— Criados… — A membro sem nome da Ordem da Rosa soltou uma risada perplexa. — Você realmente acredita que isso faz sentido, Lorde Barão?
Pensando bem, eu já tinha ouvido essa pergunta muitas vezes na minha vida como bárbaro, e minha resposta sempre foi a mesma.
— Hã? O que não faz sentido nisso? — perguntei enquanto limpava o ouvido com o dedo mindinho.
A cavaleira franziu a testa. — Mais de dez mil pessoas…
— Hmm, oito mil setecentos e doze, pra ser exato.
— …Que diferença isso faz? Nem os grandes nobres da cidade jamais acolheram um número tão grande de criados. Nem antes, nem agora.
— Ah, é mesmo? — Sorri como se estivesse genuinamente contente e gritei — Então eu serei o primeiro!
Será que eu também poderia escrever isso na Pedra da Honra?
Murmurei isso alto o suficiente para todos ouvirem, mas aquela mulher de rosto frio simplesmente ignorou meu murmúrio.
— Está pensando em formar um exército particular, Barão Yandel? — ela perguntou com precisão afiada, como uma espadachim veterana mirando um ponto fraco. Era uma pergunta sensível que eu não podia simplesmente ignorar.
“Exército particular? Por que não?”
Se eu dissesse isso, minhas palavras seriam imediatamente distorcidas e interpretadas de várias formas. No pior dos cenários, eu poderia ser acusado de planejar uma revolta. Precisava cortar isso pela raiz antes que crescesse.
— De jeito nenhum. Não estou planejando formar nenhum exército particular. Juro pelo meu nome e minha honra como guerreiro.
Claro que essa mulher nem fingiu que estava me ouvindo. — Em vez de jurar, explique-nos. Por que você precisa de um número tão grande de criados?
“Ei, não seja tão rígida.”
Estalei a língua antes de decidir responder à sua pergunta. — Bem… não é melhor ter mais criados? Também gosto de estar cercado de pessoas e de quando as coisas estão animadas…
— E só porque você gosta de estar em meio à multidão, vai acolher nove mil criados?
— Oito mil setecentos e doze criados. Não nove mil. — E rapidamente continuei — E não é só porque eu gosto de ter gente por perto. Eu realmente preciso de todos eles. Por exemplo, esta Kaina Elmosi… Oh! Ela está registrada como assistente de chef!
— Lorde Barão, você realmente acha que acreditaremos nisso?
“…Bem, nem tanto.”
Eu sabia que essas eram desculpas nas quais ninguém acreditaria. Mas e daí?
— Acreditem ou não, por que vocês deveriam se importar? Não entendo por que estão nos impedindo. Não foi você quem falou ontem sobre fazer apenas o que o rei ordenou? Eles se tornaram meus criados e obtiveram o direito de partir. Então, por que estão nos barrando?
Enquanto eu a enfrentava abertamente, a membro da Ordem da Rosa não conseguia refutar nada. Era hora de aplicar um pouco de pressão.
— Humana. Me diga uma coisa. Se você for capaz, tome a decisão por conta própria. — Em um tom mais baixo, eu disse — E, se não for, não tome.
Foi o conselho de um bárbaro, dizendo para ela agir como a ferramenta que era. Mesmo após ouvir isso, a expressão da cavaleira não mudou. No entanto, ela parecia ter pelo menos considerado o conselho.
No silêncio constrangedor, onde os cavaleiros em frente ao escritório de inspeção me lançavam olhares de soslaio, a mulher finalmente quebrou o silêncio.
— Barão…
— Barão?
— …Você vai se arrepender da decisão de hoje.
Eu estava curioso para saber o que ela diria. Infelizmente para ela, eu já estava acostumado com isso. Todo mundo sempre falava que eu me arrependeria das minhas escolhas quando as coisas não saíam do jeito deles.
— Oh, você não é uma cavaleira, mas uma vidente? — falei inocentemente, provocando-a até o fim.
A mulher me lançou um olhar de raiva antes de ordenar aos cavaleiros. — …Deixem todos passarem!
Hah, mais um obstáculo superado.
O Distrito Quatro, onde ficava a cidade mercantil de Kommelby, tinha muitas lojas e muitas pessoas circulando. No entanto, o Distrito Quatro em que chegamos após passar pelo escritório de inspeção era diferente do que eu esperava.
As lojas estavam todas fechadas, e não havia uma única pessoa nas ruas.
— Humana. O que está acontecendo aqui?
— …O Distrito Quatro foi temporariamente fechado para a segurança de seus moradores.
— Que outros distritos foram fechados?
— Apenas o Distrito Quatro foi fechado.
Essas palavras me fizeram duvidar dos meus ouvidos por um segundo. — …O quê?
O que ela acabou de dizer não fazia sentido. O Distrito Três estava em contato com o Distrito Treze, que havia sido tomado por Noark, e o Distrito Cinco ficava diretamente ao lado do Distrito Sete, mas nenhum deles foi fechado.
“Somente o Distrito Quatro, que está em contato com Bifron, foi fechado? Por motivos de segurança?”
Embora não fosse fácil aceitar, eu não tive a chance de pedir mais detalhes.
— Você poderá ouvir o restante do primeiro-ministro. Assim como você disse, eu não sou uma pessoa que pode tomar essas decisões sozinha.
— Primeiro-ministro? Estamos indo ver o primeiro-ministro agora?
— Correto.
Não importava o que eu perguntasse depois, a única coisa que ela dizia era para eu perguntar diretamente ao primeiro-ministro, então encerrei a conversa ali.
Depois disso, montamos um acampamento para os moradores de Bifron e os aventureiros do Distrito Sete na praça do Distrito Quatro. Ela nos informou que levaria algum tempo para decidirem como seríamos tratados e que precisaríamos ficar ali até lá.
— Huh…
— …É a primeira vez que vejo a Praça tão vazia assim.
Bem, a julgar pelas reações dos outros, eles não pareciam estar insatisfeitos com o tratamento que o palácio estava dando a eles. Talvez estivessem pensando que era o tratamento óbvio?
— Venha, Lorde Barão. O primeiro-ministro está esperando por você.
— Eu já volto. Emily, Versyl… vocês duas estão no comando aqui.
Com a situação na praça resolvida, segui a membro da Ordem da Rosa. Chegamos a uma mansão luxuosa não muito longe da praça.
— O primeiro-ministro entrará em contato com você em breve. Espere aqui por um momento.
Talvez eu devesse ter esperado por isso. Quando entramos na sala, encontramos um cristal de comunicação no lugar da presença do primeiro-ministro.
Bzzt.
Depois que a cavaleira saiu, fiquei sozinho na sala. Não demorou muito para que o cristal mágico vibrasse, e, ao apertar o botão de aceitar, um rosto familiar apareceu no cristal.
— Faz um tempo, Barão Yandel.
— De fato, Marquês Tercerion.
— Antes de discutirmos o assunto principal, entenda que eu não pude encontrá-lo pessoalmente. Está difícil para eu deixar meu posto devido à guerra.
“Difícil? Não me faça rir.”
Quanto tempo levaria para ele chegar aqui de Karnon? Esse homem também podia usar os círculos mágicos militares como quisesse.
Eu nem conseguia disfarçar o desprezo pela cara de pau dele, mas as palavras que saíram da minha boca eram bem diferentes do que eu sentia. — Eu entendo. E isso não é algo que me importe muito, então não se preocupe.
— Fico aliviado de ouvir isso.
— Então, o grupo de expedição enviado ao andar subterrâneo já voltou?
— Todos retornaram à cidade em segurança e finalizaram o relatório da expedição. Foi graças a eles que soubemos que você estaria no Distrito Sete.
— Hmm… entendo.
Normalmente, eu não gostava de longas introduções antes do assunto principal, mas essa não me incomodava. Decidi continuar com a conversa fiada para obter informações.
— Então, como souberam que estávamos em Bifron?
— Nós soubemos por nossos agentes secretos enviados ao Distrito Sete. Você declarou na frente de todos que iria para Bifron… Por que fez isso? Pelo que ouvi, o inimigo disse que deixaria você passar sem problemas.
Como essa era uma pergunta que eu esperava, respondi sem hesitar. — Como eu poderia acreditar que eles nos deixariam ir? E, pela nossa conversa, descobri que eles estão tentando usar Bifron para algo suspeito.
— Algo suspeito? Você por acaso descobriu algo sobre aquele lugar?
— Investiguei por alguns dias, mas infelizmente não consegui encontrar nada.
— Entendo… De qualquer forma, já que é você quem está me dizendo isso, vou informar ao conselho de estratégia que as forças de Noark estão planejando algo relacionado a Bifron.
— Oh, excelente.
Um momento de silêncio se passou, e eu usei isso para fazer a transição cuidadosa para algo que me deixava curioso. — Como está Saintred?
— Sir Saintred também está seguro. Devido à sua habilidade especial, ele acordou naquele lugar sem problemas, e também ouvimos tudo por ele.
Okay, então o chefe da vila também voltou vivo. Teria sido bom se algo tivesse dado errado e ele tivesse acabado morto.
— Falando em Sir Saintred — o primeiro-ministro continuou — Ouvi dizer que, depois que ele ficou naquele estado, foi você quem liderou o grupo de expedição?
— Ah, de alguma forma acabou sendo assim. Todos precisavam sair vivos de qualquer jeito.
— Muito bem. Foi um ótimo trabalho. Você fez uma grande contribuição.
— Ah, então eu posso ganhar uma promoção no meu título de nobre?
— …Ainda é cedo para falar sobre isso. Embora você vá receber recompensas pelos seus feitos durante a expedição no futuro, atualmente estamos em guerra.
Em outras palavras, nossas recompensas por nossos feitos seriam dadas depois de enfrentarmos a invasão de Noark.
Era uma explicação plausível, e eu não disse muito para insistir no assunto.
“De qualquer forma, acho que terminamos com as trivialidades…”
Era hora de chegar ao ponto principal.
No entanto, no momento em que eu ia dizer algo, o primeiro-ministro foi mais rápido. — A propósito. Pelo que ouvi, você acolheu os moradores de Bifron como seus criados…
Como esse velho, que gostava de ir direto ao ponto, estava falando de maneira tão indireta, minhas ações provavelmente chamaram um pouco de atenção.
— Já pensou em mandá-los de volta? — ele perguntou com uma astúcia sutil.
— Mandá-los de volta? Eu por acaso fiz algo ilegal?
— Não, você não fez, mas… Da nossa posição, não é bem-visto ter todos eles saindo assim. Você também sabe disso, já que é um nobre. Certo?
Eu saberia, já que era um nobre.
Desmembrando suas palavras, ele estava insinuando que eu deveria deixar de lado qualquer sentimento pessoal e trabalhar para o benefício do palácio, agora que era um nobre.
— Bem, se eu tivesse ouvido isso antes, talvez mudasse de ideia, mas agora é tarde demais. Eu já os aceitei como meus criados, então o que posso fazer?
— Você pode expulsá-los de volta.
— Desculpe, mas acho difícil dar ordens assim aos outros, então não acho que isso será possível.
O primeiro-ministro soltou uma risada perplexa com a minha resposta. — Mesmo?
“Sabe, sou bastante sensível e introvertido.”
— De qualquer forma, já que não é ilegal, então não é problema. Pare de falar sobre isso. Já está feito.
— …Sua Senhoria, estou dizendo isso porque me preocupo com você.
Preocupação? Esse cara seria o primeiro a saltar de alegria se eu acabasse morrendo.
— Agradeço sua preocupação, mas vou cuidar de mim mesmo.
Ele não respondeu.
— Então, o que você está pensando em fazer com Bifron agora? — Se lidar com os moradores de Bifron era o principal tópico do primeiro-ministro, esse era o meu.
O que o palácio pretendia fazer com Bifron?
— Não posso revelar segredos militares assim. Mas não é algo que eu precise esconder de um barão como você. E parece que você já suspeitava um pouco.
— Se você diz que eu já suspeitava…
— Exatamente — ele confirmou. — Vamos explodir toda Bifron. No momento em que as forças de Noark entrarem naquela área, é claro.
Embora ele falasse com um tom calmo, o que dizia era frio e brutal. Mesmo planejando explodir Bifron, ele acabara de me dizer para mandar os moradores de volta.
“…O que esses caras acham que vale a vida de uma pessoa?”
Eu sempre pensava que este era um mundo cruel, mas, de uma perspectiva externa, eu provavelmente não era tão diferente desses caras.
Mas agora não era hora de me preocupar com isso.
— Espera, você está planejando atrair os aventureiros de Noark para lá? — perguntei surpreso. — Você sabe o que eles estão tentando fazer em Bifron?
— Nós também não sabemos. No entanto, esperamos que eles fujam para Bifron se continuarmos pressionando.
Embora o marquês tenha me dito que não sabia, eu não estava planejando aceitar isso ingenuamente. Pelo que vi nos movimentos dos soldados, nem o palácio, nem os aventureiros de Noark estavam agindo de maneira normal.
“Um segredo que ele não pode me contar…”
Minha curiosidade só crescia.
— De qualquer forma, essa era a razão — o marquês finalizou. — Essa também foi a razão pela qual tentamos retirá-lo de Bifron rapidamente quando soubemos que você estava lá.
Para ser honesto, eu não entendia essa parte. Se eu estivesse na posição do marquês, teria me explodido junto com os Noarkanos e descartado minha vida como dano colateral. Então, por que eles fizeram questão de me salvar?
Felizmente, essa questão foi parcialmente resolvida com o que veio a seguir.
— Ah, agora que penso nisso, ainda não lhe disse. Ouvi dizer que você tem a maioria dos bens obtidos durante a expedição ao andar subterrâneo, certo?
— Ah, eu tinha — confirmei no passado.
— Você, tinha…? — O marquês inclinou a cabeça, confuso. No entanto, ele parecia ter decidido que era apenas um mal-entendido e continuou — Deixe os bens que obteve durante a expedição na sala antes de sair. Eles são todos peças importantes da propriedade do palácio e também serão usados para recompensá-lo depois.
Abaixei a cabeça. O saque que obtivemos no andar subterrâneo, hein? Nunca imaginei que me salvariam só por causa disso.
— …Por que você abaixou a cabeça de repente?
Porque eu não estava confiante de que conseguiria controlar minhas expressões se olhasse para ele.
— Minhas desculpas, Lorde Marquês.
Eu já usei tudo.
