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Após tomar alguns passos de distância de nós, Cleiton manteve as duas mãos nas costas e começou a explicação.

— Para começarmos, é preciso que saibam o que é mana, já que seus conhecimentos não são o suficiente para iniciarem um treinamento.

— Como assim? — perguntei. — Mana não é a energia dentro de nós?

— Sim e não. O que há dentro dos corpos de todos os seres vivos é chamado de mana pura, o nível zero da magia, que é onde vai se concentrar o treino de vocês. Porém, mana não é só isso, existe também a mana elemental, que está presente em todo lugar, vocês apenas não conseguem sentir ou ver, mas está lá.

— Tá, e qual a diferença das duas? — perguntou Greeta, sentada ao meu lado.

— É a partir da mana elemental que magias são conjuradas. Fogo, vento, terra e água, os quatro elementos principais que os magos usam, graças as pedras mágicas, só são possíveis por conta da mana elemental, assim como qualquer outra magia de qualquer elemento. Mas a mana pura não é usada para conjurar magias, mas sim para influenciar a mana elemental para conjurar.

Nenhum de nós respondeu. Eu, particularmente, não estava entendendo.

— É bem simples, na verdade: nós só podemos manipular a nossa própria mana que vem de nossos corpos, a mana pura. Não podemos interagir com a mana elemental, mas usamos nossa mana pura, através das pedras mágicas para influenciar a mana do elemento específico. Entenderam?

— Eu não entendi nada — falou Draven, e muito provavelmente, o que foi dito valia para mim e para Greeta também. Ele estava com a cabeça encostada em meu ombro.

Cleiton suspirou e sussurrou: — Odeio ensinar. — Depois voltou ao tom de voz normal. — Não dá para fazer magia sem mana pura. Entenderam agora?

Não respondemos. Se era tão fácil de dizer, porquê tanta explicação?

— Maravilha, vou aceitar isso como um “sim”. Agora, nossos corpos não produzem mana pura, eles armazenam, então de onde vem a mana pura? — Olhou para nós como se esperasse uma resposta.

Pensei em responder que vinha do ambiente, mas ele disse que não existia mana pura no ambiente.

Quando não respondemos, ele continuou.

— A mana elemental é constantemente atraída pelos nossos corpos e purificada por eles, da mesma forma que é liberada constantemente e volta a ser mana elemental. É como respirar, um processo automático que vocês não percebem.

— Quer dizer que tem sempre algo entrando em você? — perguntou Greeta com ironia e malícia claras.

— Pois é, e você já tá tão frouxa que tudo que entra, sai rapidinho — rebateu Cleiton, se ele estava sendo irônico, disfarçou bem.

— Iiiih! — disse Draven, algum tipo de vaia ou algo assim. Não entendi muito bem.

— Como é que é? — Greeta ficou um pouco nervosa.

— Sua mana — respondeu imediatamente. —, Reparei em suas lutas o quanto de mana seu corpo libera sem precisão. Você não consegue segurar nada dentro de si e por isso chega à fadiga rápido, afinal, mana e estamina estão diretamente ligados.

— Hum… Sei. — Cruzou os braços. — Se é por isso que fico cansada rápido, como resolver?

— Vou chegar lá. Agora que já sabem o que é mana, vou explicar seu treinamento. Vocês vão focar no controle da mana pura que exigem oito etapas e devem dominar pelo menos as cinco primeiras ainda nessa viagem. Posso começar a explicação?

— Pode — falei curiosa para esse treinamento.

— Vá em frente. — Greeta descruzou os braços.

— Se isso vai nos deixar mais fortes, pode começar — disse Draven na mesma posição.

Cleiton ergueu uma mão e começou.

— Muito bem. A primeira etapa é a liberação, onde vocês aprenderão, literalmente, à conjurar, mas também aprenderão à manter sua magia, não deixando-a sumir assim que conjurada. — Um fluxo de energia translúcida e brilhante, que ondulava como as águas de um rio e subia alguns poucos centímetros, surgiu em sua mão erguida. — Toda mana que for liberada do corpo já é magia, já é uma conjuração. Lembrem-se disso.

— Como se faz isso? — perguntei, meus olhos fixos na energia.

— A dica que posso dar é que, como eu disse, o processo de absorver e liberar mana é como respirar, então liberar mana é como expirar forçadamente, como Draven está fazendo. — Apontou pro garoto ao meu lado com a mão livre.

Eu havia percebido que ele tinha se levantado de meu ombro, mas não tinha olhado para o garoto até então. Em suas mãos unidas em formato de concha, um ciclo de energia semelhante ao de Cleiton emergia, mas era menos brilhante, não se alongava tanto quanto o do anão e sumiu um segundo após eu olhar.

— Não é difícil… mas sumiu… — disse o garoto antes de encarar Cleiton. — Por que sumiu?

— A verdade é que é difícil, sim, mas não é surpresa você ter conseguido de primeira, já que nephilins são muito talentosos com a mana. — Sorriu. — Não se preocupe por não conseguir manter ainda, vai aprender. Você é um pequeno gênio.

Nephilins eram filhos de espíritos com outras criaturas, segundo o que Claudia e Cleiton explicaram ainda em Hinfrimmue. Assim como espíritos, nephilins eram conectados com a mana, o que explicava esse feito de Draven.

Foi por perceber a natureza do garoto que Cleiton não hesitou em recrutá-lo. Hector provavelmente não sabia que tinha um nephilim das trevas nas mãos.

— Se o moleque conseguiu de primeira, deve ser fácil — disse Greeta, mas foi ignorada.

— Eu sou um gênio? — A cauda do meio semi-humano balançou animadamente, refletindo o sorriso em seu rosto.

— Não deixe isso subir à cabeça. Continuando, a segunda etapa é a manipulação. Aprenderão a dar forma à sua magia. O que é uma das coisas mais importantes, afinal, mana sem forma não passa de algo bonito de se ver.

A mana em sua mão mudou com uma certa velocidade, mas devagar o suficiente para vermos as mudanças. Ela assumiu uma forma incrivelmente detalhada sobre sua palma aberta, por mais que fosse translúcida e tão pequena quanto sua mão, era uma espada. Entre suas características, estavam ondulações que percorriam sua forma devagar.

Fiquei maravilhada com a demonstração, criar objetos assim parecia ser algo extremamente útil.

— A terceira etapa, aumento, não passa de uma extensão da manipulação. Serve apenas para que vocês tenham consciência de que podem e devem conjurar magias ainda maiores, usando tanto os conhecimentos da primeira etapa, quanto os da segunda. Lembrem-se, a tendência é que quanto maior a área de efeito da magia, maior o dano causado, o que nem sempre é verdade, mas é um bom conhecimento para se ter.

Fazia sentido, considerando a Tempestade Eterna, fiz a ligação em minha mente. Não sabia exatamente o que era o aumento, mas parecia necessário para conjurar uma magia desse tamanho, afinal, a diferença de uma espadinha de mana para uma tempestade que cobria o mundo todo era… bem grande.

Quando ele terminou de falar, a espada flutuante sobre sua mão passou a crescer em um ritmo nem rápido, nem lento, até atingir o tamanho de uma espada normal.

Imaginei que Greeta diria algo, como aquilo ser ótimo pro combate, mas ela permaneceu calada. O que até que fazia sentido, afinal, aquilo não parecia um objeto de verdade, de certa forma. Não parecia que poderia ferir.

— A solidificação é um dos passos mais importantes. Magias, no geral, são todas carregadas de elementos, as chamadas magias elementais, e, normalmente, não precisam ser sólidas, mas o processo de solidificação é algo que lhes dá mais controle sobre sua própria magia, fora que será muito útil para os próximos treinos.

A espada de mana flutuante em sua palma mudou seu aspecto de dentro para fora, tornando-se menos brilhante, e as ondulações nela pararam de se mover. Ela parecia mais… tangível.

— Ei — falou Greeta de repente —, essa espada, ela realmente é uma espada? Quero dizer, ela funciona? Dá para criar armas com mana?

— Sim, por isso a solidificação é útil. Mesmo usando um elemento, você ainda pode solidificar esse elemento para torná-lo uma arma com suas propriedades. Mana pode se tornar armas, ferramentas e acessórios, embora, ferramentas de mana não substituam ferramentas reais. Podem te servir algum dia, mas não dependa delas.

— Que foda! Agora sim ficou interessante. — Ela parecia genuinamente animada.

— Que legal! — Draven parecia tão animado quanto.

As possibilidades realmente eram incríveis. Seria ótimo se eu conseguisse fazer formas assim com magia de terra.

— Sim. Agora, continuando. — A espada flutuante desapareceu aos poucos e rapidamente de sua mão. — Desconjurar também é algo importante, mas não é uma etapa, já que vocês aprendem isso com a liberação. Uma magia se mantém enquanto vocês continuam alimentando-a, liberando a mana, e quando para de alimentá-la, ela some, pois a mana pura volta para o ambiente sem seu controle. Porém, essa é a forma simples de se desconjurar, além disso, terão de aprender à manter o controle sem ter que continuar alimentando a magia. Menos liberação e mais manipulação.

Aquelas informações eram interessantes, até pensei em fazer perguntas, mas não sabia ao certo o que perguntar, então deixei-o continuar.

— Essas quatro primeiras etapas foram o básico. Agora, a quinta etapa nada mais é que a junção de tudo.

Sobre sua mão ainda erguida, uma espada idêntica à anterior surgiu em um segundo, já com aquele aspecto menos brilhante e com ondulações paradas, crescendo da base da empunhadura à ponta em instantes.

Ele pegou a espada, fechando a mão pela empunhadura, virou sua ponta para baixo e enfincou na terra, me lembrando dos guardas do palácio do lorde Lizerd em Hinfrim. A espada era realmente sólida.

— Agora sim eu gostei. — Greeta sorriu.

— Essas são as cinco primeiras etapas principais que vocês precisam dominar o mais rápido possível. Principalmente vocês, menores, já que Greeta já é forte o suficiente para encarar nosso primeiro desafio.

— Desafio? — perguntou Draven com entusiasmo.

— Em poucos dias, chegaremos à uma floresta, território de goblins. Existe um covil lá, isso se os aventureiros das guildas próximas não tiverem limpado o lugar. Vai ser o local perfeito para treinar nosso trabalho em equipe como aventureiros.

— Ha! Eu adoro esmagar goblins. Vai ser divertido. — Greeta mostrou as presas. As vezes eu esquecia que ela era uma assassina, mas ela sempre fazia questão de lembrar.

— Certo, agora, vejam isso.

Ele largou a espada presa ao chão, afastando suas mãos e, posteriormente, afastando-se também, com um caminhar para o lado, até estar à mais de cinco passos de distância.

— Essa é a sexta etapa, distância. Como o nome diz, é a arte de manter a distância de sua magia, ou conjurar à distância. É algo extremamente útil e que deve ser aprendido. A maioria dos magos usam círculos mágicos para conjurar, e esses círculos mágicos são conjurados sempre à frente de suas mãos ou de suas armas porquê eles não aprenderam a distância.

— Então dá para entregar armas aos companheiros mesmo de longe. Isso é extremamente apelão. — Greeta parecia cada vez mais interessada.

Cleiton sorriu antes de continuar: — Vai achando. Mas existe um limite para o quão longe se pode conjurar ou manter uma conjuração, e quanto mais distante sua magia estiver da fonte, que é sua mana pura, mais mana será gasta para mantê-la, por isso o ideal é conjurar próximo de vocês e liberar seu controle ao lançá-la, mas isso não funciona com mana pura, já que ela some assim que o controle é liberado.

Isso me fazia pensar no quão absurdo devia ser o controle do Deus Dragão. Não fazia ideia de como era manter uma magia a distância, mas manter uma magia como a Tempestade Eterna por tanto tempo e por todo o mundo…

— Vocês devem ser capazes de liberar mana de qualquer parte de seu corpo e, até mesmo, distante de seu corpo, desse jeito — Cleiton continuou a aula.

Uma outra espada de mana, diferente da anterior, mas tão detalhada quanto, surgiu flutuando à alguns passos atrás do anão, sem que ele nem mesmo se virasse para olhar ou fizesse qualquer movimento com as mãos. E o mais impressionante, era que a nova espada surgiu enquanto a outra continuava à existir.

Naquele instante, uma linha de pensamento surgiu de repente como um choque. Lembrei-me imediatamente do meu feito em Hinfrim, conjurar sete picos de pedra de uma vez…

— Simultâneo, como o nome diz, é a habilidade de conjurar e manter duas ou mais magias de uma única vez. Não preciso nem dizer o quanto isso é útil. É uma habilidade que vocês podem desenvolver fácil, uma vez que o treino de liberação os ensina a manter sua magia, vocês só precisam manter uma enquanto realizam todo o processo novamente para conjurar outra.

— Então dá para conjurar mais de uma arma por vez para os amigos. Que porra de magia incrível! — Greeta mostrava todo seu entusiasmo ao balançar a ponta de sua grande cauda.

— Se acha isso incrível, veja a última etapa, o controle.

Com isso, contra tudo o que eu podia pensar, a espada à nossa frente ergueu-se do chão e voou para o anão, assim como a espada mais longe que flutuava atrás dele.

— Que porra é essa? Espada amaldiçoada? — perguntou minha amiga com um misto de confusão, entusiasmo e descrença em sua voz, que era basicamente o que eu sentia.

— Não, esse é apenas o meu controle sobre minha própria magia — dizia o anão enquanto ambas suas espadas de mana flutuavam ao seu lado e começavam à orbitá-lo. — Posso controlar minhas conjurações o quanto eu quiser. Isso é muito útil para muitas coisas, mas poucos dominam. É extremamente difícil controlar magia assim, então não esperem aprender, mesmo você, Draven. Além de que é difícil demais manter esse controle, e gasta quantidades absurdas de mana, então não é algo muito esperto de usar em batalha, na verdade, é quase impossível ter concentração o suficiente para usar em uma luta, embora possa ser muito útil em algumas ocasiões.

Ao fim de sua explicação, suas espadas flutuantes sumiram.

Aquilo tudo era muito incrível! Se eu pudesse fazer algo semelhante com magia de terra, seria extremamente apelão, como Greeta disse, afinal, graças aos cristais em minhas costas, eu tinha o poder para conjurar muita magia.

— Fim do treinamento de mana pura. — Bateu as palmas. — Dominem, pelo menos, as cinco primeiras etapas e serão magos mais capazes que a maioria dos aventureiros rank D. Quanto à você, Amy, ficou calada o tempo inteiro pensando em como esse treinamento lhe ajudaria, certo?

Ele leu minha mente.

— Sim. É possível usar essas etapas com magia de terra? Quero dizer, mana pura e terra parecem ser bem diferentes…

— Veja bem. — Se aproximou de mim. — Posso tocar suas asas para uma demonstração?

Não entendi que tipo de demonstração era essa que precisava tocar minhas asas, mas permiti.

A alguma distância de nós, um pedaço da terra se deslocou do chão e levitou enquanto Cleiton tocava uma de minhas asas. Esse pedaço de terra flutuante se quebrou aos poucos, revelando a forma de uma espada, que veio até nós antes de, de repente, derreter em lama e cair no chão.

— Você é inteligente, Amy, deve ter percebido o que eu fiz nesse exemplo — disse Cleiton, ao afastar a mão de mim.

— Sim! — respondi entusiasmada com as possibilidades. — Você usou a maioria das etapas. Não imaginei que magia de terra pudesse ser usada assim, achei que só serviria para conjurar estruturas.

— Bom, para você, por enquanto, só servirá para isso mesmo. Seu pouco controle, tanto da mana pura, quanto da mana de terra, não te permitirá fazer muito mais do que picos de terra, no início.

— Ah, entendo… — Abaixei a cabeça momentaneamente, mas não me deixei abalar e a levantei de novo. — Vou dar o meu melhor para aprender as oito etapas.

Ele acenou para mim com a cabeça em resposta.

— Eu tenho uma pergunta. — Draven levantou a mão.

— Diga — respondeu Cleiton.

— Se dá para fazer tanta coisa com mana pura, por que a irmã precisa aprender mana de terra? Se a gente focar na mana pura, não vamos ficar muito mais fortes?

— Exatamente o que eu estava pensando — disse Greeta. — Poderíamos nos cercar de espadas flutuantes usando essa magia. Porque não treinar apenas ela?

— Ótimas perguntas, os dois. Greeta, já percebeu que, provavelmente, nunca viu nenhum mago usando mana pura, nem mesmo em minha luta recente contra o Kamaitachi?

Ele estava certo, isso ainda não havia passado pela minha cabeça, mas na luta dele, ele pareceu focar na magia de vento, assim como o Kamaitachi. Mas Greeta tinha um ótimo ponto, se ele conjurasse e controlasse dezenas de espadas de mana, poderia matar vários dos inimigos de uma vez… Talvez ele não quisesse matá-los.

Quando Greeta não respondeu, ele continuou: — Bom, tem dois motivos: magia de mana pura não é versátil, ou seja, não faz mais do que criar objetos, e também é fraca, frágil, não serve para lutar contra pessoas que tem uma certa quantidade de mana, pois sua proteção natural impede que mana pura fira seus corpos. Além de quê, é inviável conjurar, manter, e controlar diversos objetos de mana ao mesmo tempo. Eu mal consigo manter dois objetos e controlá-los a vontade…

— Espera, então mana pura é fraca? — perguntei, não entendia como ela podia ser fraca, afinal, havia a solidificação.

— Vou lhes dar um exemplo. — À sua frente, uma parede de mana pura surgiu do nada, ficando entre nós e o anão. — Essa é uma “barreira”, uma das maiores companheiras dos magos, junto à sua dupla, “magia de bola”. Esses dois tipos de magia podem ser conjurados com qualquer elemento e existem até círculos mágicos para elas. As barreiras servem para, como o nome diz, barrar ataques, é proteção.

Sua barreira me fez lembrar de meu encontro com a vanguarda, Simi. Enquanto eu tentava alcançá-la, paredes surgiam da terra, deveria ser o equivalente à barreira. Barreiras de terra.

— Porém, observem essa barreira de mana pura, transparente como vidro. Sem o controle para movê-la livremente, ela apenas ficará parada à minha frente e não fará nada; sem o simultâneo, não poderei conjurar outras ao meu redor para me proteger; e sem uma boa manipulação, ela não protegerá todo meu corpo. Mas ainda assim, é útil para barrar ataques vindos de frente. Draven, dê um soco na barreira.

Sem pensar duas vezes, o garoto se levantou em um pulo e atacou a parede, que nem se abalou. Ele continuou atacando, mas nada acontecia, então desistiu.

— Com isso, vocês podem ver que de fato é uma proteção. Agora, Greeta, dê um soco com toda sua força. — Afastou-se um pouco.

— Qual a diferença de mim para Draven? — perguntou a mulher lagarto.

— Não é óbvio? — Levantou uma sobrancelha.

Realmente, Greeta era muitas vezes mais forte que Draven, talvez ela abalasse um pouco a estrutura…

Sem mais perguntas, ela foi até onde Draven estava antes de voltar ao meu lado, e deu um soco muito pesado da barreira.

Contra minhas expectativas, quase toda a parede translucida rachou, uma rachadura que se alastrou ao redor do ponto em que ela bateu.

— O quê… — sussurrou Greeta, pondo meus pensamentos em palavras.

— Hum… Pensei que você fosse mais forte. Deveria ter feito uma barreira mais fraca para a demonstração — disse o anão ao alisar a barba.

— Não enche. — Ela deu outro soco de repente, esse quebrando toda a parede como vidro com sua força não-humana. Os cacos caíram no chão antes de desaparecerem, como se nunca tivessem existido.

— E isso prova que mana pura é frágil — disse Cleiton ao se aproximar e retirar sua pedra mágica do vento do bolso. — Claro, podia ser mais resistente se eu quisesse, mas para um demonstração, acho que essa serviu. Agora, quanto à versatilidade, observem o que uma barreira de vento pode fazer. Greeta, tente me socar.

— Você tem certeza? Não gosto de machucar gente pequena — brincou.

— Absoluta — falou totalmente sério. — Vamos, me ataque.

Seguindo seu pedido, Greeta se preparou e desferiu um soco para frente, que nunca alcançou o anão.

Com o brilhar de sua pedra mágica, uma parede visível de vento cresceu extremamente rápido de sua mão estendida, até alcançar Greeta e empurrá-la para trás, fazendo-a cair de bunda no chão.

— Ei! Você não disse que iria revidar!

— Que culpa eu tenho se você não conseguiu se manter de pé com um ventinho. Haha! Mas então, entenderam, né? Uma barreira de mana só barra os ataques e quebra facilmente. Uma barreira de vento pode empurrar, uma de fogo vai queimar, enquanto as de água e de terra são muito mais resistentes que a de mana pura. Isso não serve só para barreiras, até porquê, enquanto mana pura só conjura objetos, magia elemental conjura os elementos em si e toda sua vantagem natural.

Ponderei um pouco sobre o que ele disse, mas foi Draven quem perguntou enquanto Greeta se levantava.

— Mas você disse que a barreira podia ser mais forte, né? Se conseguíssemos fazer a mana pura ser muito, muito forte, ela não seria melhor que mana elemental? — O garoto tinha uma mão levantada enquanto perguntava.

— Não, mana pura nunca será melhor ou mais forte do que magia elemental. E um terceiro motivo para não usarem mana pura, é porquê não existe mana pura ambiente, toda a mana pura que podem usar vem de dentro de vocês, então vocês se desgastam rapidamente ao usar.

— E isso não é problema com magia elemental pois usamos só um pouco da mana pura para influenciar toda a mana magia ambiente ao redor — falei, chegando à compreensão do porquê realmente era inviável focar em mana pura, principalmente para mim, que tinha uma grande vantagem com a magia de terra. — Mas imagino que seja mais fácil manipular mana pura do que magia elemental, certo?

— É para isso que servem os círculos mágicos, então? O círculo já define a forma da magia, não é necessária a manipulação, né? Então porquê não pulamos logo para aprender círculos mágicos? — perguntou Greeta. Ela estava certa em relação aos círculos mágicos, percebi, mas eu sabia a resposta para o porquê não treinaríamos círculos mágicos.

— Garotas espertas. Sim, círculos mágicos são padrões predefinidos de magia, uma muleta para os magos, o nível um da magia, chamada de magia prática. Todo mago fraco e leigo usa círculos mágicos para tudo, mas eu não quero que vocês se tornem magos fracos e incapazes, quero que se tornem fortes, não dependendo do nível um da magia, mas sim do nível dois, a magia avançada, que depende puramente da sua vontade e controle, por isso estão tendo esse treinamento.

— Mas não teria sido melhor aprender com círculos mágicos primeiro, já que são como muletas? Afinal, são o nível um, e você quer que a gente já pule pro nível dois… — Greeta tinha uma cara confusa, mas seu ponto era válido.

— Veja bem, os professores comuns ensinam aos seus aprendizes apenas a liberação da mana, e com isso, passam à ensinar círculos mágicos. Sem aprender as primeiras cinco etapas do controle, eles ficam presos em suas magias comuns, alguns nem podem conjurar dois círculos mágicos ao mesmo tempo.

Lembrei de Ângela, sua luta contra Greeta quando nos conhecemos. Lembrava dela ter conjurado diversos projéteis de fogo ao mesmo tempo, mas não tinha certeza se ela conjurou todos com um único círculo ou com vários de uma vez.

— Fora que, até aprenderem à dominar os padrões para desenhar um circulo realmente útil, pode levar meses, sem contar que existe um círculo mágico para cada magia de cada elemento. Aprendendo o controle completo do nível zero, vocês podem pular para o nível dois e usar magia de qualquer elemento que tenham afinidade e sem depender de estudar padrões.

— Como eu com as trevas? — perguntou Draven, sua cauda balançando.

— Exatamente. — Apontou pro garoto. — E Amyrrh com a terra. Mas enfim, acho que já disse tudo. Mais alguma dúvida?

— Você nos deu toda essa explicação de magia foda, para depois dizer que mana pura é inútil e que pode demorar para caralho para aprendermos — dizia Greeta. — Eu me interessei pelas armas, mas a verdade é que eu sou muito ruim com magia, e meu lance é mais socar, então não preciso ter esse treinamento, certo?

— Hum, boa pergunta. — O anão tinha a mão no queixo. — Como lagarto das neves, suas capacidades deveriam ser superiores à maioria das outras raças em praticamente tudo necessário para a sobrevivência: força, agilidade, velocidade, intelecto em batalha, resistência… Mas você não tem nem metade dessas qualidades, pelo menos não como deveria ter. É muito mais rápida que um homem lagarto comum de qualquer outra raça, mas não chega nem perto da velocidade de alguém da própria espécie; tem, pelo menos, a força de três homens, mas ainda sai perdendo; seus músculos são fracos, uma espada te penetra facilmente, seu braço direito é a prova…

— Tá, tá, tá! Já entendi que sabe mais de mim e da minha raça do que eu, sabe tudo de merda. Vai continuar jogando meus defeitos na minha cara ou vai responder minha pergunta?

— Certo. — Riu. — Eu ia dizer que seu intelecto era bom, afinal, você venceu um draconato que era muitas vezes mais poderoso que você. Não havia como você vencer aquela luta na casa de batalhas. Mas respondendo sua pergunta, você precisa treinar sua magia e combate, todos vocês, pois do jeito que estão agora, vão ser inúteis contra o dragão.

Suas palavras tiveram peso, afinal, se Greeta era inútil, eu e Draven então…

— Tá me chamando de inútil, mas não me venceria nunca numa luta sem magia — disse Greeta convencida.

— Oh, é um desafio? — respondeu o anão. — Quer provar a si mesma? Tem certeza disso?

— Claro que tenho, se você não usar magia, eu te arrebento. — Mostrou os dentes com confiança.

— Vamos ver então. — Sorriu.

Olá, eu sou o TolrielMyr!

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