Existem várias tradições em Erebus para manter o contato entre as raças e as mais diversas facções. Um deles é o Torneio Anual de Erebus, uma forma de mostrar os novos talentos que aparecem a cada ano e também do desenvolvimento de talentos antigos, afinal, também é mérito da facção nutrir o potencial de seus integrantes.
Outra dessas tradições é o ‘Campeonato de Facções’ que ocorre a cada cinco anos. Este, é local e serve para distribuição de recursos e territórios entre as Facções, nem preciso dizer que as mais bem colocadas são as mais fortes e as que possuem mais território para manejar no reino; algumas ganham cidades inteiras, outras, vilas.
Costumes e Tradições ~ Baltazar Von Amuria
— Então, você quer acelerar seu treinamento?
De volta ao seu plano mental, Li discutia com o homem que possuía um rosto parecido com o seu.
— Não consigo entender, até agora você só me ensinou os básicos, achei que a este ponto já estaria aprendendo alguma coisa de fato.
— TSK, é por isso que não gosto de ensinar — Nasháh estalou os lábios. — Escuta, garoto, o que diferencia um conjurador bom de um ótimo são justamente os básicos.
— Eu sei dis…
— Calado, enquanto seu professor fala, você escuta.
Mesmo sem precisar ter sua boca tampada, Li já respeitava o homem o suficiente para acatar a ordem.
— Conjurar e Augmentar são duas habilidades completamente diferentes e dificilmente alguém consegue entender ambas, o seu caso é um pouco diferente por dois motivos — estendendo dois dedos ele continuou: — O primeiro deles é seu talento para ambos, o que por si só já é um absurdo. O outro é sua capacidade mental, você consegue aprender um sem ter que sacrificar um pouco do outro, ou seja, se normalmente uma pessoa conseguiria entender 90% de um e 50% de outro, você consegue 100% de ambos.
— Então é por isso que voltamos aos básicos?
— Exatamente, se você consegue fortalecer a base de ambos os tipos de uso de mana, então é isso que faremos!
— Mesmo assim… não temos muito tempo até o torneio, não podemos acelerar um pouco o passo?
Nasháh suspirou, pensando por um instante.
— Pode ser que você já consiga aprender um truque bastante interessante…
— Um truque?
— Bem, é mais do que um truque, mas é mais fácil falar do que fazer… certo, vamos revisar a situação. Neste momento, você só consegue utilizar a mana do elemento de Luz, correto?
— Sim, eu já tentei ver o que conseguia fazer com Almús, mas é bem mais difícil do que eu imaginava.
— É totalmente compreensível, esse elemento de mana é um mistério até mesmo para mim, no entanto, não acho que ele sirva para combate de qualquer forma. Somado a isso, utilizar do elemento sombrio está totalmente fora de questão, você seria executado no mesmo instante.
GULP
— O que nos traz de volta a luz… — confirmou Li, engolindo a seco.
— Que também não é nada fácil de manejar… mas não é impossível, para aprender o que estou prestes a te ensinar, você precisa entender um pouco melhor do comportamento da Luz — disse Nasháh.
— O comportamento?
— Sim, por onde começar… primeiro, você já notou que a luz não tem matéria?
— Agora que falou, sim…
— Pois bem, a luz, diferente da água, fogo, terra e até mesmo o ar, não possui peso algum, já que não possui matéria, está me acompanhando?
— Sim, continue.
— Porém, apesar de não possuir massa, a luz possui energia, isso você sabe muito bem, é por isso que ela funciona melhor como um augment do que como uma conjuração.
— É por isso que eu me sinto tão forte quando estou usando-a?
— Basicamente, mas não somente por isso. Continuando… é melhor ver na pratica, conjure uma pequena quantidade de luz.
Obedecendo ao homem, Li fez o que ele pediu. Conjuração básica é algo que ele estava refinando no último mês, externar a mana era uma tarefa bem mais difícil do que a internalizar. Com um pouco de foco, uma pequena esfera luminosa surgiu entre suas mãos.
— Perfeito, agora, faça exatamente a mesma coisa, mas sem deixar isso que você já criou se desfazer.
Respirando fundo, Jihan fez o mesmo processo novamente, apesar de que dessa vez foi um pouco mais difícil.
— De novo, mas dessa vez, comprima a esfera para ela se tornar mais densa…
BUM
No momento em que ele realizou a compressão, a esfera estourou, liberando uma luminosidade surpreendente e empurrando as mãos de Li.
— Droga, é muito mais difícil do que eu pensei.
— Você foi bem, porém cada camada que colocar vai dificultar ainda mais o processo. No primeiro momento pode parecer fácil, mas manter a estabilidade de uma esfera de energia comprimida jamais seria uma tarefa tranquila.
— Ainda assim, era só uma pequena quantidade de mana… se eu conseguir concentrar ainda mais…
— Vai se tornar uma habilidade surpreendente… como eu disse, é um truque, você tem que saber a hora certa de usá-lo, inimigos experientes dificilmente vão tomar um golpe tão simples de frente.
— Mesmo assim… é uma nova arma — Li sorriu, empolgado.
— Lembre-se, criar, comprimir, estabilizar. Pode repetir esse processo até se cansar, esses três estágios também servirão como um treino eficiente!
“Agora tenho um norte de como melhorar… talvez consiga treinar sozinho e surpreendê-lo com meu avanço…” pensou.
— Aliás, Nasháh, como você sabe tanto sobre essas coisas? Nunca te vi utilizando nenhum tipo de mana… melhor do que isso, por que você está na minha cabeça?
— Você gosta de fazer perguntas pessoais, não é da sua conta, já estou te ensinando, não é o suficiente?
— Só estou tentando te conhecer melhor, qual o problema disso? Você é tímido?
— TSK, fique quieto e concentre-se…
— Certo, certo…
Ambos ficaram em silêncio por um tempo e o único barulho no lugar se tornou as explosões das constantes tentativas de comprimir a energia da mana Luz.
— Droga — Li amaldiçoou. — Não importa quantas vezes eu tente, não consigo passar de três camadas…
— Seja paciente, um mestre já falhou mais vezes do que um iniciante tentou, não seria uma boa habilidade se fosse fácil.
— Por que você não me conta uma história enquanto faço isso?
— Uma história? Quem pensa que eu sou?
— Para mim pelo menos você soa como um velho, não pode ser igual a um e contar algo do tipo “No meu tempo…”
— Calado.
— Sim senhor.
Depois de mais alguns minutos em completo silêncio, Nasháh começou a falar.
— Existia outrora um homem poderoso…
Li manteve seu treinamento continuo, ainda calado, por medo do homem parar de contar.
— Tudo que existia estava ao seu alcance, ele achou que poderia conquistar o mundo sozinho, seu único inimigo era o tempo e a morte, afinal, tudo que existe, por bem ou por mal, um dia se encontrara com Kun.
“Kun? Da história que eu li na biblioteca?” pensou Li.
— Ao final da sua existência, sua vida seria apagada, e um novo ser surgiria das suas cinzas, como uma reencarnação, mas esse homem não queria isso, ele queria continuar sendo quem era então ele resolveu lutar para tal.
BAM
Outra esfera explodiu enquanto falavam.
“Ah, dessa vez foi quase…” pensou.
— Com apenas esses inimigos — Nasháh continuou. — Esse homem fez tudo que poderia para driblá-los, passou toda sua existência atrás de uma maneira de o fazer e um dia finalmente encontrou… assim como Kun, ele achou a resposta em se dividir, cortaria sua essência em duas e sempre que estivesse prestes a morrer, substituiria uma pela outra passando toda a sua vida revitalizando aquela que perdeu a força.
“Quase lá…” Jihan dobrou sua vontade.
— No final, sua busca foi sua ruína… e a causa da destruição de tudo que ele havia conquistado…
— Ah! Consegui! — comemorou Li, com uma esfera de quatro camadas em sua mão.
— Não acredito que deu certo — disse o outro, desacreditado.
— Está vendo, só preciso de um pouco de inspiração…
— Só cuidado para nã…
BUMMM
A esfera subitamente perdeu a estabilidade e explodiu, a onda de choque muitas vezes mais forte que a de antes atirou Li meia dúzia de metros para trás.
— Incrível a força aumenta de forma exponencial…
— Assim como a dificuldade, vamos, continue, não temos muito tempo.
— Vou continuar, mas quem era a pessoa de quem você estava falando?
— Isso importa? Ele já está morto.
— Morto…? Eu sinto pena dele.
— Pena? O que há para sentir pena de alguém assim? — questionou o homem, sua voz grave como sempre.
— Bem… ele passou toda sua existência lutando contra algo inevitável… digo, será que ele realmente viveu em algum momento? Deve ter sido extremamente solitário…
— Hm… — Nasháh pensou por um instante. — É… imagino que tenha sido mesmo. Enfim, nosso tempo aqui acabou, te vejo mais tarde.
CLAP
Numa palma, Li acordou afoito com um travesseiro voando em sua direção e acertando seu rosto.
— Ah, você finalmente acordou, achei que chegaria atrasado novamente — Matheus, que havia atirado o travesseiro, falou.
— Precisava mesmo disso?
— É você que parece uma pedra dormindo e de qualquer forma, foi ideia sua aumentar a carga horaria de treinamento.
— Sim, sim, já estou levantando, mãe.
— E se você reclamar vai tomar outro!
Ambos riram levemente enquanto se levantavam, Li, no entanto, sentia-se um pouco incomodado.
“Por que eu estou me sentindo triste?” pensou consigo mesmo.
