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“A única certeza constante são as tempestades e antes que elas cheguem, sempre existe um momento de paz, um respiro tranquilo que nos permite refletir sobre o que está por vir. E é nesse momento que o verdadeiro guerreiro afia sua adaga e fortalece seu espírito.” 

O Código do Guerreiro Solitário, Verso 83.


Os olhos de Harley permaneciam fixos na comitiva que acompanhava a garota chamada Milenium, enquanto eles atravessavam o saguão inicial da Academia de Combate Tradicional. 

Ao contrário das outras pessoas, Milenium parecia não se importar com o ambiente ao seu redor, passando como uma figura distante, acima do mundo. Não era soberba ou arrogância, mas sim uma indiferença que deixava ele intrigado, como se estivesse fazendo algo contra sua vontade.

Quando Milenium deixou o saguão, Harley olhou para Aurora e a viu encará-lo, como se tivesse acompanhado todas as suas expressões. Um pouco envergonhado, o jovem coçou a cabeça e disse: 

— Desculpa! Acho que perdi um pouco da compostura.

Aurora respondeu de forma direta:

— Não só a compostura, mas a dignidade — e olhando para todo o saguão ela completou — e pelo jeito não foi só você.

Todos no saguão, homens e mulheres, tinham interrompido suas atividades para acompanhar atentamente a trajetória de Milenium. 

Era como se uma procissão silenciosa se desenrolasse diante deles, cada passo dela sendo observado com uma reverência silenciosa, como se estivessem testemunhando a aparição de uma entidade superior, um acontecimento efêmero e único que merecia ser absorvido ao máximo.

Harley refletia consigo mesmo que Milenium era verdadeiramente encantadora. Mesmo desconsiderando sua influência naquele mundo ou suas credenciais familiares, sua simples presença era tão cativante que deixava qualquer um maravilhado.

Aurora quebrou o silêncio com uma pergunta direta: 

— Você gostou dela?

O jovem percebeu que a pergunta tinha profundidades que ultrapassavam sua aparência superficial. Era como se a garota estivesse indagando se ainda havia espaço para esperança em sua relação, ou se ele apenas se deixava levar pela beleza externa. 

Diante disso, Harley sentiu-se desconcertado, como se estivesse sendo desnudado por Aurora, revelando seu interior através de gestos simples, desde seu olhar até aquela questão direta. Nesse momento, ele reconhecia sua impulsividade e irracionalidade, enxergando-se como um dos animais que havia sido criado em sua antiga tribo, regidos apenas por cheiros e impulsos.

Ele coçou a cabeça novamente, sem saber ao certo o que responder. Finalmente, depois de um momento de silêncio tenso, ele disse:

— Existem coisas que não controlamos… 

A frase pairou no ar, sem mais explicações. Era como se ambos soubessem que havia muito mais em jogo do que simplesmente uma atração física. Era uma jornada de autoconhecimento e entendimento das complexidades do coração humano. 

Finalmente, após assimilar a nova realidade revelada em apenas alguns minutos, Aurora falou como se estivesse preparando Harley para o que estava por vir:

— Ela está destinada a assumir a Escola de Exploradores Interdimensionais. Eles são o epicentro do poder neste mundo. Desde princesas a líderes guerreiros, magos e exploradores, não há uma única alma viva que não almeje sequer um vislumbre.

— Entendo o que quer dizer. E agradeço pela atenção — Harley entendia que aquela garota ao seu lado, mesmo com sua decepção, ela ainda estava tentando ajudá-lo. Ele sabia agora que sua busca por Milenium seria o mesmo que me lançar em precipício com a única garantia da queda e do fim trágico. 

O jovem captou a mensagem implícita por trás das palavras de Aurora. Com gratidão, respondeu:

— Compreendo o que está tentando me dizer. E agradeço pela sua preocupação.

Ele reconheceu o esforço de Aurora, Harley entendia que aquela garota ao seu lado, mesmo diante de sua própria desilusão, mesmo com sua decepção diante da sua postura, ainda estava tentando ajudá-lo. Agora, ele sabia que perseguir Milenium seria como se lançar em um abismo, com a certeza apenas da queda e do fim trágico.

Os dois avançavam pelo saguão, alimentando a crescente expectativa de Harley a cada passo dado. Seu fascínio pelas formas, técnicas e estratégias de combate só se intensificava, impulsionando-o para frente com uma curiosidade voraz.

O jovem tinha algumas crenças que, de certa forma, permeavam sua percepção, e ele estava ciente disso. Para ele, por mais eficaz que fosse qualquer treinamento, nada se compararia à experiência de uma batalha real. Um combate verdadeiro era muito mais do que uma simples simulação; era uma imersão completa na verdadeira adrenalina da luta pela vida. 

Assim, a cada passo dado ele ansiava por ver os métodos de treinamento desse mundo. Ele ansiava por descobrir até onde os limites seriam testados. Ele queria observar como as características individuais seriam moldadas e, sobretudo, como o inesperado e o desafiador eram simulados. 

Em essência, Harley tinha a intenção de descobrir se o campo de treinamento era meramente uma distração superficial ou uma representação autêntica da brutalidade e da imprevisibilidade de um campo de batalha, onde a linha entre sucesso e fracasso era tênue. 

À medida que se aproximavam do fim do saguão, ele via a experiência de uma luta como uma oportunidade única para obter insights valiosos sobre as habilidades e a destreza de combate dos guerreiros desse mundo. 

Para Harley, um combate era como um resumo que revelava toda a malícia, eficácia e experiência acumuladas ao longo da vida. Ele acreditava que mesmo a observação de um breve momento de um confronto proporcionava uma compreensão profunda que dificilmente poderia ser alcançada por outros meios. 

Aurora acompanhou Harley pelo saguão até se depararem no final do mesmo com uma grande escada à frente. Do topo, ele podia observar nitidamente o design peculiar do ambiente. Redomas gigantes translúcidas estavam interligadas umas às outras em suas quatro extremidades, como se marcando os pontos cardeais. 

Cada redoma representava um mundo separado. Internamente, grupos de pessoas se dedicavam a diversas formas de treinamento, desde formações militares até combates individuais com uma variedade de armas.

— E quantos horas eles passam treinando em cada local? — perguntou Harley, visivelmente curioso com o que estava presenciando sem nem mesmo olhar para a garota.

— O tempo todo!

Notando a surpresa estampada no rosto do jovem, Aurora continuou:

 — Eles dormem e comem lá quando têm oportunidade. O treinamento é levado até o limite. 

— Então — expressou Harley, compartilhando suas suposições — ou eles adquirem os conhecimentos necessários, ou ficam presos indefinidamente até aprenderem, ou morrem no processo?

Aurora respondeu afirmativamente enquanto ele continuava a observar. O jovem percebeu também que do lado externo das redomas era entrecortado por corredores, que serviam de contorno e visualização pelo lado de fora das redomas. Esses corredores eram transitados apenas por enviados credenciados das outras escolas e do pessoal administrativo da Academia de Combate. 

Na extremidade das redomas, Aurora apontou uma área e disse:

— Ali fica o arsenal, o maior desse mundo e logicamente fechado para a maioria das pessoas. Lá é o alojamento do pessoal externo da administração. E ali é o grande salão de disputas e desafios que hoje está fechado. 

 Harley observava todos os pontos indicados pela garota e resolveu perguntar:

— E o exército formado, onde eles ficam? 

— Por questão de equilíbrio de forças, não é permitido a Academia de Combate ter exército. Todas as pessoas aqui depois de treinadas são enviadas para outros lugares. 

Harley ponderava sobre a revelação de Aurora a respeito da posição da Academia de Combate Tradicional neste mundo. 

Ele começava a compreender que, embora fosse capaz de forjar indivíduos poderosos e tivesse potencial para exercer uma influência significativa, o local não deveria desempenhar um papel proeminente nos eventos do Mundo Mágico. Era provável que fosse apenas um apêndice, assim como a Escola de Ciência e Tecnologia, refletia ele consigo mesmo.

O jovem observou que os corredores que circundavam as redomas estavam bloqueados, com um grande grupo de pessoas aglomeradas no final da escada, provavelmente devido à chegada de Milenium.

— Quem são todas essas pessoas? — perguntou Harley, intrigado.

— São líderes de outras escolas e representantes de grupos importantes — explicou Aurora — eles costumam vir para acompanhar o progresso de seus membros e observar os avanços dos indivíduos das outras instituições.

Harley refletia que a balança de poder e influência era constantemente medida e avaliada e que o equilíbrio de poder entre as instituições deveria ser algo delicado. 

— Parece sensato voltarmos em um momento mais propício — sugeriu ela, interrompendo o fluxo de pensamento do seu companheiro — a visita de Milenium paralisou tudo aqui.

Harley assentiu em concordância, e Aurora logo fez outra sugestão:

— Que tal irmos para a Escola de Exploradores Interdimensionais? Com a ausência de Milenium, deve estar bem mais tranquila do que aqui.

Os dois retornaram ao invólucro de transporte e partiram. Depois de pouco tempo, Aurora anunciou que faria uma parada, surpreendendo Harley.

— Vou fazer uma parada aqui. Sempre que posso, gosto de ver o segundo pôr do sol do dia. É mais amplo e bonito do que o primeiro.

Parando o veículo, eles contemplaram o espetáculo do segundo pôr do sol. Harley ficou maravilhado com a visão, incapaz de lembrar de ter tido um momento tranquilo como aquele para apreciar a paisagem. 

Em sua jornada, sempre enfrentara perigos constantes, correrias e batalhas ininterruptas. Agora, porém, ele sentia algo novo, uma sensação de não ser obrigado a correr ou lutar. Era como se, pela primeira vez, pudesse ter controle sobre uma parte do seu tempo. 

Harley nunca tinha parado para apreciar nenhuma cena bucólica ou mudança climática; sempre reagiu, seja se protegendo do frio, buscando abrigo em dias quentes ou enfrentando condições adversas nos treinamentos para superar seus limites. 

Ele olhou para Aurora e agradeceu mentalmente à garota pela surpresa. Por proporcionar-lhe aquele momento de tranquilidade, o mais bonito que já experimentara até então.

Enquanto estavam imersos na beleza do momento, uma grande som ecoou:

— Cabrum!

A explosão colossal foi acompanhada por um tremor leve que sacudiu o solo sob seus pés. Harley e Aurora se viraram imediatamente na direção do estrondo, apenas para testemunhar a Academia de Combate Tradicional sendo engolida pelas chamas.

A explosão tinha sido tão poderosa que deixara toda a estrutura da Academia de Combate Tradicional em ruínas, com chamas altas consumindo tudo em seu caminho. Os destroços voavam pelo ar. O cenário era de devastação total.

Eles permaneceram ali, momentaneamente paralisados, observando a tragédia se desdobrar diante deles, sem palavras para expressar a magnitude do que estavam presenciando. A Academia de Combate Tradicional, um símbolo de treinamento e aprendizado, agora estava reduzida a cinzas e destroços fumegantes.

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Olá, eu sou Val Ferri Sant. Ana!

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