Capítulo 38.3 — Ratatoskr

Ratatoskr corria no topo de Yggdrasil com sons estrondosos.

Se Nidhogg era um dragão e Hraesvelgr uma águia, então Ratatoskr era um esquilo.

Mas, assim como o dragão e a águia não eram normais, Ratatoskr também não era o esquilo comum.

Fera Ratatoskr.

A única existência que podia se mover livremente na Árvore do Mundo.

O esquilo, com sua pelagem cinza-acinzentada, era maior que dragões normais. Ele media dezenas de metros da cauda à cabeça.

Além disso, não era apenas grande. Sua pele coriácea, entrelaçada com linhas negras, era dura como aço, e sua pelagem era afiada como uma lâmina.

A raiz onde Nidhogg vivia estava em um lugar muito profundo. O lago de Mimir estava conectado a uma dessas raízes também, mas não podiam ser considerados o mesmo lugar. Se a raiz onde Nidhogg vivia fosse o 100º andar, o lago de Mimir estaria no 10º.

Ratatoskr passou pelo lago de Mimir e desceu para um lugar ainda mais profundo. Ele corria enquanto atravessava a névoa densa.

Ratatoskr era diferente de esquilos normais, além do tamanho. Sua longa cauda rivalizava com o comprimento do corpo, e ele tinha quatro patas, mas a cabeça e outras partes do corpo pareciam extremamente grotescas.

Pedras afiadas surgiam de sua pelagem. Se os pelos rígidos eram como lâminas, as pedras podiam ser comparadas a enormes machados.

Mas a parte mais peculiar era sua cabeça.

Dentes grandes e brancos, que podiam transformar rochedos em pó instantaneamente, se projetavam. Havia um chifre surgindo do interior de seu nariz e dois outros flanqueando sua cabeça. O chifre no nariz lembrava o de um rinoceronte, e os dois nos lados da cabeça formavam um círculo.

Até esse ponto, não era tão estranho, pois chifres eram algo que bestas comuns também possuíam.

O que tornava sua cabeça verdadeiramente terrível era o fato de que a parte superior do corpo de uma mulher estava fundida em sua testa.

A parte inferior da mulher era a cabeça da besta, como um centauro, e a parte superior era de um ser humano.

A mulher tinha pele violeta e cabelos compostos por centenas de finas e longas serpentes.

Seus olhos não possuíam escleras, eram completamente negros, e uma língua de serpente saltava de sua boca.

Apenas observando sua forma, alguém poderia dizer que era até bonita, mas a sensação que ela provocava era sinistra e atroz, gerando medo em quem a via.

Ratatoskr cantarolava enquanto corria. Suas garras deixavam novas marcas na Árvore do Mundo.

A névoa se tornava mais densa. A presença humana desaparecia completamente, e nada era ouvido além dos passos de Ratatoskr.

E finalmente, ele parou. Não porque havia chegado ao seu objetivo. Ainda faltava um pouco, mas ele parou mesmo assim.

A fronteira entre a raiz onde Nidhogg vivia e a raiz acima dela estava diante dele.

A última linha que não poderia ser cruzada sem permissão, que não poderia ser ultrapassada até a eventual morte de Nidhogg.

Como incomodar Nidhogg hoje?

Ele pensou em vários métodos em um instante. Entre eles, havia uma maldição fresca que Hraesvelg havia criado.

Mas Ratatoskr balançou a cabeça. Era porque ele queria seguir o método tradicional.

“Vamos então?”

Vamos atormentar Nidhogg.

Vamos continuar insultando o pobre dragão preso nas raízes e fazê-lo odiar o mundo. Vamos tingir seu coração branco com emoções negras.

Mais de mil anos se passaram, mas o esquilo não se cansava disso. Para ele, era divertido.

Porque Nidhogg só tinha Ratatoskr, mas o mesmo não se aplicava a Ratatoskr.

Não estava falando de Hraesvelgr. Ratatoskr podia ir e voltar do topo da Árvore do Mundo às raízes o quanto quisesse, e atormentar Nidhogg era apenas uma de suas muitas tarefas.

Era algo que lhe trazia alegria sempre que era lembrado, então não havia como se cansar disso.

Ratatoskr riu e então cruzou a linha enquanto sua determinação crescia.

Ele agarrou a Árvore do Mundo com suas garras e se impulsionou de cabeça para baixo.

Ratatoskr não chamou por Nidhogg. Isso porque, mesmo andando silenciosamente, aquele grande e bobo dragão estendia a cabeça como um pintinho esperando por comida e aguardava por ele.

E hoje não era diferente. Ele havia descido apenas cem metros depois de cruzar a linha, mas o dragão negro estendeu sua cabeça para além da névoa densa e venenosa.

“Ratatoskr!”

Nidhogg disse. Nidhogg sempre começava a conversa com um sorriso brilhante, mas sempre acabava chorando.

Ratatoskr riu. Foi porque ele se alegrou ao ver que o terrível dragão, com seus 2 quilômetros de comprimento, olhava para ele e falava com uma voz ansiosa.

Nidhogg agarrou a Árvore do Mundo com seus dois braços, como se quisesse se aproximar, e empurrou seu corpo para mais perto. A cena era impressionante, pois não era diferente de uma montanha se aproximando, mas Ratatoskr não se importava muito. Havia bastante distância entre os dois.

Ratatoskr parou no lugar e começou a falar com insultos leves. Ele apenas dizia que Nidhogg era estúpida, grande demais e agia como uma criança, mas isso já era o suficiente, pois Nidhogg não seria capaz de entender insultos mais elaborados de qualquer maneira.

E Nidhogg começou a soluçar, pois teve efeito.

“Você é cruel, muito cruel! Por que sempre age assim?”

Como a distância entre os dois ainda era grande, eles conversavam através de magia em vez de com suas vozes.

Ratatoskr riu mais uma vez. Isso porque os soluços do dragão ainda soavam como um rugido, e aquilo era muito engraçado.

“Isso é porque você é uma retardada que não tem amigos, nem família, nem nada!”

O grande corpo de Nidhogg estremeceu. Nidhogg então falou com uma voz abatida:

“Mas você é meu amigo.”

“Não sou. Por que eu seria amigo de um lixo como você?”

Quando Ratatoskr falou com uma voz fria, Nidhogg estremeceu mais uma vez. Então, Ratatoskr recuou levemente, pois sabia que aquele era o momento perfeito para causar mais feridas.

“Para que lixo como você me chame de amigo, eu vou embora, pois você piorou o meu humor.”

“Não, não vá!”

Nidhogg bateu a cabeça no chão e implorou. Ratatoskr sorriu com isso e olhou para baixo, para o rosto de Nidhogg.

“Muito bem. Então repita o que eu disser. Se você fizer isso, eu ficarei por mais um tempo.”

“Si-Sim.”

“Nidhogg é um lixo que só é grande, não tem amigos, tem uma cabeça retardada e não tem direito de viver. Ter nascido já é um pecado por si só.”

Nidhogg abriu a boca, mas não conseguiu dizer nada. Ratatoskr riu novamente.

“Por que, não consegue? Então, vou embora.”

Ratatoskr realmente se virou e, então, Nidhogg gritou apressadamente.

“Eu… Eu vou falar!”

Ratatoskr virou levemente a cabeça e olhou para baixo, para Nidhogg. Nidhogg soluçou e abriu a boca.

“Ni-Nidhogg é uma grande… retardada… estúpida…”

“Não consigo ouvir bem.”

“Lixo. Não tem direito de viver. Ter nascido é… um pecado…”

A voz de Nidhogg ficou cada vez mais baixa, e o sorriso de Ratatoskr se alargou.

“Eu… falei. Você vai ficar um pouco mais, certo?”

Nidhogg forçou um sorriso e falou. Este era o momento que Ratatoskr mais esperava.

“Retardada! Você realmente faz isso só porque eu mando? Estou indo embora!”

Ratatoskr riu e se virou. Ele ainda não tinha transmitido as palavras sujas que Hraesvelgr havia pedido para passar a Nidhogg, e também não conseguiu fazer o dragão proferir maldições para transmiti-las a Hraesvelgr, mas ele poderia fazer isso depois.

Sair assim hoje seria o mais eficaz.

Ah, que tipo de expressão Nidhogg faria agora que foi deixada sozinha? Quanto ela choraria?

Só de imaginar isso, já era divertido, e por isso, Ratatoskr não deixou Yggdrasil imediatamente. Fingiu hesitar por um momento para que a atitude esperançosa de Nidhogg aumentasse novamente, só para esmagá-la mais uma vez.

E foi nesse momento…

Nidhogg avançou com seu corpo, e Ratatoskr riu mais uma vez com aquele grande movimento.

“O que você vai fazer? Você nem pode voar por ser tão grande!”

Ratatoskr se virou para atormentar Nidhogg. Ele até abaixou um pouco, como se estivesse provocando.

Assim como Odin havia previsto após ouvir as palavras de Nidhogg.

‘Vá.’

Cu Chulainn disse. Com esse comando, o grande corpo de Nidhogg, ou melhor, sua enorme cabeça, se partiu ao meio.

O que surgiu foi Nidhogg. Seu tamanho, meramente 1/20 do corpo original, ainda era o de um grande dragão negro, e ela bateu suas quatro pares de asas e subiu.

Ratatoskr ficou atordoado com o surgimento repentino e tentou se virar, mas não conseguiu. Todas as suas quatro patas estavam presas à Yggdrasil e não se moviam.

Era o efeito da magia rúnica que Odin havia gravado. Como ele a instalou às pressas, ela não conseguiria prender uma besta como Ratatoskr por muito tempo, mas isso não importava muito. Bastava que fosse capaz de deter o esquilo rude por alguns segundos.

Nidhogg bateu suas asas mais uma vez enquanto Ratatoskr quebrava a magia rúnica, mas, quando se virou, outra magia foi ativada.

Odin não havia instalado apenas uma magia rúnica. Ele havia inscrito uma linha de runas ao longo do caminho que adivinhou que Ratatoskr tomaria ao se aproximar e ao sair da fronteira que Nidhogg não podia atravessar.

Os movimentos de Ratatoskr pararam novamente, e Nidhogg voou. A distância entre os dois diminuía a cada segundo que passava.

Finalmente, os dentes de Nidhogg alcançaram Ratatoskr. Ela mordeu seu rabo.

O primeiro plano que Odin havia feito era que Nidhogg arrastasse Ratatoskr, mas o plano de Tae Ho era diferente. Tae Ho, que estava montado na testa de Nidhogg, olhou para um ponto além de Ratatoskr. Ele olhou para a linha que Nidhogg não podia cruzar e ordenou:

“Voe para cima!”

Nidhogg bateu suas asas com mais força e avançou ainda segurando o rabo de Ratatoskr com seus dentes.

Odin havia dito que era impossível atravessar a linha com todo o corpo de Nidhogg.

Para cruzá-la, era necessário Ratatoskr, a única existência que tinha permissão para fazê-lo.

Para voar mordendo Ratatoskr, era preciso uma força esmagadora e também uma velocidade que pudesse cruzar a linha em um instante.

Ratatoskr sacudiu seu corpo como se estivesse lutando. Ele tentou atrasar a velocidade de Nidhogg apenas um pouco.

Nidhogg sentiu a dificuldade. Sentiu que seria impossível cruzar a linha daquela maneira.

Mas não parou suas asas.

Não era por desejo de cruzar a linha e sair.

Nidhogg não estava sozinha. Havia alguém lhe concedendo força.