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Capítulo 38: Deuses

Assim que a visão de Jihan clareou, ele se deparou com uma tela a poucos metros a sua frente, com um número projetado. 

“33? Isso me faz ser um dos últimos?” pensou. 

Olhando ao seu redor, tudo que conseguia enxergar era o breu. Não estava vazio, por mais que nada estava à vista, concentrando-se, Li conseguia sentir mana vindo de todas as direções. 

“Não me parece que tenho outra alternativa a não ser esperar”. Apesar de sua posição o deixar com uma pulga atrás da orelha, não havia muito o que pudesse fazer quanto a isso. 

Sentando-se no chão, de pernas cruzadas, ele começou a circular sua própria mana pelo seu corpo. O ‘treino’ era simples, porém, especialmente para os que não estavam muito acostumados a utilizar da energia, funcionava para melhorar o fluxo.  

Da mesma forma em que se exercitar melhora a circulação sanguínea, fazer a mana correr através de seus pontos cardiais, aumentava a elasticidade das veias, facilitando eventualmente com que mais carga pudesse ser transmitida, de um lugar para o outro, de uma vez só. 

O tempo passou lentamente, enquanto a concentração de Jihan mantinha-se ininterrupta. Entretanto, assim que o contador chegou a 1, ele instantaneamente abriu os olhos, ao mesmo tempo, em que dezenas de silhuetas apareceram a sua volta. 

Os indivíduos estavam um pouco distantes, como se estivesse em um coliseu, a plateia estava na arquibancada, rodeando o único gladiador visível. 

Li sentiu-se incomodado por estar sendo observado unilateralmente. As figuras sussurravam entre sí, mas nada que pudesse ouvir; Apesar das vozes aumentarem e diminuírem como em uma discussão, uma magia parecia estar bloqueando todo som de chegar até ele. 

Subitamente o silêncio tomou conta do ambiente. 

Um holofote acendeu, revelando um dos seres. Um homem charmoso e extremamente belo foi iluminado pela luz. Seu cabelo preto liso, pele perfeita e suas feições quase que femininas, facilmente o fariam ser confundido com uma mulher, mas seu corpo, voz e até o olhar diziam o contrário.  

“Que sensação esquisita” 

A mana parecia se comportar diferente ao redor do homem, como se suas mãos pudessem agarrar a energia ‘pelo pescoço’ e forçá-la a obedecê-lo. O mundo, pelo contrário, parecia tratá-lo como um ser natural, parte da própria existência do universo. 

“Isso é um Deus?” pensou, estupefato. 

— Parabéns por chegar até aqui, garoto! — disse o homem, calmamente. — Eu sou Daiko, deus da fortuna. 

Após se apresentar, Daiko pausou por um segundo, como se esperasse algum tipo de reação, que não veio. 

RURRUM 

Coçando a própria garganta, ele continuou: 

— Como já deve ter sido explicado a você, aqui vai minha proposta. — O deus estendeu a mão e levantou 3 dedos, antes de prosseguir. 

— Você recebera treinamento especial, supervisionado por um dos lordes da minha facção, Portões da Babilônia, poderá escolher um objeto de dentro dos nossos cofres! Mais do que isso, nunca terá que se preocupar com nada neste mundo — concluiu.  

As orelhas de Jihan se levantaram levemente.  

— Me disseram que eu teria uma escolha, eu só tenho essa opção? 

GASP 

— Você tem ideia do que acabei de te oferecer!?  

A pergunta visivelmente não agradou Daiko, mas antes que pudesse dizer mais alguma coisa, uma outra luz acendeu, revelando uma mulher em outro canto. 

Cabelos vermelhos, olhos azuis, pele pálida e, apesar do rosto delicado, feições afiadas. Todo seu corpo estava coberto por uma armadura média dourada. A mana e o ambiente também se comportavam da mesma maneira ao redor da mulher, no entanto, pareciam mais obedientes. 

A deusa estava sentada em um trono de madeira solida escura, ornamentado com detalhes dourados. 

— Daiko não te explicou, pois não achava que você recusaria a proposta dele… bem, nem eu achava, é realmente uma oferta e tanto. 

A sua voz era tão afiada quanto seus olhos, um tom maduro e, ao mesmo tempo, suave. 

— Apesar disso, devido a certas “complicações” somente duas pessoas te escolheram. Honestamente, se não fosse por um favor antigo, eu não me envolveria nisto, mas não tenho muita escolha. 

Li sentiu-se um pouco perdido, mas fatorando todos os acontecimentos que tinham ocorrido nas semanas anteriores, era fácil chegar a um resultado. Não à toa, a última frase que Daiko havia falado em sua oferta, confirmou o pressentimento dele. 

“Um mundo em decadência, uma ameaça iminente, deuses corruptos… não terei que me preocupar com nada? Por que motivo eu passei pelo que passei nos últimos meses, então? Não existia uma refeição de graça no meu mundo, imagino que aqui funcione da mesma forma”. 

— Não existem muitas pessoas que possuem o recurso para te selecionar, Jihan, mas eu de fato te acho uma pérola com bastante potencial… entretanto, espero que me perdoe por não te oferecer muito. 

— Não se preocupe, não lido muito bem com receber as coisas de mão beijada. 

Com um leve sorriso de canto de rosto, a deusa fechou os olhos em aprovação. 

— Ótimo, eu te ofereço primeiramente a benção do meu nome, a Deusa da batalha, Kali. 

“Então ela é uma guerreira?” Pensou Li, notando a espada semelhante a uma Katana que repousava ao lado do trono onde ela estava sentada. 

— Em segundo lugar, como toda a minha família, você pode encomendar um ornamento feito pelo próprio Valhir, contanto, é claro, que ofereça a matéria-prima — continuou. — Por fim, te ofereço uma casa, uma casa que te acolhera em vida, mas que em troca pedira que você a proteja até a morte. 

Um sussurro solitário que apenas ela mesma pode ouvir completou as suas palavras “mesmo que seja temporário…” 

HUMPF 

Do outro lado, Daiko debochou da proposta. 

— Garoto! Não está realmente considerando aceitar a oferta dessa bruxa ao invés da minha, não é mesmo? 

Jihan voltou-se ao Deus. 

— Vocês… não estão lutando pela sobrevivência deste mundo? Contra as forças que estão o invadindo…? Eu realmente não consigo entender, como eu não teria que me preocupar com mais nada neste mundo em uma situação dessas. 

“É apenas um demérito seu não ter prestado atenção na intenção e índole dos participantes, Daiko.” Pensou Kali. 

Uma veia apareceu na testa do homem. 

— Garoto… 

Mana dourada começou a emanar do seu corpo, simultaneamente uma ‘pressão invisível’ começou a pressionar o corpo de Jihan. 

— Não zombe de min… 

Subitamente uma onda vermelha dominou completamente o ambiente. Uma sensação maligna paralisou todo o corpo de Jihan. 

“Isso é… sede de sangue? Essa mana é tão densa!” 

Com dificuldade, Li se virou na direção de onde originava tal poder. 

Os olhos azuis, que decoravam o rosto belo, estavam da cor carmesim. 

“Daiko… Não se exceda… Nossas habilidades estão limitadas aqui, mas não se esqueça que é obrigação de cada um limitar a ação do outro” 

A voz congelante da mulher arrepiou cada fibra do corpo de Jihan. 

“Li…mitadas? Esse não é o verdadeiro poder dela?” Por um momento, Li sentiu que não era uma parede que se erguia diante de seu caminho, e sim uma montanha inteira. 

TSK 

A energia dourada rapidamente cessou, seguida da vermelha. Era apenas normal que os participantes fossem protegidos, se nem isso fosse garantido, poderiam apenas acabar com todo o teste. 

Depois de um curto suspiro, Kali concluiu: 

— Eu não vou insistir muito, Li, estas são suas duas únicas opções… espero que escolha bem. 

Saindo do transe, o homem finalmente conseguiu respirar novamente. Depois de alguns segundos ele sorriu. 

— Estar perto dos mais fortes é uma boa maneira de se tornar forte — declarou Jihan. — Eu aceito a sua escolha. 

— Pois bem, seja bem-vindo… a Arcádia! 

Se virando para Daiko, Li disse, com um sorriso debochado. 

— Me desculpe, eu tenho um fraco por mulheres fortes! 

O temperamento de Kali quase explodiu após a fala, enquanto até Daiko se surpreendeu com a coragem. 

— Vocês homens… SÃO TODOS IGUAIS!  

E ao bater as palmas de suas mãos, teleportou Jihan para outro local. 

Após um curto momento, as luzes se apagaram e a feição da Deusa voltou ao normal. 

“Eu fiz minha parte… espero que você saiba o que está fazendo…” 

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Após ser teleportado, lentamente os olhos de Jihan se acostumaram com a diferença de iluminação. Ele se encontrava em um salão gigantesco, com um parapeito de portas abertas. Sendo vencido pela própria curiosidade, o homem foi até a borda. 

— In… INCRÍVEL! 

O cenário que se estendia a frente era deslumbrante. Centenas de edifícios de mármore magníficos se posicionavam de cada lado da rua. A estética meio medieval, meio renascentista, que Li já conhecia, se fundia com a magia e tecnologia, que foi apresentada a ele nos últimos meses. Era uma cidade aparentemente rica e próspera, nada como ele esperava que fosse. 

Diversos humanos andavam pelas ruas que se encontravam abaixo de Jihan. Zepelins sobrevoavam a cidade, todo lugar emitia um nível de mana considerável, o centro de testes não chegava nem perto do ambiente atual.  

A busca pela energia que era utilizada pelo mundo, havia ido em outra direção, tudo era energizado pela mana. Maravilhado pela vista, Li não percebeu a pessoa se aproximando pelas suas costas. 

— É interessante, não é? Eu também fiquei boquiaberto quando vi pela primeira vez. 

Uma voz grave e suave, masculina soou alguns metros atrás de Jihan. 

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E assim começamos verdadeiramente nossa história. 

Espero que me acompanhem até o final. 

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