Nosso grande navio havia sido deixado no meio da selva.
Depois de tirar todos do navio, ele foi desinvocado. Com o quanto o navio estava inclinado em terra firme, estava ficando muito perigoso ficar em cima, e precisávamos sair do barco de qualquer forma, mesmo sem esse fator. Não era como se pudéssemos viajar pela selva de barco…
— M-Monstro…?
— O quê? Um monstro!
Não foi surpresa que houve uma comoção ao tirar o Presuntinho do barco. Precisávamos passar por isso pelo menos uma vez. Eu havia colocado o Presuntinho na minha armadura para escondê-lo enquanto mudávamos de navios durante a estação chuvosa, mas eu não podia escondê-lo para sempre.
No entanto, a reação que ele recebeu foi diferente do que eu inicialmente esperava.
— O-O que é esse monstro…?!
— Mas para um monstro… não é fofo?
— É a primeira vez que vejo algo assim.
As reações foram bem diferentes do horror que o Presuntinho provocou na Ilha da Biblioteca. Todos estavam vendo sua verdadeira forma.
— Então é assim que ele é. — Amelia voltou ao barco após explorar a área e se aproximou de mim. Ela então olhou para o Presuntinho com um brilho nos olhos. — Posso tocá-lo?
— Pergunte a ele você mesma… — é o que eu gostaria de dizer. Vamos primeiro entender nossa situação.
Rapidamente interceptei a situação e pedi a todos que abaixassem suas armas que estavam apontadas para o Presuntinho.
— Esta é a entidade que encontramos na Ilha da Biblioteca e não é nossa inimiga.
— E-Então não é um monstro?
— Bem, não sei quanto a isso, mas acredito que este cara vai nos ajudar a sair do Primeiro Subsolo.
— Ah… então foi por causa desse monstro. O motivo pelo qual você visitou aquela ilha antes.
— Então, quando vão abaixar suas armas? Preciso dizer de novo?
— Ah! M-Me desculpe!
Em um ambiente militar, era correto obedecer cegamente as ordens dadas por alguém de patente superior.
Como eu era o comandante supremo deste grupo de expedição, todos seguiram minhas ordens e se afastaram do Presuntinho, embora ainda o observassem com olhos cautelosos. No entanto, ninguém fez nada imprudente.
— ⟅…O que está acontecendo? Não consigo entender o que estão dizendo, mas estão me olhando de maneira diferente do usual.⟆ — O Presuntinho perguntou em sua língua peculiar.
— ⟅Ah, sobre isso⟆ — respondi calmamente. — ⟅Parece que, por algum motivo, todos aqui podem ver sua verdadeira forma.⟆
— ⟅O quê? Mas se eles estão vendo, por que ainda estão tão na defensiva…?⟆
— ⟅É natural. Mesmo que possam ver sua verdadeira forma, ainda é verdade que você é uma entidade desconhecida para eles.⟆
— ⟅Ah… E-Eu acho que faz sentido…⟆ — Assim como as pessoas, Presuntinho parecia bastante confuso, a julgar pelo fato de não ter chegado a uma conclusão óbvia como essa. E talvez porque não tinha nada em que pudesse confiar, ele se aproximou de mim e agarrou minhas roupas.
— ⟅Não fique aí parado. Venha aqui.⟆ — Peguei o Presuntinho e o coloquei no meu ombro.
Ele ficou surpreso a princípio e se debateu um pouco, chutando com os braços e pernas, mas logo se equilibrou e se enrolou. Eu podia sentir que Presuntinho gostava de ficar no meu ombro.
“Bem, acho que é como criar um animal de estimação.”
De qualquer forma, o problema com Presuntinho estava resolvido.
— Capitã de reconhecimento — chamei em tom baixo, e Amelia finalmente desviou o olhar do Presuntinho. — O que você encontrou durante a exploração?
— Não há nada em nossas proximidades imediatas. Nem mesmo aquela entidade voadora que você disse ter visto. Os magos da equipe de reconhecimento também não encontraram nada peculiar.
— Entendo.
Certo, então isso significava que não havia nada perigoso nas nossas proximidades imediatas.
Tap, tap.
Após um momento de contemplação, ordenei ao subcomandante que preparasse o acampamento para todos. Embora a exploração fosse uma prioridade, decidi que descanso e reorganização vinham primeiro. Como todos os membros da equipe de expedição eram elite, o acampamento foi montado muito rapidamente.
— Ouçam antes de irem descansar.
Reuni os membros que sobreviveram à estação chuvosa comigo. Embora todos parecessem exaustos, ninguém reclamou. Este era um mundo de perdas. Todos já sabiam o que iríamos fazer.
— Subcomandante, deixo isso com você agora.
Depois de passar a responsabilidade para o subcomandante, ele usou palavras eloquentes para declarar o nome e a ocupação dos falecidos e pelo que eles morreram.
— Arcebispo Altbehimun, por favor.
O sacerdote rezou por suas almas, e com o mago entregando os restos cremados às pessoas mais próximas dos falecidos, a cerimônia terminou rapidamente.
— Aqueles que fazem parte da patrulha, vão descansar agora! Hoje pode ser o último dia em que podemos descansar assim! Ah, e não se esqueçam das ordens de turno!
Os membros rapidamente foram descansar, e teriam feito isso mesmo sem as ordens do subcomandante.
Havia, claro, algumas exceções.
— Armin.
O capitão do Grupo de Aventureiros Armin, Myul Armin.
Embora ele fosse ser colocado na guarda em breve, estava parado silenciosamente em frente ao local onde os corpos foram cremados.
Aproximando-me dele, perguntei — Onde está Wyatt Hektz?
— …Ele parece ter ido dormir.
— Bem… Acho que ele deve estar bem cansado. E você?
— …Também vou precisar descansar.
Embora ele tenha dito isso, provavelmente iria adiar voltar por um tempo. Ao contrário do Clã Hektz, que parecia mais um negócio, o Grupo de Aventureiros Armin era bem unido e tinha uma longa história juntos.
— Certo, vou primeiro, então — concordei. — Certifique-se de descansar.
— Certo.
Depois disso, patrulhei ao redor do acampamento. Amelia, Erwen, Missha, Goblin, Versyl… Todos pareciam estar exaustos, pois cada um deles já estava dormindo quando os encontrei, então me dirigi à minha tenda também — minha tenda individual no centro do acampamento. Ela havia sido montada pelo subcomandante, que disse que não seria certo o comandante ficar apenas perto do Esquadrão 4.
“Eles até conseguiram uma cama de acampamento para mim.”
Sorri e coloquei o Presuntinho na cama de acampamento.
— Boa noite.
Um cobertor era suficiente para um bárbaro.
A guarda foi feita em turnos para que cada membro da expedição pudesse descansar bem. Depois de passar um dia mudando nosso pessoal, oficialmente retomamos nossa exploração. Claro, como tínhamos mais de cem pessoas aqui, não podíamos nos mover sem um plano.
— Capitão de investigação.
— Sim?
— …Você sabe, certo?
— …Sim. Eu volto logo.
Depois de designar o capitão de investigação, que também era bastante competente como mago, para se juntar à capitã de reconhecimento, eles conseguiram explorar uma área muito maior em menos tempo, e realizamos uma reunião de líderes com as informações que eles reuniram.
— Nós exploramos em um raio amplo ao redor do nosso grupo, mas não encontramos nenhum monstro.
— E aquele templo à distância? Vocês também verificaram?
— Sim. Não conseguimos verificar o interior do templo, mas não encontramos nenhum monstro por perto.
— Por que não verificaram o interior?
— Algo mágico estava bloqueando a entrada.
— Algo mágico? — Era uma coisa impressionante de se ouvir de um mago que era elite o suficiente para ser membro do grupo de expedição.
No entanto, o capitão de investigação falou com confiança. — Eu investiguei, mas não consegui entender o mecanismo. Isso é apenas uma teoria, mas sinto que é um efeito semelhante ao fenômeno de separação dimensional que encontramos nas fendas.
— Um fenômeno de separação dimensional… Ah, não precisa explicar. Qualquer aventureiro sabe do que você está falando.
Os fenômenos de separação dimensional poderiam ser chamados simplesmente de ‘barreira’. Eles ocorriam na Cabana da Bruxa e na Cidadela Sangrenta. O lugar que você entrou após atravessar o portal parecia outro mundo, mas devido à barreira que cercava o lugar, não podia ser destruído, não importava o que você fizesse.
— Então, o que você está dizendo é que provavelmente será impossível forçarmos a entrada.
— Sim — ele confirmou. — Não podemos ignorar a possibilidade de que talvez nem consigamos entrar…
— Não, isso não vai acontecer.
— Perdão…?
— …Só tenho um pressentimento.
Percebi tardiamente meu erro e tentei disfarçar como um bárbaro faria, mas eu tinha uma prova que me dava uma certa certeza. Não exatamente uma prova, mas sim algumas estatísticas.
“Embora existam algumas situações em que é impossível sair de uma área delimitada, nunca houve nada que impedisse alguém de entrar em algum lugar.”
O mais comum é haver uma certa condição que precisa ser atendida para que se tenha acesso ao interior.
— …Então, posso continuar com o relatório?
— Ah, continue.
Depois disso, o capitão da investigação explicou tudo o que encontrou e descobriu durante a pesquisa da área ao redor.
Embora estivéssemos em uma selva, ele não viu um único inseto. Ele encontrou várias espécies de plantas que são mais comuns no Continente Negro. E também disse que encontrou alguns fragmentos de metal enferrujados no chão.
Ele continuou a listar pequenas informações que pareciam insignificantes agora, mas que poderiam ser úteis mais tarde, e eu tentei ao máximo lembrar de algumas delas.
Tomei minha decisão após o fim do relatório.
— Preparem-se para nos mover assim que esta reunião terminar.
— Vamos em direção ao templo?
— Isso mesmo.
Já que essa era a única coisa interessante que encontramos nas proximidades, eu planejava ir até lá e verificar pessoalmente. Se não houvesse nada perigoso, poderíamos usar aquele lugar como novo ponto central e investigar a área ao redor.
“Fazer um mapa primeiro é o melhor, não importa o que façamos.”
E assim, nossa exploração começou.
Nosso grupo de mais de cem membros se moveu em formação definida, com todos em suas posições designadas através da selva, e logo chegamos ao templo, onde dezenas de construções de pedra cercavam o grande monumento.
— Hmm… isso não parece um pouco familiar?
— Sinto o mesmo. É como se eu já tivesse visto isso em algum lugar.
— Onde foi que eu vi algo assim?
Só pela reação dos membros da expedição, eu podia perceber que não estava enganado.
— …Ruínas de Panthelion.
— Hmm?
— As ruínas que você viu lá não estavam em uma formação como esta?
— Oh! Parece mesmo que aquelas ruínas seriam assim se ainda estivessem de pé!
Se o que eu estava pensando estava certo, então o lugar onde estávamos eram as Ruínas de Panthelion no sétimo andar. Ou melhor, era muito provável que fosse uma recriação da forma original daquele lugar.
— Então vamos verificar o templo primeiro.
Fomos imediatamente em direção ao templo.
As escadas situadas no centro não eram tão altas, e a entrada estava na altura do terceiro andar. Lá, encontramos uma porta de pedra que parecia abrir de lado ou deslizar para cima e para baixo.
— Capitão de investigação, você encontrou outra forma de entrarmos no templo?
— Não. Parece que o fenômeno de separação dimensional não está apenas na porta de pedra, mas em todo o templo…
— Certo. Então você não precisa participar da exploração, continue focando apenas na investigação do templo.
— Lorde Barão… Não, comandante, onde você vai?
— Não vou agora. Estou pensando em passar alguns dias aqui e aumentar nosso raio de busca com este lugar como nosso novo ponto focal. Será mais fácil se tivermos um mapa.
Na verdade, depois de dar a eles a tarefa de explorar, foquei mais na criação de um mapa.
Cada esquadrão destacou algumas pessoas para aumentar nosso raio de busca, e colocamos a criação do mapa como a mais alta prioridade, mas após passar uma semana inteira em nossa busca, não aprendemos nada de novo.
“Este lugar é bem grande.”
Ao contrário da maioria das fendas onde os fenômenos de separação dimensional podiam ser vistos logo após desviar um pouco da área central, este lugar era bastante amplo.
“Um rio.”
Além disso, ao leste do templo, havia um rio correndo. Considerando que suspeitávamos que este lugar fosse as Ruínas de Panthelion, aquele rio provavelmente era o Estuário de Aribeona, considerando sua localização…
“É bem diferente do que eu conheço.”
Mas era bem diferente do Estuário de Aribeona que eu conhecia, então ainda estava um pouco confuso.
“Posso decidir depois de também explorar a área além do rio…”
As equipes de busca e investigação não estavam encontrando muita coisa, mas surpreendentemente, a equipe de pesquisa liderada pela Raven encontrou algo.
— As peças de metal que pegamos na floresta. Elas não são de metal comum.
— É um novo material?
— Sim. Não sei nem se podemos chamá-lo de metal. Não existe metal neste mundo que, em vez de enferrujar, apodrece com o tempo. — Ela me mostrou uma amostra de metal com manchas pretas como pele morta e um cheiro horrível. — Se você olhar, pode ver que seu tamanho diminui à medida que continua a apodrecer.
— …Que metal interessante.
Essa foi minha reação imediata à informação de Raven, mas minha atitude rapidamente mudou com o que ela disse em seguida.
— Mas… pensei em algo enquanto olhava para ele.
— O que foi?
— É sobre o campo da alquimia. Na verdade, ouvi dizer que era um campo que começou no passado para criar ‘humanos’.
Eu já tinha ouvido falar disso antes. Bem, hoje em dia, era apenas um campo que usava a energia das pedras de mana para criar outros materiais.
— E então? — eu a instiguei.
— Eu me interessei por isso no passado, então li um pouco sobre o assunto. Mas você sabe por que os alquimistas antigos falharam em criar um humano? É porque eles não conseguiam criar carne.
— Carne?
— Sim. Carne, pele, músculos… coisas assim. É por isso que, mesmo se você der uma alma e fizer o que for, não consegue criar um humano. Criar golems com inteligência era viável, no entanto. Você também sabe disso, não é, Sr. Yandel? Sobre a Estátua de Meltai.
— Você quer dizer aquele golem de aço que protegeu o reino durante a Revolta da Muralha de Ferro antes de ser destruído?
— Sim. Isso mesmo. Meltai é um dos golems mais famosos que foram feitos após serem imbuídos com uma alma humana. Claro, agora é ilegal criar golems usando almas, então ninguém pode mais pesquisar isso.
Ah, eu não sabia disso.
— …Certo, qual é o ponto que você está tentando chegar?
Raven parecia um pouco envergonhada antes de resumir tudo em uma única frase. — É só que… se um metal como esse existisse naquela época, sinto que o que falei poderia ser viável na vida real.
Embora isso me deixasse bastante enojado, a história continuava a martelar em minha mente por algum motivo.
No entanto, talvez ela tenha descoberto um novo material que poderia ser útil para nós no futuro.
— Raven, pesquise bem. Tente pensar em uma maneira de usá-lo também.
— Certo.
Com isso, minha conversa com a Raven terminou, e com o passar do tempo, essa história naturalmente foi desaparecendo da minha mente, assim como meu interesse pelo novo material.
— Comandante!
No entanto, alguns dias se passaram após aquela conversa com a Raven.
Quando acordei do meu sono e recebi o relatório, não pude deixar de congelar, pego de surpresa pelo que ouvi.
— São humanos! Um grupo desconhecido de humanos foi descoberto perto do estuário!
Por que será que a primeira coisa que pensei foi na conversa que tive com a Raven?