A Távola Redonda de hoje teve um formato diferente do usual, um jogo da Verdade onde uma pessoa era questionada pelos outros e escolhia uma pergunta para responder honestamente.
— Pshehe… de jeito nenhum — o Palhaço riu. — Não posso desperdiçar essa oportunidade preciosa com algo assim.
Para ser honesto, eu estava bastante curioso. Qual seria a pergunta que cada membro da Távola Redonda mais queria fazer para o Leão?
Bem, eu logo descobriria.
— Então, devo começar…?
A primeira a quebrar o silêncio repentino que caiu sobre a mesa foi a Raposa.
— Você… realmente sabe quem nós somos?
Minha primeira reação foi pensar que essa pergunta vinha do nada, mas considerando o que ela tinha visto do Leão, eu podia entender por que ela a fez. Eu fui quem revelou a identidade do Palhaço para a Távola Redonda, e também blefei que sabia a identidade da Rainha, embora a única coisa que eu realmente soubesse fosse o apelido dela, Caça-Fantasmas.
Quando o Palhaço ouviu a pergunta da Raposa, ele soltou um longo suspiro. — Parece que você nem percebe que essa é uma oportunidade de ouro! Como pode desperdiçar sua vez com algo tão óbvio? — Ele parecia tratar o fato de que eu sabia a identidade de todos como um dado. Pelo menos, era o que ele pensava.
— Como você tem tanta certeza de que é óbvio? — ela retrucou, claramente irritada.
— …Pshehe?
— Eu tenho a liberdade de fazer a pergunta que eu quiser, então, por favor, não se intrometa. É irritante.
Fria como gelo.
Pensando bem, ela sempre foi assim, mesmo lá no começo. Ela foi a primeira pessoa a usar intenção de matar contra mim durante minha primeira visita à Távola Redonda. Embora, naquela época, ela tivesse suas razões.
“Um tempo mais simples…”
Em todo caso, isso era história antiga. No fim das contas, a Raposa se juntou ao Clã Anabada e se tornou companheira do Leão, embora ela ainda não soubesse disso.
— …Por que você está tão brava? Era só uma brincadeira — o Palhaço tentou recuar, aparentemente surpreso com a raiva da Raposa.
A Raposa não se dignou a responder e simplesmente o ignorou.
— Ahaha… então agora é a minha vez! — o Lobo riu, aparentemente despreocupado com o que estava acontecendo entre os dois. — Eu quero saber onde e como você conheceu a Bruxa da Terra.
“A Bruxa da Terra…”
Outra pergunta inesperada. Eu tinha presumido que o cara perguntaria sobre Auril Gavis.
Bati no apoio de braço com o dedo indicador por hábito e direcionei minha atenção para a próxima pessoa, indicando que ouviria cada uma das perguntas em ordem. Quando meus olhos se encontraram com os do Goblin, ele desviou o olhar e depois, timidamente, admitiu — Hm… Não sei como perguntar isso…
— Pshehe, você já não conhece o tipo de cara que o Sr. Leão é? Não seja chato e apresse-se…
— Com quantas mulheres você é casado ou está em um relacionamento agora?
No momento em que ele soltou essa pergunta, a Távola Redonda ficou completamente silenciosa.
— …Hã?
O Palhaço estava claramente incrédulo, assim como os outros, que ficaram todos sem fala por um segundo enquanto seus cérebros processavam o que acabou de acontecer.
Quando finalmente entenderam, as reações se tornaram mais… coloridas.
— Que pergunta estranha…
— …Sr. Goblin, há algo errado com você?
— Baha! Pfft, hahaha!
Alguns ficaram horrorizados, outros zombaram dele, e outros não conseguiram segurar e riram na cara dele. No meio dessas reações mistas, no entanto, havia alguém genuinamente tentando entender por que ele me fez essa pergunta em particular.
— Você está talvez perguntando… por causa daquela conversa que tivemos sobre nossas máscaras estarem ligadas a quem somos? — ouvi a Raposa perguntar em meio ao burburinho.
O Palhaço riu como se isso fosse absurdo. — Hah! Mas que teoria maluca é essa? O que, ele acha que o Sr. Leão escolheu a máscara de leão porque ele tem sorte com as mulheres?
Essa foi a primeira vez que ouvi falar disso. Parecia que eles tinham tido algum tipo de conversa sobre mim quando eu não estava por perto.
— Sorte com as mulheres…? O que você quer dizer com isso?
A Rainha também não sabia do que estavam falando, então tive a sensação de que essa conversa misteriosa deve ter acontecido nos velhos tempos entre os membros originais da Távola Redonda.
— Se você está curiosa, que tal usar sua vez para perguntar a ele? Pshehe.
— Tudo bem. Acho que posso entender pelo contexto. De qualquer forma, é a minha vez agora, certo? — Ignorando as provocações do Palhaço, ela se inclinou para frente. — O que eu quero perguntar é simples. Você já se encontrou pessoalmente com o Rei do Novo Mundo?
A pergunta da Rainha imediatamente acendeu um alerta na minha mente. Eu não conseguia identificar quais eram suas intenções ali. Ela certamente tinha muitas perguntas para mim, então havia definitivamente uma razão para ela ter escolhido essa entre todas.
“Por quê…? Por que ela está perguntando isso?”
Se eu já tinha me encontrado com o rei, foi um assunto que surgiu duas vezes durante meu tempo na Távola Redonda. A Rainha e o Lobo mencionaram que eles tinham se encontrado.
“Será que encontrar o rei é tão importante assim?”
Mesmo assim, tinha que haver algo mais por trás disso. Ou talvez o número de pessoas que se encontraram com o rei fosse pequeno o suficiente para que ela estivesse tentando usar isso para restringir minha identidade.
— Hmm… acho que é minha vez?
Enquanto eu estava ocupado organizando meus pensamentos, chegou a vez da Borboleta.
— Então o que devo perguntar…? — A Borboleta arrastou a situação como de costume, mas o que ela acabou dizendo foi algo que ninguém esperava. — Vou apenas passar.
— …O quê? Borboleta, você não percebe como essa é uma grande oportunidade? O Sr. Leão é um enigma que sabe de tudo e pode responder qualquer pergunta que você tiver!
O Palhaço estava praticamente gritando no final desse pequeno discurso, mas isso não fez a Borboleta mudar de ideia.
— Mas… mesmo que eu pergunte, não acho que o Leão vai responder minha pergunta de qualquer maneira.
— O quê? Como você vai saber se não…
— Apenas uma sensação, e experiências passadas.
O Palhaço ficou perplexo com isso, o que levou a Borboleta a acrescentar — Homens geralmente não gostam de mulheres que dificultam suas vidas.
Embora ela estivesse respondendo ao Palhaço, eu podia perceber que a última parte era direcionada a mim.
“Então a pergunta dela é algo que teria me colocado em uma posição difícil…”
Em todo caso, como a Borboleta pulou sua vez, agora era a vez da Preta.
“O que ela vai perguntar?”
Eu mal interagi com ela, e, por isso, não sabia muito sobre ela. Talvez ela simplesmente pulasse a vez, como Borboleta…
— Bjorn Yandel.
“…Hã? Por que esse nome apareceu de repente na boca dela?”
Isso me pegou de surpresa por um momento, mas cruzei os braços como se não tivesse sido afetado e dediquei toda minha atenção às palavras que se seguiram.
— Bjorn Yandel… e Missha Karlstein… — O quê…? Será que ela também sabia sobre o incidente da Pedra da Ressurreição? — …Eles estavam realmente namorando, como os rumores dizem?
Minha mente ficou em branco.
“Que diabos é isso…?”
E por que ela está me perguntando isso? Será que ela sabe que eu sou Bjorn Yandel? Não, mesmo que soubesse, por que ela perguntaria isso? Qual poderia ser a lógica dela?
— Por que todas essas perguntas são tão ruins?
Eu estava me perguntando isso quando o Palhaço soltou outro suspiro, claramente sentindo que a Preta desperdiçou sua oportunidade.
“Bem, qual será a incrível pergunta que você vai fazer?”
— Tanto faz. Como todos os outros já foram, é minha vez agora.
Não importa o que ele perguntasse, eu não iria responder. Ao tomar essa decisão, o Palhaço abriu a boca com cuidado.
— Então… eu gostaria de te perguntar isso, Sr. Leão. Talvez… só talvez… — A voz dele tremia com um nervosismo que não combinava em nada com ele. Ele até teve que parar para engolir em seco antes de continuar. — Se eu desistisse de tudo para trabalhar sob o seu comando… você me aceitaria?
O quê…? Sério, qual é a desse idiota?
Mais uma vez, um silêncio constrangedor tomou conta da Távola Redonda com a declaração do Palhaço de que ele queria se tornar meu subordinado.
— E pensar que eu estava curioso para saber qual seria sua pergunta…
— Você reclamou das nossas perguntas quando era isso que ia perguntar?
— Que decepção. Se queria perguntar algo assim, deveria ter feito isso em particular depois da reunião…
Os outros membros zombavam dele, mas o Palhaço ou não percebeu, ou não se importou.
— Então… você poderia… responder à pergunta?
O pedido dele foi solene, sem a habitual risada irônica. Ele estava agindo como se estivesse no episódio final de um reality show de namoro.
Estar perplexo não começava nem a descrever o que eu sentia. Já estávamos muito, muito, além disso.
Esse cara não tinha ideia de quem eu era ou quais poderiam ser meus objetivos. Tudo o que eu representava para ele era uma figura poderosa envolta em mistério. E, de alguma forma, isso era suficiente para fazê-lo querer se aliar a mim.
Estar disposto a desistir de tudo para se tornar meu capanga…
“O que se passa na cabeça desse cara?”
Ele parecia um adolescente ingênuo sonhando acordado com um olheiro que o escolhe em meio a uma multidão e lhe oferece a grande oportunidade de sua vida.
Enquanto eu ainda tentava processar essa reviravolta dos acontecimentos, a vez do Palhaço marcou o fim dessa rodada de perguntas. Eu recebi um total de seis perguntas. Mesmo com a Borboleta passando, isso ainda significava que eu havia recebido mais perguntas do que qualquer outra pessoa até agora.
Embora, por algum motivo, a maioria delas fossem estranhas pra caramba.
Quando a batuta foi passada para mim, todos ficaram em silêncio, me observando atentamente.
Qual pergunta eu iria responder?
Todos estavam claramente torcendo para que eu escolhesse a deles, eu podia ver isso em seus olhos. E o que mais parecia cheio de esperança era, definitivamente, o Palhaço.
“Argh, não faça isso…”
Enquanto eu evitava o olhar dele com naturalidade, calculava furiosamente em minha cabeça. Qual seria a melhor pergunta para eu responder?
— Eu quero saber onde e como você conheceu a Bruxa da Terra.
— Você já se encontrou pessoalmente com o Rei do Novo Mundo?
Essas duas eram descartadas logo de cara. No caso do Lobo, nem eu tinha certeza de como responder, e quanto a Rainha, eu ainda não conseguia determinar o motivo por trás da pergunta dela.
— Com quantas mulheres você é casado ou está em um relacionamento agora?
— …Eles estavam realmente namorando, como os rumores dizem?
Mas seria muito estranho responder a uma dessas.
— Você… realmente sabe quem nós somos?
— Se eu desistisse de tudo para trabalhar sob o seu comando… você me aceitaria?
No fim das contas, essas eram as únicas duas opções que restavam, e o processo de eliminação tornou a decisão simples.
Que irritante.
“Eu não conheço todos.”
Uma resposta vaga como — Eu conheço alguns de vocês — só quebraria o mistério ao redor do meu personagem. Isso significava que havia apenas uma pergunta que eu poderia realmente responder.
Tap, tap.
Hora de arrancar o esparadrapo.
Após olhar para cada membro por sua vez, travei os olhos no Palhaço e falei um nome, o verdadeiro nome do Coletor de Cadáveres escondido por trás daquela máscara de palhaço.
— Abed Necrapeto. — Meu tom era direto e severo. — Eu nunca deixaria você se juntar a mim.
Com uma expressão de quem via seu mundo desmoronar, ele perguntou — Por que… isso?
O que ele queria dizer com ‘por quê’? Era muito simples.
— Eu não tenho passatempo de manter insetos de estimação por perto.
Não importa o quanto ele fosse amigável comigo na Távola Redonda, eu nunca o trataria como um ser humano.
— Minha irmã está…! Ela não se move mais. Ela não fala. Ela está fria, e rígida. E eu ainda não fiz nada por ela…
Ele era meu inimigo.
Shaaa!
Mesmo enquanto a luz verde se acendia para confirmar que falei a verdade, o Palhaço não disse nada. Ele apenas ficou olhando para o nada, atordoado.
A Rainha, percebendo o estado em que ele se encontrava, o observou com cautela. — Você… está bem…?
— Pshe-pshehe! — De repente, o Palhaço explodiu em uma risada descontrolada. — Pshehehe, um inseto…
Hmm, será que minhas palavras foram duras demais? Mesmo assim, não havia o que fazer. Com pessoas como ele, era preciso ser claro e direto para que eles entendessem.
— Impressionante… Impressionante como sempre, Sr. Leão… — Após rir como um balão furado por um tempo, o Palhaço levantou a cabeça. — E eu estava tão confiante… pshehe…
Esse era um padrão comum de comportamento em pessoas que tentam parecer legais.
— Mas um inseto! Ainda assim um inseto! Pshehe…! Devemos parecer todos assim para você, não é, Sr. Leão? Pshehehe…
Eles achavam que podiam rir para ignorar o dano.
— Heh… você quebrou ele. O que fazemos agora?
— Hah, por que você teve que fazer uma pergunta dessas…?
Enquanto todos assistiam o Palhaço rachar como se tivesse perdido a cabeça, os outros membros pareciam quase simpáticos.
Bem, não que eu me importasse.
“Eu quero começar a próxima rodada logo…”
Será que eu teria que intervir e fazer as coisas andarem? O que eu deveria…?
Brrrm…
A sala onde ficava a Távola Redonda começou a tremer como se tivesse sido atingida por um terremoto.
Creak.
Então, no meio da reunião, uma das portas se abriu para deixar alguém de fora entrar.
Isso era uma anomalia, algo que eu só havia visto acontecer uma vez antes. Particularmente quando o Mestre, o fundador dos Observadores da Távola Redonda, e o velho que eu conhecia como Auril Gavis, apareceu para uma visita há muitos anos.
“Foi exatamente isso que aconteceu naquela vez.”
E agora?
Lentamente, virei-me para olhar para a porta aberta.
— Haha, parece que há algumas máscaras aqui que nunca vi antes.
E eis que, na entrada do corredor, um velho usando uma máscara branca nos observava, com um risinho na voz.