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O sorriso daquele garoto gentil e barrigudinho era radiante, eu não entendia como alguém poderia sorrir daquele jeito na situação em que o mundo estava. Sua careca brilhante refletia a pouca luz do sol que penetrava a floresta
— Q-Quem é você?
— Já disse, sou o Galliard — ele estendia sua mão — prazer!
— E-Elena — o cumprimentei.
— Então tinha mais gente? — uma voz masculina, um pouco mais madura, gritou — Por que não me avisaram antes?
Levei um rápido susto ao ver um adolescente não tão mais velho quanto eu saltar sobre minha cabeça. Seu cabelo azul e espetado virou-se para mim com dúvida e exclamou.
— Ih! Calma aí, garota, eu não mordo não!
— O que tá acontecendo? Aonde tá todo mundo? — eu me perguntava sem conseguir compreender nada.
— Algo de errado aconteceu com o teletransporte — enfim, a voz calma de uma garota invadiu a conversa — estamos perdidos.
— V-Você… — ao olhar para o lado, me deparei com os olhos esmeralda que não via há anos — MELISSA?
— Oi… Elena… — disse com uma expressão desconfortável ao me ver.
— O que está fazendo aqui? Por que alguém como você iria pro meio da guerra?
— Não como se minha família estivesse em paz com tudo isso… não tive outra escolha.
— Parece que as duas já se conhecem, não é mesmo? — o esquisito perguntou.
— Dá pra dizer que sim.
— E tu, gordinho? — virou-se para Galliard rapidamente — Que careca sinistra! — disse maravilhado.
— Eu não faço ideia de quem são vocês.
— Mas se ta todo mundo aqui, aposto que geral veio pelo mesmo motivo!
— Ir para o campo de batalha — respondi rapidamente.
— Exatamente! — com um sorriso convencido — Meu nome é Ezequiel, mas podem me chamar do jeito que quiserem! Eu só vou deixando bem claro pra vocês — apontando para sol, exclamou — ABAIXO DESSE CÉU, TUDO É MEU!
— Como é? — não me restavam dúvidas do quão estranho ele era.
— Aparentemente estamos muito longe de casa, temos que encontrar um caminho para voltar — Melissa o ignorou completamente.
— Como tem tanta certeza? — a acompanhei.
— Aqui é calmo.
— Até que faz sentido — Galliard se aproximou — em Shryne dava pra ouvir os gritos dos guerreiros o tempo todo, isso significa que estamos longe o bastante da guerra.
— Tá, e como fazemos pra voltar?
— Não sabemos ao certo, podemos estar em outro continente.
— Independente de onde estivermos, o caos vai estar em qualquer lugar.
— ROOOAAAR! — um rugido ensurdecedor estremeceu o chão.
— O que foi isso? — nós 3 nos perguntamos.
— UM DEMÔNIO! — Ezequiel se pôs na direção do rugido.
De repente, uma criatura enorme e quadrúpede arremessou as árvores ao nosso redor para longe, revelando para nós seu rosto macabro. Seus dentes se estendiam até suas orelhas, seus olhos inteiramente pretos com minúsculas pupilas roxa penetravam nossos corações, enquanto babava sedento.
Eu me preparava para lutar, ainda que com medo, mas eu estava determinada a não fugir nem me esconder.
— Pode vir, bicho feio! — com suas mãos no solo, Ezequiel o provocava.
— GRRRR…
O monstro rosnava com fúria e em seguida investiu no pescoço de Ezequiel.
— É tão ousado assim? — erguendo suas mãos, lâminas de aço se formavam abaixo de si — Quero ver se é tão forte como parece!
Com um corte rápido e bruto, travou suas espadas entre os dentes da fera.
— Conseguiu defender o meu ataque, é? — ele saltou acima da cabeça do bicho — O que acha disso? — antes que pudesse cravar suas lâminas, ele foi levado aos ares com um golpe da cauda da besta.
— UGH!
— Merda! — meus punhos brilhavam com o ataque que estava prestes a disparar até ser interrompida.
— Ainda não! — ainda no ar, Ezequiel caía rapidamente em direção ao coração do monstro — Corte Lendário do Deus Ezequiel! — com uma única lâmina, perfurou o centro da cabeça da criatura.
— Que ridículo — todos concordaram.
O monstro havia caído no chão, Ezequiel retirava sua espada, arremessando para longe um enorme pedaço de carne, fazendo jorrar sangue para todos os lados.
— E aí? O que acharam? — perguntou com um sorriso.
— GRRR — a fera voltou a rugir.
Ela se levantou rapidamente, agora, arremessando Ezequiel em direção a uma árvore.
— É claro que ela não ia morrer só com isso — Galliard afirmou.
Em minha mente, os piores cenários se passavam a minha mente, todos ao meu redor estavam caídos no chão, com suas mãos geladas e sem vida, enquanto apenas eu restava de pé.
Enquanto estava paralisada e com medo, a besta tentou me acertar com suas garras afiadas, mas ela rapidamente foi ao chão, criando uma rachadura no ambiente.
— GAH! — Melissa dava tudo de si para manter sua magia ativa.
Forçando seu corpo ao máximo, o demônio se levantou, ignorando a pressão em si. Mais uma vez, ele tentou me atacar, sendo impedido novamente por uma barreira invisível criada a minha frente.
— Elena! Sai daí! — Galliard gritou.
Eu finalmente fui capaz de me mover e saí do alcance de seu ataque, escondendo-me atrás da árvore.
— M-Me desculpa!
— Ele é muito forte, não vamos conseguir detê-lo aqui, mas também não vamos conseguir fugir.
— Não… Tem um jeito! — Melissa disse convicta.
— Do que está falando?
— A quantidade de mana que consigo gerar é demais pro meu corpo, mas posso te conseguir alguns segundos.
— EU? O QUE EU VOU FAZER?
— Você precisa descarregar tudo que tem.
— Tudo que eu tenho?
— Você precisa confiar em mim, não temos muito tempo!
— Tsc! — eu me perguntava como ela poderia saber de algo, afinal, não nos víamos há anos — Tá! — mesmo assim, não tinha muito tempo para pensar.
— ROOOOAAR! — a fera voltou a se mover.
— Agora!
Seus dentes cortaram a árvore que nos escondia, deixando um rastro de destruição pelo chão.
— Elena! — Galliard gritou.
Repentinamente, meu corpo começou a se elevar rapidamente, ficando acima das árvores. A criatura olhou para mim com a boca aberta, como se eu fosse sua presa mais fácil. Uma pressão enorme caiu sobre seu corpo novamente, deixando-o preso no chão.
Meus punhos brilhavam com a luz das chamas que eu gerava, explosões pelo meu braço me impulsionavam para baixo e com toda minha força reunida, fui capaz de desferir um soco escaldante em sua cabeça, abrindo uma pequena cratera a nossa volta.
— Droga! — ouvi Melissa exclamar.
— Arf… Arf… — eu estava ofegante, porém aliviada — consegui…
— Elena, não baixe sua guarda!
— O quê? — assim que a ouvi, fui puxada para baixo rapidamente.
A besta mordia um de meus braços, pressionando meu corpo com sua pata.
— AAAAAAAARG! — uma dor insuportável caiu sobre mim.
— Você precisa soltar tudo! Se não vai morr- — o nariz de Melissa começava a escorrer sangue, antes que a mesma fraquejasse e caísse de joelhos.
— Eu já liberei tudo que tinha! AAAAAAAAAAAAAAAAAH! — a criatura mordeu ainda mais forte.
Eu socava o rosto do demônio com meu outro braço, mal conseguindo criar chamas novamente, já estava me conformando com o fim, até escutar as duras palavras da princesa.
— Vai morrer depois de tudo que fizeram por você?
— O quê? — entrei em choque por um momento.
— Seu pai morreu por SUA causa! — meu peito se enchia de raiva — sua mãe morreu pra TE salvar! — as dores no meu corpo haviam sumido — E VOCÊ VAI MORRER ASSIM MESMO?
Uma ira incontrolável caiu sobre mim, meu corpo inteiro brilhava, com pequenas explosões criadas por toda sua extensão. O demônio possesso agora parecia um cachorro assustado, com suas patas e boca queimada, olhava para mim com medo.
Um vapor irritante cobria meus olhos, nem mesmo percebi que as lágrimas que derramaram eram evaporadas no mesmo instante.
— AAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAA! — em um grito de dor e raiva, eu explodi a criatura acima de mim, queimando também algumas árvores ao redor.
Não havia restado nada a respeito da besta. Meu corpo voltava ao seu estado normal, enquanto exalava uma densa onda de calor pela cratera. Melissa descia o declive de terra deslizando, correndo até mim.
— Elena! — ela se aproximava — Desculpa!
— Não… me… — minha consciência se esvaia, mesmo assim, o ódio permanecia intacto — toque… — adormeci no mesmo instante.
Não sei ao certo quanto tempo fiquei desacordada, porém, acordei ao som de uma fogueira não tão distante de mim, sentindo o cheiro de carne queimada.
— Ah! Ela acordou — escutei a voz de Galliard.
— Aê, então ela não morreu mesmo!
— Eu falei que ela tava bem!
— Elena… — Melissa surgiu ao meu lado — você tá bem?
— Tsc! Isso importa pra você? — a olhando com desdém — eu preciso esticar as pernas — me levantei rapidamente, saindo floresta adentro.
— Elena, espera!
— Deixa ela ir — Ezequiel a parou — ela tá de cabeça quente.
Sentada em um tronco de madeira derrubado no chão, eu refletia sobre os acontecimentos anteriores, ainda com raiva no coração.
“Aquele poder, nunca vi algo assim, eu treinei o suficiente para derrotar demônios de nível baixo, mas aquela criatura parecia ser de um nível muito acima, então como…”
“Sua mãe morreu pra TE salvar!” as falas de Melissa vieram subitamente.
Meu corpo se esquentava à medida que o ódio crescia, até mesmo a flora ao meu redor murchava com o calor emitido.
— Toma — Galliard apareceu de repente na minha frente com uma carne no espeto — está com fome, não é? — ele enxugava seu rosto suado ao sentar-se do meu lado.
— Ah, é, valeu — o ambiente esfriou rapidamente assim que mordi um pedaço da carne.
— Tá horrível não é?
— Tá queimado…
— Pois é, aquele cara de cabelo estranho insistiu em cozinhar…
— Pera, isso é a carne daquele bicho? — perguntei assustada.
— É.
— Quê? Carne de demônio? E isso é comestível? — eu cuspi toda a carne no chão.
— Relaxa, demorou um tempo, mas eu consegui purificar as partículas mágicas da carne.
— Você fez isso?
— Uhum — ele balançava seus pezinhos orgulhoso.
— Incrível.
— Sabe, eu não sei o que houve entre vocês duas e sei que Melissa não disse coisas tão legais assim, mas estamos sozinhos e perdidos em algum lugar, se nos separarmos, podemos acabar morrendo.
— Tsc… eu sei bem disso.
— Não tô pedindo para esquecer o que ela disse, mas…
— É, eu já entendi, é só que… não consigo aceitar alguém como ela.
— Alguém como ela?
— Ela sempre teve tudo desde que nasceu, nunca enfrentou nenhuma dificuldade e seus pais sempre a mimam, mesmo assim, ela ainda teve a coragem de falar dos MEUS pais.
— Parece que você a conhece bem.
— É…
— Mas… ela está aqui, não está?
— O que quer dizer?
— Bem, existem poucos motivos para crianças como nós irem para guerra e nenhum deles é agradável.
— Infelizmente… você tá certo.
— Ela deve ter algum motivo pra isso, não julgue um livro pela capa.
— Sei… — disse em um suspiro angustiante — por acaso, quantos anos você tem?
— 10!
— Quê! É mais novo do que eu!
— SHISHISHISHISHI — ele riu.
— Você fala como se fosse um velho sábio! Qual é o seu segredo? — gritei.
— Não sei do que você tá falando.
— É a careca, só pode ser!
Galliard e eu voltamos para a fogueira, onde Ezequiel já estava roncando como um urso e Melissa nos esperava ansiosa.
— Elena! — ela me abordou rapidamente — me desc-
— Eu vou cooperar com você o tempo que precisar, mas não haja como se fossemos amigas.
— T-Tá!
No dia seguinte, começamos a trilhar um caminho pela floresta, buscando pistas de onde poderíamos estar. Ezequiel tomou a liderança, nos levando para lugares um pior que o outro.
Após alguns dias caminhando entre pausas, conseguimos enfim sair da floresta, dando de cara com um vilarejo destruído. Nós passamos pelos destroços silenciosamente, observando o rastro de destruição, claramente deixado por demônios. Ezequiel formava sinais e símbolos estranhos com suas mãos e tudo que conseguia entender era para fazer silêncio.
— COMO ASSIM O LIVRO NÃO ESTÁ AQUI! — uma voz agressiva e rasgada ecoou pelo vilarejo.
— É-É isso mesmo general Bizon, vasculhamos tudo e não o achamos! — seu servo de voz respondeu.
— Tsc, inútil! — o sangue da cabeça de seu servo caiu sobre a pilha de pedra à nossa frente.
— UH! — um leve susto.
— SHHHHH! — Ezequiel pressionou seu dedo indicador em meus lábios, quase afundando o meu rosto — vão nos ouvir! — sussurrou.
— Quem tá aí! — o general perguntou — GRRRR! Incompetentes, ainda tem humanos vivos aqui!
— V-Vamos matá-los imediatamente, senhor!
Os passos dos demônios correram em nossa direção, não podíamos dar meia volta ou estaríamos expostos para eles, então ficamos sem escolha a não ser nos esgueirar pelos escombros. O general procurava por nossas presenças, dando voltas e voltas ao redor da entrada do vilarejo.
General Bizon vestia uma armadura de aço cobrindo todo o seu corpo, inclusive seu rosto. Ele carregava um machado de batalha não tão grande quanto ele, porém sendo maior do que a altura média de um ser humano. Seus passos pesados criavam um leve tremor, exalando sua pressão mágica ao redor.
— AQUI! — Em um susto repentino, a mão de um dos servos atravessou a cerca de madeira a alguns metros da gente.
— AAAAAAAH! — uma mulher gritou.
— Por favor, não! — seu marido suplicou desesperadamente.
— Buáá Buáá — o claro choro de seu filho incomodava os ouvidos do demônio.
O general caminhou lentamente até a mulher, apreciando o lamento da família.
— Eu imploro, deixe-os ir! — novamente suplicou.
— Não… — Melissa rangia os dentes enquanto o encarava.
Sem compaixão alguma, frio como um verdadeiro demônio, Bizon o partiu ao meio com seu machado.
— NÃÃÃÃÃO! — a mulher rasgava sua voz em lamento.
— Acabe com a mulher e a criança.
— Sim, senhor!
Com golpes rápidos e sucintos, o demônio fatiou a mãe em seu filho sem hesitar.
— NÃO! — Melissa gritou com tristeza em sua garganta.
— Achei… — o general, com um suspiro, cravou seus olhos em nossa direção.
— Merda! — Ezequiel rapidamente pulou e agarrou Melissa pelos braços.
Bizon atravessou os escombros brutalmente com uma investida e seu ombro robusto e rígido fez com que eu e Galliard voássemos alguns metros para trás.
— Então eram vocês que estavam emitindo essa pressão mágica… são só crianças.
— Ferrou!
A respiração de Melissa estava pesada, suas lágrimas escorriam sem parar pelo rosto, olhando com fúria para o general. Seus servos nos cercaram antes mesmo que percebêssemos, instaurando um clima pesado e terrível.
— Eu tava querendo evitar isso, mas já que estamos aqui… — Ezequiel estufou o peito e gritou — Curvem suas cabeças para o seu rei! Vocês estão abaixo do MEU céu, logo todos aqui pertencem a mim!

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Olá, eu sou Smaell!

Um Feliz Ano Novo para todos!🎉

Até o dia 18/01/2024

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