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Capítulo 44: Grupo Singular 

Enquanto o sol se punha, Matheus e Li voltavam caminhando para o quartel de Arcádia. Embora o líder de equipe quisesse dizer alguma coisa, ele preferiu dá-lo um pouco de espaço, afinal, eles se conheciam a menos de um dia. 

A construção imponente, similar a um castelo, destacava-se em meio a praça. Os postes de luz espalhados pelo lugar se acendiam uma após a outra para iluminarem as ruas. Como no outro mundo, em bairros quaisquer, famílias andavam livremente pelas calçadas. Li se impressionou com a similaridade a uma cidade grande. 

Com a noite chegando, pedras, que compunham o portão principal da instalação, já não estavam mais vermelhas, mas vinho.  

— Vamos. — Matheus, no entanto, não seguiu de volta para dentro do quartel, mas pela lateral da construção. — Os aposentos das castas mais baixas de hierarquia estão em uma parte separada.  

Chegando aos fundos, Li se deparou com pouco mais de meia dúzia de casas simples feitas de madeira. Algumas com luzes acesas, mas a maioria parecia vazia.  

— O resto da equipe está esperando.  

Caminhando em direção a uma das construções, o homem abriu a porta da frente.  

— EY CUÑO, PARE DE FAZER BAGUNÇA, SABE QUANTO TEMPO DEMOREI PARA LIMPAR ESSA CASA? ERES ESTÚPIDO? 

Pouco antes de pisar dentro da casa, Li ouviu o grito de uma voz feminina madura vindo de dentro. Matheus parou diante da entrada. Seu rosto estava completamente travado em um sorriso catatônico.   

Olhando pelo espaço entre o corpo do homem e a porta, conseguiu enxergar uma mulher negra, com cabelos castanhos cacheados. Seu rosto possuía traços finos e seus lábios eram cheios. Corpo curvilíneo e olhos verdes como esmeraldas. 

 Ela estava gritando com outra pessoa, um homem de pele branca quase pálida, cabelo mullet, preto e também cacheado. Apesar da gritaria ser direcionada a ele, estava com um sorriso largo em seu rosto. 

No entanto, o primeiro a perceber a porta se abrindo, não foi nenhum dos dois, e sim uma pessoa deitada no sofá.  

— Finalmente chegou, Matheus.  

Ignorando a discussão e de braços cruzados enquanto descansava, o homem de cabelo loiro, curto, quase raspado olhava para os dois na porta, com uma expressão completamente neutra, como se já estivesse totalmente acostumado com a situação. 

Apesar de ter falado, os dois outros ainda discutiam, ou melhor, a mulher discutia com o homem que não esboçava reação alguma além do largo sorriso. 

— ATENÇÃO! 

Imediatamente os outros dois pararam e se viraram para a porta. Matheus olhou para Jihan de canto, meio sem graça e um pouco aflito. 

“E ele estava dizendo sobre a primeira impressão que teriam de mim…” 

Os três finalmente perceberam o rosto que se esgueirava atrás do corpo do líder da equipe. Ambos logo passaram pela porta.  

O homem de mullet, rapidamente, andou até Li, agarrando sua mão e balançando-a com força. 

— Você deve ser o novato! Eu estava ansioso para te conhecer! Meu nome é Fynn, mas pode me chamar de parceiro, amigo, camarada, irmão, primo, veterano, do que quiser! 

Fynn, sem parar de segurar a mão dele nem por um segundo, começou a falar incessantemente.  

— Sinceramente, agora que estou te vendo, acho que você vai se encaixar muito bem no nosso time! Me fale mais sobre você, do que gosta de fazer, comer, falar, ler, ver, quero saber de tudo! 

  — Muito… prazer?  

Ignorando completamente a cena que estava acontecendo quando eles entraram pela porta. Subitamente, uma mão empurra o homem que não parava de falar. 

— Meu nome é Glória, e o seu?  

A mulher também estendeu sua mão. Apertando-a, Li percebeu que, apesar dos traços finos de seu rosto, sua mão era grande e firme. Vendo mais de perto, seus olhos verdes brilhavam refletidos pelas luzes da entrada.  

— Meu nome é Li Jihan, pode me chamar do que preferir…  

— Li, me perdoe pelo idiota, ele não é uma má pessoa, só é um pouco insuportável às vezes. 

Jihan sentiu a mesma familiaridade que teve com Matheus nas palavras de Glória. 

— Por acaso a senhorita também é do meu mundo?  

— Hm… — A mulher levantou uma sobrancelha. — Não é muito educado fazer essa pergunta logo quando nos conhecemos. 

Glória olhou para Matheus, que estava atrás de Li. O homem desviou rapidamente o olhar.  

— Mas vou adivinhar que o outro idiota não te falou isso. 

— Er… não foi minha intenção, me desculpe — disse Jihan. 

— Não, está tudo bem… Sim, soy de Puerto Rico. 

Li inclinou a cabeça um pouco para o lado, sem entender muito bem. 

— Eu gosto do meu idioma, se essa é a sua dúvida. — Percebendo a expressão do homem, Glória explicou. — O que você fala não precisa ser necessariamente traduzido, basta um pouco de controle de mana e se torna bem fácil, eu te ensino depois.  

— Agradeço.  

— Não tem de que. Pelos calos na sua mão, você parece bem esforçado, eu gosto disso. 

Ainda deitado no sofá, o outro homem apenas acenou. 

— Hans. Muito prazer. 

Li acenou de volta.  

— Não ligue para ele, o Hans é um pouco tímido. Vamos, entrem logo, eu comprei jantar — disse Glória. — Matheus, me ajude a pôr a mesa. 

RONC 

Ao ouvir a palavra jantar, a barriga de Jihan roncou, deixando-o envergonhado.  

“Agora que parei para pensar, eu não como nada desde ontem…”. 

— Não fique com vergonha, o líder aí é igualzinho a você, comprei bastante comida!  

                                                                                                     

Após Glória e Matheus, porém a ‘mesa’, Li descobriu que se tratava da mesa rodeada pelos sofás da sala.  

— Nós geralmente não recebemos visitas — explicou a mulher.  

Apesar disso, era realmente muita comida. Pães fofos, praticamente um balde de sopa, alguns doces, e claro, muita carne. Embora parecesse simples, tudo estava lustroso, como se fossem desenhos de uma obra de arte. 

— Eu realmente sinto falta do arroz e feijão, mas sinceramente eu nunca me canso de comer a comida daqui — disse Matheus. 

— Se você quisesse, poderia só ir e voltar, já te falei várias vezes — lembrou Glória. 

— Ir e voltar? — Li estava meio perdido na conversa. 

— O quê? Você não sabe?  

— Não sei de que? 

— Existe a possibilidade de ir e voltar para o nosso mundo, basta ter dinheiro e mérito o suficiente. 

Jihan arregalou um pouco os olhos, mas não deixou a ideia subir à cabeça.  

— Não é tão fácil quanto ela está fazendo parecer — explicou Matheus. — Você precisa ser no mínimo um bom Líder de Esquadrão para fazer isso. 

— Por que você não volta? 

— Bem… não é como se eu tivesse muito motivo para isso… 

— E lembra que ele disse ‘bom’ líder — interveio Fynn. — Nosso esquadrão não é o mais adorado! 

Glória imediatamente olhou para ele com uma cara feia.  

— Por que a ‘senhorita’ está me olhando assim? Eu menti em algum momento? 

Uma leve tensão pesou o ar, Li se virou para Matheus. 

— Eu teria que te falar uma hora ou outra… só estava esperando o momento mais oportuno… 

— Estamos num ótimo momento… — ironizou. 

— Nós não somos muito bem requisitados, geralmente estar nesse grupo é uma punição! A Glória aqui é um exemplo disso! — Explanou Fynn. — Ela desrespeitou um superior e acabou sendo mandada para esse esquadrão!  

— Ei! Não fale do que você não sabe! Aquele porco merecia o soco que eu dei nele — retrucou a mulher. — Se isso chegasse a alta hierarquia, não teria acabado desse jeito. 

— Você tem sorte de não ter sido expulsa… — debochou o de mullet.  

— Vocês dois, quietos! — Matheus levantou a voz. 

— Mas… — protestou Glória. 

Sem dizer outra palavra, o líder apenas olhou para ela de forma séria. 

— Eles não estão errados, Li… — confessou. — Existe meio que um boato que esse grupo é amaldiçoado… os novatos que chegam nunca ficam. 

Jihan mergulhou um pão na sopa que tinha posto em seu prato e mordeu metade dele. 

— Mas isso vai mudar, estou trabalhando bastante para isso, vou conseguir… 

— Vai conseguir? — perguntou. 

— Se o esquadrão conseguir mérito o suficiente, o líder do grupo sobe de posição. — Pela primeira vez, Hans abriu a boca para falar. — No momento estamos no patamar mais baixo da hierarquia, é possível, só bem difícil… 

— Então Li, irmão — implorou Matheus com as mãos postas. — Não peça transferência para outro grupo! 

PFF 

Jihan não conseguiu segurar a risada e quase cuspiu a coxa de frango que estava em sua boca. 

— Você não precisa me convencer de nada — sorriu, casualmente. — Nós estamos juntos nessa, não é, líder? 

Matheus o encarou por alguns segundos, surpreso. 

— Além de que, minha intuição para pessoas está cada dia melhor, eu não preciso de muito para julgar que estou exatamente onde deveria estar.  

— Está realmente tudo bem? Estar conosco vai ser um desafio bem maior do que deveria… — avisou Glória. 

— Não tem problema, eu não estava esperando nada fácil desde que decidir vir para esse mundo — respondeu. — Vamos trabalhar bastante, certo? 

— Mírate… já estou gostando mais de você do que do resto do grupo — declarou a mulher. 

— Eu sabia… — O líder do grupo esboçou um largo sorriso. — Eu sabia que você seria a pessoa certa! Fynn pegue a cerveja, vamos comemorar! 

— Sim, capitão! — respondeu, batendo continência e indo em direção à cozinha. 

— Eu espero que a sexta integrante do time seja como você.  

— Sexta? — perguntou Li.  

— Sim… disseram que é uma pessoa que estava na mesma leva de novatos que você… mas não sei o nome dela… De qualquer forma…  

Matheus pegou uma das garrafas que Fynn veio carregando. 

— É noite de comemoração!  

Jihan apenas sorriu, era o primeiro dia dele em Erebus. 

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