— …Conte-me mais. O que aconteceu? — Antes de tirar qualquer conclusão, pedi para ouvir a história completa.
— Ah, isso? — perguntou Raven distraidamente. — Ele desapareceu no dia em que deveríamos partir, então o comandante foi pessoalmente procurá-lo. Quando o encontraram, ele inventou uma desculpa de que estava com dor de barriga ou algo assim, dizendo que não podia ir. Ele reclamou tanto que acabaram chamando um mago para examiná-lo.
— Para quê…?
— Ouvi dizer que usaram magia para verificar o estômago dele, mas não encontraram nada de errado. Com base nisso, ameaçaram puni-lo por tentativa de deserção, e ele acabou se juntando a nós, como era para ser…
— …E depois?
— Bem, a notícia do que aconteceu se espalhou, e as pessoas no grupo de expedição não o veem com bons olhos. Pelo que percebo, a maioria dos membros da igreja nem o trata como uma pessoa.
— Entendi… — murmurei, suspirando. Eu não deveria ter perguntado. Se ele tentou tão desesperadamente não se juntar à expedição, isso só poderia significar que seu sexto sentido foi ativado de alguma forma.
Da-dum!
Mas eu não teria que passar pelo inferno novamente, como aconteceu em Pedra de Gelo, certo?
Depois de zarparmos da Ilha de Pedra, nossos quatro barcos logo chegaram à Ilha da Biblioteca, e após estabelecermos algumas formações básicas, descemos imediatamente as escadas. A Tropa Quatro estava à frente dessa formação, o que significava que nós trinta e oito estávamos na linha de frente.
Talvez por isso eu estivesse me sentindo um pouco inquieto com tudo isso. Ainda assim, sacudi a cabeça para afastar o pensamento que me incomodava.
“…A única razão de estarmos na frente é porque fomos os primeiros a chegar.”
Sim, sim. Não estávamos sendo usados como bucha de canhão. Eu teria feito a mesma coisa se fosse o estrategista… Mas por que minhas costas estavam tão arrepiadas?
“…Malditos loucos do palácio.”
Entre Berzak e Pedra de Gelo, já tinha sido apunhalado pelas costas pelo palácio duas vezes, então realmente não podia confiar nesses desgraçados.
— Chegamos.
Como eu estava mais preocupado com minhas costas do que com a frente, acabamos chegando à biblioteca subterrânea antes mesmo que eu percebesse. Um rápido olhar ao redor mostrou que os livros haviam sido arrumados desde a última vez.
— ⟅…Você está aqui? Chegou mais cedo do que eu… Hã…?⟆ — Presuntinho veio nos cumprimentar, mas inclinou a cabeça ao notar o grupo de expedição atrás de mim.
Suspirei. Por que esse cara estava aqui?
Rapidamente fiz um gesto para ele se esconder, mas o Presuntinho ainda não parecia entender o que eu queria dizer. Para ajudá-lo, apontei para o grupo de expedição com o polegar e para Presuntinho com o dedo antes de lentamente desenhar uma linha sobre o pescoço.
Essas pessoas não eram tão amigáveis quanto eu. Sem exagero, lançariam feitiços contra o Presuntinho assim que o vissem e o matariam antes de fazer qualquer pergunta.
Minha mensagem pareceu ter sido recebida. — ⟅Eep!⟆ — Assim que Presuntinho entendeu o que eu quis dizer, correu para longe com um guincho.
— Sua Senhoria — alguém chamou logo depois. — Está tudo bem? Achei que ouvi um grito horrível de algum lugar próximo. — As pessoas do grupo principal de expedição finalmente fecharam a distância entre eles e a Tropa Quatro.
Que bom, parece que não viram o Presuntinho. — Não é nada.
— Perdão?
— Não sei por quê, mas às vezes você ouve sons assim quando está aqui.
— Ah, entendo. Compreendido, vou informar isso ao resto do nosso grupo.
Com isso estabelecido, o grupo de expedição não deveria achar suspeito se ouvissem barulhos quando eu me encontrasse com Presuntinho em segredo para falar com ele. Bem, se alguém decidisse investigar, poderiam sempre verificar de onde vinha o som, então eu precisaria ter cuidado.
— Então este é o lugar de que você falava, Barão Yandel — comentou Jerome.
— O que acha? — perguntei, sem dar pistas.
— O que eu acho? O que eu acho não importa. Não vamos perder tempo e começar a trabalhar. Não estamos aqui apenas em uma aventura. O palácio nos confiou um dever sagrado.
Uau, olha esse fanático do palácio aqui.
Jerome então deu ordens ao vice-comandante, que logo gritou uma ordem para o resto do grupo. — Atenção! Vamos começar agora a inspecionar a área. Tropas, espalhem-se e vasculhem toda a sala!
E com isso, começaram a fazer o reconhecimento.
Aproximei-me de Jerome. — Você mesmo disse que não temos tempo a perder, então há algum sentido em inspecionar a área novamente? Já fizemos isso durante nossas últimas visitas. — Mesmo enquanto dizia isso, tive a impressão de que, assim como eu não confiava no palácio, Jerome talvez não confiasse em mim.
— Oho, nosso grupo de expedição é composto exclusivamente por especialistas em exploração escolhidos a dedo pelo palácio. Não estou questionando sua habilidade como aventureiro, Barão Yandel. No entanto, por favor, fique de olho. Podemos encontrar algo novo.
Lendo nas entrelinhas, ele definitivamente estava nos subestimando.
“Que especialistas em exploração?”
Tudo o que eu via era um esquadrão de combate composto principalmente de cavaleiros e sacerdotes, além de alguns magos que também faziam parte do exército. — Faça o que quiser, mas ficaremos aqui, então — disse secamente.
— Claro. É improvável que encontrem algo novo que não tenham encontrado antes, de qualquer forma.
“…Posso dar um soco nele? Pelo menos uma vez?”
A ideia passou seriamente pela minha cabeça, mas consegui me segurar com um autocontrole sobre-humano.
— … Não encontramos nada digno de nota.
— Nada aqui também.
No final, os ‘exploradores’ retornaram de mãos vazias, e só então começamos o processo de limpeza da biblioteca.
— Acho que devemos seguir sua recomendação inicial. Ao contrário de você, temos capacidade para alcançar até as prateleiras superiores.
Mesmo que cada palavra que saísse da boca dele fosse irritante, ele se mostrou incrivelmente eficiente quando entramos em combate.
— Então é assim que funciona.
Depois de usar os livros de invocação algumas vezes, ele rapidamente reestruturou nossas formações, alocando de forma eficaz todos os duzentos e poucos membros do nosso batalhão da maneira mais eficiente possível. Algumas dezenas de pessoas ficaram perto das prateleiras para carregar livros até nós, e o dobro de pessoas ficou de prontidão no portão de pedra para caçar os monstros que surgissem.
— Isso vai demorar muito. — Jerome, no entanto, achou que mesmo isso era muito lento e puxou uma de suas cartas na manga. — Ebost. Aumente o ritmo.
A necessidade é a mãe da invenção, afinal.
O tal Ebost ficou visivelmente chocado. — Perdão? Só podemos usar um livro de cada vez, então aumentar nosso ritmo atual é…
— Então encontre outro método.
Zylan Ebost, condizente com sua posição de vice-comandante, rapidamente recuperou o bom senso, apesar da ordem sem noção de seu chefe, e teve uma ideia engenhosa.
— Se pudermos diminuir o tempo que o portão leva para abrir e fechar, poderíamos aumentar ainda mais nosso ritmo.
— E então?
— Que tal destruirmos o portão de pedra?
Essa sugestão fez até o bárbaro ao lado deles se endireitar de surpresa. No entanto, Jerome pareceu satisfeito com o plano e deu um aceno de cabeça para Ebost. — A ideia tem potencial. Execute-a imediatamente.
No segundo em que a ordem saiu da boca dele, as tropas mágicas do grupo de expedição se reuniram, e as dezenas de magos começaram a lançar um feitiço em massa.
— Mairti Esta Pioryuiev du Teila!
O feitiço que ouvi ser lançado era um que eu nunca tinha ouvido antes.
Afinal, onde eu teria a chance de ver um feitiço de ataque de primeiro nível sendo lançado pessoalmente?
【Gahuin Versilus lançou o feitiço de ataque de primeiro nível, Orbe do Novo Mundo.】
Assim que o feitiço foi concluído, o círculo mágico abaixo deles começou a brilhar com uma luz ofuscante. A mana ao redor ficou tão densa que até mesmo guerreiros bárbaros como eu, insensíveis à maioria das magias, puderam sentir.
Quanto ao ataque em si, era impossível ver a olho nu. Houve um flash de luz quando algo disparou para frente, seguido pelo som de um impacto.
Fwoosh!
Uma rajada de vento bateu no meu rosto, tão quente que pensei que pudesse me queimar. No entanto, mal registrei a sensação.
— …Felizmente, funcionou.
O enorme portão de pedra, que tinha quase cinco andares de altura, foi obliterado sem deixar rastro, restando apenas um vazio infinito em seu lugar.
“Isso… funcionou…?”
Senti como se tivesse atingido algum tipo de despertar espiritual.
De qualquer forma, com o portão de pedra destruído com sucesso, o tempo que o processo de invocação levava foi reduzido a uma fração do que era antes.
— Sem a porta, podemos matá-los assim que forem invocados. Bom trabalho, Ebost.
— Eu apenas segui a vontade da família real. Não há necessidade de me elogiar, Comandante.
Os dois que eliminaram nosso tempo de espera por pura força bruta retomaram sua conversa como se isso fosse a coisa mais natural do mundo.
No final, não tive escolha senão avançar. — Esperem, olhem ali! Já está começando a se reformar.
Essa era a natureza do labirinto. Assim como a Caverna de Cristal no primeiro andar, todas as seções do labirinto, exceto por algumas áreas selecionadas, voltavam ao seu estado original após um tempo. Em outras palavras, os magos do grupo de expedição acabaram de realizar um desperdício de tempo de primeiro nível.
— Isso é um problema? — No entanto, a expressão de Jerome sugeria que ele não entendia onde eu queria chegar, então gentilmente expliquei meu raciocínio de uma maneira atípica para um bárbaro. No entanto, minha explicação também provou ser uma perda de tempo. — Bem, apesar de tudo, ainda não vejo o problema. Se se reformar, não precisamos simplesmente quebrá-lo de novo?
— Hã…?
— Julgando pela taxa de regeneração, acho que não precisaremos usar outro feitiço de primeiro nível da próxima vez. E como temos muitos magos, eles podem se revezar mantendo o portão destruído.
— …Uh.
— Atualmente estamos lutando contra monstros que não são fortes o suficiente para forçar nossos magos a entrarem em batalha, certo?
Uh… isso era verdade.
— Então, isso respondeu todas as suas perguntas?
— Sim. Estou de boa.
No fim, tive que encarar os fatos.
“O problema aqui… era eu…!”
Assim como uma pessoa com mais poder pode inevitavelmente realizar mais coisas, uma pessoa no topo da cadeia alimentar pode olhar para baixo e ver mais opções. A razão pela qual não consegui pensar nesse método sozinho e achei que era um desperdício de energia foi que me faltava o poder necessário para executá-lo. Essa era uma força que vinha diretamente da mente.
“É por isso que existe poder no poder da imaginação.”
As pessoas de milhares de anos atrás provavelmente já haviam descoberto isso muito antes de mim, porque essa sabedoria existe desde os tempos antigos.
— Então, vamos retomar nossa missão!
De qualquer forma, alheio à revelação que eu estava tendo, Jerome não desperdiçou um segundo sequer e continuou a caçada. Talvez isso fosse esperado de alguém que recebia ordens diretamente do palácio, mas graças à sua determinação, nossa velocidade era inacreditável. Se antes estávamos nos movendo como uma linha de montagem, agora nosso ritmo era algo completamente diferente.
— Ignorem as pedras de mana! Vamos pegá-las depois.
O grupo de expedição não pegava nenhuma pedra de mana nem discutia para quem ficaria uma essência sempre que uma caía. Como a maioria deles era de combatentes à distância, ninguém pegava uma essência acidentalmente, e quando eram necessários guerreiros corpo a corpo, aqueles que já tinham seus espaços de essência preenchidos avançavam para formar a linha de frente.
“Chegamos aos monstros de quarto nível em apenas um dia…”
Para ser mais preciso, chegamos ao ponto de encontrar um ou dois monstros de quarto nível por livro em menos de dezesseis horas após nossa chegada. Isso era quase cinco vezes mais rápido do que quando nós trinta e oito estávamos caçando sozinhos.
— Podemos seguir em um ritmo normal a partir de amanhã. E avise aos magos que não precisam mais impedir o portão de se regenerar.
— Você quer dizer…
— Vamos parar aqui. Preparem o acampamento.
Tínhamos até mesmo feito nossas refeições em rodízio para manter a caçada, mas, eventualmente, Jerome deu a ordem para pararmos e nos permitiu repousar.
Apesar do longo dia, os membros da expedição montaram o acampamento com facilidade prática, e assim que nosso tempo livre começou, um rosto familiar veio me cumprimentar. — Haha, está ocupado? — perguntou Melend Kaislan, o cavaleiro com quem trabalhei durante a expedição em Pedra de Gelo.
— Mesmo que estivesse, eu arrumaria tempo para você.
— É uma honra ouvir isso. — Kaislan sorriu enquanto estendia o punho, e eu o cumprimentei com o meu. Tínhamos trocado acenos de reconhecimento sempre que nos víamos de passagem, mas fazia muito tempo que não conversávamos assim.
— Não esperava que demorasse tanto para encontrarmos tempo para conversar.
— Já ouvi as pessoas dizerem que trabalhar sob o comando do Conde Saintred é um inferno… Mas não sabia que era tão ruim.
Agora que penso nisso, parece que Jerome era bem notório entre seus companheiros de armas.
— E você, o que aconteceu? — perguntei. — O palácio te ordenou a vir?
— Isso mesmo. Heh heh, parece que querem me espremer até a última gota antes da minha dispensa. Bem, como um dos objetivos dessa missão era salvar você, Sua Senhoria, não fiquei muito preocupado com isso.
— Dispensa? Você pediu demissão?
— Entreguei minha carta de demissão há mais de um mês. Demora um pouco para esses processos serem concluídos… mas estou torcendo para que esteja tudo resolvido até o fim desta expedição.
— Entendo…
— Por que essa cara?
— Nada. Só estou tentando decidir o que quero comer no jantar. — Evitei a pergunta, escondendo a preocupação que atravessou minha mente no segundo em que ele me contou sua história. Era que ouvir que Kaislan havia sido ordenado a vir aqui logo antes de ser dispensado me lembrou de Pedra de Gelo.
“Marrone também teria sido colocada neste grupo de expedição se houvesse algo mais acontecendo… mas ainda assim, devo ficar atento.”
Em vez de descartar tudo como mera coincidência, precisava manter os piores cenários em mente.
— Sir Kaislan! Finalmente nos encontramos!
Depois disso, Versyl, Erwen e Amelia também vieram cumprimentar Kaislan. Então, um novo rosto apareceu.
— Minhas desculpas. Esta é a primeira vez do arcebispo acampando, então tive que ajudar… Queria vir logo, mas acabei me atrasando.
Era o Goblin, também conhecido como Sven Parav.
Assim que ele chegou, Versyl marchou em sua direção com um olhar severo. — Você está aqui.
— F-Faz um tempo, Stra. Gowland…
— Sim. Certamente faz ‘um tempo’, Sir Parav.
Na realidade, eles se viram na Távola Redonda não muito tempo atrás. Como alguém que conhecia suas identidades, era engraçado vê-los encenando esse pequeno teatro.
— Todos poderiam se afastar por um segundo? — perguntei.
— Sim, claro. Eu também não posso ficar muito, já que a igreja…
— Exceto você, Parav.
— …Perdão?
Assim que terminamos de nos cumprimentar e colocar a conversa em dia, mandei todos se afastarem e tive uma conversa particular com Parav. — Então… — ele começou nervoso. — Tem algo…?
— Você não queria se juntar ao grupo de expedição, então fingiu uma dor de barriga, certo?
— Ouviu isso do Sir Kaislan?
— Não, ouvi de outra pessoa.
— …Então ouviu da Feiticeira Dourada. — Ele pareceu chegar a essa conclusão depois de lembrar que Raven havia subido no meu barco.
Mas eu não me importava com nada disso.
— Por que fez isso? Teve aquele ‘sentimento estranho’ de novo?
— Bem… foi um pouco diferente desta vez…
— Diferente? Explique em detalhes. Confio em seus instintos.
— Eu… Eu não sei como dizer isso… — Parav hesitou, então admitiu em uma voz baixa e miserável: — Acho que… recebi uma revelação…
O quê…?
Neste mundo, deuses existiam. As pessoas aqui às vezes ouviam as vozes dos deuses ou recebiam profecias ou mensagens deles. Às vezes, até recebiam relíquias sagradas para ajudar a cumprir essas chamadas profecias.
Mas isso não era o ponto aqui.
Não consegui evitar e acabei soltando — Você recebeu uma revelação…?
— P-Por favor, fale baixo! Alguém pode ouvir!
Uma revelação não era algo que qualquer um podia receber. Era por isso que aqueles abençoados o suficiente para ouvir as vozes dos deuses eram chamados de santos na cidade.
“Mas esse desgraçado é um jogador.”
Sven Parav era um espírito maligno da Terra, e as igrejas dos Três Deuses eram tão sérias em caçar espíritos malignos quanto o palácio. E ainda assim, esse cara tinha acabado de receber uma mensagem diretamente da cabeça de um desses três deuses, mesmo sendo um espírito maligno.
— …Você tem certeza? Que você recebeu… isso.
— E-Eu acho que sim, pelo menos por enquanto.
Fiquei em silêncio, incerto. O que diabos esses deuses estavam pensando?
Por outro lado, eu mesmo uma vez recebi uma relíquia sagrada para me ajudar depois de quase ser morto pelo Matador de Dragões…
— Então, qual foi a revelação? O que você ouviu que te fez ir a tais extremos?
— Hum… Então…
Eu me apressei em perguntar exatamente no que consistia essa revelação, mas uma interrupção infelizmente cortou nossa conversa.
— Sir Parav! O arcebispo está te procurando! Venha rápido!
— Ah, oh…? — Indeciso, ele olhou para mim para avaliar minha reação, mas quando dei um aceno, ele rapidamente respondeu — Ah, sim! Entendido! — E com isso, correu de volta para onde o resto dos membros da igreja tinha montado acampamento.
“…Eu posso ouvir o resto depois.”
Foi uma pena não ter podido ouvir o que ele tinha a dizer naquele momento, mas mastiguei um pouco de carne seca até me sentir satisfeito, fechei os olhos e me preparei para o amanhã.
“Não consigo dormir.”
Quando me levantei para beber um pouco de água no meio da noite, senti olhos sobre mim. Virei a cabeça rapidamente para olhar, ignorando as pessoas que estavam de guarda, e avistei o Presuntinho se escondendo à distância, atrás de uma estante de livros.
— Ahem…
— Sua Senhoria, para onde está indo?
— Não consigo dormir. Preciso gastar um pouco de energia, mas vou acordar as pessoas se fizer isso aqui.
— Ah, claro…
Dei uma desculpa vaga aos soldados de guarda e me aproximei da estante de livros. No segundo em que fiquei ao alcance da voz, Presuntinho sussurrou com urgência — ⟅Quem… Quem são esses humanos insanos?!⟆
— ⟅Uh… São pessoas do reino… Mas eles não vão te machucar, então não…⟆
— ⟅Não vão me machucar…?⟆ — Olhando para o portão de pedra ainda um pouco quebrado, Presuntinho fechou os punhos peludos. Sua voz ficou pesarosa. — ⟅Não só uma vez… Por que tenho que passar por algo assim uma segunda vez…? Por que todos os humanos são assim…?⟆
Não havia nada que eu pudesse dizer para isso.
— ⟅Mas… eu sou um bárbaro, né…?⟆
Nada, exceto isso.