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Capítulo 56: Mnemósine (4) 

— Você está certo, queria que soubesse por ele, mas não estamos numa posição tão boa para segurarmos informações um sobre o outro… o pai adotivo de Matheus… foi morto por um dos 12 Aviccis… mais especificamente, por Manias… a maldição da loucura. 

— Pai adotivo?  

— Sim, seu nome era Gabriel — disse Glória. — Você chegou a visitar a casa dele, certo? Então deve ter conhecido Maria. 

— Eles não são irmãos de sangue?  

— Não, Maria é filha de Mérida com Gabriel, na verdade, Matheus já era de certa forma um filho para ele antes mesmo do casal se conhecer. 

— Quem era ele exatamente? 

— Gabriel era um caçador de demônios, ele era membro de uma filial da igreja, uma que foi criada especialmente para caça e aniquilação — explicou a mulher. — Parece simples falando dessa forma, mas ele em específico era forte, não só forte como famoso. Dizem que suas habilidades eram equiparadas a um vice lorde e que ele tinha todo o potencial para ter a força de um lorde em poucos anos. 

— Um lorde? Como alguém tão forte assim morreu?  

Glória rangeu os dentes, a resposta parecia machucá-la de alguma forma. 

— Um tiro… ele atirou na própria cabeça. 

— Suicídio? — perguntou Li, incrédulo. 

— Não, ele não se matou… aconteceu durante uma missão, pouco tempo depois de Maria nascer. Pelo que sei, o grupo que Gabriel liderava foi chamado para a fronteira, a missão em teoria era lidar com um Tártaros realizado… você provavelmente não entende isso ainda, mas lidar com um demônio com potencial e um realizado são experiencias completamente diferentes… 

— O que quer dizer? 

— A raça demoníaca não é uma com a qual você possa dialogar… a medida que o tempo passa eles ficam mais inteligentes, mais fortes e ainda mais cruéis. Bem, mesmo que um Tártaros tivesse a força de um lorde, uma caçada não é feita na base da brutalidade, com bastante preparo, eles conseguem lidar com seres mais fortes que eles mesmos… 

Glória apertou ainda mais as rédeas do cavalo, na tentativa de fazer com que suas mãos tremulas se acalmassem. 

— Não consigo nem imaginar o terror que eles sentiram quando Manias apareceu. Um Tártaros por si só já é muito mais forte que um Infernal, mas os monstros da primeira categoria estão num nível completamente diferente… Matheus estava com ele quando aconteceu, era uma de suas primeiras missões oficiais como membro dos caçadores… 

— Eu não sabia que o líder costumava ser um caçador.  

— Não foi por muito tempo… Li, a maldição da loucura afeta todos ao seu redor, somente os lordes mais fortes e Deuses conseguem resistir… mesmo um grupo bem estruturado, liderado por um homem como Gabriel, desmoronou como um castelo de areia. 

— A luta foi tão difícil assim?  

— Luta? Não houve luta alguma, Manias e o Tártaros mal tiveram trabalho… Gabriel sozinho aniquilou todo o grupo. 

— O quê? — Jihan arregalou os olhos, surpreso. 

— Bem, todos com exceção de um… nem uma mente consumida pela loucura foi o suficiente para fazê-lo atirar no garoto que criou como um filho. No final, tudo que alguém poderoso como Gabriel conseguiu fazer foi juntar forças para mirar em sua própria cabeça. 

Levando uma das mãos ao peito, Li sentiu um aperto em seu coração. 

“Deve ter sido um inferno…” 

— Você entende agora? Todos temos um passado, mas você sempre vê Matheus rindo e tentando animar a todos… uma pessoa como ele… — Glória gaguejou, uma lagrima escorreu pelo seu rosto. — Eu não posso deixar uma pessoa como ele morrer desse jeito! 

Como se as palavras da mulher fossem uma corda ao redor do pescoço de Jihan, ele não conseguiu forçar nenhuma voz para fora. Ambos ficaram em silencio e assim permaneceram até o momento em que chegaram nos limites da floresta. 

As árvores possuíam mais de dez metros de altura, suas copas pareciam se conectar umas nas outras, cirando um ‘teto’ que se estendia por quilômetros, o que normalmente impediria a maior parte da luz de sequer tocar suas raízes. Porém, já não havia mais sol nos céus há um bom tempo. 

— Realmente vamos entrar no breu da noite? — perguntou Lisa. 

— Não, seria burrice nos colocarmos numa posição tão desfavorável, afinal, não temos como saber quanto tempo vamos demorar… temos que acampar aqui, não deve faltar mais do que algumas horas para amanhecer. 

— Concordo — disse o homem loiro. 

— Eu e Hans vamos tomar o primeiro turno — falou Glória. — Vocês dois descansem, te acordaremos em algumas horas… 

                                                                                                     

Enquanto Hans e Glória estavam de guarda, Li, que dormia profundamente ao lado de Lisa, estava tendo um sonho diferente. Nos últimos meses sua mente evoluiu aceleradamente, permitindo-o ter um certo controle sobre seu subconsciente. Por esse motivo, ele não conseguia compreender exatamente o que estava acontecendo. 

— Quem é você? 

— Me solte! — gritou a menina. 

— Por que eu deveria? 

A pessoa com quem Jihan estava falando, era uma mulher, que fisicamente parecia ter por volta de dezenove anos. Seu cabelo era castanho escuro e liso, descendo até pouco abaixo de seus ombros. Seus lábios vermelhos contrastavam perfeitamente com a tonalidade pálida de sua pele e combinava com seus olhos, que também eram da mesma cor. 

— Você não me parece com uma maldição, muito menos se comparada com aquele monstro que nos atacou quando estávamos na vila. 

— Nunca fui tão humilhada em toda minha existência!  — Ignorando as palavras de Li, ela continuava a reclamar e gritar. — Eu ordeno que me solte imediatamente!  

Amarrada em uma cadeira, ela se debatia freneticamente tentando se libertar das cordas que a prendiam. 

— Não que eu saiba exatamente como uma maldição deveria parecer… 

— Você que é a maldição aqui! 

“Mas pensando bem, essa mulher meio que parece um pouco com ela…” 

— Qual é a sua relação com a Lisa? 

Subitamente, ela parou de se mexer e desviou o olhar para o lado. 

— Nã… não sei de quem você está falando… 

“Você sabe claramente de quem estou falando” pensou Li. “Como alguém pode mentir tão mal!” 

— Só me solte logo! Prometo que não vou voltar! 

Quando a mulher falou amansando a voz, as cordas que a prendiam apertaram ainda mais. 

— Novamente, por que eu deveria fazer isso? 

— Seu desgraçado! Quando eu me soltar daqui, sugarei até a última gota da sua mente! Você vai ver só se… 

SNAP 

Num estalar de dedos, a boca da mulher foi tampada por uma mordaça, o que não a impediu de continuar tentando xingá-lo, pelo contrário, deixou-a com mais raiva ainda. 

— Sabe, tempo no subconsciente funciona de uma forma um pouco confusa, eu não tenho controle completo ainda, então meio que isso pode durar alguns minutos ou alguns dias, mesmo que sejam apenas algumas horas fora daqui. 

Ouvindo as palavras do homem, ela pouco a pouco se acalmou. Quando finalmente se calou, Li retirou a mordaça de sua boca. 

— Agora me diga, quem é você e qual sua relação com a menina? 

ARGH! Meu nome é Luna! — gritou, tremendo de ódio. — AAAAAH! Eu nunca deveria ter me arriscado a invadir a sua mente, sabia que um prato tão cheio deveria ter algum tipo de armadilha, onde fui me meter… 

— Um ‘prato cheio’? Eu sou uma espécie de refeição para você? Então você é realmente um demônio? 

— Uma súcubos! Sou uma súcubos! 

— Súcubos? 

Pensando nas definições de súcubos que leu durante a vida, Li concluiu que a mulher na sua frente não parecia em nada com aqueles seres malignos que utilizam sonhos prazerosos para se alimentar da força vital dos outros seres vivos. Na verdade, ela parecia um tanto ‘crua’ para esse tipo de coisa. 

HUMPF 

— Você deve estar pensando idiotices! Homens são realmente todos iguais — disse Luna. — Escuta aqui, humanos não nascem diferentes uns dos outros? Qual o problema de existirem súcubos que se alimentam de formas diferentes? 

— Corta a bobagem, do que você se alimenta? 

— Não vou te falar! — Como uma criança mimada, a mulher mostrou a língua. As cordas mais uma vez apertaram. 

— Pare com isso! 

— Bem, não me importo com isso, mas você ainda não me contou sua relação com a Lisa. 

TSK 

— Vou deixar para ela mesma te dizer — respondeu, estalando os lábios.  

No momento em que a mulher terminou de falar, o subconsciente de Jihan começou a se ofuscar. 

— Boa sorte! — disse a mulher debochando, pouco antes de desaparecer. 

Alguns momentos depois, Li acordou com Glória o empurrando. 

— Você parecia estar tendo um bom sonho, mas é hora de trocar a vigia. 

— Hm, certo.  

Virando-se para acordar Lisa, Jihan viu que ela não só estava acordada, como já havia levantado e estava com o rosto completamente vermelho, olhando para ele. Quando seus olhos se encontraram, ela saiu andando na direção contrária, quase chorando. 

— O que aconteceu? — perguntou Glória. — Li, o que foi que você fez? 

— Nada! Eu não fiz nada!  

— Tanto faz, só resolva isso logo, vou dormir. 

Empurrando o homem para longe, ela se deitou. 

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Olá, eu sou Dealer!

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