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Eu não conseguia entender. Deveria odiar meu irmão, mas minhas emoções estavam descontroladas. Sentia-me triste e com raiva da situação e de mim mesmo. Meu estômago estava ficando cada vez mais quente, uma sensação de fervor que queimava dentro de mim.

— O que foi que disse, muleke?! — questionou enquanto pegava meu cabelo com força.

— Argh!

— Repete se tiver coragem. — Levantou-me com firmeza, meus pés perdendo o contato com o chão. — Não vai repetir? — Desferiu um golpe forte em meu estômago.

Minha temperatura começou a subir ainda mais, e uma dor imensa tomou conta do meu estômago, como se estivesse em chamas, em perfeita sintonia com a intensidade da minha raiva. Não sabia ao certo, mas parecia que estava me influenciando avassaladoramente.

Eu vou te matar! Eu vou te matar! Eu vou te matar!!!

Eu não tinha controle da minha própria mente; sentia-me completamente descontrolada.

Irmão, por quê? Por que eu estou assim? Eu não entendo.

Eu já podia sentir meu corpo queimando por dentro, a sensação de calor aumentando a cada segundo. Minha respiração tornou-se mais intensa, como se cada inspiração exigisse um esforço sobre-humano. Eu ficava sem fôlego rapidamente, como se o ar estivesse fugindo de mim.

— Que foi? Essa doeu? Saiba que estamos só começando!!

— Pare…

— Hum!

— De… fazer isso. Eu vou te matar… desgraçada.

Eu não queria dizer isso.

— Que sorriso foi esse, você está me desafiando? — desferiu várias chapadas em mim.

— Kiaaaaaaaaahhhhh! — Eu não suportava mais aquele calor.

— Quê?

— Eu vou te matar! Desgraçada!!!

Essas minhas ações não paravam. Antes, eram apenas pensamentos tumultuados em minha mente, mas agora verbalizava cada uma delas. Será que essa era minha verdadeira natureza, finalmente emergindo das sombras do meu ser?

— Desisto, vou dizer que você morreu — afirmou enquanto coçava a cabeça com raiva. — Adeus, muleke.

Ouvindo essas palavras, aquele fogo me consumia por dentro pareceu sair do controle, e eu pude sentir a mesma sensação de queimação que experimentei na sala do fogo. Antes, esse calor era apenas interno, mas agora eu estava literalmente queimando por fora, como se as chamas da minha própria raiva tivessem encontrado uma saída física através da minha pele.

— Que porra é essa, estás em combustão? Mas não eras uma simples desc… — Antes mesmo que pudesse terminar de falar, meu instinto tomou conta de mim e eu saltei sobre ela, agarrando-a com firmeza.

— Morra!!!

— Ahhhhh!

Minha chama cresceu ainda mais, e eu percebi que não tinha controle de nada. Mas, curiosamente, não estava triste. Pelo contrário, sentir aquela mulher gritando de dor a cada instante me deixava feliz.

— Kiakiakiakia!!!

Minha risada não parava, ecoando pelo ambiente de forma quase ensurdecedora. Eu gostava bastante da sensação de poder e controle que a situação me proporcionava.

Irmãozão, eu te amo! Eu te amo! Eu te amo!

— Te amo, te amo, te amo, te amo!!!

Continuei pensando e dizendo essas coisas. Talvez lá, no fundo, eu nunca realmente odiei meu irmão. Era uma revelação estranha, mas, ao mesmo tempo, libertadora.

Estranho, eu me sentia sonolenta, como se uma paz reconfortante estivesse tomando conta de mim. Meus olhos se fechava lentamente, e uma sensação de relaxamento profundo se espalhava por todo o meu corpo. O que seria isso? Eu não conseguia controlar, mas era uma sensação tão agradável, tão familiar. 

De repente, percebi: era como quando meu irmão cantava uma música de ninar para mim, acalmando-me e levando-me suavemente para o mundo dos sonhos.

🎵Dorme, minha irmãzinha, dorme sem parar,

O irmãozão vai dormir, também vai descansar.

Dorme bem tranquilo, sonha com amor,

Dorme bastante, dorme, para ser a melhor.

No céu as estrelinhas brilham só pra ti,

Feche os olhinhos, deixa a noite te cobrir.

Amanhã será um novo dia, cheio de esplendor,

Dorme, minha irmãzinha, dorme com fervor.🎵


Acordei em um lugar diferente da minha nova casa, e a familiaridade do ambiente me trouxe lembranças da cama em que eu repousava enquanto me recuperava das feridas causadas na sala do fogo. Não tinha ideia de como havia chegado, mas era evidente que alguém me trouxera até ali.

— Meu destino já foi decidido.

— Hum? — Olhei para o lado, avistei meu irmão.

O que meu irmãozão estava fazendo ali? Não estava morto. Será que voltei no tempo? Não conseguia compreender completamente, mas uma onda avassaladora de felicidade tomou conta de mim. Lágrimas começaram a se acumular em meus olhos e, em seguida, escorrer pelo meu rosto. Agora eu teria finalmente a chance de me desculpar, de fazer as coisas certas e reparar os erros do passado.

— Irmãozão, eu não te odeio. Eu te amo, me perdoe!

— Sei que vais continuar me odiando por causa disso, mas eu não aguento mais. Então isso é um Adeus.

— Irmãozão? Do que estas falando? Não precisas mais ir, eu não te odeio mais. Eu te amo!

— Mas saiba, o irmãozão aqui sempre vai te amar.

O que está acontecendo? Meu irmãozão não está me escutando.

— Continua dormindo? Bem, até a próxima. Irmãzinha — disse enquanto acariciava meu rosto com ternura.

Ele se levantou e, sem dizer uma palavra, deu meia volta e começou a andar.

— Irmãozão, me escuta, não vai embora, eu estou aqui. Por favor, não vai embora! Irmãozão!!!

Com um esforço, consegui me levantar, mas o cenário ao meu redor mudou drasticamente. Agora eu estava em um quarto, com várias camas espalhadas. Meu olhar foi atraído para uma pessoa deitada na cama, completamente enfaixada. Foi então que a realidade me atingiu: o lugar anterior era apenas um sonho.

Lágrimas começaram a escorrer pelo meu rosto enquanto soluçava e chamando pelo nome do meu irmãozão. A cruel realidade do que perdi inundou minha alma, deixando-me submersa em um oceano de dor e arrependimento.

— Cala boca, muleke!

— Hum?

— Lembre-se. Quando eu sair daqui, vais ser a primeira que matarei!

A pessoa exclamou aquelas palavras e, em seguida, caiu em silêncio, sem proferir mais uma única palavra. Reconheci imediatamente aquela voz inconfundível. Ver essa pessoa naquele estado lamentável despertou em mim uma mistura de sentimentos contraditórios. Embora sentisse uma certa satisfação por vê-la assim, também estava tomada pelo medo do que o futuro poderia reservar. Eu sabia que, quando ela saísse daquele estado, viria atrás de mim para me matar.

Apesar disso, levantei-me da minha cama. Surpreendentemente, eu me sentia bem, mesmo após ter sofrido queimaduras terríveis. Eu ainda tinha meus cabelos, e meu corpo estava completamente curado, mas minha roupa resistente ao calor desapareceu e agora estava vestindo um vestido branco. 

O tempo parecia irrelevante agora. O que importava era que eu tinha que terminar o que comecei. Subi em outra cama e deitei sobre o meu alvo, pronto para concluir o que quer que fosse necessário.

— O que pensas que estás fazendo?

Sem emitir uma única palavra, minhas mãos se encontraram em volta de seu pescoço, iniciando um aperto firme. Cada pressão era impulsionada por uma torrente de emoções que fluíam dentro de mim, uma mistura densa de raiva, medo e determinação.

— Sua desgraçada, eu vou te matar!!!

— Não, eu que vou te matar.

Eu apertava com toda a força que meu corpo de sete anos podia reunir, mas sabia que não era suficiente para encerrar a vida dela rapidamente. Mesmo assim, eu persistiria. Não permitiria que saísse dali viva para me caçar e me matar.

Decidi naquele momento que viveria e mudaria o meu destino. Não deixaria que eu sofresse o mesmo destino que meu irmãozão. Eu sabia que ele desejava o mesmo. Por isso, aquela mulher tinha que morrer. Era uma decisão que eu tomava com determinação, alimentada pela promessa de um futuro diferente para mim.

— Por favor, não me mate…

Eu podia sentir o desespero dela aumentando a cada segundo, mas eu não tinha a menor intenção de parar. As lágrimas começaram a umedecer as ataduras em seu rosto, testemunhas silenciosas da agonia que eu a infligia. Mesmo diante da sua angústia, eu permanecia firme em minha determinação, decidido a não recuar até que minha missão fosse cumprida.

— Meu irmãozão deve ter dito o mesmo, mas mesmo assim você o matou. Eu não terei misericórdia! Kana!!!

Continuei apertando cada vez mais, sem dar trégua. Ela parou de falar subitamente, indicando que provavelmente já estava morta. No entanto, eu não pararia até ter certeza de que sua vida se esvaíra completamente.

— Já chega, ela já perdeu — declarou alguém que colocou a mão no meu ombro com gentileza.

Olhei para trás e vi uma mulher, cuja beleza me cativou instantaneamente, um sorriso suave adornando seus lábios. Eu não a reconhecia, mas de alguma forma, sua presença irradiava uma calma reconfortante sobre mim. Num impulso inexplicável, desejei interromper o que estava fazendo. Deixei de apertar e me afastei, dirigindo-me à minha cama. Sentei-me ali e, olhei à mulher desconhecida com medo, falei:

— Eu vou ser morta?

— Não, vais viver.

— Como podes ter certeza disso?

Sorriu novamente, um sorriso que parecia carregar uma mistura de compaixão e entendimento. Se aproximou de mim e sentou-se ao meu lado. Sua presença era reconfortante, mas também intrigante. Com gentileza, falou:

— Não se preocupe, comigo aqui ninguém fará mal a você — disse e, em seguida, aproximou e segurou minha cabeça, deitando-a em suas coxas com suavidade.

A sensação reconfortante da quentura preenchia o ambiente, e eu me sentia bem, quase como se estivesse envolvido por um abraço caloroso. Era evidente que ela controlava a temperatura ao seu redor. Mas será que ela pertencia à linhagem principal? Não parecia provável, já que me disseram que eles eram arrogantes e distantes. Talvez essa mulher fosse da linhagem secundária.

— Qual o nome da senhora?

— Eu?

— Sim.

— Sou Kata. E qual seria o seu?

— I… Idalme.

— Idalme? É um belo nome. Então Idalme, me diga o que aconteceu entre vocês duas.

Eu me sentia tão à vontade na presença dela que acabei desabafando sobre toda a minha situação, desde o momento em que fui jogada na linhagem secundária. As palavras fluíam de mim como água de uma fonte, enquanto eu compartilhava minhas lutas, meus medos e minhas esperanças com essa mulher misteriosa. Era como se, ao revelar minha história, estivesse liberando um peso que carregava há muito tempo.

— Entendo, deves ter sofrido bastante para uma criança da sua idade.

— Sim.

— Sentes falta do seu irmão?

— Sim.

— Bom, Idalme. O que você planeja fazer em seguida após sair?

— Eu quero ficar forte, forte o suficiente para o meu irmãozão ter orgulho de mim.

— É uma boa causa, mas não é o suficiente. Diga, o que você realmente quer?

Eu estava confuso. O que mais queria que eu dissesse? Ser forte não era o suficiente?

— Eu… não sei.

— Claro. Kiakiakia! Ainda és uma criança. Tens bastante tempo para isso.

— Sim.

— Idalme. Escute com atenção. Sou Kata, chefe da linhagem secundaria.

— Quê? — Levantei-me surpresa do seu colo e olhei em seu rosto. Ela estava sorrindo para mim.

— Idalme. Quer ser membro da linhagem secundaria?

— Eu posso? — Lágrimas começaram a acumular no meu rosto.

— Sim, és digna. Aceitas?

— Si… sim.

Ela se aproximou de mim com delicadeza e me abraçou com ternura, como se estivesse tentando confortar uma alma aflita. O calor do seu abraço era reconfortante, e por um momento eu me permiti afundar nele, deixando-me envolver por sua presença tranquilizadora. Depois, com gentileza, acrescentou:

— Bem-vinda a linhagem secundaria.

Naquele momento, as lágrimas que eu vinha segurando desabaram livremente, como se uma comporta se abrisse dentro de mim. Meu choro ecoava pelo ambiente, minha voz soando mais alta do que nunca. Foi nesse dia que percebi que minha vida estava começando novamente. Era como se um peso tivesse sido retirado dos meus ombros, e eu estava livre para recomeçar, para encontrar um novo caminho à frente.

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Olá, eu sou Black Shadow!

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