam pensando nas mesmas linhas. Na verdade, era seguro dizer que a maioria dos aventureiros havia considerado essa mesma possibilidade.
O que aconteceria se derrotassem o Lorde do Terror, Dreadfear, agora?
Enquanto planejava a missão deste mês, também considerei a possibilidade de que a chave para acessar a área secreta pudesse ser derrotá-lo novamente.
Infelizmente, eu não pude me inscrever, pois as vagas já estavam todas preenchidas.
No entanto, se o Lorde do Abismo, Berzak, fosse a verdadeira chave, então teríamos que desistir de alcançar a área secreta por enquanto.
“…Todos têm o bom senso de não invocar Berzak, certo?”
Eu queria acreditar nisso, mas não estava muito tranquilo. À primeira vista, havia dezenas de grupos espalhados pela Caverna de Cristal, não apenas os oito que se inscreveram para a raid. Se até mesmo uma dessas equipes extras ficasse um pouco gananciosa, os resultados seriam catastróficos.
“Isso não importa. Temos nossa própria missão para focar.”
Não era como se eu pudesse persuadir pessoalmente todos os aventureiros na caverna a não ficarem gananciosos e invocarem Berzak, então, no final, aceleramos o passo e saímos de lá.
【Você entrou na Floresta dos Goblins no segundo andar.】
Rapidamente fizemos nosso caminho para o segundo andar e depois para o terceiro. Como estávamos correndo o mais rápido que podíamos, conseguimos chegar lá antes do final do terceiro dia.
【Você entrou no Caminho do Peregrino no terceiro andar.】
Era um andar enorme, com mais de dez áreas diferentes. Após atravessar a Floresta dos Goblins, aparecemos no Pântano Cauda Verde, que era habitado por Homens-Lagarto. De lá, nos movemos para uma das zonas vizinhas, o Templo das Esculturas.
Essa área estava cheia de escombros das ruínas de edifícios de pedra desmoronados. Parecia semelhante às Ruínas de Panthelion no sétimo andar do Continente Escuro, mas havia também algumas diferenças aqui e ali. Uma delas era que este lugar estava cheio de esculturas, embora todas estivessem quebradas do pescoço para cima.
— Este lugar me dá arrepios toda vez.
— Pelo menos ninguém mais vem aqui.
O Templo das Esculturas era a área mais impopular do terceiro andar, de longe. Em primeiro lugar, havia apenas um tipo de monstro que surgia aqui.
【Você matou uma Escultura Sem Nome.】
As Esculturas Sem Nome eram monstros de sétimo nível que se assemelhavam aos Golens de Pedra. A principal diferença era que eram muito menores em tamanho, mais humanoides e bastante ágeis.
【A Escultura Sem Nome lançou Oração Não Respondida.】
A habilidade que vinha com sua essência também era famosa por ser absolutamente inútil. Quando um jogador a usava, consumia uma quantidade insana de MP e falhava praticamente todas às vezes, não fazendo absolutamente nada. Dito isso, quando essas coisas usavam, elas tinham uma chance muito maior de sucesso.
【A Escultura Sem Nome foi imbuída de grande poder.】
Se a oração fosse bem-sucedida, o usuário ganhava temporariamente uma essência aleatória de quinto nível ou inferior. Por causa disso, eram anormalmente difíceis de lutar para monstros de sétimo nível. Bem, na verdade, eram mais complicados do que difíceis. Havia várias variáveis a considerar, pois era impossível prever que tipo de habilidades obteriam. Por isso, nenhum aventureiro escolhia caçar ou mesmo passar por aqui. Por que fariam isso quando até mesmo a essência que caía era lixo? Se seu objetivo era ganhar EXP, você poderia matar um que estava vagando pelas redondezas e depois evitar essa área completamente.
“Além disso, fica totalmente fora do caminho.”
Se você quisesse ir para o quarto andar, era muito mais fácil descer por outra rota. Como resultado, ninguém jamais seguia esse caminho, a ponto de que a maioria dos aventureiros nunca tinha sequer posto os olhos nesse lugar.
“Os itens que caem não são tão ruins, no entanto…”
O principal atrativo deste lugar estava nos itens que os monstros deixavam cair. Se você usasse Distorção, às vezes conseguia colocar as mãos em um Cristal de Poder Mágico, que podia ser vendido por um preço considerável. Mesmo assim, era mais eficiente minerá-los no quinto andar. Assim, ninguém jamais vinha aqui por esses cristais.
Mas estávamos aqui por outro item que tinha chance de cair.
— Pessoal, vamos nos mexer.
Sentindo que o tempo estava curto, ordenei que todos começassem a caçar.
【Versyl Gowland lançou o feitiço de espaço-tempo de sexto nível: Distorção de Alto Nível.】
【Versyl Gowland lançou o feitiço de espaço-tempo de sexto nível: Distorção de Alto Nível.】
【Versyl Gowland lançou o feitiço de espaço-tempo de sexto nível: Distorção de Alto Nível.】
Como tínhamos mais do que poder de combate suficiente no momento, deixei nossa maga focada em usar magia de distorção nos restos dos monstros para ver que itens iriam aparecer.
【Você matou uma Escultura Sem Nome.】
【Você matou uma Escultura Sem Nome.】
【Você matou uma Escultura Sem Nome.】
【Você matou uma…】
Destruí todas as esculturas que vi pelo caminho. Mas, como isso ainda estava demorando muito, ordenei que a equipe se dispersasse e atraísse a atenção dos monstros para juntá-los todos em uma área.
— Behelaaah!
Monstros, ao contrário dos humanos, entram em frenesi e atacam imediatamente quando veem alguém com um Nível de Ameaça alto. Usando isso a nosso favor, conseguimos reuni-los em uma área e derrotar vários de uma vez. Em seguida, Versyl lançava magia de distorção para pegar os itens. Quando mais monstros começavam a surgir, corríamos ao redor para atrair o aggro deles e os conduzíamos de volta a um ponto específico. Dividindo nossa equipe dessa forma, conseguimos eliminar inúmeros monstros rapidamente.
【Você matou uma Escultura Sem Nome.】
【Você matou uma Escultura Sem Nome.】
【Você matou uma Escultura Sem Nome.】
【Você matou uma…】
Continuamos a caçar com um foco total por um tempo, sem fazer pausas. Só após termos coletado seis Cristais de Poder Mágico conseguimos finalmente encontrar o que viemos procurar.
— Bjooorn! Isso é o que você estava procurando?
Ainar segurava um pequeno pedaço de entulho com um padrão único.
【Você adquiriu um Fragmento Sem Nome.】
Era um desenho do sol.
O Fragmento Sem Nome era um item que tinha certa probabilidade de cair quando você lançava Distorção nas Esculturas Sem Nome. Era único no sentido de que você não podia ter mais de um no seu inventário, e eles caíam aleatoriamente com um dos três padrões gravados na superfície. Também era impossível levar um de volta para a cidade.
“Já que encontramos o sol, tudo o que nos faltam são a lua e a estrela.”
Sempre tive a sensação de que havia algum segredo por trás dessas coisas, e tentei de tudo no jogo para descobrir o que era. Pensar que finalmente descobri para o que serviam…
— Isso é o que você estava procurando, Sr. Yandel?
— Isso faz sentido. Pelo que ouvi, esses fragmentos aparecem nos padrões de sol, estrela e lua.
— …Não posso dizer com certeza, mas parece provável. O tempo está curto, mas talvez consigamos.
Chegar ao terceiro andar, derrotar monstros suficientes para adquirir esses três itens específicos e depois descer até o primeiro andar antes que ele se fechasse — isso era uma tarefa bastante difícil, mas não impossível. No nosso caso, porém, estávamos com o tempo apertado, já que desperdiçamos mais de dois dias no primeiro andar. Teríamos tido uma chance melhor se tivéssemos ido direto ao terceiro andar desde o início.
— Acho que conseguiremos da próxima vez — ofereceu Versyl como consolo.
Tive que admitir que parecia muito improvável que conseguíssemos chegar à área secreta desta vez. Levou oito horas só para um desses Fragmentos Sem Nome cair.
“Isso significa que, se quisermos encontrar os outros dois, vai levar dezesseis horas.”
A matemática simples sugeria que ficaríamos sem tempo, e isso era sob a suposição de que nenhum dos outros que caísse seria duplicado dos que já tínhamos. Ainda assim, como poderíamos ir mais rápido? Mesmo indo a todo vapor e correndo por toda a área atraindo todos os monstros que vimos, levar oito horas para conseguir apenas um era demais.
Mas mais do que isso, nesse ritmo, Versyl vai ficar sem MP e não será capaz de usar Distorção novamente.
Droga, será que isso era demais para tentar fazer este mês? Achei que deveria ser possível se fôssemos o mais rápido possível, mas talvez isso fosse otimista de…
— Oh! Bjorn! Outro!
Hã?
Pisquei olhando para a pedra que Ainar colocou na minha mão, completamente perplexo.
【Você adquiriu um Fragmento Sem Nome.】
Tinha um padrão de estrela. Em outras palavras, agora tínhamos oito horas extras para encontrar a última peça com o padrão de lua.
“O quê? Como a Ainar encontrou isso do nada?”
Ainar tinha Sorte de Principiante, sim, mas isso não deveria afetar a taxa de drop de itens, apenas essências. Seja como for, era melhor aproveitar essa sorte inexplicável enquanto podíamos.
— Mudança de planos — chamei. — A partir de agora, Ainar será responsável por derrotar os monstros. O trabalho de todos os outros é correr e atrair o aggro deles para ela.
Mesmo que não fosse tão eficiente quanto antes, decidi deixar Ainar encarregada de derrotar todos os monstros. E, veja só, cerca de cinco horas depois…
【Você adquiriu um Fragmento Sem Nome.】
— Um padrão de lua…
Era hora de admitir. — Ainar.
— Pode me elogiar o quanto quiser! — ela se gabou.
— Você tem razão! Os bárbaros são a raça superior!
— Woooooo!
Em vez de calar as travessuras da Ainar, lancei 【Gigantificação】 e a joguei bem alto no ar.
— Ahahaha! — Como esperado, Ainar estava mais feliz do que nunca.
Thud!
Certo, isso já era diversão suficiente. Com os Fragmentos Sem Nome em mãos, guiei rapidamente a equipe de volta pelo caminho que viemos.
Dia Cinco, Dia Seis, Dia Sete…
Voltar pelos andares foi ainda mais difícil do que subir em primeiro lugar. No entanto, graças a Ainar, tivemos tempo extra para acampar, descansar e recuperar nossa energia. Como resultado, conseguimos chegar ao meio da Floresta dos Goblins na tarde do sétimo dia. Lá, entramos no campo onde estava o portal que levava de volta à Caverna de Cristal do primeiro andar. Este era o mesmo campo onde uma vez travamos uma batalha feroz contra três dos principais guerreiros de Noark, que estavam guardando a entrada.
— …O que é isso?
No entanto, agora, o lugar estava cheio de aventureiros que eu não reconhecia. Pareciam ser mais de cem, e, pelo que parecia, não pareciam aventureiros que haviam desistido do mês e estavam voltando ao primeiro andar para pegar o fechamento do labirinto de volta para casa. Se fosse esse o caso, eles estariam passando pelo portal em vez de ficarem parados na frente dele. Também não pareciam aventureiros que acabaram de conseguir encontrar o caminho para sair da Caverna de Cristal.
— Sacerdote! Tem algum sacerdote?! Por favor, ajude!
— Beba isso!
O que diabos estava acontecendo? Ao me aproximar do portal, inúmeros aventureiros me reconheceram e começaram a sussurrar entre si.
— Bjorn Yandel…?
— Ele também não estava no primeiro andar?
A multidão parecia confusa ao me ver vindo de trás deles e não pelo portal. Suspirei. Eu queria voltar ao primeiro andar despercebido, sem atrair atenção, mas como isso não era mais uma opção, chamei alguém que parecia bastante falante para explicar as coisas.
— Ei! O que está acontecendo?
A resposta foi imediata. — Berzak! Aquele demônio apareceu!
“Hah, é, eu imaginei que algo assim poderia acontecer.”
Não é de admirar que tivéssemos tanta sorte estranha mais cedo.