A fuga precipitada, do primeiro grupo do Clã Dragões de Sangue, havia empurrado Harley ainda mais fundo no Abismo Sem Fim. No entanto, o jovem estava determinado a encontrar uma saída desss calamidade.
Com um plano em mente, ele decidiu fazer um pequeno desvio à frente, confiante de que isso o levaria novamente ao caminho certo, conduzindo-o à única saída viável que o levaria de volta à superfície da Floresta de Espinhos.
Corrigindo o rumo, e correndo em direção à passagem que o levaria de volta à superfície, Harley se viu confrontado por um obstáculo inesperado.
A escuridão da floresta escondia a presença de mais inimigos à sua frente, e o jovem percebeu que não havia mais espaço para recuar, disfarçar-se ou esconder-se.
Com determinação, ele aumentou sua velocidade, preparando-se para o inevitável embate.
O encontro repentino pegou todos de surpresa, mas Harley agilmente não perdeu tempo. Enquanto jogava mais uma de suas bolas de fogo, ele tinha um único objetivo em mente: dividir a atenção do novo grupo em duas frentes, criando confusão e caos.
— Fiuu! — o espadachim mais próximo, aplicou um corte horizontal com sua lâmina.
O jovem deslizou pelo solo, evitando o golpe que passou acima de sua cabeça, mantendo-se abaixo do alcance da lâmina aproveitando e cortando a panturrilha do adversário no processo.
— Ah! — o primeiro grito de dor dado naquela noite surpreendeu, mas não paralisou Harley.
Posicionando-se rapidamente atrás do adversário, ele completou o movimento estocando a adaga na altura do ombro direito do homem. Outro grito de agonia ecoou na escuridão da floresta enquanto Harley deixava a faca como auxílio e usava a mão esquerda para controlar o braço esquerdo e por consequência o corpo do adversário.
— Zum! Zum! Zum! Zum!
— Paf! Paf! Paf! Paf!
Quatro flechas perfuram o corpo ferido e indefeso que se tornou um escudo involuntário, protegendo o jovem dos ataques dos outros inimigos.
O segundo espadachim surgiu, investindo com fúria. Harley com reflexos rápidos, virou o corpo do inimigo que era usado como escudo em um ângulo de 45 graus para se defender. No entanto, a dificuldade de movimentar o cadáver tornou a defesa mais árdua. A espada do inimigo avançou, decepando brutalmente o braço do corpo humano, e continuou sua trajetória fazendo um pequeno corte na coxa do jovem.
Com o adversário que diante de um movimento falho de espada tinha deixado boa parte do seu corpo exposto, Harley não hesitou. Retirando sua adaga das costas do cadaver protetor, ele investiu com precisão, atacando a jugular do novo oponente. O sangue jorrou, e o espadachim caiu sem emitir som algum.
Sem perder tempo, ele também jogou sua adaga com precisão mortal em direção ao terceiro atacante que já estava bem próximo. A adaga encontrou seu alvo, perfurando o peito do inimigo e o derrubando instantaneamente, quase ao lado do jovem, tornando mais fácil a recuperação de sua arma arremessada.
Com o terceiro adversário neutralizado, Harley mais uma vez usou o corpo inerte do espadachim como escudo.
Enquanto Harley mantinha os corpos dos dois espadachins como escudo, o perigo ainda não havia passado.
— Zum! Zum! Zum! Zum!
— Paf! Paf! Paf! Paf! — três flechas zumbiram pelo ar e atingiram o corpo que ele usava como proteção.
No entanto, uma quarta flecha encontrou seu alvo, atingindo o braço esquerdo. Uma pontada de dor aguda se espalhou pelo membro ferido, causando-lhe incômodo. Sangue começou a escorrer da ferida, e Harley sabia que não teria tempo para retirar a flecha adequadamente naquele momento. Ele precisava continuar se movendo e se defendendo, apesar da dor persistente e do desconforto causado pela flecha alojada em seu braço.
Dois atacantes aparecem, de uma vez, em um ataque duplo. O quarto inimigo investiu. O golpe desferido pelo espadachim foi aparado por um dos corpos que foi deslocado abruptamente como proteção. A lâmina do inimigo abriu um grande corte profundo na barriga do cadaver, fazendo com que mais sangue escorresse rapidamente.
O quinto atacante tentou um golpe de estocada rápido, mas o jovem se esquivou para o lado com um movimento fluente, fazendo com que a espada do inimigo passasse pelo ar vazio. Mas com um novo avanço rápido, o inimigo desferiu mais um golpe horizontal preciso, que no último segundo, fora de encontra a adaga:
— Tling! — bloqueando a lâmina da espada inimiga com um ruído metálico agudo.
A força do golpe fez Harley recuar alguns passos, e neste momento o outro adversário atacou com um golpe vertical, mas o jovem habilmente girou o corpo para a esquerda, deixando o ataque passar pela sua direita. Ele aproveitou o momento para contra-atacar. Com uma estocada precisa, imobilizou o braço que segurava a espada do novo atacante. Em seguida, desferiu um golpe fatal mirando o fígado do adversário, que caiu sem vida.
Flechas voaram. Mais duas flechas atingiram com precisão o corpo. Uma delas atingiu o ombro, e a outra a coxa de Harley. Duas flechas também acertaram o corpo de seu oponente morto, que agora jazia ao seu lado.
Ferido e consciente de que se tornou um alvo fácil para os arqueiros do novo grupo de defensores, Harley decidiu retornar ao caminho que percorrera anteriormente, voltando à área onde havia despistado o grupo anterior. Neste momento, romper a linha de defesa seria uma tarefa extremamente difícil, e ele precisava encontrar uma estratégia melhor para continuar sua fuga e sobreviver a esse confronto mortal.
Flechas ocasionalmente cortavam o ar atrás no recuo em fuga praticada pelo jovem. No entanto, ele notou que os atacantes da linha de frente não se aventuraram a persegui-lo. O receio de enfrentar uma armadilha ou de ser confrontado diretamente, sem o apoio dos companheiros de grupo, mantinha-os relutantes em proseguir. O agora estava momentaneamente isolado, mas ele sabia que a ameaça ainda não havia passado.
Depois de correr por uma longa distância, mesmo sozinho, ele se via diante de uma encruzilhada dolorosa. As flechas cravadas em seu corpo eram uma ameaça constante, mas retirá-las naquele momento poderia piorar o sangramento e intensificar a dor que já o assolava. Sua única prioridade era escapar da ameaça iminente que o perseguia. A cada passo, a dor insistente servia como cruel lembrança de sua inultilidade.
Sem alternativa à vista, ele tomou a decisão de não retirar por completo as flechas que trespassava seu corpo. Retirá-las agravaria o sangramento e aumentaria a dor. Em vez disso, ele recorreu à sua adaga para cortar os prolongamentos das flechas, assegurando que as partes que permaneciam em seu corpo não prejudicassem seus movimentos. Foi uma escolha pragmática em meio à adversidade, permitindo que ele mantivesse a agilidade necessária para prosseguir em sua fuga.
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Harley olhou para si pela primeira vez, desde que tinha atravessado o portal. Sangue em seus ferimentos. Sangue em suas mãos e armas. Seu corpo todo banhado em vermelho. Harley já não era mais aquele jovem que demonstrava indolência para os outros, mas a fera para a qual havia sido treinado desde a infância.
Acuado, cercado por inúmeros inimigos, não lhe restava outra opção senão lutar com todas as suas forças, derrubando seus adversários um a um até que provável morte viesse lhe tirar deste mundo. A vingança, uma vez um desejo ardente, agora parecia um sonho distante e improvável.
A escuridão da noite engolia a floresta, transformando-a em um abismo sombrio de incertezas. Um jovem, ofegante e ferido, continuava correndo como uma fera acuada, cada passo uma luta desesperada pela sobrevivência.
Vinte inimigos o haviam seguido até aquele ponto, e o som dos passos deles reverberava como uma sinfonia da morte.
Os arqueiros foram os primeiros a reiniciar o ataque, suas flechas cortando o ar como serpentes venenosas. Harley se movia com agilidade, desviando-se das flechas mortais enquanto avançava em direção aos atacantes. Cada movimento era calculado, cada passo uma dança letal.
Harley desviou da lâmina inimiga com sua adaga e encontrando uma abertura fez um contra-ataque no pescoço atingindo a artéria carótida eliminando mais um.
O jovem guerreiro, com a adaga negra em punho, enfrentava uma batalha implacável. Seus olhos brilhavam com a determinação de um animal encurralado, disposto a tudo para levar para o outro mundo o maior número de inimigos. Os arbustos rangiam sob sua passagem, testemunhando a agonia que se desenrolava.
O brilho das lâminas cortantes se entrelaçava no ar, um chute derubou o adversário e mais uma estocada e uma morte.
Flechas, cortes, sons de pele sendo perfurada, rasgada. Tudo tinha virado um caos de sangue enquanto mais ataques prosseguiam.
Harley girou seu corpo em um ângulo agudo e mais uma lâmina inimiga assobiou pelo ar. Escapando da lâmina letal por uma fração de segundo. Outro ataque de um novo inimigo aproxima-se. Ele usou novamente a adaga para defender o forte golpe de espada e aproveitou a proximidade, usando a mão esquerda para segurar o braço do adversário e usar uma técnica de deslocamento, projetando o adversário para frente ao puxar com a mão esquerda que segurava.
A luta era brutal, com trocas frenéticas de golpes, defesas precisas e desvios mortais. Harley usava técnicas de luta com adaga que havia aperfeiçoado ao longo dos anos, projetando corpos inimigos uns contra os outros, desequilibrando seus adversários para ganhar qualquer vantagem possível.
Os corpos caíam ao seu redor, suas vidas ceifadas pelo furor da batalha. O solo se manchava com o sangue dos que ousaram persegui-lo, testemunhando a carnificina que se desenrolava naquela noite.
A lembrança de seu clã, de seus familiares e de seu irmão o impulsionava a pintar de vermelho a paisagem ao seu redor. Mesmo que ele próprio não pudesse vingá-los, desejava que seu irmão tivesse a força e a determinação para fazê-lo. O sangue derramado era um tributo aos que haviam sido perdidos e uma promessa silenciosa de que sua memória viveria através dele.
— Próximo! — gritou Harley que mais parecia uma mortalha ensanguentada cujos olhos ainda brilhavam com determinação nesta batalha que não tinha fim.
Mas os inimigos também não eram inábeis. Seus golpes feriram bastante o jovem, deixando-o mais vulnerável a cada ataque.
À medida que a batalha prosseguia, mais o sangue fluía, tanto de Harley quanto de seus oponentes. Os ferimentos, cortes e estocadas marcavam o corpo do jovem, mas o que mais a afligia eram as flechas alojadas em sua carne, cujo acúmulo começava a limitar sua mobilidade.
Técnicas de luta com adaga eram empregadas com precisão, enquanto ele usava a escuridão e o ambiente a seu favor para projetar seus adversários uns contra os outros, contra os espinhos e também para desferir golpes mais golpes letais. O chão tornou-se um palco viscoso e vermelho.
Enquanto balança a adaga para ataque ou defesa, sangue flui dos cortes abertos e a escuridão era invadida por uma chuva vermelha initerrupta.
As sombras dos últimos atacantes, que testemunhavam a dança mortal entre perseguidores e perseguido, resolveram agir.
Harley estava cercado por seis atacantes, suas espadas brilhando como a promessa da morte iminente. O jovem tinha conseguido chegar tão longe, tinha sobrevivido. Seu corpo era o único a realmente compreender o preço que pagou por sobreviver. Eram os últimos seis inimigos. Era a última dança. Não deixava de ser uma morte custosa para seus inimigos, pois a fera acuada recusava a ceder e cobrou um alto preço, ceifando várias vidas em seu caminho. Seu coração batia com a determinação feroz de sobreviver, mesmo que isso significasse adiar a morte por mais um instante.