Hans A. Ele tinha sido meu primeiro acompanhante noturno e a primeira pessoa que matei neste mundo. Graças a ele, fui capaz de melhorar meu estilo de vida e me adaptar à vida no labirinto. Nesse processo, também pude conhecer a Erwen.
“Será que é por causa do nome Hans? Ele ainda continua me incomodando mesmo após morto.”
O pequeno retrato de sua família foi a primeira coisa que joguei fora quando vasculhei sua bolsa após saqueá-lo. Seria como uma daquelas bonecas amaldiçoadas de filmes de terror que continuam a te assombrar, não importa quantas vezes você as jogue fora?
— Hm? Então é um objeto que foi deixado no labirinto…
O quê…? Quando foi que a Amelia chegou aqui? Quando voltei a prestar atenção, percebi que todos os meus companheiros estavam ouvindo nossa conversa enquanto continuavam com suas tarefas. Acho que isso fazia sentido, aventureiros tendem a ter uma boa audição.
— …Então talvez este seja um lugar onde tudo o que foi deixado no labirinto acaba vindo parar. — Versyl rapidamente formulou uma hipótese, como uma verdadeira maga. Na verdade, depois de ouvir minha história sobre o retrato de família, essa era uma teoria que qualquer um poderia ter elaborado.
— Oh! Isso é incrível! Então será que vou conseguir encontrar meus sapatos perdidos? São meu par favorito!
— Se tiver sorte, Srta. Ainar.
— Espere um minuto, Srta. Gowland — Amelia interveio. — Se formos pela sua hipótese, qual seria a explicação para toda a mobília na água? Não parece provável que todas essas cômodas e mesas sejam coisas que aventureiros deixaram no labirinto.
A pergunta pegou Versyl de surpresa. — I-Isso é verdade — murmurou ela, quase para si mesma. — Por que essas coisas estão lá?
A observação de Amelia parecia refutar a hipótese de que este lugar era o depósito de lixo do labirinto. Até que, surpreendentemente, nosso navegador ofereceu uma explicação plausível.
— Se me permitem… acho que esses podem ser pedaços de móveis que estavam em grandes navios.
— Grandes navios?
— Ouvi dizer que antes da magia de subespaço ser desenvolvida, os aventureiros antigos tinham dificuldades para explorar o sexto andar, já que não podiam invocar navios do nada como fazemos agora.
— Oh, é mesmo?
— Sim. Então, eles derrubavam árvores na Ilha dos Começos e construíam um navio à mão para navegar pelos mares do sexto andar. Essa é a primeira lição de história que todos os navegadores aprendem.
— Como isso é possível? Se construíssem um novo navio toda vez, só conseguiriam alcançar as ilhas próximas. E não consigo imaginar que gostariam de passar pelo trabalho de construir um novo a cada mês apenas para jogá-lo fora depois.
— Você está certo. Aparentemente, o problema foi resolvido com magia. Naquela época, a magia de subespaço não era tão avançada quanto agora, mas isso não significa que outros tipos de magia semelhantes não existissem.
Auyen não sabia os detalhes, mas segundo ele, havia um tipo de magia que fazia o navio voltar automaticamente para a Ilha dos Começos, levado pela maré, independentemente da ilha em que você estava ao lançar o feitiço.
— Então eles aproveitaram o fato de que o tempo no sexto andar continua a fluir mesmo quando o labirinto se fecha.
— Sim — confirmou Auyen. — No entanto, também ouvi que havia muitas disputas e casos de roubo por conta dessa prática. Ah, e também, às vezes os navios estavam destruídos quando finalmente voltavam para a Ilha dos Inícios, em vez de…
— Entendo. Obrigado pelas informações valiosas. — Me senti mal por ter que interromper Auyen enquanto ele mostrava com entusiasmo seu conhecimento. Na verdade, eu não me importava de ouvi-lo divagar, mas, neste momento, precisava que ele se concentrasse na navegação. — Mas vamos focar em nossos trabalhos por enquanto.
— Ah… claro!
— Erwen, pare de se distrair também. E Ainar, seu esfregão não está se movendo.
Rapidamente ordenei que todos parassem de escutar e voltassem ao trabalho. As arcas ou cadeiras flutuando lá fora no mar podiam ser interessantes, mas a verdadeira razão de estarem lá não era importante para nós. Havia apenas uma coisa que importava, e era o fato de que este lugar estava aparentemente cheio de objetos, talvez até tesouros, que haviam sido deixados para trás quando o labirinto se fechou.
— Versyl, continue pegando o que quer que passe flutuando pelo barco. Pode haver coisas valiosas misturadas.
— Sim, vou fazer isso.
No momento, tudo o que tínhamos era esse retrato de família inútil de Hans A, mas quem sabia o que mais poderíamos acabar encontrando? Poderia haver um Item Numerado ou uma peça de equipamento de alta qualidade. Certamente haveria inúmeros tesouros esquecidos aqui, assim como tivemos que abandonar uma quantidade incalculável de equipamentos em Rocha de Gelo.
“Quando você pensa desse jeito, este lugar é mais uma tumba do que um depósito de lixo. Já que está cheio de todo tipo de coisa cara deixada pelos mortos.”
Finalmente comecei a entender. No início, me perguntei por que tantos aventureiros estavam arriscando suas vidas, esperando que o portal se abrisse, mesmo sabendo que Berzak estava à solta. Mas essa era realmente uma oportunidade pela qual valia a pena arriscar a vida.
“Novos monstros, novas essências, novas experiências e inúmeros tesouros flutuando no mar…”
Quanto acabaríamos ganhando quando voltássemos à cidade e vendêssemos tudo o que encontrássemos?
— Senhor! — De repente, Erwen, de sua posição na ponte, gritou a plenos pulmões. — Uma ilha! Tem uma ilha!
…Não era outro monstro de primeiro nível, certo?
No final, o que Erwen viu era de fato uma ilha. Ou, bem, ‘ilha’ não era exatamente a palavra certa para descrever. Pelo menos, não era um monstro.
— …Parece um templo.
Havia uma construção, na forma de dois cilindros, flutuando na água. Demos uma volta com o navio para examiná-la, mas no final, tudo o que conseguimos ver do lado de fora foi uma entrada que levava para o interior. Em outras palavras, entrar era nossa única opção se quiséssemos descobrir o que havia lá dentro.
— O que devemos fazer?
— O que mais? Somos aventureiros. Devemos explorar.
Como o nível da água ao redor era raso, tivemos que transferir para um barco menor e remar até o edifício.
— …Que lugar estranho.
Quando desembarcamos e entramos no templo, olhamos ao redor, mas não conseguíamos ver muito devido à falta de luz.
“Eu só conseguia ver uns cinco metros à frente.”
Tudo o que víamos era uma escadaria larga que levava a algum lugar abaixo. A altura e a largura de cada degrau eram enormes, quase como se fossem construídas para algo que não fosse humano. Claro, isso funcionava perfeitamente para mim.
【Você lançou a habilidade Gigantificação.】
Uma escadaria pela qual eu poderia descer confortavelmente mesmo em modo Gigante? Era o suficiente para fazer um homem adulto chorar.
Tromp, tromp, tromp.
Assumi a liderança enquanto descíamos as escadas para tankar qualquer ataque que pudesse surgir. Mas muito tempo depois…
— Ainda não chegou ao fim?
Devemos ter descido pelo menos duzentos degraus agora. Que lugar era esse? Falando em termos espaciais, como isso fazia algum sentido? Mas decidi não pensar demais nisso. Afinal, seria ridículo esperar que este mundo seguisse as leis da física.
Tromp!
Eventualmente, chegamos ao fim da escadaria.
— Ugh… está tão empoeirado.
A câmara em que entramos tinha um cheiro de mofo. Devido à visibilidade ruim, era difícil distinguir muita coisa, mas conforme avançávamos mais para dentro, nossos arredores começaram a clarear.
Na verdade, em um piscar de olhos, todo o espaço se iluminou, como se alguém tivesse acendido as luzes.
Toda a equipe se sobressaltou e imediatamente entrou em alerta máximo, esperando que um inimigo aparecesse. No entanto, quando nada pulou em nossa direção, todos nos entreolhamos com expressões vazias.
— Este lugar…
O teto era extremamente alto, aproximadamente da mesma altura que as escadas que descemos. Além disso, a sala inteira era forrada com enormes estantes de livros que chegavam até o topo.
— O que é este lugar? Parece uma biblioteca…
A primeira coisa que veio à mente foi uma biblioteca, mas era diferente de qualquer uma que já havíamos visto, se não fosse pelo tamanho imenso. Os livros eram tão grandes que era necessário usar toda a envergadura dos braços para segurar um único livro, e cada estante estava cheia de milhares deles.
— Oh! Não é tão pesado quanto eu pensei que seria?
Mas, por alguma razão, cada livro era leve o suficiente para que qualquer um com a força de um aventureiro pudesse levantá-lo facilmente.
— Srta. Fenelin, você pode me ajudar a abrir este livro?
— Claro! — Ainar rapidamente pegou um livro da estante para Versyl, colocou-o no chão e o abriu. — Está vazio…
“O quê? Então são apenas adereços?”
— Versyl, você ficará encarregada de investigar os livros aqui. Ainar, você ficará aqui para ajudá-la. E certifique-se de protegê-la se algo acontecer.
Deixei Ainar e Versyl com os livros enquanto o resto de nós foi investigar um pouco mais os arredores. A câmara parecia ser cilíndrica, e ao redor das paredes externas havia grandes estantes curvas que se estendiam até o teto.
— …Para que serve isso?
No centro da sala, havia uma laje de pedra esculpida em forma de mesa. Também havia uma grande porta de pedra encaixada entre as estantes, oposta à escada que descemos. Uma investigação minuciosa não revelou mais nada.
“Parece ser o tipo de lugar onde precisamos ativar algo…”
Como não parecia haver monstros ou armadilhas por perto, todos nos separamos para investigar. Eventualmente, finalmente encontramos algo.
— Senhor Yandel, encontrei um livro aqui com algo escrito! Mas está na língua antiga, então acho que você deveria vir lê-lo para nós.
Meu conhecimento da língua antiga já estava rendendo bons frutos. Corri até Versyl para olhar o livro que ela havia aberto no chão. Estava aberto em uma página dupla com uma imagem de um lado e um texto do outro.
— A ilustração parece ser do monstro de nono nível, Rato-Toupeira de Parede… mas eu não consigo ler o que está escrito.
Como Versyl especulou, o desenho era de um Rato-Toupeira de Parede. Estava escrito bem ali ao lado da imagem: seu nome, seu habitat, suas habilidades. A descrição até entrava nos detalhes sobre a origem de seu nome, características de suas essências, seus hábitos únicos, e mais.
— …Parece uma página de algum tipo de guia de campo. Isso é a única coisa dentro?
— Sim. Não importa quantas páginas eu vire, todas estão em branco.
Eu murmurei. — Entendi…
— Parece que você tem uma ideia?
— Há muita coisa para processar.
Primeiro de tudo, este livro sozinho era incrivelmente valioso. Se Raven estivesse aqui, estaria correndo de excitação, tagarelando sobre como essa descoberta era inacreditável, como a fanática por história que ela é. Eu, no entanto, não estava tão interessado em tudo isso. Aventureiros não são como magos. Em vez disso, valorizamos outras coisas acima do conhecimento.
“Como podemos usar isso?”
Nomeadamente, nos importamos com o que uma nova descoberta pode fazer por nós. Não, mais do que isso, tentamos descobrir por que a coisa, seja um item mágico, um bug útil ou uma característica escondida, existia em primeiro lugar.
Mas em vez de pesquisa, fazíamos as coisas do jeito dos aventureiros: tentando tudo o que podíamos pensar e vendo o que funcionava.
— Todos, reúnam-se. — Imediatamente convoquei uma reunião da equipe.
— Você descobriu algo?
— Não, mas acho que tenho uma ideia que vale a pena tentar.
— Vale a pena tentar? — Amelia inclinou a cabeça, mas seria mais rápido mostrar a eles do que explicar. Especialmente porque eu nem tinha certeza se funcionaria.
Thud.
Peguei o livro que Versyl encontrou e o coloquei na laje de pedra no centro da biblioteca.
Cerca de três segundos depois, Amelia quebrou o silêncio. — Acho que há momentos em que até você erra…
Shaaaaaa!
A laje de repente começou a brilhar em um azul intenso. Isso significava que algo estava acontecendo, e, como este era Dungeon and Stone, as chances eram de que, o que quer que fosse, seria perigoso.
— Bjorn! Ali! A porta de pedra está se abrindo…!
Corri na direção que Missha estava apontando e me posicionei à frente do grupo. — Todos, preparem-se para a batalha! — gritei urgentemente.
A equipe assumiu suas posições, alerta e pronta para enfrentar o que quer que viesse. A tensão no ar era palpável enquanto os segundos passavam.
Um segundo. Dois segundos. Três segundos…
Depois de quatro segundos, o monstro finalmente apareceu, emergindo lentamente da rachadura nas portas de pedra.
Squeak.
Era um Rato-Toupeira de Parede.
Squeak!
E apenas um deles.
O primeiro monstro que encontramos neste novo andar foi um colossal monstro de primeiro nível. Como resultado, todos, inclusive eu, estavam extremamente cautelosos com o que sairia daquela porta de pedra.
— Um Rato-Toupeira de Parede…?
O que recebemos em vez disso foi um único monstro de nono nível.
— Não baixem a guarda. Pode ser que mais alguma coisa saia.
Embora eu fosse o líder, também fiquei momentaneamente sem reação. No entanto, não demorou muito para que eu conseguisse me recompor o suficiente para entender o que estava acontecendo.
“…Então, é isso.”
Havia uma passagem sobre o Rato-Toupeira de Parede escrita naquele livro. Quando colocamos o livro na laje de pedra, um Rato-Toupeira de Parede apareceu pelas portas de pedra. Como isso poderia ser coincidência?
— Erwen.
No momento em que pronunciei seu nome, Erwen soltou a flecha que havia encaixado. Será que ela era vidente ou algo assim? Como ela sabia o que eu ia pedir no momento em que disse seu nome? Eu não fazia ideia, mas isso realmente não importava agora.
O Rato-Toupeira de Parede, que estava correndo em nossa direção, morreu sem emitir nenhum som.
Shaaaaaa!
Houve um clarão de luz quando uma única pedra de mana de nono nível caiu onde ele estava. Como a Sorte de Principiante não foi ativada, ele não deixou cair uma essência. Embora fosse de um nível tão baixo que provavelmente a ignoraríamos de qualquer maneira.
Trrr!
Assim que o monstro morreu, as portas de pedra começaram a se fechar novamente.
— Oh! Senhor Yandel! Ali!
De repente, uma escada levando até a segunda fileira da enorme estante apareceu. Em um jogo como Dungeon and Stone, isso era uma pista óbvia para o jogador.
“Então, está nos dizendo para continuar subindo e invocar mais monstros.”
No entanto, antes de subir as escadas, verifiquei o livro que coloquei na laje de pedra.
— A imagem e o texto desapareceram…
Isso significava que um livro não podia ser usado duas vezes. Joguei o livro agora vazio no chão enquanto subia as escadas, e um pensamento repentino passou pela minha mente.
“Será que posso pular as escadas e ir direto para um livro mais alto?”
Se você teve o pensamento, é melhor tentar.
Aproveitei minha altura para agarrar a parte inferior da terceira fileira de estantes, que as escadas não alcançavam, e então usei minha força nos braços para subir. No entanto, quando tentei pegar um livro, ele não se mexeu nem um pouco.
“Então, mesmo que sejamos fisicamente capazes de subir a um nível mais alto, não podemos pegar um livro.”
Mas o que aconteceria se eu subisse até o topo? A curiosidade me corroía, mas decidi verificar isso mais tarde, quando chegássemos a um beco sem saída ou tivéssemos algum tempo extra. Já tínhamos muito o que fazer.
— Todos, peguem um livro e encontrem uma página com um desenho.
Assim que distribui as ordens, todos rapidamente se dispersaram para pegar um livro e folhear as páginas. Com todos nós procurando juntos, levou apenas alguns minutos para encontrarmos algo. Desta vez, havia dois monstros listados em um único livro. Um deles era o Templário da Noite de oitavo nível.
— Oh! Eu conheço este! Não é aquele monstro com a mesma essência daquele Vampiro que encontramos na Cidadela Sangrenta?
O outro monstro no livro era o Sapo-gaivota, que já havíamos encontrado várias vezes no caminho até aqui.
— …Então, o que está escrito sobre ele?
— Acho que ele já tem um nome oficial, né? Então votamos à toa.
Como fomos os primeiros a descobrir esse monstro, todos pareciam curiosos sobre o que poderia estar escrito sobre ele.
“Então, vamos ver seu nome verdadeiro…”
Assim que li o que estava escrito no topo da página, no entanto, fiquei paralisado.
— …Hã? Bjorn? O que aconteceu com você de repente? — Ainar, preocupada com minha mudança repentina de comportamento, se aproximou de mim com preocupação.
Versyl, que estava por perto, também parecia preocupada. — …Sr. Yandel? Há algum problema?
Demorei a responder. — Sapo-gaivota.
— O quê?
— Neste livro, o nome escrito é Sapo-gaivota.
— …O quê? O que você quer dizer com isso? Tenho certeza de que foi você quem inventou esse nome, Capitão…
Exatamente. Não fazia sentido.
— I-Isso não é uma coincidência inacreditável…? Não acredito que você escolheu o mesmo nome… — murmurou Auyen para si mesmo enquanto eu olhava silenciosamente para o livro. Eu entendia o ponto de vista dele, claro. Seria muito mais fácil supor que isso era apenas uma coincidência inacreditável.
No entanto…
“Nome. Habitat. Essência.”
Rapidamente passei pelos outros dados e fui direto para a origem do nome.
“Bjorn, filho de Yandel, que foi o primeiro aventureiro a entrar nos Arquivos do Primeiro Subsolo, nomeou o monstro após ser o primeiro a descobri-lo.”
O que diabos era isso?