Capítulo 152: Chefe Bárbaro (4/6)

---

『 Tradutor: MrRody 』

---

— Ah, uh… um…

Depois de ficar olhando fixamente para a cena selvagem de lavagem cerebral por um tempo, recobrei os sentidos e entrei na aldeia. Para ser honesto, a palavra ‘aldeia’ era enganadora. A terra sagrada dos bárbaros era mais parecida com um acampamento. Tendas eram erguidas em qualquer lugar, sem distinção entre sua terra e a minha. Depois de passar por isso, segui diretamente para a tenda do xamã. Não era como se eu não soubesse a localização a essa altura, então decidi que não havia necessidade de marcar uma reunião através do chefe.

“O que, ninguém está aqui?”

Quando abri a tenda do xamã, estava vazia. No final, não tive escolha senão ir para a tenda do chefe. Mas, para minha surpresa, também não havia ninguém na tenda do chefe. Mesmo que o chefe não estivesse lá, os anciãos normalmente se revezavam para supervisionar.

“Que diabos?”

Enquanto eu andava em frente a tenda, um ancião que eu tinha visto algumas vezes antes me encontrou. — Bjorn, filho de Yandel? Você também está aqui para comparecer ao funeral?

Não era necessário perguntar de quem era o funeral. Haviam se passado exatamente seis meses desde que Ainar tinha sido trancada na terra sagrada.

— …Já chegou o dia.

— É uma honra poder deixar algo para as gerações futuras.

Depois de perguntar onde o funeral estava sendo realizado, segui diretamente para lá, para uma floresta escura e desolada. Viajei por cerca de trinta minutos quando avistei os bárbaros reunidos em suas profundezas, com expressões solenes em seus rostos. Estavam o xamã e o chefe, além de alguns anciãos familiares. Bem, a primeira pessoa que notei foi outra, no entanto.

— Ainar.

Ainar estava lá, sem vida, apoiada em uma árvore grossa enquanto olhava intensamente para o corpo de seu mestre. — …Bjorn? — Os olhos da Ainar estavam vazios quando ela disse meu nome. Então, quando me aproximei, ela mordeu o lábio. — Se eu soubesse que isso aconteceria, não teria feito.

Ela não sabia. Eu tinha certeza de que teriam contado a ela.

— …Bjorn, você sabia?

— Sim.

O treinamento que a Ainar havia passado por seis meses era chamado de ‘Forjamento’ entre os bárbaros, o processo de treinar alguém para desenvolver uma determinada estrutura física. No jogo, quando você terminava o Forjamento, seus atributos físicos aumentavam significativamente e você se torna elegível para receber uma Sucessão de Alma. Claro, você poderia parar apenas no Forjamento.

— Eu tinha ouvido dizer que este ancião tinha uma doença crônica — eu disse.

Quando ouvi que a vida útil do ancião que havia feito de Ainar sua sucessora era curta, tinha considerado essa possibilidade. Mas parecia que ela mesma não estava ciente disso.

— Isso-eu não sabia!

— Parece que o ancião se importava muito com você.

A Sucessão de Alma, junto com a Impressão da Alma, era um dos encantamentos únicos disponíveis apenas para bárbaros. Através deste ritual, um bárbaro poderia passar uma de suas essências para as gerações futuras. Mas você só poderia recebê-lo uma vez, e aqueles que passavam a essência perdiam suas vidas.

— …Por que ninguém me contou? Se eu soubesse que isso ia acontecer, teria parado imediatamente — Ainar lamentou com uma voz cheia de arrependimento e remorso.

O chefe, que nos observava, abriu a boca. — Kiduba era um covarde.

— Não insulte ele! Kiduba era um guerreiro destemido!

— Então deve ser você quem é uma covarde. É por isso que Kiduba não pôde explicar a Sucessão de Alma para você.

— Eu não sou uma…!

Quando Ainar começou a retrucar, o chefe a interrompeu imediatamente. — Então pare de reclamar. Se você quer provar que não é um covarde, encare sua morte sem insultá-lo ainda mais, guerreira. Não há uma única pessoa no mundo que não sinta dor. Mesmo assim, você deve enfrentá-la e seguir em frente. Esse é o caminho de um guerreiro.

Depois disso, Ainar ficou calada, e o chefe não falou por um longo tempo. O funeral continuou em silêncio. O xamã se aproximou do corpo, que estava encostado em uma árvore, sujou o rosto com sangue e tocou um sino. Então, uma solução foi borrifada ao redor para evitar que insetos comessem o corpo. Os bárbaros assistiram silenciosamente ao processo, e logo o xamã anunciou o fim da cerimônia fúnebre.

— O espírito de Kiduba, o terceiro filho de Tohar, deixou seu corpo e se instalou na floresta.

Agora, o corpo seria deixado na floresta para apodrecer e se tornar ossos brancos. Então, quando chegasse a hora, o xamã quebraria até mesmo os ossos em pequenos pedaços e os espalharia pela floresta. Todos os guerreiros que estavam em frente ao corpo cortaram o cabelo ou cortaram as mãos e borrifaram sangue ao redor dele antes de sair. Todo o processo não levou muito tempo.

Agora, só restávamos eu e Ainar. Eu me aproximei do corpo primeiro, cortei meu cabelo com uma faca e o espalhei ao redor. — Agora é sua vez.

Ainar não respondeu. No entanto, em vez de pressionar mais, apenas saí sem dizer uma palavra. Como esta tinha sido uma despedida pela qual ela não estava preparada, ela precisava de tempo para lidar com isso por conta própria.

---

— Keke, sabia que você viria, guerreiro. — Logo após sair da floresta, entrei na tenda do xamã. — Você trouxe o ingrediente?

— Sim.

— Venha, tire-o.

Seguindo as instruções do xamã, tirei o Coração Imortal, o coração de um Troll, que eu havia guardado em minha mochila. Estava repousando sobre um pedaço de pano em uma caixa, ainda pulsando levemente.

— Você mesmo conseguiu isso?

— Não, comprei na troca.

— Por quanto? — Eu não sabia por que ele estava curioso sobre isso, mas assim que respondi, o xamã deu risadinhas. — Como um bárbaro como você apareceu? Sem dúvida, você é abençoado com a fortuna financeira, guerreiro.

A maioria das minhas conversas com o xamã era assim, mas estranhamente, este comentário me deixou de mau humor hoje. Sem pensar, respondi de volta: — Não fale sobre fortuna financeira quando você não sabe de nada.

Com minhas palavras, o xamã apenas sorriu. — Hmm, já que você voltou vivo e bem, o problema provavelmente não é você… Você perdeu alguma coisa?

— Não quero responder isso.

— Claro, tudo bem… — Não respondi. — Guerreiro, quanto mais coisas preciosas você perde, mais forte você se tornará.

Eu realmente queria xingá-lo, mas apenas fiquei quieto. Por alguma razão, quanto mais conversava com esse velho, mais eu sentia que estava perdendo. — Certo. Posso obter a Impressão da Alma hoje?

— Claro. — O xamã assentiu feliz com minha pergunta. Eu pensei que ele poderia estar cansado da cerimônia fúnebre.

Clink.

Coloquei um milhão de pedras cobradas pelo xamã no jarro e deitei no chão. Eu tinha alcançado a sexta impressão do Caminho da Imortalidade.

— Desta vez, novamente, há três caminhos à sua frente.

Depois de ouvir uma breve explicação de cada um, escolhi um. Não havia necessidade de pensar muito. Em primeiro lugar, eu tinha investido todo meu dinheiro na Impressão por esta única coisa. — Escolherei a Alma da Batalha.

— Keke, mesmo se você quiser mudar mais tarde, não será capaz.

Logo depois, o xamã começou a me espetar com agulhas. Não demorou muito para que uma dor aguda me dominasse, mas eu conseguia lidar melhor com ela do que antes. Isso era por uma razão psicológica que não tinha nada a ver com a intensidade da dor. Eu sabia que uma grande recompensa me aguardava no final disso.

Eu tinha conseguido aumentar significativamente o atributo mais difícil de obter… a regeneração de MP¹. Simplificando, isso significava que agora eu podia usar Gigantificação com mais frequência e sustentá-la por mais tempo. No entanto, isso não se comparava ao evento principal.

União, uma habilidade passiva sempre associada à habilidade ativa Explosão Selvagem, já era ótima por si só. No entanto, havia um aspecto oculto nesta habilidade. Talvez porque o ponto principal fosse a ideia de se tornar um só corpo na batalha, se você tivesse isso, seu equipamento não seria danificado mesmo enquanto estivesse usando Gigantificação. Em outras palavras, eu não precisaria mais tirar minha armadura volumosa. Não apenas isso, mas também seria possível esmagar inimigos com uma maça e um escudo super-gigantes!

— Ughhh… Behel… ahhh…

Enquanto ele me via rir e chorar mesmo através da dor persistente, o xamã murmurou para si mesmo. — Keke, definitivamente não é são, este aqui.

Como um bárbaro, deixei essa avaliação passar por um ouvido e sair pelo outro.

---

---

Muito tempo havia passado desde que comecei a imprimir o sexto estágio. Além da tenda, ainda estava claro lá fora. Enquanto eu bebia a água da chaleira na mesa lateral, perguntei: — Já passou um dia?

— Kekeke, vai chorar comigo sobre o quão difícil foi?

Caramba, por que não responder simplesmente ‘Sim’? Não importava quantas vezes eu ouvisse, eu não conseguia entender a maneira de falar dele, mas não me incomodei em discutir com ele. Ou, mais precisamente, não tinha forças para isso. Estava prestes a pegar minha mochila para me levantar, quando…

— Guerreiro. — O xamã, que sempre me mandava embora por volta deste horário, me chamou e soltou uma bomba completamente inesperada. — Como você recebeu uma bênção de um deus humano?

Meu coração afundou, mas soltei um longo suspiro. Estava claro que ele já sabia de tudo, então não havia sentido em negar. — De quem você ouviu isso? Não, quantas pessoas sabem disso?

— Como eu não saberia? O anel que você usa está profundamente entrelaçado com seu destino. Keke, mas não se preocupe. Os outros nunca perceberão. — O xamã zombou, acrescentando que eles tinham buracos de nós de árvore ao invés de olhos. Foi quando notei que o xamã parecia estar em um humor estranhamente agradável apesar do tema de nossa discussão.

— Você vai contar ao chefe? — Perguntei cautelosamente.

— Por que eu faria isso?

Na verdade, não tinha nada a dizer sobre isso.

— É apenas um costume antigo. Assim como o que fizemos na floresta ontem. Milhares de anos atrás, deixamos nossa terra natal e chegamos a esta cidade. Por causa disso, aprendemos sobre a existência dos deuses e aprendemos como realmente ser civilizados.

— O que você está tentando me dizer?

— Enquanto confiamos e seguimos a vontade de nossos ancestrais, por que deveríamos rejeitar e odiar um ser que realmente nos ajuda? Isso é apenas teimosia tola, algo que realmente merece ser chamado de bárbaro. — No fundo, o xamã ainda não tinha mudado, especialmente em termos de sua estranha maneira de falar. Claro, eu não poderia dizer nada que pudesse me colocar em seu lado ruim enquanto ele tivesse um domínio tão poderoso sobre minha maior fraqueza.

— …Então. o que você acha que o chefe fará?

— Se ele descobrir sobre sua bênção, quer dizer?

— Sim.

O xamã riu. — Por que perguntar o que você já sabe? Aquele brutamontes vai te rotular como traidor imediatamente e te expulsar. ‘Shaaah!’ Ou talvez cortar sua cabeça e queimá-la.

Então, era assim. Droga, eu não tinha escolha senão viver em suspense até terminar a Impressão da Alma?

Enquanto eu franzia os lábios amargamente com o pensamento, o xamã continuou. — Guerreiro, você está se preocupando à toa.

— O que você quer dizer?

— Terians, anões e elfos abandonaram as antigas tradições há muito tempo. Por que você acha que isso aconteceu?

Não precisei pensar muito sobre isso. A história da Terra era a mesma. Quando novas ideias e reformas eram necessárias, sempre havia aqueles que decidiam virar as costas para o antigo. Gerações posteriores então chamavam essas pessoas de grandes.

“Esse velho louco…”

Foi então que percebi o que o xamã estava tentando dizer.

— Está preocupado em ser expulso, guerreiro? Se sim, a solução para esse problema é muito simples.

Parecia que esse vovô também era um bárbaro, afinal. Caso contrário, ele não teria ousado pensar em uma solução assim. Se houvesse um problema, resolva o problema destruindo-o… esse era o modo bárbaro. Então, em outras palavras…

— Você só precisa se tornar o chefe da tribo.

Assumir o controle dos bárbaros antes que eu pudesse ser exilado.

— E então? Não é um caminho muito mais ‘guerreiro’?

Eu não sabia se era um caminho guerreiro ou não. Sem pensar, porém, ri alto. Eu era um bárbaro com menos de um ano de idade que na verdade era um espírito maligno. Me mandar me tornar chefe de uma tribo bárbara para que eu pudesse mudar essa sociedade ao meu gosto?

— São palavras engraçadas, xamã.

Era uma sugestão bastante tentadora, especialmente porque fazia sentido.

1. Soul Power, Poder da Alma, é o MP ou a Mana nesse mundo, é o recurso consumido ao usar as habilidades especiais dadas pelas essências.[↩]