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Capítulo 36: Alcance  

— Mamãe… mãe… eu quero ir embora…  

“Existiu um dia em que eu tinha uma casa. Me lembro de deitar-me em uma cama confortável, de acordar com o cheiro quente de comida recém-posta a mesa, mas não de sentir dor.”  

“Minha memória visual mais clara é de minha mãe indo embora.”  

— Mãe, eu odeio esse lugar, quero ir pra casa!  

— Você já está em casa.  

“O rosto dela era um borrão, já não me lembro mais de suas feições… Ao contrário do homem que lhe entregava uma pequena sacola de couro.”  

Cling  

“Quando o pacote trocou de mãos, ouvi um barulho… o som do tilintar é tão claro na minha mente quanto o gosto do que comi hoje, pela manhã.”  

“Está foi à última vez que vi aquela mulher.”  

“No próximo momento em que abri os olhos, estava tudo escuro. Minhas mãos estavam acorrentadas.”  

Renkk  

“O som, que a porta de metal fazia ao abrir era o meu despertador. Logo depois, o mesmo homem que entrava diariamente, passava pela porta.”  

— Em que você está pensando?   

“Ele me perguntava todos os dias.”   

— Eu quero voltar pra casa.  

“Eu o respondia.”  

“O senhor de meia-idade mantinha seu rosto sem expressão de sempre. Olhos vazios, cabelos pretos e pele clara.”   

“Ele não parecia velho, na verdade, se alguém olhasse em sua face, poderia facilmente confundi-lo com um jovem adulto, entretanto, ele sempre me passava a sensação de ser um.”  

“Eu não entendia o porquê, mas sem dizer outra palavra, o homem saia após me deixar algo para comer.”  

“O tempo passou rapidamente. Embora não pudesse perceber visualmente, comecei a contar o tempo por quantas vezes a porta rangia. Duas vezes ao dia ela abria, uma vez ao dia aquela pessoa aparecia.”  

Renkk  

— Em que você está pensando?   

“Mas um dia foi diferente.”  

— Eu tive um sonho hoje — respondi.  

“Silenciando-se por alguns segundos, ele continuou”  

— Que tipo de sonho?  

— Sonhei com minha mãe. Já não conseguia ver o seu rosto. Ela estava com outro homem… sem filhos… nunca a vi tão feliz.   

“Minhas últimas palavras saíram com um tom de voz áspero… era um sonho amargo.”  

— Ótimo.   

“Está foi a primeira vez que eu o vi sorrir.”  

— O QUE VOCÊ SABE SOBRE MIM, SEU DESGRAÇADO!?  

Ao atingirem o chão, as armas emanaram energia por debaixo do solo. Como um vulcão, o magma das pedras derretidas explodiu aos pés de Li, que, ao invés de recuar, avançou em direção ao berseker.  

  — ALGUÉM COMO VOCÊ…  

Defletindo o ataque direto de Jihan, Wang, com as costas de um de seus machados, acertou a lateral de seu tórax.  

— ALGUÉM COMO VOCÊ…  

E com um gebe, atingiu o rosto do homem, travando seu contra-ataque e derrubando-o.  

— JAMAIS ME ENTENDERIA!  

Observando Xu saltando em sua direção, Li rapidamente rolou no chão para tomar distância e levantou-se.   

  As garras espirituais que cobriam suas mãos começaram a se extinguir, no mesmo momento em que a temperatura no corpo do berseker diminuiu. Ambos estavam exaustos.  

O cérebro de Jihan, porém, lutava contra os próprios sentimentos e ódio do mesmo, trabalhando incessantemente para ligar os pontos.   

“Fora o ferimento no braço, Irmin não tem nenhum machucado real em seu corpo.”  

Enquanto a batalha acontecia, como uma segunda consciência, sua mente avaliava o que os olhos dele não conseguiam processar.  

“Não sei se ela está respirando, mas alguém que luta da forma que ele luta jamais conseguiria derrotar o um inimigo sem causar nenhum dano aparente.”  

— O que foi!? Agora que seu nível de mana baixou, vai começar a correr?   

Enquanto seu coração se acalmava, Li perdia cada vez mais a vontade de lutar.  

— Não tenho intenção alguma de te matar aqui — respondeu  

“Se ele mentiu sobre isso, tenho que assumir que pode ter mentido sobre as outras coisas também.”  

Os passos de Xu hesitaram por um instante.   

— Qual é o seu problema…   

Assim como seu ímpeto.   

O homem rangeu os dentes enquanto sussurrava para si.  

— Por que você tem que tornar isso tão mais difícil… por que você só não me mata logo…  

“Depois disso, ele começou a me visitar cada vez mais. Eu já perdia a noção dos dias, pois o ranger da porta, que eu usava para contar, repetia-se frequentemente.”  

— Como você está se sentindo?   

“Suas perguntas começaram a ficar mais complexas e variadas, o seu interesse em mim parecia crescer diariamente”  

— Eu estou bem, quando vou sair daqui? Estou cansado de ficar preso nessa sala imunda.  

“Assim como minha ousadia”  

— Em breve. Devo dizer, que, apesar das condições, seu corpo realmente está se desenvolvendo bem.  

“Abaixando a cabeça, eu me olhei um pouco. De fato, meu corpo estava maior do que antes. Mesmo que não pudesse me mover e estivesse comendo bem, eu não tinha excesso de gordura.”  

— Simplesmente… perfeito.  

“E simples assim saiu pela porta.”  

“Depois do que eu suponho que fossem alguns dias, ele voltou.”  

— Está na hora, soltem ele!  

“Dois outros homens, os quais eu nunca havia visto o rosto entraram no cômodo e tiraram as correntes que prendiam meus braços e pernas.”  

— Agora, venha comigo.  

“Enquanto me levantava, cambaleei para frente, desacostumado a utilizar minhas próprias pernas.”  

“Ambos os soldados deram um passo na minha direção para me ajudar, mas, num estender de mão, a pessoa que sempre me visitava os obrigou a parar.”  

“Após apenas alguns segundos, naturalmente recuperei o equilíbrio e segui o homem para a saída.”  

“Quando passei pela porta, a luz que não tocava a minha pele a muito tempo, me cegou. Mas, novamente não demorou mais do que meio minuto para me adaptar”  

“Com a visão perfeita, olhei para baixo, encarando meu corpo.”  

“A pele branca, completamente pálida. Minha musculatura não estava definida, mas tudo indicava que com algum esforço, ficaria.”  

— Seja bem-vindo, a sua única casa.  

“Finalmente olhando para frente, enxerguei de cima centenas de casas de pedra. Pessoas duelavam em arenas lotadas. Grupos de soldados organizados desfilavam pelas ruas movimentadas pelo comércio.”  

— Incrível…   

“Minha pequena memória até ali, não me permitiria outra coisa a não ser ficar deslumbrado pela vasta cidade que se estendia pelo horizonte.”  

— Um dia, tudo que seus olhos tocam… será seu.  

“Surpreso, olhei para o rosto que brilhava, iluminado pelo sol. Seus olhos pretos e cabelos longos tremiam no vento”  

— Pois você é o meu filho, Wang Xu, e eu sou o seu pai.  

— Pai…?   

“O homem que em nada parecia comigo, me chamou de filho pela primeira vez. Talvez fosse a primeira vez que eu tivesse ouvido essa palavra em minha vida… não me lembro de outra.”  

“Como se fosse natural, me ajoelhei.”  

— Sim… pai.  

“Essa foi a segunda vez que eu o vi sorrir.”  

— Se você não quer lutar… vou fazer com que queira!  

Desviando o passo, Xu voltou-se para o corpo inconsciente de Irmin. Li rapidamente percebeu a intenção do berseker.  

— Não!  

— Tarde demais.  

Ambos correram em direção a escudeira, mas um deles estava mais perto.   

— WANG! — gritou, com o machado de seu oponente já descendo em direção ao pescoço da mulher.  

BUM  

Um estouro no céu, seguido de um anúncio, interrompeu a luta dos dois homens.  

— ATENÇÃO! A TERCEIRA FASE DO TESTE DOS DEUSES FOI FINALIZADA COM SUCESSO — comunicou a voz robótica — ATENÇÃO!…   

Xu e Jihan se encararam com olhares confusos.  

— Droga — o albino amaldiçoou os céus.  

Depois de se repetir três vezes, a voz parou. Segundos depois todos que estavam em Cadmus teleportaram-se de volta ao salão.  

Sem saber como reagir após voltar, ambos apenas abaixaram a cabeça.  

— SAIAM DA FRENTE! — Um pequeno grupo de pessoas vestidas de branco, correu em direção aos participantes restantes — SAIAM, RÁPIDO!   

“Certo, vamos voltar a realidade, mesmo que não estivesse ferida, Irmin ainda estava inconsciente” pensou Jihan   

Foi só aí que ele percebeu, que não havia apenas uma pessoa apagada. Seus olhos se arregalaram e, até mesmo sua mente, travou ao reconhecer a mulher no chão. Ambos o seu consciente e subconsciente ficaram atordoados.  

— Ake… — Seu balbuciar de palavras foi interrompido por um homem que esbarrou em suas costas, correndo em direção a meio elfa desmaiada.  

Cabelos loiros de tamanho médio, amarrados num rabo de cavalo passaram por Li. Uma face bela, digna de um modelo russo, estava aflita.  

— Vamos, levem-na para a sala de emergência imediatamente! — ordenou.  

Quando finalmente saiu de seu choque, Jihan correu em direção aos médicos que rapidamente colocavam a mulher na maca.   

— Michael! Eu posso ajudar com alguma coisa? Qualquer coisa?   

Para sua surpresa, a reação da pessoa que estava sempre calma e, mesmo que forçadamente, sorrindo, foi diferente do que ele esperava.  

— Você…  

O homem o puxou pelos trapos de roupa que ainda cobriam o seu peito.  

— Olhe para ela!   

Atônito, ainda sem entender, Li olhou para Akemi inconsciente. Calafrios subiram pela sua espinha, seu cérebro, mesmo contra sua vontade, gravava todos os detalhes em sua memória, cravando em sua mente cada centímetro daquela agonia. 

As roupas que cobriam o seu corpo existiam apenas como farrapos, sangue tingia o pano que restava de vermelho. Diversas feridas internas marcavam sua pele.   

— Você já fez demais, moleque — disse Michael. — Como pode salvar a todos, se não consegue nem ajudar quem está próximo de você?  

— Ela está com pulso fraco — avisou um dos médicos.  

— Levem-na para a unidade de recuperação de mana! — ordenou.  

— Se… senhor — respondeu — eu não sei se ela tem recursos para arcar com isso!  

— É UMA ORDEM! Eu lidarei com os custos!  

O homem imediatamente confirmou e a levou junto aos outros feridos. Michael logo se virou para acompanhar, mas antes que pudesse ir, Jihan agarrou seu pulso.  

Subitamente cinco mil pontos foram adicionados a sua conta.  

TSK  

— Isso não muda nada.  

Soltando seu braço, o loiro, ainda de cara fechada, foi junto aos médicos.   

Li, novamente, pode apenas assistir enquanto ela era levada pela porta. 

Um gosto amargo em seu paladar tomava conta de sua garganta seca. 

Um longo suspiro junto a um morder de lábios, sem nem mesmo acompanhar palavras, revelava o que se passava na mente de Jihan. 

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Olá, eu sou Dealer!

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