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Capítulo 21: As cinzas da despedida

Ambos os lutadores estavam no seu “limite” devido aos seus ferimentos físicos, porém mesmo com esse empecilho, ambos continuaram aquele mortal e até mesmo belo combate até a morte. Kura pensava a cada golpe dado no seu oponente, pensava em seus companheiros daquela missão, na sua família e nos seus amigos

“Por eles e por todos desse país, eu vou vencer esse combate!”

Kura pensava isso, ao mesmo tempo em que seu oponente também pensava coisas assim, Humaitá lutava ali pelo o seu povo, suas promessas e a sua própria família

“Por eles, eu vou derrotar esse garoto!”

A luta era intensa, as chamas do corpo do terrorista pareciam ser quentes igual ao próprio Sol e a luminosidade era maior que a de uma estrela bastante próxima dos seus planetas presos na sua gravidade, lutar olhando diretamente para Humaitá era quase impossível para o jovem Kura, assim como trocar socos com ele sem sofrer queimaduras acima do terceiro grau e que fizessem sua pele ficar parecida com carvão de forma quase instantânea. A ideia do garoto do exército, foi de tentar usar seus escudos de eletromagnetismo focados em seus dois braços, para que assim o magnetismo repelisse a água do corpo inimigo e o calor das chamas daqueles ataques físicos

“Isso vai funcionar! Ao menos, eu acho!”

A tática que o garoto pensou foi colocada em prática a partir do momento em que ele viu um chute do seu inimigo vindo em sua direção, era um chute circular usando a “batata” da perna esquerda do criminoso, um golpe que mirava atingir a cabeça do garoto e devastar o seu crânio. Kura para se defender do chute, colocou seu braço esquerdo revestido de eletromagnetismo no meio do caminho entre o chute e a sua própria cabeça, parecia que iria funcionar com sucesso aquela defesa, mas para a surpresa do jovem garoto militar, o calor daquelas chamas ainda transpassou aquela defesa e queimou quase todo o seu antebraço, fazendo com que a pele dele e um pouco dos músculos fossem queimados, deixando a pele da mesma cor que o carvão usado em churrascos de domingo

— Merda, isso dói para caralho!

O garoto gritou isso, a dor daquelas queimaduras era realmente inimaginável para uma pessoal comum e sem treino, que provavelmente acabaria desmaiando devido a dor daquilo tudo. Mas mesmo em meio aos gritos de dor, o garoto notou algo na perna do indigena, em específico a que havia efetuado o chute anterior contra o garoto, aquela perna se encontrava com algumas queimaduras por todas as partes dela

“ E-ele está queimado?!”

O garoto se afastou o máximo que podia do seu inimigo e continuou o analisando de cima a baixo, conseguindo observar diversas queimaduras por todo o corpo dele. Humaitá por sua vez, não poderia ficar muito tempo parado e dar esses momentos de vantagem para o seu inimigo, já que a cada segundo que passa o seu corpo ficava mais próximo de virar cinzas por completo

“Foi mal garoto, mas eu vou te matar!”

O homem da tribo tapajó voltou a avançar a toda velocidade contra o garoto eletricidade, seus golpes envolviam movimentos de dança misturados com algo que se assemelha a golpes de capoeira. Humaitá durante esse avanço contra o garoto, deu um giro de trezentos e sessenta graus no próprio eixo de gravidade do seu corpo, ainda mantendo aquele belo ritmo com a natureza a sua volta e mais uma vez ele efetuou um chute contra o garoto militar, agora mirando em acertar um chute potente na costela dele, usando para isso a parte externa do seu pé que já estava todo queimado para isso. Um movimento bastante parecido com o golpe “armada” da capoeira

“Merda!”

Kura pensou isso e rapidamente saltou para trás e se esquivou do chute do seu inimigo, ainda sofrendo algumas poucas queimaduras no seu peitoral, que se iniciaram do lado esquerdo até o centro daquele local, sendo claramente gerado devido ao calor daquelas chamas

“Ora seu filho da…”

O garoto fez um avanço corporal contra o homem, justamente por saber que golpes a distância seriam inúteis contra aquele homem naquela situação, pelo fato de o seu oponente possuir uma velocidade de movimento e reação que ultrapassam por pouco a dos seus raios. O golpe do Kura em direção ao seu inimigo, foi um golpe de mão aberta mirando o peito do seu opositor, sua mão foi revestida com eletromagnetismo segundos antes de acertar o corpo do seu inimigo, permitindo que ele aumente ainda mais a força do impacto no corpo do adversário e que o lançasse para bem longe

— Vai voando longe, Papa-Capim!

O garoto falou isso, ao mesmo tempo em que segurava a dor que sentia devido às queimaduras que sofreu na sua mão. O homem da tribo indigena foi lançado a cerca de oitenta metros longe do garoto militar, o corpo dele estava com várias partes do seu próprio corpo em quase cinzas como os seus braços, enquanto outras estão apenas carbonizadas, como as suas pernas e uma parte do seu abdômen. Humaitá logo se levantou com certa dificuldade enquanto vomitava um pouco de sangue ao chão, que logo em seguida o calor evapora o sangue do homem

— Opa, Opa, Opa, garotão… Cuidado aí, vai que perde a sua mão!

Humaitá disse isso em um tom irônico após observar a mão em que o militar usou para atacar, se encontrar com sua palma quase que totalmente queimada devido ao calor das chamas. O homem logo efetuou mais um avanço, mas esse por sua vez não seria mais um chute, mas sim um soco usando ambas as suas mãos e mirando o rosto e pescoço do garoto em sua frente, seria um golpe para gerar pressão no crânio do Jovem Kura a partir do seu queixo e testa. O garoto conseguiu ter a rápida reação de jogar o tronco do seu corpo para trás e se jogar ao chão ao mesmo tempo, conseguindo assim desviar do fatal ataque do seu oponente, usando dessa queda para assim dar uma rasteira no índio em sua frente, revestindo sua pernas que iria realizar o ataque com magnetismo, aplicando um golpe poderoso e focalizado na perna direita de Humaitá. Essa sequência de golpes recebidos, além de errar o soco que iria acertar a cabeça do Kura, fez com que a sua perna e mãos tivessem parte da sua pele e músculos destruídos e evaporados, por já estarem com aspectos de cinzas ou totalmente carbonizadas. Mas mesmo com tais ferimentos, o índio ainda conseguiu usar uma técnica da capoeira, a Aú que consiste simplesmente: em uma “estrelinha” que o impede de cair ao solo e o ajuda a se manter em pé a poucos metros do garoto Kura

— Quase que eu caí! Você tem boas estratégias… pena que são simples de se evitar.

Humaitá falou isso enquanto observava a canela do garoto, que naquele momento se encontrava com a pele da sua perna, praticamente toda queimada e parecida com um carvão. Isso obviamente não impedia o garoto de lutar, com ele apenas rolando no chão e se levantando totalmente, ficando em pé com certa dificuldade

— Pelo menos eu não fico em volta de um foguinho estranho, para lutar!

Kura respondeu aquela provocação enquanto começava a pegar uma posição de combate comum em artes marciais como o karatê, o jovem estava em posição totalmente defensiva, enquanto encarava nos olhos de seu oponente, da mesma forma que dois animais se encaram em uma luta por território. A luta logo continuou ferozmente entre ambos, com Kura tentando dar um golpe em forma de “tapa” no peitoral do Humaitá mais uma vez com o punho revestido de magnetismo e agora com eletricidade, para dar uma rápida morte para o seu oponente. O homem tribal conseguiu se desviar rapidamente daquilo, sendo atingido apenas de raspão por aquele ataque, mas ainda assim sofreu um dano relativamente grande por conta do choque daquele golpe, fazendo com que algumas de suas costelas ficassem trincadas perto de quebrar e se soltar dentro do corpo dele. O rosto do homem durante esse golpe, foi uma mistura de decepção, nojo e “reconhecimento” daquele ataque, com a decepção e nojo iniciando quando viu aquele ataque que ele considerou “inútil” ao seu ver, mas o “reconhecimento” veio depois de sentir o dano daquele golpe feito a ele, mas Humaitá não desistiu de atacar, tentando acertar um chute no ombro do garoto para arrancar o seu braço com o ataque. O garoto eletrizante para se defender disso, tentou usar o magnetismo dos seus raios para gerar um campo com força para repelir o pé do seu oponente e evitar o dano físico do chute dele, mas esse plano não foi de todo bem sucedido, já que parte do dano físico do chute ultrapassou o campo magnético que protege o ombro do garoto, além de a força do indigena começar a forçar aquele escudo para baixo, da mesma forma que foi feito anteriormente naquela batalha. Kura para se proteger e impedir disso, aumentou a força do seu magnetismo e em seguida lançou uma grande corrente elétrica, fazendo a perna do oponente ser arremessada com tudo para longe junto de todo o corpo dele, com o avanço do garoto não parando aí, com ele avançando mais uma vez contra o seu inimigo, usando suas mãos junto da sua técnica de magnetismo para puxar o corpo do seu inimigo para si e em seguida o jogar contra o chão com força o suficiente para o destruir, parecida com o golpe “Hiki-otôshi” do sumô, uma arte marcial japonesa. Um pequeno salto ocorre no tempo, com ambos já estando bastante machucados e cansados daquele embate, com Kura tendo uma movimentação lenta de levantar a sua mão esquerda, falando em um tom alto e marcante

— Essa luta não vai durar muito… Então vamos confiar o fim dessa luta, neste golpe!

A resposta do terrorista foi apenas um sorriso em seu rosto, um sorriso que praticamente confirmava a resposta positiva dele para com aquela proposta, ao mesmo tempo em que ele movimentava os seus braços e pernas em uma sincronia perfeita, a sua dança havia se iniciado

— Então vai com tudo, não é?

O garoto voltou a concentrar toda a sua força e energia na palma de sua mão, aquele aparentemente seria o golpe mais poderoso de sua vida até aquele momento. Ambos se olharam por alguns momentos antes de partirem para o ataque final daquela luta, com o avanço dos dois parecendo algo extremamente “lento” na visão dos dois, durou apenas uma fração de segundo na percepção de quem estava de fora daquela luta. O pé do Humaitá e a mão do garoto se encontraram e se chocaram com tudo, uma onda de choque que repeliu as chamas por alguns momentos e até mesmo toda a força deles, com tudo aquilo se encontrando no exato ponto do ataque deles. A explosão foi tão poderosa, que ambos foram repelidos para longe um do outro e uma grande cortina de poeira foi levantada após esse ataque feroz, Kura estava de pé mesmo após tudo aquilo, mas o seu braço estava totalmente destruído por conta de tudo aquilo, seus ossos daquele braço parecem cacos de vidro de tão quebrado que estava, com dois dos seus cinco dedos da mão estavam pendurados nela. A nuvem de fumaça abaixou e mostrou que Humaitá também estava em pé com o seu corpo ainda em chamas. Kura olhou aquilo e formou um sorriso em seu rosto, um sorriso calmo e de aceitação

— É… eu aceito que perdi, meu corpo tá destruído e eu não posso continuar essa luta, pode me finalizar logo. Eu perdi!

Quando Kura fala isso, ele acaba se surpreendendo com o que aconteceu em seguida, por conta que o criminoso em sua frente acaba por cair de costas no chão e revelando que seu pé e perna pareciam estar machucadas da mesma forma que a mão e braço do garoto. Humaitá deu um sorriso “feliz” no seu rosto, enquanto as chamas consumiam o seu corpo por completo e ele começou a se tornar cinzas

— Não… quem perdeu fui eu! E mesmo se eu ganhasse, eu iria morrer em seguida por conta dessa forma que eu atingi. Eu atingi o nível das chamas divinas do Sol, com o preço disso sendo a minha vida!

Humaitá falou isso enquanto os seus pés e pernas iniciaram o processo de virar cinzas e se esvair pelo ar. Do bolso do bolso do mesmo caiu aquela foto que ele olhou para se inspirar no início dessa luta, o que chamou a atenção do garoto militar que apenas a pegou e deu uma rápida analisada, a “proteção” de metal estava praticamente toda destruída e derretida, assim como a borda da foto, mas não atrapalhou o entendimento do garoto sobre a imagem registrada na foto

— E-ei! Não faça nada com essa foto, é a única coisa que me ajuda a superar essa dor!

O homem disse isso em completo desespero, mesmo estando virando cinzas e sentindo uma dor imensurável devido ao processo disso, ele se aparentou mais desesperado do que consigo mesmo. Isso chamou a atenção do garoto

— Essas pessoas e esse ser… são sua família?

Humaitá não esperava por isso, já que na visão dele essa foto seria destruída ali, mas ele decidiu apenas responder calmamente a essa pergunta

— Não exatamente, o garoto e o garoto-lobo na foto são os meus filhos, as outras pessoas são só moradores da vila… eu vou sentir saudades deles lá no outro mundo

O rosto do homem dizendo isso, era totalmente sereno e calmo, ele já havia aceitado aquele inevitável destino para a sua cruel morte. Kura estava olhando aquilo com um olhar meio mórbido e depressivo, tendo também um sentimento de culpa olhando tudo aquilo

— Esse processo dói… não é?

Kura perguntou isso para o homem, que ao notar a sinceridade na pergunta do jovem rapaz, decidiu responder com a mesma sinceridade

— Sim… dói fisicamente devido às chamas e psicologicamente devido ao fato de deixar meus filhos nesse mundo, além de abandonar meu povo, por pessoas que nem gosto…

A resposta do tribal foi curta e grossa, talvez pelo fato de ele não ter muito tempo para responder, já que metade do seu corpo já havia se tornado cinzas. O garoto encarou Humaitá por alguns segundos, até mirar os seus dedos para ele em forma de pistola e atirar um raio elétrico no seu ouvido, um raio que desativou a parte do cérebro do tribal que era responsável por levar a dor daquelas chamas o queimando, para que ele a sentisse

— Sabe… não acho que eu possa cuidar da sua dor emocional e psicológica nesse momento. Mas ao menos a dor física, eu vou te ajudar sem problemas

Isso chamou a atenção do Humaitá, o fez sentir que seu inimigo não o via mais como alguém a ser eliminado, mas sim alguém que deveria ser salvo

— Não me venha com essa, garoto… eu deveria sofrer essa dor, era o preço dessa técnica!

Humaitá falou isso aparentemente com raiva, mas logo em seguida voltou a ter uma face serena e alegre, com ele fechando os seus olhos enquanto dizia

— Mas mesmo assim, obrigado por isso… eu tenho essa dívida com você… mas também vou ter outra que não poderei pagar

Ele foi dizendo isso, com o seu corpo já tendo apenas o seu pescoço para baixo, mas sem tirar por um momento sequer a sua expressão serena do rosto

— Eu quero que você vá a minha vila… e cuide do meu filho, eu quero que ele tenha uma vida tranquila… pode fazer isso por mim?

A fala e o desejo do tribal naquele momento, fez com que Kura ficasse surpreso e em silêncio por alguns momentos, até que após tomar um ar e respirar bem fundo, ele fala

— Pode contar comigo, é uma promessa!

Isso deixa o indigena tranquilo, com nos seus últimos momentos, ele colocando um sorriso em seu rosto e sendo finalmente reduzido a cinzas por completo. A última ação de Kura para com a morte do Humaitá, um não só antigo inimigo, como também uma pessoa que poderia ter sido seu amigo. Ele não chorou ou se lamentou, apenas fazendo um cumprimento militar, dando assim uma despedida honrosa para ele. Sem lágrimas ou lamentações, apenas e unicamente o respeito e orgulho de ter o enfrentado, olhando para cima, enquanto o vento carrega as suas cinzas para o alto

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Olá, eu sou Kura!

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