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Pai e filho finalmente estavam juntos. Enquanto Julius Ginsu tinha uma expressão de felicidade estampada no rosto, Harley exibia uma aparência totalmente aversa e aterrorizante. O jovem, paralisado pela surpresa inesperada do reencontro, parecia não estar realmente ouvindo ou vendendo seu pai. O ambiente ao seu redor, assim como as sensações que havia experimentado momentos antes, desapareceram por completo. Sua única vontade era gritar:

— Desgraçado! — Harley corre em direção ao seu pai enquanto fala — como pode nos abandonar? — Olhando com raiva, Harley aproxima-se.

Harley fechou os olhos, buscando dominar as emoções, e no retorno à escuridão, sua mente era tomada por uma lembrança agonizante. Na verdade, era um pesadelo constante, mais aterrador do que todas as memórias das torturas recentes.

O jovem mergulhou profundamente naquela lembrança, onde o passado ganhava vida diante de seus olhos com uma intensidade assustadora. As palavras do líder do clã das Adagas Voadoras ecoavam em sua mente, gritando e invadindo sua realidade. 

A queda no abismo, a proximidade com a morte e o reencontro com o seu pai, o imergiram ainda mais em sua recordação, fazendo-o reviver de forma vívida e angustiante aquele momento de agonia e desespero que, sabia ele, carregaria para o resto de sua vida.

O jovem recordava do passado. Tudo como sempre parecia como se estivesse acontecendo novamente diante de seus olhos. O líder do clã das Adagas Voadoras gritando, começam a emergir e dominar toda a realidade:

— O covarde fugiu? Estou aqui para o desafio e ele fugiu? — disse o líder do clã das adagas voadoras.  

Os anciões do clã de Harley abaixavam a cabeça envergonhados sem respostas para o questionamento.

Subitamente, o líder do clã, conhecido como Lâmina Sombria, aproximou-se rapidamente e ergueu Harley pelo pescoço. Harley estava preso, sem forças para fazer qualquer coisa, além de engasgar enquanto tentava desesperadamente buscar ar para sua garganta comprimida.

— Onde está o covarde do seu pai? — perguntou Lâmina Sombria para Harley que engasgava, com a garganta pressionada agressivamente, incapaz de proferir uma palavra. — Vim para libertar minha filha e o nosso clã de se associar com um bando de covardes.

— Isabella! — continuou, Lâmina Sombria, chamando diretamente por sua filha, que estava observando tudo próximo da entrada.

A jovem era uma figura esbelta e ágil, com cabelos negros que fluíam como a noite, adornados com duas tranças finamente entrelaçadas. Seus olhos, profundos e penetrantes, possuíam um brilho cativante, revelando a inteligência aguçada que herdara do pai.

— Isabella, vem logo. Vamos pôr um fim definitivo nisso o quanto antes! — insistiu o líder do clã Adagas Voadoras com mais firmeza, surpreendendo a jovem pelo tom aplicado por seu pai.

— Este clã não tem honra, e cada segundo que passo aqui me dá nojo! — continuou ele, com uma expressão de asco no rosto.

Isabella se aproximou lentamente, mais devagar do que Lâmina Sombria teria desejado, mas mantendo um contato visual firme com o jovem que seu pai mantinha suspenso. 

Por sua vez, Harley, mesmo desconfortável, também observava a jovem da mesma idade que estava destinada a ser sua esposa. Ela usava um traje justo e flexível, confeccionado em tecido resistente e escuro, que se ajustava perfeitamente ao seu corpo esguio. Harley ficou surpreso, questionando se era o tecido ou o corte da roupa que a tornava tão silenciosa e quase imperceptível quando se movia.

— Isabella, pegue o contrato de casamento que lhe entreguei — ordenou Lâmina Sombria — e enfie na boca desse inútil!

A garota, que tinha a mesma idade que Harley, dirigiu um olhar para seu pai e, em seguida, encarou novamente o jovem à sua frente. Com uma relutância visível, ela finalmente obedeceu às ordens de seu pai e enfiou descuidadamente o contrato na boca de Harley.

Com um gesto rápido e brutal, o líder do clã arremessou Harley, com o contrato de casamento ainda em sua boca, para o fundo do salão, fazendo-o colidir violentamente com a parede.

— Que todos sejam testemunhas de que, a partir de hoje, não temos nenhum compromisso com o Clã da Adaga Arcana — anunciou o líder do clã das Adagas Voadoras — Vamos embora. Já permanecemos tempo demais nesse lugar vergonhoso.

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Harley fechou os olhos, buscando afastar a lembrança dolorosa, enquanto reafirmava sua determinação em retribuir a humilhação que havia sofrido no futuro. Seu peito queimava de raiva quando tentava esquecer a lembrança e se aproximava de seu pai. 

— Desgraçado! — Harley repete o xingamento e a pergunta que nunca lhe abandonou: — Como pôde nos abandonar? 

Harley estava agora a centímetros de seu pai, seus olhos injetados de raiva fixos nos dele. Um soco ressoou no peito do homem mais velho, um gesto carregado de dor e decepção. Um golpe que parecia uma martelada em um lugar em que deveria existir um coração, mas que o jovem tinha certeza que estava vazio. Harley sentiu lágrimas queimando em seus olhos, mas ele não permitiria que caíssem

— Não — pensou ele que não quebraria novamente suas promessas — Como pôde fugir? Desaparecer? Deixar todo clã destroçado! Queimado! todos Separados! — A voz de Harley tremia, mas ele continuou, determinado a expressar toda a sua angústia — Como pode?

As palavras de Harley pareciam definhar em sua garganta, sufocadas pelo desespero de ouvir justificativas ou a declaração de covardia que tanto temia. O tremor em seu corpo denunciava a intensidade de suas emoções. Harley tinha plena consciência de que não poderia perdoar seu pai. Para ele, a covardia era pior do que qualquer mal que um guerreiro pudesse enfrentar; era como uma praga que se espalhava e corrompia uma casa vazia. 

O jovem afirmava para si mesmo que todo o sofrimento, dor, humilhação e tortura que havia enfrentado no Clã Dragões de Sangue eram preferíveis à sensação de medo que seu pai representava. Preferia enfrentar os horrores da batalha, o medo da derrota e o desafio de tentar superar obstáculos. Para Harley, tudo isso era preferível ao egoísmo de seu pai, que escolheria o caminho mais fácil em vez de enfrentar suas responsabilidades quando mais precisavam dele.

— Como? Como? — As palavras pareciam morrer em sua garganta. 

Egoísmo, pensou Harley, o egoísmo desse homem em sua frente era mais destrutivo do que qualquer outra coisa. Ele escolhera pensar em si mesmo, em vez de enfrentar suas responsabilidades. 

— Quando outros, ou mesmo um clã inteiro, dependem de nós, não podemos mais ser egoístas, não podemos mais fugir de nossas responsabilidades — gritou Harley.

Harley caiu de joelhos diante de seu pai, uma sensação de impotência o dominando por completo. Uma enxurrada de emoções, incluindo dor, vergonha e até mesmo medo do que a quebra do silêncio poderia revelar, fizeram com que o corpo do jovem se enfraquecesse ainda mais. 

Antes que sua cabeça tocasse o chão, uma súbita sensação de mudança envolveu o mundo ao seu redor. Seria este o fundo do abismo, o ponto final de sua queda finalmente tinha chegado?

Olá, eu sou o Val Ferri Sant. Ana!

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