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Numa clareira pouco aberta de uma floresta, decorada por rochas, flores e poças de chuva, eu e Draven nos encarávamos distantes um do outro.

O garoto estava muito eufórico com aquilo. Talvez eu até pudesse dizer que não compartilhava do sentimento, mas a verdade era que, após tantos dias de treino, estava curiosa para saber do que era capaz, e Draven era o oponente perfeito para mim, já que Greeta e Cleiton estavam muito além do meu nível.

Na minha cabeça, passava nossa última luta na casa de batalhas, nosso primeiro contato. Naquela época, eu não sabia nada sobre lutas, mas ele já tinha alguma experiência, por isso perdi fácil. As coisas seriam diferentes dessa vez.

— O objetivo dessa luta é derrotar seu oponente, ou seja, por ele no chão e não permitir que ele se levante. Não quero ferimentos graves, temos bastante myrrh para tratar vocês, mas o plano é invadir o território goblin amanhã, então é melhor que evitem machucar um ao outro. — Cleiton estava entre nós e mudava o olhar entre mim e o garoto enquanto falava.

Fazia sentido ele querer evitar ferimentos, já que não tínhamos um clérigo conosco para nos curar com magia sagrada como Claudia fez com minha perna quebrada em Hinfrimmue.

— Arrebenta ele, Amyrrh! — gritou Greeta da rocha onde estava sentada.

Draven deu língua para ela, mas não deu nenhuma resposta em voz alta.

— Lembrem-se do que eu disse antes, essa é uma luta de verdade e não um treino. Vai decidir quem é o melhor entre vocês, e quem se sair melhor, vai ter direito à um desejo. — Levantou um dedo. — Entenderam?

— Quando eu ganhar, vou querer uma luta com ela! — Draven apontou o dedo para Greeta.

— Ha! Vai sonhando que eu vou perder tempo para lutar contra um pedaço de bosta de slime como você — debochou em resposta.

— E ainda vai perder! — Ele estava convencido.

— Certo, então. Se entenderam… — Cleiton levantou um braço para o céu com a mão aberta para, logo depois, abaixar de uma vez com um grito: — Comecem!

Não demorou mais que alguns segundos após seu sinal para Draven correr em quatro patas na minha direção. Ele não era, nem de longe, tão rápido quanto Greeta em suas arrancadas, mas ainda assim, a experiência de me manter parada enquanto o via vir até mim, se provou um erro.

Muito rápido ele me alcançou, ficando à apenas alguns passos de distância, quando decidiu fazer seu primeiro movimento fora correr.

Assim que o vi se levantar sobre dois pés e apontar sua mão aberta para baixo, não perdi tempo. Mesmo sem ter ideia do que viria, ergui meu braço e comecei a conjurar uma barreira de mana. O processo levaria segundos, mas devia ser tempo suficiente.

Enquanto minha barreira surgia no ar à minha frente, pequenas plataformas de mana pura surgiram uma após a outra como degraus aos pés de Draven, que não freou seu avanço em nenhum momento. Ele subiu os degraus flutuantes, mesmo que eles caíssem assim que conjurados, mas ele era rápido em tomar impulso assim que seus pés os tocavam.

Minha barreira só tinha se formado até a metade de seu tamanho quando o jovem nephilim chegou ao alto, quase em cima de mim e decidiu cair com um soco que, imediatamente, me lembrou ao último movimento de Greeta em sua luta na casa de batalhas.

Seu golpe, simplesmente, quebrou minha barreira como vidro frágil, causando um som similar, no mesmo instante em que seu punho entrou em contato, mas graças à Cleiton, eu havia aprendido a pensar em possibilidades como essa e já estava me movendo desde o momento em que ele desceu do alto.

Ao me esquivar de seu soco, assim que ele tocou o chão, arrastei minha asa pelo ar atrás dele para acertá-lo pelas costas, mas ele caiu em um rolamento para frente que o afastou do alcance de meu golpe.

No fim do rolamento, o garoto se virou com velocidade e saltou em mim com as garras preparadas, quase rápido demais para eu reagir, mas ele deu de cara com os cristais da asa que eu pus à frente no reflexo. Suas garras arranharam os cristais mágicos como se arranhassem metal.

Abri a asa numa tentativa de empurrá-lo, mas ele já havia se movido pro lado oposto. Com o canto do olho, observei seu sorriso e olhos confiantes se aproximarem de mim, os braços erguidos para me alcançar, e então, ele me derrubou, caindo por cima de mim.

Aquele poderia ser meu fim, mas Cleiton disse que era uma luta real, eu tinha que dar tudo de mim.

Enquanto caía, canalizei mana em minhas asas e em minha mão. Assim que toquei o chão, bati a mão carregada de mana na terra e o solo à beira dela se distorceu quase que imediatamente, fazendo uma coluna inclinada de terra crescer dele até empurrar Draven de cima de mim.

— Ai! — O garoto foi obrigado a se afastar com o golpe no seu lado, dando-me brecha para rolar e engatinhar para fora da coluna de terra em cima de mim.

Levantei-me rápido, mas sem muita precisão, já que ele havia caído com o golpe da conjuração de terra. Sem perder tempo, corri e me joguei em cima dele enquanto se levantava.

— Desista! — exigi enquanto o imobilizava no chão da forma em que Cleiton me ensinou.

— Não! Argh! Droga! Você usou magia de terra, não é justo! — reclamou enquanto se remexia sob mim.

— Cleiton disse que nossos inimigos não vão ser justos com a gente. Acabou, você está no chão! — Estava fazendo alguma força nele, mas não tanta, apenas o suficiente para que ele não pudesse mexer os braços.

— Eu ainda posso…

— Acabou. — Cleiton interrompeu. No mesmo instante, eu larguei Draven, que se virou e me puxou pro chão.

— Ei! — exclamei enquanto o garoto subia em mim.

— Eu disse que acabou! — repetiu o anão, seu tom de voz alterado.

— Larga ela, mal perdedor! — gritou Greeta de onde estava, com uma mistura de zombaria e irritação na voz.

Draven se afastou um segundo depois, de cara fechada. Sentei-me naquele momento. Não sabia se devia pedir desculpas ou deixar para lá, mas ele parecia bem magoado.

— Draven, você lutou bem — dizia Cleiton ao se aproximar mais de nós. — Foi ágil e rápido, conjurou muito bem, fazendo uso da maioria das sete primeiras etapas de seu treinamento de controle, também foi muito inteligente em todo movimento. Foi muito bem.

— Mas eu não ganhei — falou emburrado.

— Não se deixe abalar, as vezes, o melhor lutador não é aquele que vence a luta. Você foi esplendido para uma criança, demonstrou controle da magia e do próprio corpo melhor que muitos adultos. — Bagunçou os cabelos do menino.

— Isso não faz sentido, é óbvio que Amy lutou melhor. Ela venceu — disse Greeta sem se preocupar em levantar.

Cleiton olhou para mim, um olhar que dizia algo, e então começou a responder: — Amyrrh ficou parada aguardando seu oponente, algo que seria o ideal, se ela usasse o tempo para analisá-lo e pensar em como proceder, mas invés disso, apenas esperou para tomar seus golpes.

— Mas eu reagi à eles, não fui acertada diretamente por nenhum, como você ensinou. — Eu não tinha sido tão ruim assim.

— Não fez mais que o mínimo, afinal, Draven também não recebeu nenhum golpe direto até se distrair. Você conhecia as habilidades do seu adversário, acompanhou de perto seu treino durante todo o tempo e, ainda assim, não pôde nem conjurar uma barreira de verdade à tempo e mal saiu do lugar para tentar pensar em uma estratégia, apenas ficou parada a mercê dele até ser derrubada. Eu deveria ter terminado a batalha ali.

— Mas eu venci ele, virei a batalha — argumentei.

— Jogou sujo! Eu não sabia que ia usar magia de terra! — exclamou Draven.

— Não joguei sujo! Em uma luta vale tudo! Não é, Cleiton?

— Sim, tem seus méritos em ter aproveitado de uma vantagem sua para surpreendê-lo e vencer, esse é o certo. — Com sua afirmação, Draven cruzou os braços e aumentou seu biquinho. — Mas não muda que só venceu por um elemento surpresa, e você nem sempre vai ter esse elemento. Em lutas futuras entre vocês, ele com certeza vai estar preparado para esse golpe.

— Não entendo, Cleiton, você disse que em lutas de verdade, eu devo usar todo meu arsenal, e agora disse que foi bom ter surpreendido Draven no final, então onde está o problema?

— O problema é que você não pode ser dependente do poder de suas asas, nem sempre poderá usá-los. É para isso que estou lhe dando um treinamento de combate.

— Nem sempre poderei usar? Como não? Em todo lugar tem terra, né?

Suspirou antes de se virar enquanto dizia: — Apenas tenha isso em mente e foque em melhorar suas táticas de luta. Acredite, ser dependente de algo não é bom.

Demorei um pouco para responder, vendo o anão se afastar para ir até Greeta.

— Não vou me tornar dependente — falei em um tom suave, mas com a chuva, não tinha certeza se ele tinha escutado.

Observei os meus arredores, Greeta continuava sentada e conversava com Cleiton. Draven ainda estava emburrado e olhava para as mãos enquanto conjurava e manipulava formas de mana sobre elas.

Ter minha primeira vitória fez um sorriso involuntário surgir em meu rosto, não que eu gostasse da violência, de jeito nenhum, mas era boa a sensação de não ficar mais para trás, por mais que o garoto tivesse avançado muito mais que eu em magia e fosse melhor em lutas.

Lutas eram como o maior esporte dos inferiores, e eu, assim como muitos anjos, costumava assistir lá de cima com entusiasmo enquanto sonhava em ser uma exploradora do mundo inferior, afinal, uma das funções desse cargo era lutar para proteger os mais fracos.

Mas não sentia prazer em lutar ou vencer, minha felicidade se devia ao fato de ficar mais forte para ajudar os outros, e aprendendo a lutar, poderia salvar pessoas boas de pessoas ruins ou de monstros, e o mais importante, poderia me defender e ajudar meus companheiros em situações perigosas. Por isso estava feliz, embora não pudesse dizer o mesmo de Draven…

Levantei e me aproximei dele.

— Ei, você foi bem — falei. Estava orgulhosa de mim, mesmo com tudo o que Cleiton disse, mas tinha que tentar animá-lo.

— Eu sei que fui, sou um gênio. — Virou o rosto para cima para mostrar seu olhar convencido de sempre. Eu acreditaria que ele não ficou abalado com o resultado da luta, mas ele não estava sorrindo.

— Por que não usou seu feitiço de escuridão? Poderia ter vencido fácil com ele. Estava pegando leve comigo?

Abaixou a cabeça e disse: — Eu não lembro como é. Cleiton disse que está no pergaminho, mas que só vai me dizer a frase quando eu estiver pronto.

— Posso pedir para ele te ensinar agora, e aí podemos ter uma revanche. — Curvei-me um pouco para tocar seu ombro. — O que acha?

— Sério? — Sua cauda começou a balançar quando ele virou a cabeça para mim.

— Claro. Eu também quero saber o que tem no meu pergaminho. — Sorri.

— Certo! Então vamos ter uma revanche depois de enfrentar os goblins. Ah! Tive uma ideia — falava com entusiasmo.

— O quê?

— Quem matar mais goblins, ganha.

Recuei um pouco quando ele falou e senti minha expressão endurecer um pouco, mas não demorei para responder.

— Eu não acho legal matar… e seria bom se você evitasse também.

— Hã? Mas Greeta disse que eles são perfeitos para matar.

Greeta, claro.

— Não escute tudo o que ela diz… Que tal assim: quem conseguir… desacordar mais goblins sem matar, ganha.

— Eh? Isso parece chato… Mas tá bom. — Estendeu a mão.

— Ótimo. Que vença o melhor. — Apertei sua mão e balancei.

Embora eu realmente não entendesse bem o porquê tínhamos que derrotar esses goblins, essa me parecia uma boa ideia para testar mais ainda os resultados do treino, e desde que eles realmente fossem maus, não devia haver problema. Por isso sorri enquanto fechava o desafio com Draven.

Olá, eu sou o TolrielMyr!

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