“Quando o guerreiro enfrenta o abismo, não é o medo do desconhecido que o detém, mas a dúvida do que deixará para trás. Aquele que tenta segurar todos os pedaços acaba cortado pelas arestas afiadas da indecisão.”
— O Código do Guerreiro Solitário, Verso 23.
Harley olhou em volta, procurando sentir as linhas do destino que ele sabia estarem escondidas no Local Proibido. Fechou os olhos, mergulhando em profunda concentração. Lentamente, ele começou a perceber as conexões se formando em sua mente, como fios invisíveis entrelaçados a múltiplos destinos e desfechos possíveis.
— Existem diferentes caminhos aqui — disse ele, finalmente, com uma voz carregada de convicção — Consigo sentir algumas direções possíveis. Precisamos escolher uma. Mas a maioria desses caminhos nos levará à destruição.
O Cônsul o ouviu atentamente e, depois de um breve silêncio, assentiu.
— Então, faça a escolha — disse o Líder da Escola de Exploradores Interdimensionais, sua voz firme apesar da incerteza — Confiamos em você. Até porque não temos outra solução.
Harley sabia que precisava agir rapidamente. Estendeu a mão, tentando antecipar qualquer impacto com as figuras geométricas que pudesse conectá-lo à percepção da linha mais forte.
De repente, a energia o envolveu novamente, e o mundo ao seu redor mudou mais uma vez. O cenário se transformou em uma nova realidade, e ele sentiu que essa escolha poderia ser a mais crucial de todas.
O jovem foi subitamente lançado em mais uma realidade aterradora. Ao seu redor, o exército estava em alerta máximo, com os rifles empunhados e os olhos arregalados. O solo começou a tremer violentamente, e, com um estrondo ensurdecedor, fendas profundas se abriram sob seus pés.
Dessas rachaduras, emergiram criaturas que Harley jamais havia visto: minhocas sintéticas, monstruosas, concebidas pelas mentes pervertidas de Doravan. Essas abominações rasgavam o chão com um frenesi imparável, atacando com precisão letal.
Cada movimento das criaturas resultava em uma carnificina: soldados eram decepados, agarrados e arrastados para as profundezas desconhecidas.
Gritos de dor e desespero ecoaram pelo campo de batalha, criando uma sinfonia de horror que parecia intensificar a fúria das criaturas. Harley, em um reflexo rápido, saltou para o lado, escapando por um triz de ser atingido por uma das criaturas.
Ele mal teve tempo de recuperar o fôlego antes de ver outro soldado ser brutalmente triturado por uma minhoca gigante. Os corpos dos soldados eram capturados e envoltos por essas bestas mecânicas que surgiam das sombras, como predadores inescapáveis.
Milenium lutava bravamente, mas foi pega de surpresa quando uma dessas monstruosidades emergiu diretamente sob seus pés, derrubando-a com uma força devastadora.
O Cônsul, tentando desesperadamente reorganizar as tropas, viu-se cercado e encurralado. Cada vez mais minhocas surgiam ao seu redor, tecendo uma rede de desespero e morte.
Harley se esforçava ao máximo para não ser pego ou triturado, correndo e atacando com uma ferocidade que apenas o desespero poderia proporcionar. Seus olhos fixaram-se em Doravan, que observava a cena à distância, com um olhar de fria indiferença, manipulando suas criações como um mestre cruel e sádico.
O pânico crescia dentro dele, apertando seu peito com uma força esmagadora. Ele não sabia o que aconteceria se morresse ali: “Seria esse seu fim definitivo? Sua consciência seria obliterada, ou ele seria lançado em outra realidade? A ideia de um fim absoluto o aterrorizava.”
Mas, ao mesmo tempo, uma determinação feroz se acendeu dentro dele. Ele sabia que precisava agir, que tinha que encontrar uma maneira de derrotar aquelas criaturas antes que fosse tarde demais.
A ideia de perder todos que amava o impulsionava a lutar com uma intensidade renovada. Ele jurou para si mesmo que não permitiria que essa visão de terror se tornasse realidade.
Uma vez mais, a energia envolveu Harley, e, antes que ele pudesse reagir, foi arremessado para fora daquela carnificina.
Quando a sensação de deslocamento cessou, ele se viu de volta à realidade que tinha experimentado: o campo de batalha onde o exército estava em alerta máximo, os rifles empunhados e os olhos arregalados.
O solo começou a tremer violentamente, e, com um estrondo ensurdecedor, fendas profundas se abriram sob seus pés. Minhocas sintéticas, monstruosas, novamente surgiram, atacando com a mesma precisão letal que antes.
Tudo aconteceu exatamente como da primeira vez. Os soldados eram decepados, agarrados e arrastados para as profundezas pelas criaturas de Doravan. Gritos de desespero preencheram o ar, criando uma atmosfera de horror inescapável. Harley, com um reflexo rápido, evitou ser atingido, apenas para assistir, impotente, enquanto seus companheiros eram massacrados.
Dessa vez, a sensação de déjà vu era esmagadora. Ele sabia o que estava prestes a acontecer e sabia que não podia mudar: Milenium lutaria bravamente, mas seria pega de surpresa, derrubada pela criatura que emergiria sob seus pés.
E, como esperado, o Cônsul se veria encurralado, incapaz de reorganizar as tropas, enquanto mais e mais minhocas surgiam, intensificando a carnificina.
O jovem lutava com uma ferocidade quase desesperada, seus olhos fixos em Doravan, que observava tudo com a mesma frieza cruel de antes. Mas algo estava diferente dentro dele. O pânico apertava seu peito com ainda mais força, pois ele sabia o que estava por vir.
“Será que estou preso em um ciclo interminável?” — pensou, sua mente sendo consumida por um turbilhão de pensamentos sombrios.
A energia percorreu seu corpo novamente, e ele foi arremessado para outra realidade… “ou seria a mesma?”
O cenário mudou, e, com um choque gelado no coração, Harley se viu novamente no momento da morte de Milenium. Ela estava em seus braços, o sangue encharcando sua roupa, a vida já escapando de seu corpo.
A dor era tão intensa quanto da primeira vez. Ele revivia aquele momento, sentindo o desespero, a impotência, o horror de perder alguém querido. O grito de dor explodiu de sua garganta, ecoando no vazio ao seu redor:
— Quantas pessoas importantes eu ainda não vou conseguir salvar? Quantas mais terei que ver morrer?
Antes que pudesse se recompor, a energia o envolveu novamente, lançando-o de volta à outra realidade: o campo de batalha, os rifles empunhados, o solo rachando, as criaturas emergindo. Harley estava preso em um ciclo cruel, vivendo repetidamente o mesmo horror.
Cada vez que tentava agir de forma diferente, era arrastado de volta à mesma sequência de eventos: a batalha, a morte de Milenium, o desespero esmagador.
A sensação de impotência começou a consumir sua mente. “Estou condenado a viver isso para sempre?” — ele se perguntava, a angústia corroendo suas esperanças.
Mas, em meio ao ciclo interminável, uma ideia começou a tomar forma. Talvez houvesse algo que ele não estava percebendo, um detalhe, uma escolha que poderia quebrar o ciclo.
Enquanto a energia o arrastava de volta ao início mais uma vez, ele sabia que precisava encontrar uma maneira de escapar desse loop infernal, ou estaria condenado a reviver esse pesadelo por toda a eternidade.
Harley sentiu a gravidade da decisão que estava prestes a tomar. O ciclo de realidades alternativas estava destruindo suas forças, tanto físicas quanto mentais, e ele sabia que continuar assim levaria à ruína de todos.
A cada iteração, o desespero crescia, e ele via o destino se fechar ao redor deles como uma armadilha inescapável. Mas dessa vez, ele faria algo diferente.
Quando o Cônsul apareceu ao seu lado, a seriedade estampada em seu rosto, o jovem já estava decidido. A expressão do Líder da Escola de Exploradores Interdimensionais, marcada pelo cansaço e a perda, parecia resumir todo o peso do momento.
— Perdi todo o meu exército. Não podemos mais completar a missão. Está tudo perdido! — disse ele repetindo a declaração escutada tantas outras vezes.
Harley sabia que não poderia permitir que essa realidade se repetisse novamente. O tempo de hesitar havia acabado.
— Precisamos sacrificar uma das realidades — disse o jovem com uma voz carregada de determinação — Se continuarmos tentando manter todas as linhas temporais intactas, ficaremos presos aqui para sempre. Mas se escolhermos uma realidade e abandonarmos as outras, poderemos escapar.
O Cônsul, inicialmente surpreso, estreitou os olhos, tentando entender o que o jovem queria dizer.
— O que você quer dizer com sacrificar uma realidade?
— É uma escolha difícil — Harley respondeu — Mas algumas das realidades que vimos não são nada mais do que possibilidades. Não podemos segui-las todas. Precisamos escolher um caminho e abandonar os outros, mesmo que isso signifique deixar para trás algumas de nossas próprias versões.
Milenium, ao ouvir isso, respirou fundo, preparando-se para o peso da decisão que estava por vir.
— Você está certo disso? — perguntou o Líder da Escola de Exploradores Interdimensionais.
— Não! mas temos outra alternativa? — perguntou, tendo o silêncio prolongado como resposta tanto do Cônsul como de Milenium.
— Precisamos fazer algo. Alguma coisa ou vamos ficar assim indefinidamente! — afirmou Harley interrompendo o silêncio.
— Então, o que devemos fazer e qual caminho devemos seguir? — perguntou ela, com a voz carregada de preocupação.
O jovem fechou os olhos, concentrando-se intensamente. Ele havia experimentado a conexão com as linhas do destino antes, mas agora, as múltiplas opções pareciam se enredar, formando um emaranhado quase intransponível.
Cada escolha trazia consigo uma miríade de consequências, mas ele sabia que não poderia hesitar. Sentindo a linha mais forte entre todas, ele a agarrou e, com uma força decidida, puxou-a, fazendo sua escolha final.
No momento em que tomou essa decisão, uma onda de energia pulsou através dele, reverberando pelas realidades ao redor. As figuras geométricas que preenchiam o espaço começaram a desintegrar-se, fragmentando-se em milhares de partículas de luz que logo desapareceram.
O chão tremeu violentamente, e Harley sentiu uma pressão crescente em seus ouvidos, como se o próprio ar estivesse sendo consumido por um vácuo. Ele sabia que o mundo estava mudando ao seu redor, respondendo à sua escolha.
Então, em um instante, tudo ficou em silêncio.