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Capítulo 55: Mnemósine (3) 

RENNNNNK 

— Estamos atrasados… 

Os 4 entravam pela porta arreganhada da casa. Mesmo com a ajuda dos cavalos a toda velocidade, chegar até o lugar ainda tomou mais de meia hora. 

Rastros de luta, incluindo diversos buracos do tamanho de um punho, decoravam todos os moveis e paredes do cômodo. Madeira chamuscada e sangue pintavam o ambiente. 

— Hans — pede Glória. 

Mesmo sem ordens diretas, ele entende sua função. Levando uma das mãos a altura do umbigo, o homem deita seu punho na horizontal e estende os dois primeiros dedos. A outra, posicionada próxima ao queixo, fica da mesma forma, porém na vertical.  

Nó espaço entre suas duas mãos, um círculo apareceu. De dentro dele, uma fuinha pulou e correu pela casa, cheirando cada canto. 

— O que ela está fazendo? — questionou Li. 

— Analisando os vestígios — respondeu Hans. — Dependendo, Ingá consegue rastrear a direção que, o que quer que tenha acontecido aqui tomou. 

— De qualquer forma… será mesmo que foi uma boa ideia deixar aquele menino sozinho? — perguntou Lisa. 

— Prioridades… — explicou Glória. — Achar Matheus e Fynn vem primeiro, mas não se preocupe, paguei a mais para que o dono da estalagem ficasse de olho no garoto. 

— Certo… 

Se agachando, a mulher passou a mão no chão chamuscado. Jihan, que estava próximo, escutou ela sussurrar algumas palavras. 

— Não consigo imaginar aqueles dois perdendo em condições normais… especialmente você, Matheus… você não perderia para algo como uma maldição… 

KIKIKIKIKI 

— Hm? 

KIKIKIKIKI 

— Para a floresta?  

— O que ela disse? — perguntou Glória.  

— Ingá falou que o rastro leva na direção da floresta… salvo engano, o nome é Mnemósine. 

TSK 

— Eles já estão lá? — disse a mulher, estalando os lábios.  

“Respira fundo, Glória, isso não é hora de ficar parada.” Pensando consigo mesma, ela dá um longo suspiro e acalma sua mente. 

— Hans, estou tomando o comando da equipe temporariamente, tudo bem por você? 

— Vá em frente, não sou apto para isso. 

— Certo… vocês dois, a partir de agora eu sou a líder até que resgatemos os outros. Tomem minhas palavras como as de Matheus e, em situações de perigo, obedeçam-nas sem questionar. 

Li e Lisa não contestaram, afinal, ambos eram apenas novatos.  

— Primeiro, vou deixar algo claro, nós vamos adentrar a floresta.  

— Não é isso que a maldição quer que façamos? — pergunta Jihan. 

— Provavelmente… mas não temos outra escolha… se demorarmos muito existe a possibilidade que todos nos esqueçamos deles… caso isso aconteça, as consequências vão ser muito além da morte dos dois. 

Ao ouvir a palavra ‘morte’, Li engoliu a seco, serrando os punhos. 

— Essa é a realidade, Jihan — disse a mulher. — Se cometemos um erro, alguém se fere, se cometermos dois, alguém morre. 

— Nós começamos com isso — complementa Hans. — Agora temos que terminar. 

“Eles estão certos” pensou. “Não podemos hesitar agora, seria o mesmo que condenar os dois para a morte.” 

— Então é melhor irmos logo… 

— Não, temos que ajustar algumas coisas antes — definiu Glória. — Já passamos dos limites de displicência… se continuarmos da mesma forma vamos todos acabar do mesmo jeito. Vamos nos organizar de forma básica.  

“Ela está mantendo a compostura…” Pensou Li. “Numa situação em que dois dos amigos e companheiros dela podem estar mortos, ela não está se deixando levar… incrível.” 

— Primeiramente, formação básica — começou. — Andaremos em uma linha de quatro pessoas. Eu ficarei na frente, Hans e Lisa no meio e você atrás. 

— Atrás? Não quero ser rude, mas provavelmente minha afinidade com mana é a melhor entre nós, não deveria ser eu a guiar o caminho? 

— Exatamente por isso que você ficará atrás — explicou. — Não só você vai ficar responsável por nossa retaguarda, mas seu campo de visão alcançara a todos. Se fico eu, correremos o risco de sermos separados um a um, até todos virarmos alimento… entendeu? 

— Sim, acho que sim. 

— Li, isso não é um jogo… preciso saber se estamos em sintonia. Você entendeu? 

As palavras da mulher soaram duras para Jihan, mas à medida que a situação se agravava e ficava mais tensa, sua mente se acalmava e focava. 

— Sim… sim, eu entendi. 

— Ótimo… Lisa, nós não temos conjuradores, estou contando especialmente com você para lidar com a maldição… 

A menina pareceu inquieta. 

— O que foi? 

— Bem… estou começando a ter dúvidas se é realmente uma simples maldição… 

Glória cerrou os olhos, tocando os com os dedos da mão. Respirando profundamente, ela pede: 

— Explique… 

— Vocês me deram permissão, por isso vou falar o que me vier a mente… eu já li bastante sobre maldições e demônios, afinal, é matéria básica pesquisar sobre as forças sombrias quando se está aprendendo a ser uma sacerdotisa… eu nunca li sobre uma simples maldição se comportar daquela forma… 

— Está dizendo que o inimigo é mais forte do que pensávamos? — pergunta Jihan. 

— Não… — responde Glória. — Não mais forte, mas mais inteligente. 

— Então você também percebeu… — disse Lisa. 

— Eu queria que fosse só impressão… 

— Inteligência? — questiona Hans. — Achei que só demônios acima da terceira classe desenvolvessem esse nível de consciência… ele parecia apenas estar imitando um humano baseado nas memórias dele… 

— Até certo ponto, sim. Mas, considerando a forma que a maldição está agindo, é como se ela tivesse propositalmente nós separado e medido as próprias chances… quando teve certeza do que estava fazendo, focou em uma só direção — responde à menina. — Isso não é uma atitude de um demônio com baixo nível intelectual.  

— O que vocês querem dizer com classes? — perguntou Jihan, confuso. 

— Ah, certo… da mesma forma que todas as raças se dividem de alguma forma, os demônios são separados em duas categorias — explicou Glória. — Respectivamente, Minions, Demônios Inferiores, Demônios Superiores, Infernais e Tártaros são da segunda categoria. Já a primeira é composta apenas de duas classes… 

— Os 12 Aviccis e as 7 Calamidades — completou Hans. 

— Sim… até onde sabemos, os 12 Aviccis estão vivos sendo forças que mantêm os Deuses das diferentes raças em xeque… no entanto, são as 7 calamidades que realmente causam medo… felizmente, das sete, apenas uma foi vista nos últimos cem anos, a mais violenta delas, A Calamidade da Aniquilação… 

— Duvido muito que este demônio tenha o potencial de primeira categoria, caso contrário estaríamos todos mortos — afirmou Lisa. — Acredito que estamos lidando com uma maldição com o potencial de um infernal… 

Glória suspira, levando a mão a testa. 

— Ainda é demais… não queria ter que tomar essa decisão… — lamenta. — Escutem, vou adicionar uma condição… a partir de agora, nosso objetivo é resgatar os dois da floresta… dito isso, se chegarmos à conclusão que é impossível… — Olhando para Li, ela conclui. — A prioridade se torna que a informação chegue a guilda… mesmo que somente uma pessoa entregue a mensagem. 

— Glória!? — exclamou Jihan. 

— E o certo a se fazer…você é o que tem mais chance entre nós. 

— Do que adianta uma pessoa… 

— Eu sei — retrucou. — Mas a prioridade são as vidas inocentes… não pense nem por um segundo que nossa segurança vale mais do que a deles… 

— Dessa forma, o correto não seria simplesmente voltarmos os 4 para Anpýrgio e reportarmos o resultado? — questionou Lisa. 

BAM 

— Não vou deixá-los morrer dessa forma! — grita Glória, socando a mesa. — Sei que estou sendo hipócrita nessas decisões, mas enquanto existir uma chance temos que tentar! 

Os quatro ficam em silêncio por um momento. 

— Me desculpa… — sussurrou Lisa. 

— Sabem muito bem que não vou obrigá-los a virem comigo… 

— Se vamos fazer isso — interrompe Li. —  É melhor que façamos os quatro juntos. 

A mulher olha para ele. 

— Quero salvá-los tanto quanto você… por isso me recuso a fugir… vamos todos sair vivos dessa… eu prometo — afirma o homem, com o punho em seu peito. 

— Falou bem, garoto — elogiou Hans, dando um tapa de leve nas costas de Jihan. 

Os três se viraram na direção do loiro. 

— O quê? Não posso elogiar alguém? — Defendeu-se. — Enfim, se estamos de acordo, é melhor aceleramos o passo… quanto mais tempo demorarmos, pior serão nossas chances.  

KIKIKIKIKI 

A fuinha pulou nos braços do homem. 

— Vamos, Ingá vai nos guiar até a floresta. 

Com o clima mais leve, os outros integrantes da equipe se permitiram respirar por um momento. Se acalmando, os quatro montaram em cima dos três cavalos que trouxeram. No horizonte distante, um mar de árvores se estendia por quilômetros. Em meio a um emaranhado de raízes, dois corpos eram arrastados. Um ferido e inconsciente, e o outro desacordado, balbuciando palavras que só ele ouvia. 

Enquanto cavalgavam e se aproximavam, Li aproveitou para tirar uma dúvida que estava pairando sua cabeça nos últimos dias. Ele estava com uma pulga atrás da orelha sobre alguns sinais que sua mente havia associado.  

— Glória, você me disse há um tempo que Matheus ‘me diria quando ele se sentisse confortável’ — disse, cavalgando lado a lado com a mulher. — Não sei por que, mas acho que é alguma coisa relacionada ao que estamos enfrentando… tem algo que seria melhor eu saber antes de entrarmos na floresta? 

A mulher olhou de canto para Jihan e após alguns segundos respondeu. 

— Você está certo, queria que soubesse por ele, mas não estamos numa posição tão boa para segurarmos informações um sobre o outro… o pai adotivo de Matheus… foi morto por um dos 12 Aviccis… mais especificamente, por Manias… a maldição da loucura. 

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