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Capítulo 52: Mnemósine (1) 

KNOCK KNOCK 

Todos os quatro simultaneamente viraram para a porta. 

KNOCK KNOCK 

Ouvindo a batida novamente, eles se olharam. Ninguém parecia esperar uma visita e ainda estava relativamente cedo para os dois outros integrantes do grupo voltarem. 

— Oi? — Uma voz masculina veio de fora. — Aventureiros, vocês estão aí? Eu preciso de ajuda, por favor. 

Se olhando novamente, eles concordaram com olhares e Li se aproximou para abrir a porta. Os outros dois se prepararam para caso precisassem agir. 

Quando a porta abriu, revelou um homem de meia-idade, um pouco mais baixo que Li, com cabelo ralo e um físico acabado.  

— Quem é você? — perguntou Jihan. 

— Eu me chamo Jaime… vocês devem ter conhecido minha esposa, certo? É por isso que vocês estão aqui? 

— Sua esposa? 

— Minha querida Mérida… 

Todos ficaram surpresos com as palavras do homem, mas ainda mais surpresos com o que veio a seguir. 

— Vocês vão nos ajudar a encontrar nosso filho? Ele se perdeu quando entrou na floresta de Mnemósine… 

“Tem alguma coisa de errado… não, tudo está errado!” pensou Jihan. “Esse homem… ele não parece estar mentindo!” 

— Se me deixarem entrar, posso explicar melhor a situação… 

Apesar de estar questionando a si mesmo, Li deu alguns passos para trás, permitindo a passagem do homem. 

— Por que você veio para cá? — perguntou Glória, assim que ele entrou. 

— Encontrei com dois homens no caminho para cá, eles disseram para eu seguir até a vila e encontrar com o restante do grupo deles — explicou. — Er… por acaso estou no lugar errado? Um deles usava longos dreads e o outro estava com um corte de cabelo esquisito, acredito que está na moda, se chama mullet, se não estou enganado… 

“Só podem ser eles dois… o que está acontecendo?” pensou Glória, olhando para Li. As histórias não estavam batendo. “Mesmo assim, não é como se pudéssemos simplesmente confiar nesse homem…” 

— Você disse que falaram para você nos encontrar, mas por que eles não o acompanharam? — perguntou Jihan. 

— Ah, certo, eles disseram que iriam até a minha casa para ver se encontram alguma coisa que possa ajudar… 

— E como foi que você nos achou? — questionou Glória. 

— Eu só precisei fazer algumas perguntas na cidade. Não sei se vocês queriam passar desapercebidos, mas acho que não conseguiram — sorriu Jaime. — De qualquer forma, eu estou aqui para ajudá-los, minha esposa deve estar preocupada… 

— Ouvi falar que você tinha negado tudo que sua esposa havia dito… não é exatamente por isso que você está aqui, e ela está lá? 

— Vou carregar esse fardo eternamente comigo… é verdade, fiz tudo isso, mas não foi intencional! — alegou. — Eu, de fato, havia perdido minhas memórias, mas algum tempo atrás elas voltaram!  

— Simplesmente voltaram? 

— Também não sei explicar… me desculpem. 

Glória, Hans e Fynn se olham. 

— Sem problemas, senhor. Nós entendemos sua situação, mas poderia aguardar um pouco? — falou Glória. 

— Um pouco? 

— Sim, só precisamos terminar o que estávamos fazendo e vamos prosseguir, sente-se um momento — pediu Li, olhando para Hans. 

Entendendo a mensagem, o homem puxa a cadeira no canto do quarto e a coloca para Jaime se sentar. 

— Tudo bem… — responde, se sentando. — Obrigado pelo banco. 

Voltando-se para Lisa, Li falou: 

— Pode começar com o procedimento. 

A menina, sem entender, perguntou: 

— Tem certeza…?  

— Sim, não se preocupe. 

Ouvindo a resposta de Jihan, ela vira para o Ceb, inconsciente, e começa o encantamento. 

— Não importa o que acontecer — sussurra Li, no ouvido da garota. — Não pare. 

Concordando com a cabeça, ela prossegue. 

No momento em que ela começa, a magia divina se espalha pelo quarto. 

Subitamente o homem sentado ao lado de Hans tem um espasmo em seu pescoço. Incomodado, ele morde os próprios lábios.  

— Haha, essa menina deve ser uma sacerdotisa, ela é realmente talentosa… a divindade está por todo o qua… 

— Sabe… você provavelmente não consegue sentir… mas esse cheiro de cadáver está ainda mais forte do que a mana sombria que contamina seu corpo…  

Jaime, que parecia estar lutando para manter a normalidade, fica em silêncio. E logo depois solta uma gargalhada incontrolável.  

— HAHAHAHA 

Líquido preto escorre de seus olhos, nariz e boca. Os espasmos de seu corpo gradualmente vão ficando mais fortes, seus membros se contorcendo.  

Como se ferro arranhasse porcelana, o som de sua risada parecia machucar o ouvido de quem escutava. 

Hans imediatamente salta para trás, sentindo o perigo. Suas mãos se juntam em formato de prece. 

— Contenham-no, Romulos, Remulus!  

De um círculo abaixo dos pés do homem, duas cobras, maiores que um humano comum, surgiram, avançando em direção a Jaime. 

Na mão do que agora parecia um cadáver, uma lâmina de sombras se formou. Apesar da aparência do corpo, suas habilidades eram reais, já que em um balançar de sua espada, as duas serpentes que tentavam o prender foram cortadas. 

Finalizando ambas, o homem acelerou em direção a Hans, mas antes que pudesse atingi-lo, seu golpe foi parado por uma grande arma de metal. A espada, cujo tamanho era o mesmo de sua portadora, estava fincada no chão e não se mexeu um centímetro sequer com o golpe. 

Jaime, recebendo o impacto do bloqueio, cambaleou para trás, perdendo o equilíbrio.  

— Esse quarto é meio apertado… 

Levantando a gigantesca lâmina no chão, Glória a segurou como um bastão de beisebol. 

— Vamos levar essa discussão… para OUTRO LUGAR! 

E acertou com toda a força a lateral do cadáver, atirando-o para fora da janela da estalagem. 

— Li, fique de guarda para a garota, nós lidamos com isso! — disse Glória, saltando junto a Hans para fora.  

Jihan apenas concordou, afinal, Lisa estava vulnerável e ainda precisava de alguns minutos para terminar o processo. Mesmo que não, o garoto ainda precisaria de proteção.  

Já do lado de fora, o cadáver se contorcia no chão enquanto se levantava. A população da cidade, sem saber o que estava acontecendo, observava de longe. 

— Sob ordem da Guilda, todos vocês recuem daqui se não quiserem se machucar! — gritou Glória. 

— Guilda? 

— Eles são aventureiros? 

— O que está acontecendo? 

As pessoas da vila comentavam entre si, curiosos com a situação. 

TSK 

— Vamos acabar logo com isso — disse a mulher, estalando os lábios. — Hans, está preparado? 

— Sim. 

— Não o subestime só por que é um defunto, o Li disse que ele costumava ser um aventureiro afiliado, ainda por cima a mana sombria parece estar o mantendo de pé… 

— Sendo assim, se formos um pouco violentos e destruirmos o corpo, não vai ter problema, certo? — perguntou, com a mesma expressão estoica de sempre. 

— Haha… não, ele já está morto mesmo. 

— Certo… 

Formando um cadeado com as mãos, outros dois círculos surgiram nos pés do homem. Dessa vez, em um deles, um monstro, similar a um grande javali, apareceu. No outro círculo duas aves  

— Está pegando leve? — perguntou Glória. 

— Hildisvíni é mais do que suficiente para lidar com isso, os outros dois são só para assistência. 

— Hahaha, tente me acompanhar então. 

Imediatamente após terminar de falar, a mulher avançou em direção ao oponente, demonstrando força desumana, saltando enquanto segurava a enorme espada. O defunto desviou do golpe, que acertou o chão de pedra, quebrando tudo que tocou. Aproveitando a oportunidade, ele socou o rosto de Glória com sua mão vazia.  

O rosto, no entanto, não se mexeu, apenas sorriu enquanto uma fina linha de sangue escorria pela lateral de sua boca. 

— Isso doeu, seu merda. 

Soltando a espada, a guerreira, girou chutando o homem para longe. 

Agarrando novamente o cabo e arrastando sua grande espada no chão, Glória partiu para cima do cadáver e desferiu um corte vertical de baixo para cima, um golpe simples e carregado de força. Jaime desviou para o lado pronto para aplicar um contragolpe.  

Mas antes que pudesse atacar, uma das aves invocadas por Hans acertou seu rosto. Ao mesmo tempo, o Javali, Hildisvíni, o atingiu com uma investida, empurrando-o.  

Perdendo o equilíbrio, o corpo tropeçou para trás. Instantaneamente Glória pisou com força no chão, girando seu corpo e balançando-a espada em direção ao defunto, que recuperando a postura saltou para trás. 

Nesse momento, Glória sorriu. 

A pisada forte que havia dado era mais do que para pegar momento no golpe. 

Uma parede de pedra surgiu atrás de Jaime, parando seu recuo.  

— Acabou, desgraçado. 

Sem espaço para desviar, o cadáver foi atingido pelo corte, decepando-o na metade. 

HUMPF  

— Foi fácil até demais… 

— HahaHAHAHAHAHA  

Tanto a mulher quanto Hans foram surpreendidos pela gargalhada do corpo separado. A voz ríspida e agoniante não diminuiu. 

— A ArRoGÂNCia hUmANa, nãO cONHecE liMitEs!  

O corpo do defunto derretia enquanto falava, sua pele sumia e seus ossos se tornavam pó. 

A mana sombria em seu corpo saltou para fora e voou pelo ar. 

— Essa direção!? 

Glória olhou para Hans, que pensou o mesmo que ela. 

— Temos que ir, rápido! 

                                                                                                     

Fora da vila, na casa isolada no meio da pradaria, Fynn e Matheus enfrentavam problemas. 

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