Após derrotarem o urso branco com poderes de raios, Lilith, Tharon e Elyra seguem até o ninho dos goblins. Diante da entrada da caverna, Lilith avalia a situação. Tharon está exausto, com o corpo marcado pelos sinais de uma luta intensa. Elyra, a maga do grupo, esgotou todas as suas reservas de mana. Restam apenas goblins filhotes, mulheres capturadas e um goblin velho incapaz de lutar.
— Vamos entrar. Não podemos deixar vestígios de perigo — diz Lilith, com a voz firme e decidida.
Os três avançam pela caverna escura, iluminada apenas pela luz trêmula da magia de fogo de Lilith. O cheiro de mofo e podridão é sufocante, mas eles continuam. Os filhotes de goblin, assustados, se amontoam em um canto, enquanto o goblin velho tenta protegê-los com seu corpo frágil.
— Não precisamos fazer isso — murmura Elyra, hesitante. — Eles são apenas filhotes…
— São goblins — Lilith a interrompe, séria. — Se deixarmos que cresçam, serão uma ameaça. Não podemos nos dar ao luxo de sermos misericordiosos.
Antes que qualquer um possa reagir, Lilith desativa sua magia de fogo e avança com sua visão aprimorada. Com movimentos rápidos e precisos, ela elimina o goblin velho e, em seguida, os filhotes. Apenas os gritos de desespero ecoam na caverna. Lilith reacende sua magia de fogo, iluminando o local. Elyra desvia o olhar, lutando contra o incômodo ao testemunhar a crueldade necessária para a sobrevivência.
Eles continuam avançando pela caverna até um corredor estreito que leva a um cômodo separado. As mulheres cativas estão lá, acorrentadas às paredes. Seus olhos estão vazios, sem expressão, como se a vida já tivesse sido drenada delas. A visão é desoladora.
Lilith se aproxima da primeira mulher, que a encara com uma mistura de desespero e resignação.
— Desejam morrer? — pergunta Lilith.
Uma a uma, as mulheres confirmam com acenos débeis. São todas aventureiras, identificáveis por suas roupas desgastadas e armas quebradas ao lado de seus corpos.
— Que assim seja — murmura Lilith, com tristeza.
Ela realiza o pedido delas, oferecendo uma libertação final do sofrimento. Elyra e Tharon observam em silêncio, suas expressões sombrias refletindo a gravidade do momento. Quando tudo termina, Lilith limpa sua lâmina oculta, mas o mecanismo se quebra devido ao desgaste. Fechando os olhos por um instante, ela oferece uma oração silenciosa pelas almas perdidas. Estando mentalmente triste, tendo uma sensação diferente de quando lutou contra Lectus, por ele ser um criminoso.
Félix, o espírito visível apenas para ela, flutua ao seu lado, irradiando uma luz suave e reconfortante.
— Você fez o certo, Lilith — diz Félix, sua voz serena ecoando na mente dela. — Às vezes, a compaixão se manifesta de maneiras difíceis de aceitar. Você libertou aquelas almas de um sofrimento interminável.
Lilith respira fundo, buscando algum consolo nas palavras de Félix. Enquanto seguem para a saída, uma mensagem do sistema surge diante dos olhos dela, brilhando em uma luz azul etérea:
— (Você ganhou as habilidades das criaturas derrotadas. Do urso, você adquiriu o poder de criar e manipular raios. Dos goblins, nada adquirido. Dos humanos, escolha uma habilidade entre várias).
— Escolha a habilidade do ar — sugere Félix. — Ela será a mais versátil e útil em suas próximas jornadas.
Lilith confia em Félix. Concentrando-se na mensagem, escolhe a habilidade do ar. Uma onda de energia percorre seu corpo, como uma brisa suave, mas poderosa. Ela se sente momentaneamente revigorada, como se o próprio ar ao redor fosse uma extensão de sua vontade.
— Vamos voltar para a guilda e reportar tudo — sugere Tharon, a voz rouca de cansaço.
O caminho de volta é silencioso, cada um imerso em seus próprios pensamentos. Ao chegarem na guilda, o mestre os recebe com uma expressão preocupada. Lilith relata os eventos com firmeza, embora sua voz revele o peso das decisões tomadas.
— Encontramos o ninho dos goblins — começa Lilith. — Um urso branco com poderes de raios atacou o local, e o derrotamos. No ninho, restavam apenas filhotes, um goblin velho e mulheres cativas. Elas pediram para serem libertadas de seu sofrimento… e eu atendi.
O mestre da guilda assente, compreendendo a decisão difícil.
— Vocês fizeram o que precisavam fazer.
— Foi uma luta árdua — acrescenta Tharon, a mão repousando sobre a empunhadura da espada.
— Usamos todos os nossos recursos — diz Elyra. — Precisamos de tempo para nos recuperar.
O mestre pondera antes de responder:
— Vocês têm minha gratidão e a da guilda. Descansem e recuperem suas forças. Vocês enfrentaram grandes desafios e fizeram sacrifícios. Merecem uma pausa.
Os três aventureiros se retiram para seus quartos, buscando um momento de paz em meio à turbulência de suas mentes. Lilith, porém, permanece inquieta. As palavras de Félix e a nova habilidade adquirida ecoam em seus pensamentos.
Deitada em sua cama, ela luta para adormecer. As faces das mulheres libertadas assombram sua mente. Embora saiba que fez a coisa certa, o peso da decisão é esmagador. Tharon, em seu quarto, encara o teto, tentando processar os eventos. Elyra, por sua vez, mergulha em seus livros de magia, buscando entendimento e distração.
No dia seguinte, Lilith decide refazer sua lâmina oculta. Ela desenha cada detalhe do novo projeto, agora planejando um mecanismo que funcione com ar comprimido. A lâmina será projetada para fora e retraída com o poder da nova habilidade de manipular o ar. O mecanismo inclui um sistema de entrada e saída de ar que controla o movimento da lâmina, tornando-a mais moderna e eficiente.
Com o esboço pronto, Lilith leva o projeto ao ferreiro, que se dispõe a realizá-lo. Ele avisa que a nova lâmina estará pronta em dois dias. Já é noite quando Lilith retorna à hospedagem.
No terraço da pousada, sob a luz prateada da lua cheia, Lilith experimenta sua nova habilidade. Uma brisa suave se forma ao seu redor, crescendo em intensidade conforme ela se concentra. Sente-se conectada ao vento de uma maneira que nunca havia experimentado.
— Você fez a escolha certa — diz Félix, aparecendo ao seu lado. — Essa habilidade será essencial para o que está por vir.
— Por que eu? — Lilith sussurra. — Por que recebo essas habilidades? Por que consigo ver você?
— Você é especial, Lilith — responde Félix. — Há uma força dentro de você que ainda não compreende totalmente. Essas habilidades são apenas o começo.
Antes que Lilith possa responder, Tharon e Elyra aparecem, tendo notado sua ausência.
— Lilith, está tudo bem? — pergunta Tharon.
Ela assente, escondendo a conversa com Félix.
— Sim, só precisava de um momento de paz.
— Entendo — diz Tharon, se aproximando e olhando para a lua. — Acho que todos precisamos de um momento assim. O que fizemos hoje… é algo que nunca esqueceremos.
— Eu sei — responde Lilith, sentindo o peso das palavras de Tharon.
— Sim — diz Elyra, se aproximando também. — Mas precisamos seguir em frente. Há mais perigos lá fora, mais vidas em risco.
Eles permanecem em silêncio, observando a lua antes de se retirarem para seus respectivos quartos.
Dois dias depois, Lilith recebe a nova lâmina.
— Fiz o conjunto todo mais resistente. Agora ele também se autorrepara se você injetar mana — explica o ferreiro.
— Muito obrigada — diz Lilith, antes de se dirigir à guilda.
A notícia da bravura de Lilith, Tharon e Elyra se espalha pela guilda. Outros aventureiros se aproximam para oferecer palavras de apoio e agradecimento. Mas, apesar do reconhecimento, os três sabem que o mundo lá fora continua perigoso, cheio de desafios e escolhas difíceis.