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Doravan continuava manipulando o pequeno objeto em suas mãos, ajustando as imagens projetadas com maestria. Harley observava, com uma sensação distante de perda ainda presente. O jovem equilibrava-se entre a realidade presente e suas emoções, de modo que mal estava prestando atenção direito nas projeções, ao mesmo tempo em que fugia de suas lembranças. 

Harley sabia que se ele olhasse mais atentamente para dentro de si, sentiria mais intensamente o quanto era decepcionante recomeçar. Depois de ter trilhado toda uma trajetória cheia de obstáculos para, no final, depois de ganhar algum poder, perder tudo, inclusive um braço, e ter que recomeçar. 

A lembrança de ter conseguido manipular ao seu bel prazer uma quantidade imensurável de Energia Sombria e ter todo aquele poder sobre o seu controle, para agora estar retornando a apenas habilidades marciais e armas que eram apenas extensões um pouco maiores de seus ataques, era realmente frustrante. 

No entanto, Harley não tinha com quem reclamar, pois todas as consequências eram fruto de suas ações e escolhas. Arranjar um culpado como desculpa ou ficar paralisado não resolveria ou o ajudaria em nada. 

Assim, ele tinha que prosseguir. Estava novamente recomeçando e recomeçaria quantas vezes fosse necessário, pois o universo, a cada novo passo seu, mostrava-se maior do que suas expectativas, e ele tinha muito o que conhecer, viver e enfrentar.

Harley decidiu deixar para trás o que tinha perdido e focar no que poderia obter no momento. Com essa nova determinação, ele começou a bloquear suas lembranças e sentimentos para concentrar-se mais no que estava diante dele. 

Com olhos renovados, observava a variedade de armas que surgiam diante de seus olhos. Desde objetos familiares, como espadas e lanças, até formatos mais estranhos e peculiares que despertavam sua curiosidade sobre os possíveis poderes ou usos desses artefatos incomuns.

Ao longo de sua vida, o jovem mostrou-se mais do que apenas um guerreiro, revelando-se também um ávido pesquisador. Nos momentos em que não estava treinando ou lutando, ele dedicava-se à busca de conhecimento que pudesse aprimorar suas habilidades ou expandir sua compreensão do mundo. 

No passado, Harley dedicou-se à exploração dos escritos antigos sobre artefatos e a fabricação de armas. No entanto, o que ele presenciava ali era algo de uma magnitude completamente diferente. Era como comparar a jornada de um metro com a travessia de milhares de milhas. 

Contemplar todas aquelas armas o levava a uma conclusão: os armamentos poderiam servir como uma transição segura até que ele recuperasse o verdadeiro poder que existia nas dimensões e que ele já havia experimentado.

Enquanto Harley se perdia em sua contemplação, uma variedade de armas foi projetada diante dele, dispostas em cinco colunas, cada uma contendo sete equipamentos.

Assim que as imagens das armas permaneceram suspensas no ar, exibindo suas características como se fossem armas reais, ampliadas em tamanho, Doravan finalmente quebrou o silêncio, como se tivesse chegado a uma conclusão em sua mente:

— Infelizmente, não temos muito tempo agora para testar o melhor equipamento. Você usa uma adaga, não é?

Harley confirmou com um aceno de cabeça, e Doravan continuou: 

— Eu tenho a arma ideal!

As projeções das imagens mudaram, fazendo todas as outras armas nas colunas desaparecerem, deixando apenas em destaque uma adaga de curvas afiadas, brilhando em prata.

— Esta é uma adaga furtiva que pode ser solidificada instantaneamente para ataques rápidos com o simples pensamento: ‘Adaga’— explicou Doravan.  

Ele ampliou a imagem da adaga, girando-a lentamente, antes de continuar:

— E o melhor é que ela pode usar o poder da sua dimensão de origem.

— Como assim? — perguntou intrigado, Harley.

Doravan respondeu pacientemente: 

— De forma simplificada, as partículas fundamentais que compõem tudo são como pequenas cordas vibrantes. Cada indivíduo possui uma assinatura energética única, intrinsecamente ligada à sua dimensão de origem.

O professor olhou para a adaga, em seguida para Harley, como se buscasse a melhor maneira de explicar, e continuou:

— A lâmina atua como um condutor que sintoniza as vibrações das cordas, estabelecendo uma conexão com a dimensão de origem da pessoa. Essa ligação permite canalizar a energia mágica exclusiva dessa dimensão para a lâmina, fortalecendo-a e concedendo poderes mágicos ao usuário.

Diante da expressão confusa de Harley, Doravan disse: 

— Eu sei que o conceito é complexo, mas o fascinante é que a qualidade e quantidade dos poderes canalizados na arma sempre dependem do usuário. Vamos testar?

A imagem da adaga começou a solidificar-se enquanto diminuía de tamanho, avançando em direção a Harley. Ele a segurou, ponderando o peso, a sensação em sua mão, e executou movimentos curtos com a lâmina para testar sua agilidade.

O jovem, envolto em curiosidade, não fazia ideia da dimensão de onde vinha nem dos poderes que poderia obter de sua terra natal. Com olhos brilhantes, ele questionou:

— Como ativo o poder?

— Por padrão, minhas criações podem ser acionadas por pensamentos como a própria adaga. Então pense: ‘Demonstração’ — respondeu prontamente, Doravan. 

Harley, segurando a adaga firmemente, concentrou-se na palavra e, de repente, a arma emitiu uma leve vibração. Três imagens surgiram projetadas em uma coluna à sua frente, cada uma revelando uma habilidade única.

O professor, por algum comando desconhecido, ampliou a imagem projetada da adaga. O professor parecia surpreso ao mesmo tempo que observava atentamente a tela do objeto quadrado em suas mãos, indicando que ali havia informações diferentes das projeções que emitia.

— Então você não vem da dimensão sombria — murmurou para si mesmo — essa Energia Sombria em você é um ente externo que se associou a você. Interessante.

Tirando a atenção do pequeno objeto quadrado e luminoso em suas mãos, o professor finalmente olhou para Harley e prosseguiu:

— Que habilidades magníficas seu mundo natal propiciou — disse Doravan, seu olhar satisfeito dirigido ao jovem antes de voltar sua atenção para a imagem projetada. 

— Qual é o poder do meu mundo natal? — perguntou Harley, demonstrando grande interesse. 

— Surpreendentemente, é uma dimensão artificial criada e registrada por meu mestre — respondeu Doravan um pouco emotivo — no momento oportuno, falarei mais sobre isso. O importante agora é entender a vibração única dessa dimensão e os poderes que ela possibilita.

Ampliando ainda mais a imagem da adaga projetada, ele destacou as características da mesma:

— Os golpes dessa arma mesmo quando defendidos causam uma redução na reação dos adversários. É como se no choque da arma apagasse a memória recente do adversário, fazendo com que ele tenha que repensar sua próxima ação do zero.

— Além disso — continuou após uma pausa avaliativa — as perfurações ou cortes resultam em uma breve paralisia do adversário, que se intensifica a cada novo ferimento. 

Em seguida, a primeira imagem projetada da adaga retornou ao seu tamanho normal, enquanto outra projeção da mesma adaga se destacava e se ampliava. 

Ao invés de Doravan explicar verbalmente, Harley testemunhou as informações sendo transmitidas pelas imagens. A projeção ganhava vida diante dos seus olhos. Ele via a adaga emitir uma névoa misteriosa, que começava a envolver as projeções dos oponentes, obscurecendo suas mentes e sentidos. Os inimigos projetados começavam a lutar entre si.

— Pensando: ‘Névoa’ você aciona essa habilidade de uso único — explicou, Doravan — se acionada, a adaga só poderá ser usada novamente depois de 20 horas. No entanto, em contrapartida, ela provoca uma inversão temporária na capacidade das pessoas envolvidas de distinguir amigos de inimigos quando expostas à névoa.

Enquanto observava a projeção e escutava as palavras do experiente professor, Harley compreendeu que essa habilidade oferecia uma vantagem tática única. Ele percebia que o portador poderia escapar de situações perigosas ou criar oportunidades para atacar.

— E por fim — disse Doravan, enquanto a segunda imagem projetada da adaga voltava ao tamanho normal e outra projeção da mesma adaga se destacava e ampliava — com o pensamento ‘Extrair’, depois de perfurar alguém, você ativa mais uma habilidade de uso único. Com ela, pode acessar as memórias formadas nas últimas doze horas.

Harley ficou impressionado ao ver como essa habilidade permitia ao portador insights valiosos sobre os planos e intenções dos inimigos, fornecendo uma vantagem estratégica significativa em combate.

Ele observava cada habilidade com fascinação e ponderava sobre o potencial da adaga. Com essas novas possibilidades à sua disposição, ele se sentia um pouco mais confiante para enfrentar o desafio que estava por vir.

— Agora, me acompanhe! Enquanto nos dirigimos ao ponto de encontro, há algumas coisas que ainda preciso discutir com você.

Ao chegarem à entrada do Departamento de Ciência e Tecnologia, onde estava estacionada a carroça de transporte do professor, Harley e Doravan subiram a bordo. Mal tinham começado a se acomodar quando o jovem testemunhou uma transformação notável em sua volta. 

A carroça, antes feita de madeira branca e puxada por criaturas artificiais, começou a se desmontar diante de seus olhos. Os animais azuis e cinzas, meticulosamente construídos, como construções artificiais não demonstraram nenhuma reação enquanto a estrutura de madeira se desfazia em pequenos fragmentos dispersos. 

Uma aura brilhante de energia branca envolveu os animais, moldando-os como peças que se encaixavam perfeitamente. Gradualmente, a energia se condensou em torno deles, formando um invólucro cilíndrico que agora era uma cápsula energética usada como transporte habitual no Mundo Mágico.

— Vamos precisar de toda velocidade possível — disse Doravan, sua expressão tensa denotando a urgência da situação — o nosso alvo está se aproximando do Local Proibido. 

Essa parte do nosso mundo é formada por fragmentos de energia, distorções espaciais e formações mortais, além de ser o elo de possível ligação entre o Mundo Sombrio com a dimensão sombria que fica em baixo e com a dimensão desconhecida que fica acima do nosso mundo.

O professor deslizou os dedos pela tela holográfica à sua frente, dando alguns toques precisos em pontos específicos. Para Harley, aquilo não passava de movimentos sutis, mas agora, após suas experiências passadas, ele começava a compreender. 

Cada toque eram comandos que traçavam a trajetória para o veículo seguir, indicando direções e ajustes necessários. Subitamente, Doravan apontou para um lugar na tela e disse:

— Ninguém que entrou nesse vale retornou, então temos que capturá-la antes de que ela alcance ou entre no Local Proibido.

Doravan olhando com um semblante sério continuou: 

— Precisamos capturar a Guardiã Sombria viva. É fundamental descobrir seus motivos, colaboradores e intenções por trás da grandiosidade da agressão erigida contra o Mundo Mágico.  

Enquanto escutava os detalhes da missão que empreenderia com Doravan, Harley entendia que a destruição causada pela Guardiã Sombria era algo sem precedentes e suas consequências poderiam ser devastadoras para o Mundo Mágico em diversos aspectos, desde a hierarquia de poder até as relações sociais e as políticas de segurança.

— Toma — Subitamente, o professor entregou ao jovem uma pulseira grossa, contendo três botões, semelhante à que ele próprio usava em seu braço esquerdo — esta missão será muito perigosa, e você precisa estar mais preparado, mesmo que seja com um protótipo instável e ainda incompleto.

Por trás das palavras do professor, Harley captou o quão arriscado devia ser a utilização desse armamento em desenvolvimento. No entanto, o fato de seu braço esquerdo artificial ser constituído de Energia Sombria lhe concedia uma vantagem, pois poderia minimizar os riscos. 

Era provável que Doravan também tivesse previsto essa característica. Essa generosidade encontrava sua explicação na necessidade do professor ter uma cobaia perfeita para explorar e exibir todo o potencial desse armamento, além de desvendar os segredos ocultos da Energia Sombria.

Antes que Harley pudesse falar qualquer coisa, Doravan continuou explicando sobre as funcionalidades da pulseira.

— Com essa pulseira, você terá um catálogo projetivo com várias armas divididas em conjuntos, mas só poderá equipar 3 armas. Uma para cada botão — disse Doravan, enquanto revelava os agrupamentos das armas — ao clicar no botão, você aciona a arma escolhida. Simples assim. 

Harley entendeu a mecânica, mas estava preocupado com a eficácia e a estabilidade desses armamentos. No entanto, não podia negar que eles ofereciam uma oportunidade única para aumentar suas chances de sucesso na missão. 

Ele olhou para a pulseira, ponderando sobre as escolhas que teria que fazer e as decisões rápidas que teria que tomar durante o combate, mas antes de tudo isso, ele tinha que fazer a escolhas das suas 3 armas. 

Harley mergulhou na observação das projeções, absorvendo cada detalhe das divisões que delineavam os conjuntos de armas disponíveis. Mentalmente, ele repetia os nomes dos conjuntos, fixando-os em sua mente enquanto avançava para o próximo: ‘armamentos estratégicos’, ‘armamentos de múltiplos impactos’ e ‘armamentos ofensivos pesados’, ainda fora de seu alcance conforme especificado na projeção. 

Passando para as próximas opções, Ele notou o conjunto de ‘armamentos holográficos’, ainda não implementado, registrando mentalmente a informação. ‘Por fim, posso escolher 3 armas entre os conjuntos: ‘armamento tático’, ‘armamento de perseguição’, ‘armamento especializado’, ‘armamento para infiltração’, ‘armamento defensivo’ e ‘armamento anti magia’

Harley teve sua concentração novamente interrompida pelo professor enquanto tentava compreender a extensão de seu novo arsenal.

— Um último detalhe. Essa é uma arma de uso único. Depois de usadas as três armas, ela se autodestruirá — explicou Doravan, esfregando as mãos com visível hesitação antes de continuar — caso ela mude de cor e comece a emitir uma vibração forte, você também deve se livrar dela o mais rápido possível, pois se transformará em uma bomba destrutiva.  

O jovem assentiu, impressionado com as funcionalidades da pulseira. Era uma arma poderosa que certamente seria útil em sua missão.

— E qual o efeito dessa destruição? — perguntou Harley. 

— Grande! Bem grande — respondeu Doravan, deixando a resposta vaga.

— Outra coisa, professor — disse Harley curioso com um detalhe importante — a energia mágica para fazer essas armas funcionarem está contida nesta pequena pulseira?

— Realmente, esqueci de mencionar esse detalhe crucial — disse o professor enquanto fazia surgir uma projeção de uma grande bateria como para reforçar as palavras que viriam a seguir:

— Como você pode ver. Normalmente, você teria que carregar essa grande bateria com energia em suas costas, o que tornaria essa arma pouco prática. Diante da necessidade do momento, eu fiz uma gambiarra — Doravan riu brevemente antes de continuar — é uma tentativa! Mas pelas minhas medições, acredito que a Energia Sombria dentro de você é substancial o suficiente para servir como fonte de energia. Na pior das hipóteses vai só acelerar a destruição da arma. 

Olhando para o jovem à sua frente, Doravan não apenas via uma oportunidade para testar seu protótipo, mas também uma chance de avaliar o verdadeiro potencial dele durante essa missão.

Por outro lado, com as informações recebidas, Harley sentiu-se apreensivo. Já que, ele reconhecia a necessidade premente de obter mais poder e habilidades para enfrentar a Guardiã Sombria em igualdade de condições. 

Em contrapartida, ele também tinha consciência de que o uso da nova arma representaria um risco para sua própria segurança, além de acarretar uma diminuição de sua Energia Sombria, cuja extensão desconhecida era motivo de grande preocupação. Era uma sensação de perda que o perturbava profundamente.

Com o olhar perdido no vazio, Harley refletia sobre a iminente batalha que teria de enfrentar novamente contra a Guardiã Sombria. Ele compreendia que sua prioridade era sobreviver a qualquer custo e que um aumento de poder seria crucial para isso.

Com essa clareza em mente, ele fez suas escolhas, auxiliado pela projeção que visualmente delineava as características e limitações de cada arma. Com a missão firmemente estabelecida em sua mente, ele optou por uma ‘Barreira de Contenção’, um ‘Multiplicador Holográfico’ e um ‘Drone’.

— Estamos nos aproximando — disse Doravan, enquanto a cápsula de transporte desacelerava, aproximando-se de uma grande distorção que se assemelhava a um janela de entrada para uma mistura contratante de cores e densidades. 

A viagem foi breve e, felizmente, Harley conseguiu escolher as três armas durante o curto trajeto.

O invólucro de transporte parou ao chegar ao ponto de encontro designado. O jovem, ainda dentro da cápsula, observou a entrada do Local Proibido e se deparou com um cenário inesperado.

Em vez da agitação frenética de pessoas em movimento, tentando diminuir a distância e localizar a Guardiã Sombria, encontrou um grupo de pessoas paradas. Entre elas, uma em particular chamou sua atenção: Milenium.

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Olá, eu sou o Val Ferri Sant. Ana!

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