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“Quando o coração do explorador está dividido entre o dever e a sobrevivência, as estrelas sussurram promessas de poder, mas cobram um preço que só é revelado no fim da jornada.”

— Fragmentos da Libertação, de Nostradamus.


Junto aos outros, Harley atravessou o portal que os conduzia ao Local Proibido. O ambiente ao redor começou a se distorcer, e uma luz ofuscante os envolveu enquanto ele era sugado para dentro da zona.

Assim que pisaram na nova dimensão, uma torrente esmagadora de estímulos sensoriais os invadiu, sobrecarregando-os completamente. 

Seus corpos eram continuamente bombardeados por objetos vindos de todas as direções. Harley, com sua experiência prévia naquele lugar, reconheceu, mesmo sem uma visão clara, que eram figuras geométricas de diversos tamanhos e formas.

A cada impacto, por um instante fugaz, o jovem se via novamente envolto em um emaranhado de linhas indistintas que partiam dele e se estendiam em todas as direções. 

Agora, ele percebia que essas linhas revelavam uma conexão que, em seu íntimo, acreditava ser o próprio destino. Uma dessas linhas o havia conduzido a Milenium, e ele sabia, com absoluta certeza, que cada uma dessas conexões fugazes poderia guiá-lo a novos destinos.

Contudo, como esperado, tanto as linhas do destino como o excesso de estímulos se  dissiparam por um brilho intenso que emanava do capacete.

Harley rapidamente se ajustou à nova percepção oferecida pelo capacete e seguiu com o grupo pela ‘Zona Inicial da Esquerda’. Ao seu redor, o cenário mutante, familiar e ao mesmo tempo desconcertante, parecia ganhar vida própria: gigantescas formas geométricas se entrelaçavam e desdobravam, deformando o espaço de maneira imprevisível. 

As figuras geométricas ao redor pareciam ter vida própria, mudando de forma e movimento de acordo com um padrão que ninguém conseguia decifrar. 

O exército, incluindo o Cônsul e Milenium, se dispersava, lutando para permanecer unido enquanto enfrentava as ameaças do Local Proibido, cada soldado sendo um especialista treinado para resistir às provações dessa missão. 

— Fiquem juntos! — ordenou o Cônsul abruptamente pelo comunicador de seu traje, enquanto tentava coordenar o grupo — Não deixem que esse lugar os desoriente!

Harley, recordando suas experiências na ‘Zona Inicial Central’, sabia que qualquer passo em falso poderia ser fatal. E para completar,  Doravan poderia ter acrescentado armadilhas no terreno com seus dispositivos tecnológicos. 

Conforme avançavam, o grupo começou a perceber as primeiras manifestações do misterioso poder da ‘Zona Inicial da Esquerda’. O tempo parecia fluir de forma irregular, desacelerando em alguns momentos e, em outros, acelerando a ponto de lançá-los adiante com uma velocidade inesperada. 

Murmúrios começaram a se espalhar entre os soldados, suas vozes abafadas pelos capacetes protetores.

Enquanto o grupo avançava, o jovem sentia uma conexão crescente com o ambiente ao seu redor. Ele sabia que, de alguma forma, talvez pelas linhas do destino que fugazmente ele conseguia perceber, estava mais afinado com o Local Proibido do que os outros. 

Era como se ele pudesse sentir as intenções por trás dos movimentos erráticos das figuras geométricas, quase como se elas estivessem tentando comunicar algo.

De repente, uma onda de energia percorreu seu corpo. Sua visão se destacou por um instante, e ele foi arremessado em uma nova realidade. 

“O que foi isso?” — questionou Harley, ao perceber que o exército havia desaparecido ao seu redor.

Ele olhou para sua mão, agora mais grossa e coberta de cicatrizes. Seu corpo também parecia diferente. 

“De quem é esse corpo?” — pensou, enquanto tocava uma barba espessa que jamais deixara crescer em seu próprio rosto.

Milenium estava visivelmente mais velha e havia perdido parte de sua beleza, mas seu olhar permanecia afiado.

— Harley, já tentamos de tudo. É melhor começarmos a aceitar que talvez nunca mais sairemos daqui — afirmou Milenium, com uma convicção que o abalou profundamente.

Ele não conseguia acreditar no que ouvia — “Como assim, já tentaram de tudo? Eu acabei de chegar aqui!” — Pensava, incrédulo. 

Novamente, outra onda de energia percorreu o seu corpo, e ele se viu transportado para outro lugar mais opaco. Milenium estava em seus braços. Sangue por toda a sua roupa.  Não se mexia.  

Desesperado, ele checou sua respiração, mas não havia mais nenhum sinal de vida. Tentou sentir a pulsação, mas também não encontrou nada. A realidade o atingiu com força esmagadora enquanto gritava com a voz embargada pela dor:

— Quantas pessoas importantes eu ainda não vou conseguir salvar? Quantas mais terei que ver morrer?

Harley respirou fundo. Ele sabia que nada daquilo poderia ser real. Precisava tentar se acalmar enquanto aguardava a próxima onda de energia que inevitavelmente o arrastaria para uma nova experiência. 

Sua mente parecia estar funcionando, mas seu corpo e reações divergiam. Ele lutava a favor da negação que brotava em sua mente, sabendo que aquilo não era real naquele momento, mas a dor da perda era inegável.

“Será que isso vai acontecer no futuro?” — ele se apegava desesperadamente a essa dúvida — “Estaria ele realmente vislumbrando o futuro, ou apenas uma das inúmeras possibilidades que sempre dependeriam de suas escolhas?”

Enquanto sua mente se debatia entre o que era real, o que era invenção e o que era possível, Harley se perguntou: “Estou testemunhando um destino inevitável ou apenas um reflexo do que pode ser, moldado por minhas decisões?”

Essa visão foi interrompida tão abruptamente quanto começou, levando-o a uma nova realidade. Respirou fundo mais uma vez, tentando se concentrar novamente no presente. Ele sabia que o Local Proibido estava jogando com eles, mostrando-lhes futuros possíveis ou invenções para desestabilizá-los. Ele precisava manter a mente clara.

Uma Milenium mais jovem se aproximou, sua voz trêmula:

— Harley, você viu isso também? Essas realidades… são assustadoras. O que é isso tudo?

— Este lugar está tentando nos confundir!  Precisamos ser fortes… — disse o jovem, com a voz firme, mas logo se arrependeu. Ele sabia, no fundo, que suas palavras não ofereciam nada de concreto.

“Como ser forte?” — se questionava internamente — “A força não era a chave para superar aquilo.”

Um sorriso amargo surgiu em seus lábios enquanto refletia sobre o conselho vazio que acabara de dar.

“Que tolice” — pensou, zombando de si mesmo — “A força sozinha não nos salvará deste pesadelo.”

Mais uma vez, a energia percorreu o corpo de Harley, arrastando-o para outra realidade. Dessa vez, tudo ao seu redor parecia se desintegrar. As gigantescas figuras geométricas que antes preenchiam o espaço agora tinham grandes buracos, levando a um vazio profundo, como se o próprio mundo estivesse se despedaçando e revelando um abismo sem fim.

O Cônsul apareceu ao seu lado. Sua expressão, marcada por uma seriedade sombria, falava antes mesmo de suas palavras:

— Perdi todo o meu exército. Não podemos mais completar a missão. Está tudo perdido!

Harley sentiu uma inquietação crescente enquanto observava o Líder da Escola de Exploradores Interdimensionais, aguardando que a próxima onda de energia o arrastasse para outra realidade. Essa era uma experiência completamente nova, algo que ele não havia enfrentado em sua visita anterior ao Local Proibido. 

As múltiplas realidades, cada uma trazendo novas possibilidades e consequências, representavam um desafio que ele jamais imaginara. Da primeira vez, ele havia lidado com perigos tangíveis, como armadilhas físicas, criaturas hostis e formas geométricas que pareciam ter vida própria. 

Mas nunca com algo tão desconcertante quanto o fluxo errático de possibilidades futuras ou criações fantásticas. Independentemente da natureza do fenômeno, uma coisa era certa: ele era diferente, mais insidioso, como se o próprio Local Proibido estivesse evoluindo, adaptando-se para testar suas habilidades e empurrá-lo além de seus limites.

Aguardando a próxima mudança de realidade, ele olhou para o vazio ao seu redor e sentiu como se estivesse olhando para o próprio abismo da desesperança. Perdido em meio a um ciclo incessante de realidades alternativas desastrosas, ele não conseguia vislumbrar uma forma de escapar daquele tormento.

Desanimado, Harley começou a refletir se aquele lugar não estava tentando lhe enviar uma mensagem sombria: “Será que, independentemente das escolhas que fizessem, o destino de todos já estava selado?” 

Cada nova realidade parecia apenas oferecer diferentes versões de fracasso, sofrimento e perda. A ideia o corroía por dentro: “e se todas as possibilidades de ação levassem inevitavelmente ao mesmo fim trágico?”

O Local Proibido parecia sussurrar essa verdade cruel, como se estivesse zombando de suas tentativas de mudar o inevitável. Harley sentiu um peso ainda maior em seu coração, questionando se havia algum propósito em continuar lutando contra um destino que, talvez, já estivesse escrito.

“Talvez…” — um pensamento começou a tomar forma em sua mente.

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