Depois que ouviu minha pergunta, a mulher, aquela misteriosa integrante da Ordem da Rosa cujo nome eu nem sabia, desapareceu como um fantasma, sem me dar a chance de detê-la. Era óbvio, mas desta vez também não consegui obter nenhuma resposta dela.
Ba-dum
Mesmo assim, meu coração de guerreiro instintivamente sentiu o perigo e começou a bater acelerado.
Será que minha suposição estava certa? Ou será que eu estava completamente errado?
Não dava para saber, não agora.
No entanto, se o palácio estava planejando explodir Bifron, uma pergunta precisava ser respondida.
“Noark.”
Será que Noark sabia sobre o plano?
Considerando que eles não tinham estacionado soldados nos muros conectados a Bifron, eu sentia que eles sabiam ‘alguma coisa’.
“O que os dois estão planejando?”
Parecia que minha cabeça ia explodir, mas continuei, determinado a analisar a situação sem parar.
Algum tempo depois…
Soltei um gemido.
Eu não sabia. Achei que talvez pudesse chegar a alguma conclusão se parasse para refletir.
Finalmente, comecei a descer das muralhas do castelo, que gemiam sob os ventos da noite. Infelizmente, eu não tinha muito tempo. O prazo que a integrante da Ordem da Rosa me deu estava se aproximando rapidamente.
“Doze horas…”
Como isso fazia sentido? Amanhã ao meio-dia, com o sol alto no céu, um dos distritos da cidade explodiria.
Bem, a explosão ainda era só um palpite meu. Como eu não tinha tempo, depois de descer um pouco das muralhas, pulei direto para o chão.
Boom!
O impacto foi um pouco alto quando aterrissei.
“Bem, preciso acordar todo mundo de qualquer maneira.”
O que mais poderíamos fazer além de evacuar quando o proprietário estava nos mandando embora? Precisávamos arrumar tudo rapidamente e levar apenas o essencial.
Por mais que eu pensasse, não conseguia deixar de sentir que havia algo escondido em Bifron que eu não sabia.
“Mas a essa altura, melhor desistir.”
Não descobrimos nada mesmo após dias de investigação. Se tivéssemos encontrado qualquer pista ou rastro, eu não teria tomado essa decisão, mas agora não havia escolha. Precisávamos deixar Bifron sob as ordens do palácio.
No entanto, isso trouxe outro problema.
— Você faz uma pergunta estranha. Eles não receberam permissão para entrar nas áreas de convivência.
Foi o que a integrante da Ordem da Rosa disse ao me entregar o decreto real. Apenas os residentes do Distrito Sete tinham permissão para evacuar, e não podíamos levar os moradores de Bifron conosco.
Essa cidade, previamente abandonada, seria abandonada mais uma vez.
“Isso é fácil de resolver.”
Não foi muito difícil encontrar a solução para esse problema.
Após descer das muralhas, fui imediatamente em direção à casa de Jingjing.
— C-Chefe, o que o senhor está fazendo aqui a essa hora…?
— Reúna os moradores de Bifron agora. Não deixe ninguém para trás.
— Desculpe…?
— Não tenho tempo, vou explicar tudo quando todos estiverem reunidos. Rápido. E diga para não levarem nada que não seja necessário.
Ele pareceu entender a gravidade da situação, mesmo sem saber o motivo. — …Estamos indo embora?
— Sim.
— Vou reunir todos! Q-Quanto tempo temos?
— Antes das nove da manhã. Mas quanto mais cedo, melhor. Eu vou cuidar do meu lado, você se encarrega dos moradores de Bifron.
— Sim!
Depois de informar Jingjing, que tinha sido rudemente acordado do sono, sobre o plano e o prazo, ele rapidamente colocou um casaco e saiu correndo.
A seguir, meus aliados.
— Uma integrante da Ordem da Rosa veio até você?
— Sim, aparentemente eles vão abrir o escritório de inspeção do Distrito Quatro ao meio-dia e nos disseram para usar essa janela para escapar.
— Mais alguma coisa?
— Ah, ela me disse que não posso levar os moradores de Bifron comigo.
— …E, conhecendo você, duvido que vá simplesmente obedecer a isso.
— Não, eu disse que entendi. Não se preocupe, eu tenho um plano — respondi, então pedi que reunissem os aventureiros do Distrito Sete.
Algum tempo depois, enquanto esperava na Praça Dimensional, que eu havia designado como nosso ponto de encontro, os aventureiros e moradores que ouviram a notícia começaram a chegar aos poucos.
— E-Eu ouvi dizer que algo urgente está acontecendo…
— Alguém sabe o que está acontecendo?
— O Sr. Feljain disse que precisamos sair e rápido…
Como eles não tinham recebido uma explicação adequada, as pessoas na praça estavam bastante inquietas. No entanto, em vez de acalmá-los explicando tudo, prosseguimos com os preparativos necessários antes do meio-dia.
Quero dizer, em vez de perder tempo resolvendo as preocupações de todos, a solução mais eficaz seria ir direto ao cerne do problema, certo?
— Papel! Reúnam todo o papel limpo que puderem!
— Qualquer um que souber escrever, venha aqui!
De qualquer forma, tínhamos muito o que preparar, e eu não era suficiente sozinho, então reuni todas as pessoas que podia usar e as coloquei para trabalhar.
Ah, mas como saber escrever era um pré-requisito, Ainar foi excluída dessa tarefa.
— Ainar! Você… Não disse que estava aprendendo a ler e escrever há três anos?
— A-haha! Missha! O aprendizado nunca acaba!
Ainar ainda só sabia ler. Para ser honesto, eu não entendia como ela conseguia ler, mas não escrever.
Uma hora, duas horas, três horas…
O tempo passou rapidamente, e, por volta do momento em que o sol começou a despontar sobre as muralhas, todos estavam reunidos na praça.
— Todos, reúnam-se! O barão tem algo a dizer!
Finalmente era hora de contar a todos o que estava acontecendo. Para ser sincero, eu poderia ter dito isso antes, mas não havia motivo para repetir a mesma coisa duas vezes.
— Ahem. — Nem precisávamos preparar uma plataforma. Após usar a 【Gigantificação】, olhei para a multidão de mais de mil pessoas e fui direto ao ponto para chamar a atenção de todos. — Não vou me alongar! Fui contactado pelo palácio ontem à noite!
— Ohhh!
— O palácio te contatou!
— Podemos sair daqui?
Como esperado, a reação da multidão foi intensa.
Era realmente bizarro. Toda vez que eu fazia um discurso assim, era muito fácil conseguir a reação que eu queria deles.
“…Será que também é assim para outras pessoas?”
Eu não sabia, mas precisava me concentrar no discurso.
— Isso mesmo! O palácio disse que abrirá o escritório de inspeção do Distrito Quatro, e podemos usar isso para deixar a cidade!
— Whoooa!
— N-Nós estamos…
— Porém! — Gritei, cortando o barulho.
Já que contei a parte principal, era hora de dar a reviravolta. Notícias ruins sempre tinham que ser dadas primeiro para que as boas que viessem depois soassem ainda melhores.
— Aquele maldito palácio disse que não podemos sair todos juntos.
Minhas palavras cortaram os aplausos da multidão, e o silêncio se espalhou pela praça. Milhares de rostos me olhavam com confusão e choque.
Um morador de Bifron, que acabou cruzando os olhos comigo, fez uma pergunta. — Não podemos sair todos juntos…? O-O que você quer dizer?
— Exatamente o que eu disse. O palácio disse que só aceitariam os residentes do Distrito Sete.
— E-Então nós… estamos excluídos?!
— Isso mesmo. Eles me disseram que os moradores de Bifron não podem vir conosco.
Nem precisávamos de crachás. Apenas olhando para a expressão das pessoas que enchiam a praça, podíamos distinguir quem era morador de Bifron e quem era aventureiro do Distrito Sete. Os olhos dos moradores de Bifron se arregalaram quando anunciei sua sentença de morte, enquanto os aventureiros do Distrito Sete perderam as palavras e só podiam ficar ali, em silêncio.
Uma linha clara de separação se formou na multidão.
— Então…! Por que nos chamou aqui?! — alguém gritou, furioso, no meio da multidão. — Se vai nos deixar para trás, por que nos reuniu aqui?!
As palavras já não carregavam mais nenhum respeito. Bem, eu podia entender. Alguém pressionado até o limite de sua vida reagiria assim.
Eu sorri, diminuindo a tensão. — Porque vou levar vocês comigo.
Os olhos do homem zangado ficaram vazios de confusão. — …O quê?
— Tá surdo?
— Ah, ah, n-não… Não é isso… Mas você disse que o palácio não vai nos aceitar…
Ah, isso?
Era natural que eles estivessem confusos. Nesta cidade peculiar, ir contra a palavra do palácio era algo que eles nem podiam imaginar. Bifron estava cheia de pessoas que haviam tido suas vidas poupadas por seguirem a vontade do palácio.
— É verdade. E eu disse que vou levar vocês comigo.
— M-Mas! Você não é um barão?
— Um barão? Sim, sou. E daí?
O homem levantou a cabeça e me olhou com olhos trêmulos. — Por quê…? Por que está fazendo tudo isso por nós?
Honestamente, isso era bem interessante. Eu tinha pensado o mesmo.
Não importava como alguém olhasse, o que eu estava tentando fazer agora não cairia bem para o palácio. Isso também dificultaria minha vida na sociedade nobre no futuro.
Então por que tomei essa decisão? Por que fui capaz de chegar a essa conclusão tão facilmente?
Pensando bem, a razão era simples. — Porque eu quero.
— Como é…?
— O quê? Tá dizendo que eu não posso?
— N-Não, não foi isso que quis dizer…
— Enfim, é o fim dessa discussão. Se quisermos sair a tempo, precisamos terminar os preparativos. Sigam as instruções e preencham os documentos! Isso é tudo!
Essa foi a minha declaração final, e os moradores foram guiados pelos meus aliados e assinaram seus documentos.
“Foi por pouco.”
Por volta do momento em que tudo isso terminou, as portas do escritório de inspeção se abriram no horário prometido.
As portas, que estavam fechadas há tanto tempo, se abriram lentamente com um rangido alto. A multidão se reuniu na frente, esperando. Houve um suspiro coletivo enquanto todos observavam a entrada com expectativa nervosa.
Então, uma ordem de cavaleiros, ostentando o brasão do palácio no peito, saiu em sua armadura metálica, formando um caminho na entrada do escritório de inspeção. Parecia que estavam esperando que alguém saísse logo atrás deles.
— A-Alguém está saindo…! — uma voz gritou.
Então, uma mulher apareceu nas portas do escritório de inspeção, atrás dos cavaleiros.
Tap, tap.
Ela usava o mesmo uniforme dos cavaleiros à sua frente. No entanto, era óbvio à primeira vista que sua posição era superior à deles. Isso porque era a integrante da Ordem da Rosa que eu havia encontrado no dia anterior.
— Há… — A mulher examinou as pessoas reunidas em frente ao escritório de inspeção antes de parar em mim. — …mais pessoas do que o esperado?
Ela me olhou como se perguntasse qual era o meu esquema.
Mas eu não tinha motivo para recuar. Afinal, eu não estava fazendo nada ilegal. — Tem algum problema com o número de pessoas aqui? — perguntei despreocupadamente.
A mulher balançou a cabeça, sem demonstrar qualquer reação. — Não. Aqueles que não forem qualificados para passar, não passarão de qualquer maneira.
Era assustador vê-la reagir de forma tão calma, mesmo numa situação que ela provavelmente nunca esperava. Aquela ordem não tinha mulheres simples entre seus membros. Ainda assim, aquelas palavras eram exatamente o que eu queria ouvir, para ser justo.
Sorri. — Então, ótimo. Ninguém que não tenha permissão para passar irá passar hoje.
Dessa vez, ela franziu a testa com genuína confusão. — O que quer dizer com isso, Lorde Barão?
Em vez de responder, entreguei-lhe um documento. Suas palavras sumiram.
— O quê…?
Haha! Ela provavelmente nunca esperou por isso…
— O que é isto?
Ah, então ela ainda não entendia o que eram aqueles documentos.
Bem, até eu não teria conseguido bolar essa solução se não tivesse investigado cada boato e história em Bifron para descobrir algo que pudesse existir.
Havia exatamente um método para os moradores de Bifron obterem permissão para sair, além de receber a prova de valor aos catorze anos.
Eu exibi meu sorriso vitorioso e expliquei gentilmente à mulher o que eram aqueles documentos. — É um contrato de trabalho.
— Contrato de trabalho…?
— Em termos simples, essas pessoas agora são servos da Casa Yandel.
Ah, e eles não tinham salário mensal.