Caça-Fantasmas.
Depois de surgir do nada há mais de vinte anos, esse espaço se tornou um refúgio seguro para muitos jogadores que sentiam falta de casa. Seus momentos finais foram tão abruptos quanto os primeiros.
【Aviso Urgente: O servidor será desligado em breve.】
Um erro pode ocorrer se você for desconectado à força, então, se algum usuário ainda estiver logado, por favor, saia o mais rápido possível.
A notificação apareceu cerca de cinco minutos depois que abri a mensagem de Hyeonbyeol.
Quando atualizei a página, meu feed já estava repleto de pessoas se preparando para o fim dos tempos. Desde posts questionando por que o servidor estava sendo fechado mais cedo, quando ainda havia tempo, até pessoas buscando conforto nos outros, além de posts de trolls que eu normalmente não via, graças ao bom sistema de moderação.
【Muito Urgente. Por favor, responda.】
【Muito Urgente. Por favor, responda.】
【Muito Urgente. Por favor, responda.】
【Muito Urgente. Por favor, responda.】
【Muito Urgente. Por favor, responda.】
【Muito Urgente. Por favor, responda.】
Cliquei no post, curioso sobre qual poderia ser essa pergunta urgente, mas não era nada interessante.
【Muito Urgente. Por favor, responda.】
O que acontece se você não fizer logout e ficar aqui em vez disso?
Suspirei. Imaginei que fosse isso. Ainda assim, também fiquei um pouco intrigado com isso, então rolei para a seção de comentários.
these99: O que você acha que vai acontecer? Você provavelmente será desconectado automaticamente.
└OP: Sério? Então vou esperar aqui até ser desconectado automaticamente.
└fliccolo: Você não viu a parte onde os admins disseram que pode ocorrer um erro? Apenas aperte o botão de logout você mesmo. Se algo der errado, você pode acabar vivendo o resto da sua vida como um vegetal.
Era uma perspectiva bastante assustadora, não fazer logout na hora certa e acabar em um estado vegetativo como resultado. Claro, havia a questão de saber se isso poderia realmente acontecer, mas, dada a natureza estranha desse espaço, eu diria que havia uma chance não nula de que pudesse.
“Além disso, a maneira como a mensagem do GM estava escrita sobre um ‘erro’ que ‘poderia ocorrer’ também me deixava nervoso.”
Mesmo sem tudo isso, não havia motivo para ficar aqui até o fim, então, depois de ler mais alguns posts, apertei o botão de logout.
【Deseja fazer logout?】
Uma janela de seleção com as palavras ‘sim’ e ‘não’ me saudou, assim como a que apareceu no dia em que entrei neste mundo pela primeira vez.
Clique.
Quando cliquei em sim, a sala ao meu redor desapareceu na escuridão, e senti que estava sendo transportado para outro lugar.
Era hora de voltar. Não para ser o poderoso misterioso Leão, nem o trabalhador de escritório comum Hansu Lee…
— Você chegou seis segundos mais cedo do que o normal. Aconteceu alguma coisa lá dentro?
Mas para ser Bjorn Yandel.
Pensando bem, quando isso começou, afinal? Em algum momento, Amelia começou a ficar ao lado da minha cama sempre que eu ia para o Caça-Fantasmas à noite. Eu disse a ela várias vezes que não havia necessidade de fazer isso, mas logo desisti de argumentar quando percebi que ela estaria lá quando eu abrisse os olhos, não importando o que eu dissesse.
E, para ser honesto, eu não poderia dizer que não era grato.
— Você não disse que ia dormir? Está mentindo para mim agora? — perguntei.
— Eu realmente queria.
— Mas?
— Não consegui dormir.
“Não conseguiu dormir, é?”
Mesmo enquanto eu dava um sorriso sarcástico, Amelia continuava a inventar desculpas. — …E você nunca sabe o que pode acontecer dentro do labirinto.
Bem, não podia discordar disso.
Amelia me entregou um copo de água enquanto eu me sentava. — Então, aconteceu algo? — ela perguntou.
— A comunidade foi fechada a partir de hoje.
— Fechada…?
Depois de engolir a água gelada, dei a ela uma explicação mais detalhada da minha noite. Falei sobre o aviso que vi assim que me conectei ao servidor e até mesmo sobre as informações que obtive na Távola Redonda relacionadas ao encerramento.
— Hmm, então Auril Gavis está envolvido…
— Sua justificativa oficial é que ele quer impedir que nós, espíritos malignos, fiquemos complacentes, mas não há como essa ser a verdade completa. E aí? Você tem alguma teoria?
— Não realmente… Mas, te aviso se pensar em algo.
Hmm, então ela também não tinha nenhuma ideia.
Suponho que era de se esperar, considerando que ela nunca teve uma conversa adequada com Auril Gavis antes.
— Então, Yandel — Amelia disse, interrompendo meus pensamentos. Sua voz havia assumido um tom que eu não conseguia identificar. — O que mais aconteceu lá dentro?
— …Hã?
— Você não estaria com essa expressão se fosse só isso.
Inclinei a cabeça. — Uma expressão…?
Cuidadosamente, Amelia disse — Posso estar imaginando coisas, mas…
— Não precisa fazer rodeios comigo. Diga logo.
— Você parece que passou por algo. Como se estivesse despedaçado por dentro.
Ah…
— Aconteceu mais alguma coisa lá dentro? — ela perguntou.
Soltei um suspiro. Realmente não podia esconder nada dela.
“O que devo fazer? Devo contar a ela ou não?”
Levei um momento para pensar, mas no final, contei tudo. Não era algo que eu sentisse necessidade de esconder… e era difícil mentir para ela quando ela me olhava com aqueles olhos sinceros.
— Oh… então foi isso.
Não demorou muito para contar toda a história. Fiz o meu melhor para eliminar meus preconceitos pessoais e dar a ela apenas um resumo objetivo dos eventos como aconteceram, mas, apesar da descrição minimalista, Amelia conseguiu perceber imediatamente o que estava me incomodando. Na verdade, eu até apostaria que ela me conhecia melhor do que eu mesmo.
— Agora, você está em conflito sobre se tem ou não o direito de estar com raiva de Missha Karlstein.
Em uma frase, Amelia resumiu todo o meu estado emocional, algo que eu mesmo não conseguia entender completamente. Parecia que eu tinha sido virado do avesso, meu coração exposto. Talvez por isso eu tenha respondido sem pensar.
— Não é tão simples assim. Não é só sobre a Missha, para começo de conversa. É uma situação complicada quando você leva em conta todo o resto…
— Mas Missha Karlstein é o cerne do problema. — Eu fiquei em silêncio. — Estou errada?
Não tive nada a dizer a isso, então permaneci em silêncio, e Amelia continuou calmamente.
— Posso saber o que aconteceu naquele dia?
Não precisei perguntar de qual dia ela estava falando. Ela se referia ao dia em que eu disse que nada aconteceu. O dia em que Missha parou de falar com todos e começou a se sentar sozinha no canto.
“…Por onde eu começo?”
Depois de pensar um pouco, decidi começar do início.
— Você sabe algo sobre a Pedra da Ressurreição?
Para explicar meu problema com a Missha, eu precisava explicar isso primeiro. Eu ainda não havia contado a nenhum dos meus companheiros sobre sua presença em nosso grupo.
— Sei um pouco — ela respondeu.
— Bem, antes da Missha Karlstein retornar ao nosso clã, ela aparentemente recebeu uma Pedra da Ressurreição do Baekho Lee. Quando descobri, fui perguntar a ela sobre isso.
— E?
— Perguntei se ela sabia que a pessoa na qual a Pedra da Ressurreição é usada perde as memórias, e ela respondeu que não, ela não sabia. Então eu disse que entendia e pedi para que ela saísse.
— Então… o que aconteceu depois?
Soltei um suspiro. — Missha não saiu. Ela queria que eu dissesse algo, até mesmo ficar bravo com ela seria suficiente. Então eu disse a verdade honesta. — Pausei, e quando Amelia não me interrompeu, finalmente admiti — Que eu não conseguia… confiar nela. A primeira pergunta que me veio à mente quando ela terminou de explicar foi se ela estava escondendo mais alguma coisa de mim.
Houve um breve momento de silêncio.
— …E então? — ela incitou.
— Isso é tudo.
Missha Karlstein saiu da sala sem dizer mais uma palavra, e não falamos desde então. Essa foi a última parte da história.
— Entendo. — Agora que tinha todos os fatos, Amelia ficou em silêncio, digerindo meu relato. Mas quando finalmente falou, a pergunta que saiu de sua boca foi uma que eu nunca teria esperado. — Por que você escondeu tudo o que aconteceu com a Missha Karlstein de nós?
Bem… pensando agora, eu não tinha certeza. Por que eu escondi? Por que não contei a Amelia sobre a Pedra da Ressurreição mais cedo?
Parte de mim queria alegar ignorância e evitar a pergunta, mas, na verdade, eu sabia a resposta.
— …Porque eu sabia que ela seria rejeitada.
A posição da Missha no nosso clã já era instável. As interações da Erwen com ela eram marcadas por um desagrado óbvio, e Versyl a considerava uma potencial traidora, sendo, por isso, cautelosa com ela. Depois de dois anos de ausência, a amizade que ela tinha com Ainar havia se esfriado, e, no fim, ela era praticamente tratada como uma estranha pelo resto do clã. Era óbvio o que aconteceria com ela se as ordens de Baekho Lee fossem reveladas além de tudo isso.
“Ela seria ainda mais uma pária.”
Essa sequência de eventos poderia terminar com ela deixando o clã por conta própria, e…
Não pude deixar de rir do meu próprio raciocínio.
“O que eu realmente quero aqui?”
Eu estava ficando ainda mais confuso sobre o meu próprio estado mental.
Amelia, enquanto isso, acenou com a cabeça em aparente compreensão. — Entendo. Então é por isso que você não consegue usar a Confiança Equivocada na Missha… Porque suspeita que ela possa estar escondendo algo mais de você.
Ela acertou em cheio.
Talvez fosse paradoxal, mas eu não conseguia usar a Confiança Equivocada na Missha porque não confiava nela. Era como o Gato de Schrödinger. No momento em que a caixa fosse aberta, o conteúdo estaria definido, sem volta. Por isso, eu estava deixando a tampa fechada por enquanto.
Notando meu estado lastimável, Amelia disse — Isso é tão típico de você.
Minha primeira reação foi pensar que isso soava como um insulto, mas os olhos da Amelia estavam calorosos.
— Bjorn Yandel, quando o dia amanhecer, pegue a Confiança Equivocada e vá até Missha Karlstein para ver se ela está escondendo algo mais de você. E se ela disser que não, trate-a como uma companheira, como fez no passado.
— E se ela estiver escondendo algo mais?
— Bem, cruzaremos essa ponte quando chegarmos a ela.
— Isso não é… um pouco irresponsável?
— Mas você sabe tão bem quanto eu que não podemos continuar adiando isso para sempre.
Bem, isso era verdade. Soltei um suspiro frustrado.
— Mesmo que você não queira, faça o que precisa ser feito — consolou Amelia. — Como você sempre faz, Bjorn Yandel.
“Como eu sempre faço…”
Quando ela imaginava Bjorn Yandel, o que ela via?
Esse pensamento me fez refletir sobre o que eu via nela em troca.
— …Por que está me olhando assim?
— Você parece mais madura do que de costume.
Essa era a verdade sem filtro, direto do coração.
— Eh…? — Por algum motivo, porém, Amelia recuou como se eu a tivesse atingido na cabeça com meu martelo. Ela então suspirou. — Vou escolher interpretar isso como um elogio.
Uh… havia outra maneira de interpretar isso?
Voltei para a cama, e quando acordei na manhã seguinte, fui imediatamente atrás do chefe da vila para pegar a Confiança Equivocada e usá-la na Missha. Mas, uma vez que a tinha em mãos, mergulhei em pensamentos profundos.
“Isso é a coisa certa a fazer…?”
Neste ponto, eu estava menos preocupado com o fato da Missha estar escondendo algo e mais desconfortável com a ideia de usar este item em uma de minhas companheiras. Se eu usasse agora, e na próxima vez? E se, depois disso, eu me tornasse dependente da Confiança Equivocada e começasse a usá-la em meus camaradas sempre que ficasse desconfiado deles?
Isso poderia sequer ser chamado de amizade?
Essa era a questão central. Contudo…
“Esta será a última vez.”
Embora eu não tivesse como saber o que poderia acontecer no futuro, prometer a mim mesmo que essa seria a última vez trouxe-me algum conforto.
Fortalecido, levantei a mão para bater na porta diante da qual estava parado há um tempo. Não houve resposta verbal da pessoa do outro lado, mas duvidava que ela ainda estivesse dormindo.
Bati de novo. — Sou eu, Missha. Vamos conversar.
Houve um som de movimento do outro lado. — Nyah? Hã? B-Bjorn? E-Espere só um segundo…
Cinco minutos completos se passaram antes que a porta se abrisse.
— O que… foi…? Ainda está tão cedo…
Apesar das minhas preocupações de que ela estivesse vivendo como uma reclusa, ela parecia bem limpa. Parecia que ela havia acabado de tomar banho, já que seu cabelo ainda estava levemente úmido.
— Posso entrar?
— Uh… está um pouco bagunçado…
— Está bem. — Entrei, e tirei imediatamente a Confiança Equivocada.
— Isso é… — Uma variedade de emoções passou pelo rosto da Missha quando ela reconheceu o item. Ela parecia tanto aliviada quanto quase satisfeita ao vê-lo. Ela também parecia desapontada, e talvez um pouco assustada.
Não podia dizer com certeza que foi por isso, mas de repente tive dificuldade em encontrar minha voz. Mesmo assim, me obriguei a falar.
— Quero ativar isso para podermos conversar. Posso?
Depois de uma breve pausa, ela respondeu minha pergunta com uma dela. — E se eu responder a tudo o que você perguntar depois de ativar… então podemos voltar a ser como antes?
Um pensamento me veio à mente.
O que ela quis dizer com ‘antes’? Ela quis dizer aquele instante em que parecia que nossos corações estavam alinhados, ou simplesmente quando éramos companheiros de armas?
Bem, era provavelmente a última opção. Afinal, foi Missha quem me rejeitou e me afastou, não o contrário.
— Talvez. — Dei uma resposta vaga, mas positiva.
Era apenas sob a condição de que a Missha não tivesse mais nada a esconder de mim, mas se esse fosse o caso, então talvez pudéssemos realmente voltar a como éramos antes, antes de nosso relacionamento se tornar um emaranhado complicado e doloroso.
— Então… você pode.
Quando Missha apertou os punhos e assentiu, comecei meu interrogatório oficial.
【Você ativou o No. 7234: Confiança Equivocada.】
Eu pensava nisso toda vez, mas esse item realmente tinha um nome apropriado.