Capítulo 31.6 — A Legião de Idun

O cabelo de Sigurd era dourado.

Os cabelos realmente macios e longos que caíam sobre seus ombros e costas pareciam um rio de ouro fluindo.

Mas, em vez de ser bonito, transmitia uma impressão forte, como fogo ou o sol.

O rosto de Sigurd era reto, como uma escultura feita de pedra. Ele não demonstrava expressão e exibia uma disciplina inabalável através do forte poder mágico em seus olhos vermelhos.

Tae Ho engoliu em seco. No momento em que encarou os olhos de Sigurd, sentiu como se uma corrente estática percorresse todo o seu corpo.

‘Sigurd.’

Tae Ho sabia sobre ele. Para ser mais preciso, era mais correto dizer que ele tinha pesquisado sobre ele.

Quem é o guerreiro mais forte em Valhalla?

Quem é o número um no ranking? Quais são as sagas que ele possui?

Era uma curiosidade natural. Era um velho hábito de Tae Ho pesquisar sobre o melhor jogador de qualquer jogo que começava e quais eram seus recordes.

‘O protagonista de uma lenda.’

Sigurd era um sucessor da família Volsungr, que herdou o sangue de Odin.

Então, obviamente, o sangue de Odin também fluía em suas veias. Isso e muito mais. Mais do que qualquer outro na família Volsungr.

Ele já estava próximo de ser um semideus desde que nasceu. Ele certamente se tornaria um grande guerreiro mesmo que não recebesse nenhum treinamento.

Mas Sigurd também recebeu treinamento adequado. Quem o treinou foi o pai dos carneiros¹, o anão Regin.

Regin era um ferreiro extraordinário que não tinha concorrentes. Por causa disso, Sigurd naturalmente aprendeu habilidades de ferreiro com ele, o que o tornou um guerreiro ainda mais forte.

Sigurd não era apenas um guerreiro que sabia manejar bem uma arma. Ele podia ouvir as vozes de suas armas, assim como os guerreiros de Erin podiam. Além disso, ele conseguia entender perfeitamente as armas de seus inimigos apenas ao vê-las uma vez.

Quando Sigurd cresceu e se desenvolveu completamente, não havia ninguém em Midgard que pudesse derrotá-lo em um duelo.

Não era exagero dizer que ele já havia alcançado o posto de guerreiro mais forte.

Mas a história de Sigurd não terminava aí.

Ele também era um mago poderoso.

O anão Regin transmitiu a Sigurd toda a magia e visões que conhecia, exceto as mais importantes.

Seu talento para a magia era completamente esmagador, ainda mais do que seu talento como guerreiro.

Porque ele tinha o sangue de Odin, o Rei dos Deuses, fluindo em suas veias.

O guerreiro mais forte em Midgard e, ao mesmo tempo, um mago.

O anão Regin realmente estimava Sigurd. Ele até disse que Sigurd era a melhor espada mágica que havia forjado.

O motivo pelo qual Regin treinou Sigurd até esse ponto não foi por amor aos seus carneiros, nem porque o talento de Sigurd era tão brilhante que ele não podia deixá-lo de lado.

Regin criou Sigurd como sua espada mágica. As histórias que eram contadas não eram comparações ou brincadeiras.

Tudo isso era para eliminar seu velho inimigo, o dragão demoníaco Fafnir².

O Matador de Dragões.

Essa era a alcunha de Sigurd.

Sigurd derrotou Fafnir, exatamente como Regin desejava.

Ele não parou por aí e prontamente derrotou outros dez dragões.

A batalha contra os dragões tornou Sigurd mais forte. O sangue dos dragões em que ele se banhou fez seu corpo forte como aço, e o coração e a carne do dragão que ele comeu lhe concederam poderes místicos.

Tudo isso aconteceu antes mesmo de ele entrar em Valhalla, quando ainda estava em sua juventude.

Tae Ho respirou lentamente. Ele podia sentir a saga de Sigurd, mesmo sem usar os ‘Olhos do Dragão’.

Ele era a própria morte dos dragões. Uma espada mágica especializada em derrubar as lendárias bestas voadoras.

A razão pela qual Adenmaha sentiu a atmosfera pesada não era apenas por causa do ar na sala. A própria existência de Sigurd fazia com que ela, pertencente à raça dos dragões, se sentisse nervosa. Esse era o Matador de Dragões, que fazia qualquer ser dracônico sentir-se sufocado apenas com sua presença.

Kalsted também tinha o sangue de dragão fluindo nele, e por causa disso, Sigurd era uma existência oposta a ele.

‘Não se acovarde. Só de olhar para as bases, você é muito mais monstruoso.’

Cu Chulainn disse, como se fosse óbvio.

Ele já sabia tanto sobre a saga quanto sobre Kalsted, assim como Ragnar.

Ragnar havia falado, e Cuchulainn concordou.

Do jeito que as coisas estavam agora, a presença de Sigurd era completamente dominadora. Tae Ho não seria capaz de se tornar um oponente para Sigurd, mesmo que lutasse com todas as suas forças.

No entanto, isso era apenas no presente.

Tae Ho lentamente liberou sua força. Ele protegeu Adenmaha, que parecia estar em dor apenas por ser observada por Sigurd. Ele segurou sua cintura, pois parecia que ela cairia a qualquer momento.

Uma cor perceptível apareceu nos olhos de Sigurd, que encaravam Tae Ho e Adenmaha sem expressão.

Tae Ho não desviou os olhos e os encarou diretamente.

Quem desviou o olhar foi Sigurd. Ele apenas desviou os olhos levemente, em vez de tentar pressionar Tae Ho e Adenmaha, liberando toda sua força. Eles não conseguiam saber o que ele estava pensando porque ele não demonstrava expressão, mas pelo menos não parecia ter qualquer inimizade com eles.

‘Parece que ele está em alerta por ela ser da raça dos dragões.’

Cu Chulainn murmurou.

Para Adenmaha, isso era algo que poderia irritá-la, mas este lugar era Asgard, e em Asgard, era senso comum que Sigurd estivesse em alerta em relação a um dragão.

Nenhum dragão sensato existia em Asgard, para não citar os dragões de gelo e fogo que residiam em Jotunheim e Muspelheim, respectivamente.

Todos os dragões nomeados que viviam nas raízes de Yggdrasil, como Nidhogg, eram malignos.

‘Também havia poucos dragões bons em Erin.’

Excluindo Adenmaha, que era da raça dos dragões e uma Deusa dos Tuatha De Danann, pode-se dizer que quase não existiam.

Na posição de Sigurd, que lutou contra dragões por toda a sua vida, ele só poderia ficar em alerta já que um guerreiro que tinha o sangue de dragão fluindo em suas veias apareceu com uma Valquíria da raça dos dragões. Não, era mais impressionante que tudo o que ele fez foi apenas encará-los.

‘Ouvi dizer que há muitos dragões bons no Templo, e eu até vi um diretamente na Grande Guerra.’

Se Asgard pertencesse à mitologia nórdica e o Olimpo à mitologia da Grécia e Roma, então o Templo pertencia à mitologia do Oriente.

Tae Ho só havia ouvido coisas de Ragnar, mas parecia que donzelas voavam em vez de Valquírias, e parecia ser um mundo onde imortais e soldados formavam um exército forte.

Tae Ho ouviu a explicação despreocupada de Cu Chulainn e se virou para olhar para Adenmaha.

“Adenmaha, você está bem?”

“Estou bem.”

Adenmaha ofegou e mal conseguiu responder. Ao olhar para Adenmaha, Tae Ho naturalmente sentiu hostilidade em relação a Sigurd.

No entanto, Adenmaha segurou seu braço. Sigurd não havia feito nada de mal e não era alguém que incomodou Adenmaha por capricho.

“Está tudo bem.”

Adenmaha reiterou sua posição, e Tae Ho assentiu. Ele respirou fundo para se acalmar e olhou para a frente.

Ele podia sentir os vários olhares que havia perdido enquanto se concentrava em Sigurd.

Eram os olhares dos comandantes.

Todos os comandantes mostravam expressões interessadas na breve troca de poder entre Sigurd e Tae Ho.

Apenas guerreiros de rank superior ou acima podiam se tornar comandantes de uma legião. Eles haviam percebido várias coisas naquela breve troca de poderes.

“Vamos começar.”

A voz recebeu uma enxurrada de olhares. Era a voz de Thor.

Ele bateu levemente no palco com Mjolnir e lançou um olhar para Freya, que encolheu os ombros e tirou o véu. Com isso, todas as conversas paralelas terminaram.

Todos na sala de conferências se viraram para olhar para Freya. Ela se satisfez com a atmosfera da sala, que ficou silenciosa, riu e depois colocou o véu novamente.

“Então, começaremos com a grande conferência.”

A Valquíria que estava de pé abaixo da plataforma onde Thor, Freya e Sigurd estavam, ergueu a voz, e todos os comandantes e Valquírias se sentaram em seus lugares.

Depois disso, a história prosseguiu rapidamente.

Assim como Ragnar havia dito, esta batalha foi a maior que eles enfrentaram em décadas, mas não havia sentido em dizer mais do que isso.

Parecia que os dois lados sofreram perdas que ainda podiam suportar.

Era óbvio que os gigantes sofreram mais do que eles.

Eles haviam perdido Balgad, o Gigante da Terra. Como Balgad não era um gigante que ficava na linha de frente, não houve uma perda imediata, mas isso certamente se tornaria um problema em Jotunheim.

Além disso, era impossível até para o Rei Mágico, Utgard Loki, elevar alguém ao nível de Balgad.

A próxima coisa mencionada foi o portal de Erin.

Primeiro, Freya disse que era impossível usá-lo novamente agora que ele havia sido usado uma vez. Ela reconheceu honestamente a falha na Grande Barreira ao mencionar a batalha contra os fomorianos que também havia ocorrido recentemente.

“Chegamos ao ponto em que temos que removê-lo e instalá-lo novamente, mesmo correndo alguns riscos. Enviarei os resultados disso depois que decidirmos mais tarde.”

Depois disso, os relatórios de vários comandantes foram feitos. Tae Ho também participou com seu papel de comandante, mas como ele não estava participando da linha de frente, não tinha nada a relatar. Como ele estava apenas ouvindo, a conferência logo terminou.

“Bom. Agora vamos honrar os heróis nesta batalha.”

Como Thor disse animadamente, os comandantes também revelaram expressões joviais. Freya sorriu com suas expressões e disse com a voz mais pura:

“Comandante de Idun. Venha à frente.”

No momento em que Freya parou de falar, a parede ao lado do lugar onde Adenmaha e Tae Ho estavam sentados desapareceu, e alguns degraus surgiram.

Como Adenmaha e Tae Ho já sabiam que haveria uma recompensa ao final da conferência, eles puderam descer as escadas de maneira bastante natural, mesmo que estivessem um pouco nervosos.

A Valquíria que estava abaixo da plataforma cedeu seu assento aos dois e então recuou.

Adenmaha soltou um longo suspiro, e Tae Ho tentou manter uma expressão calma por causa dela.

Freya riu dos dois mais uma vez e então mexeu os dedos para ativar alguma magia.

“Kyak?”

Adenmaha soltou um grito abafado. Foi porque o chão começou a se mover. A plataforma onde Thor, Freya e Sigurd estavam sentados e a plataforma em que Tae Ho e Adenmaha estavam começaram a girar. Não parou por aí, e a parede atrás de Thor desapareceu como em um passe de mágica.

Ar fresco e vento entraram instantaneamente. Adenmaha abriu os olhos amplamente, inconscientemente, e deixou a boca entreaberta.

Havia guerreiros de Valhalla na vasta plataforma que você teria que olhar para cima para tentar ver todos. Se também contássemos os Guerreiros de Aço, pareceria haver dezenas de milhares.

‘Que visão grandiosa.’

Cu Chulainn falou, aproveitando o momento. Adenmaha ficou impressionada com o encontro inesperado com o grande exército e então começou a agir animadamente.

Thor riu e falou com uma voz que sacudiu o chão e o céu como um trovão.

“Guerreiros, eu me lembro da Grande Guerra.”

A terrível guerra que ocorreu cem anos atrás.

Asgard havia perdido muitas coisas naquela guerra.

“A legião de Idun foi dizimada a tal ponto que não podiam mais atuar como uma legião. Por causa disso, permaneceu inoperante nos últimos cem anos.”

Mas agora era diferente. A legião destruída começou a se recuperar novamente.

“Saúdo a legião que retornou. Elogio o comandante de Idun que alcançou grandes méritos.”

Thor falou sobre o desempenho de Tae Ho.

Ele derrotou Bress, o Rei dos Fomorianos, e destruiu Balgad, o Gigante da Terra.

O herói de Valhalla que recuperou vários fragmentos da alma de Garmr.

Thor se levantou de seu assento e bateu no peito com o punho que segurava Mjolnir, e o som do trovão foi ouvido ao mesmo tempo para que todos pudessem ouvi-lo.

“Por Asgard e os Nove Reinos! Pela Deusa da Juventude e Vida, Idun!”

Thor ergueu Mjolnir alto, e então os guerreiros de Valhalla responderam. As dezenas de milhares de guerreiros bateram no peito ao mesmo tempo.

“Por Idun!”

“Por Idun!”

A voz que se tornou uma só sacudiu o céu e a terra. Os comandantes também expressaram a etiqueta e gritaram o nome de Idun.

Adenmaha virou-se para olhar para Tae Ho com uma expressão animada. Tae Ho também sentiu seu peito se aquecer com a incrível aclamação.

Será que Idun estava ouvindo agora?

Ele pensou no rosto sorridente de Idun. Ele sentiu que poderia ouvir sua voz, que era como um pássaro animado cantando.

“Por Idun.”

Tae Ho disse em voz baixa e bateu no peito duas vezes, e então os guerreiros gritaram mais uma vez.

“Por Idun! Pela Deusa da Vida!”

A Deusa da Vida e Juventude.

A Deusa de Tae Ho.

Ele queria encontrar Idun tanto quanto Heda agora.

⸻⸻

Idun estava de pé nas planícies verdes.

Ela havia ouvido as vozes dos guerreiros de Valhalla que chamavam seu nome, e ela chorou e riu.

Não era nas planícies onde ela havia conhecido Tae Ho. Era um lugar escondido além da grande macieira e em algum lugar que Tae Ho nunca havia visitado antes.

Havia uma grande lápide em frente a Idun. Idun enxugou a lágrima que escorreu de sua bochecha e tocou a lápide.

Havia nomes de guerreiros gravados nela.

Os guerreiros de Idun que perderam suas vidas na Grande Guerra.

Nem um único nome foi omitido, desde os guerreiros de rank mínimo até os de rank superior. Também havia os nomes de Valquírias nela.

Idun se lembrava de todos os seus nomes. Ela não havia conseguido esquecer, mesmo depois de um século.

O vento soprou, e Idun respirou fundo. Ela olhou para os nomes que estavam no lugar mais alto da lápide.

Idun, a Deusa da Vida e Juventude.

Bragi, o Deus da Poesia e Música.

Os dois Deuses que perderam suas vidas na Grande Guerra.

A mãe e o pai que ela não podia mais encontrar.

Idun, ou mais apropriadamente, a atual Idun, conteve suas lágrimas. Ela então forçou um sorriso.

A legião de Idun foi reconstruída.

O novo comandante liderava a legião.

“Meu guerreiro, Tae Ho.”

A Idun atual encostou sua bochecha na lápide e então se vangloriou de Tae Ho para a Idun anterior, os guerreiros falecidos de Idun e seu pai.

1. Na literatura e mitologia, muitas vezes os termos como “carneiros” ou “ovelhas” são usados simbolicamente para descrever seguidores, pupilos ou aqueles que são guiados por uma figura mais experiente ou sábia. Nesse contexto, Regin, sendo o mentor de Sigurd, é visto como o “pastor” que cuida de seu “carneiro” (Sigurd), preparando-o para cumprir seu destino.[↩]
2. (Resumo só para contextualizar: Na mitologia nórdica, Regin era um anão habilidoso que treinou Sigurd, preparando-o para derrotar Fafnir, um dragão que outrora fora seu irmão. Fafnir havia se transformado em um dragão após ser consumido pela ganância ao roubar um tesouro amaldiçoado. Regin usou Sigurd como um instrumento para sua vingança pessoal, moldando-o para ser a “espada mágica” que derrotaria Fafnir, cumprindo assim seu desejo de vingança.[↩]