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O encontro dos dois havia começado, e para o começo de uma boa refeição, estavam comendo um purê de batatas. Tanto Dante quanto Emi estavam satisfeitos com a qualidade daquela comida, e, de certa forma, combinava com aquele dia frio.

Mas eles não estavam ali para apenas comer, e a garota sabia disso. Na mesa, tinha três livros de capa dura.

— Que tal começarmos com as histórias? O que quer saber? O Passado de Schalvalt? A História da Garota Enforcada em Uma Árvore? Ou Os Contos de Phelip? — Apresentava os livros, mostrando um por um.

— Uau… Bem… a da garota, é sobre o quê?

— Ah! Essa história é muito boa! É sobre uma garota de 13 anos que se matou enforcada em uma árvore. Ela fez isso porque queria encontrar o seu amor no pós vida, que é uma entidade maligna que a obriga voltar a vida e matar pessoas conforme sua vontade.

— É tipo uma história de terror?

— Acho que um terror com romance, ou alguma coisa do tipo.

— Hm… Acho que vai ser mais interessante se vermos o livro sobre esse país.

— Schalvalt, então? Entendo, mas o que poderemos ver? Esta nação tem muita história.

O jovem se lembrou do protesto que aquela mulher nobre estava fazendo. Também se lembrou de quando conheceu Freya, e decidiu o que queria saber.

— Aí tem a história dos demi-humanos em relação a este país?

Emi acenou positivamente com a cabeça, abriu o livro e procurou a página certa.

Ela contou sobre como os demi-humanos começaram a ser discriminados na nação de Schalvalt. Tudo começou 250 anos atrás, quando o rei da época declarou guerra contra um grupo de demi-humanos que estavam espalhando “mentiras” sobre o rei e a realeza da época.

Em meio a um monte de acusações desse grupo, as mais polêmicas foram: uma relação amorosamente e sexualmente abusiva entre o príncipe e a princesa da época, torturas que a rainha fazia e o suborno que o rei fazia com a igreja para caçar qualquer pessoa que discordasse dele.

Obviamente o livro desmentiu aquilo tudo, mas se tratando de um material de informações criado pela realeza, algumas informações poderiam ter sido omitidas, alteradas ou com o propósito de enganação, pelo menos, era isso que Emi achava.

No fim, o rei declarou guerra, e o grupo foi capturado e morto pela guilhotina, perante os olhos do povo, em praça pública.

— A história contada no livro acaba neste momento, na execução, porém, isso não explica o porquê dessa discriminação — a garota falou — Dizem por aí que a família real não gostavam dos demi-humanos, porque eles não são humanos puros, e foram considerados como monstros. A igreja entrou nessa, e colocou lenha na fogueira, manipulando a população junto do Rei. No fim, a escravidão foi legalizada. 

— Entendo. Então um país inteiro foi enganado e manipulado.

— Bem, é o que dizem.

Agora, o jovem já sabia do porquê a descriminação dos demi-humanos. Pelo menos, sabia que nem todas as pessoas tinham ideias erradas, e estavam tentando reverter essa situação. Pensou em Freya, e que deveria ser mais cauteloso com ela, já que se tratava de uma criança que não podia se defender.

A garota passou as páginas do livro, tentando encontrar mais alguma história.

— Ah! A invasão dragão de 200 anos atrás! — disse ela, bem interessada.

— Invasão dragão?

— Sim! Há 200 anos, um grupo de dragões se juntaram e tocaram o terror em Schavalt, por pura diversão. Felizmente, o Rei Dragão da época impediu que esse caos continuasse, e pediu desculpas pessoalmente com o Rei e Rainha.

“Rei Dragão?!”

Dante ficou fascinado pelo fato de ter existido um Rei Dragão há 200 anos, e de ele ter se desculpado com a realeza. Imaginou como seria incrível e assustador ver um falando.

— Nossa, parece que muita coisa aconteceu nesse país.

— É! O nosso mundo tem bastante história, e coisas que, provavelmente, ainda nem sabemos da existência.

— É mesmo.

Continuaram aquela tarde lendo no restaurante, principalmente o livro de ficção sobre A História da Garota Enforcada em Uma Árvore, depois de terem lido sobre Schalvalt.

Em geral, foi divertido para os dois, que gostavam de leitura. E com o fim do encontro, voltaram juntos para a mansão.


[Hunf!]

“Uh? Que foi?”

[Nada não, só acho que esse encontro foi meio decepcionante, e acabou cedo demais.]

“Do que é que você está falando?”

[Esquece… Mas até que foi interessante saber sobre essas histórias dessa nação. Parece ter muita coisa a ser discutida.]

“Você acha?”

[Acho.]

Dante e Emi estavam andando lado a lado pela calçada da capital. Ao que parece, Sophie pensava que iria rolar algo a mais, mas não foi o que aconteceu, e o garoto também não queria isso.

— A gente deveria fazer isso mais vezes — disse a garota.

— Sim, você tem razão.

Dante foi empurrado fortemente, mas não caiu porque Emi o segurou. Um homem que estava curioso havia esbarrado nele.

— Me desculpa!

E saiu correndo.

O jovem não ficou irritado e aceitou o pedido de desculpas do homem.

— Você está bem?

— Estou sim… Pelo menos, ele pediu desculpa… Epa… — O garoto olhou para os lados, e viu que a rua estava bem menos movimentada do que antes.

— Não tinha muita gente aqui mais cedo?

— Pois é… O que será que está acontecendo? — o jovem questionou.

[Deve estar acontecendo algo mais adiante.]

Eles voltaram a andar. Depois de alguns minutos, viram uma multidão tampando todo o caminho, os impedindo de passar.

— Então é aqui que foram parar…

Dante ficou completamente desanimado com aquilo. Pensou em como poderia contornar aquele caminho.

— O que será que está acontecendo — disse Emi, tentando olhar pelos ombros da multidão, porém, não conseguiu.

Havia várias pessoas falando ao mesmo tempo ali. Algumas mostrando preocupações, outras surpresas ou animadas, e outras se fazendo a mesma pergunta que os dois estavam: “O que está acontecendo?”.

— Emi, será que deveríamos tentar passar?

— Acho que isso vai ser meio complicado. Tem muita gente aqui. É verdade que poderíamos tentar, mas, vamos descobrir informações por aqui mesmo.

— Então melhor perguntarmos a alguém?

— Sim! Isso parece uma ideia melhor.

Então, os dois foram até uma pessoa aleatória em meio a multidão.

— Com licença, mas poderia explicar o que está acontecendo? — O garoto tocou o ombro dessa pessoa.

— Não sei exatamente. Estão dizendo que um monstro invadiu a capital, e agora a rua está interditada.

— Um monstro?!

— Sim, mas, ao que parece, ele já foi morto. Me pergunto se é aquela criatura que apareceu no jornal há alguns dias.

Definitivamente não, já que a criatura em questão se tratava de Dante quando bebeu o sangue da Angel. Mas o fato de um monstro ter invadido a capital deixou o garoto e Emi preocupados.

— Com licença, mas está tendo uma luta agora entre esse monstro e os cavaleiros? — A garota entrou na conversa.

— Estão dizendo que esse monstro já morreu. Se quiserem detalhes melhores, é só entrarem por essa vasta multidão, meus jovens, mas eu não teria coragem.

O lugar estava muito cheio e barulhento, o que desmotivava qualquer um de entrar.

“Parece um evento de anime…”

Enquanto ficaram parados, mais olhares curiosos se juntavam ou observavam de longe. Aquele lugar tinha a tendência de encher cada vez mais.

— Muito obrigado pela informação.

Ele agradeceu aquela pessoa pelas informações, e os dois se afastaram um pouco e tentaram pensar no que fazer.

— Tem que ter uma forma de contornar isso, não é mesmo.

— Sim, é só irmos para uma outra rua. Talvez vamos conseguir passar ou entrar no meio da multidão.

— Espera, Emi, se for assim, então é melhor passarmos por essa aqui mesmo.

— Tem certeza, Dante? Quer mesmo se arriscar? Nós não sabemos o que tem na rua do lado, pode ser que não esteja tão cheio como aqui.

— Eu acho isso meio improvável… Vamos atravessar essa mesmo, o mais rápido possível, já que não temos muito o que fazer agora.

Então, adentraram a multidão, espremendo-se com dificuldade pelo tanto de pessoas ali. O calor corporal de todos enchia os dois de calor, mesmo naquele dia frio, e o tanto de falatório ajudava àquela situação ser bem menos satisfatória do que já era.

“Estou começando a repensar se vale mesmo a pena passar por isso…”

Para a surpresa de Dante, eles haviam chegado a um monte de cercas de madeira, que não estavam realmente presas ao chão, e sim para informar que aquela área estava interditada e que ninguém poderia passar.

— D-Dante! — exclamou Emi, que fazia força para passar entre duas pessoas — Que situação mais desgraçada… Saco… Quero ir para casa…

— Eu também…

Infelizmente, não se sabia quando aquela área seria livre novamente, e, a não ser que achassem um outro caminho, teriam que esperar.

— Huh? Esse lugar está interditado? — A garota viu a cerca.

— É o que parece.

— O que está acontecendo, hein?

Os dois, lado a lado, observaram à frente. Havia vários cavaleiros impedindo que as pessoas ultrapassassem a cerca, um deles até deu um soco em uma pessoa que se aproximou demais. Não só cavaleiros comuns, mas também da Guarda Real, que estavam em volta de alguma coisa.

— Você está conseguindo ver alguma coisa? — Dante perguntou, enquanto ficava das pontas dos pés, tentando ver algo.

— Não muito bem… Hã? Espera, asas?!

O jovem olhou para ela com as sobrancelhas franzidas, depois olhou para frente. Foi quando conseguiu ver o que os guardas estavam em volta.

Era um ser de coloração cinza, com escamas, asas e garras. Ele já estava morto, com um corte na região do coração. Entretanto, com experiência em jogos de RPG que jogava por horas no computador, mangás e light novels de fantasia que lia, animes que assistia, pôde identificar com facilidade o que era aquilo.

— Um dragão?!

Porém, Dante estranhou um pouco, e até suspeitou que estivesse errado. Geralmente, dragões são monstros enormes, mas aquele ali era bem pequeno para os padrões, tendo o tamanho de um cachorro.

— É mesmo, um dragão!

— Mas, ele é tão pequeno… Dragões não são enormes?

— Não precisam ser necessariamente. Só que isso é definitivamente um dragão! Incrível! Nunca pensei que veria um pessoalmente. — Os olhos da garota brilhavam.

— Então, um dragão invadiu a capital. É por isso que o lugar está interditado…

O jovem olhou para com mais atenção para os cavaleiros. Poucos tinham ferimentos graves, e nenhum foi morto pelo dragão. No chão, havia sangue e marcas de fogo. Provavelmente, aquele monstro deu um pouco de trabalho, e difícil de se lidar.

— Então os dragões voltaram…

— Disse alguma coisa?

O jovem ficou imerso naquela cena, e não prestou atenção no que ela disse.

— Eu disse que os dragões voltaram. Mas como?

Emi parecia muito pensativa sobre isso.

[Provavelmente, porque você, mestre, trouxe esse grande pedaço de mundo ao seu lugar de origem.]

Se a volta dos dragões foi culpa de Dante, e se isso era bom ou ruim, ele não sabia, e tentou não ficar pensando muito nisso, mas recebeu aquela resposta como a mais provável, por enquanto.


Horas se passaram desde então, e os dois ficaram um bom tempo naquela multidão até liberarem a passagem. Por sorte, o encontro já havia acabado, e aquilo não contaria como uma parte ruim e cansativa de algo que foi divertido.

Quando chegaram na mansão, foram direto ao trabalho, tendo que fazer apenas o que sobraram para eles, já que algumas das tarefas foram completadas.

No intervalo, praticou magia com Flora, se acostumando ainda mais com a magia de raio negro e se aperfeiçoando.

Enfim, a noite havia chegado, e já não havia mais nada para se fazer. O garoto estava em seu quarto deitado na cama, olhando para o teto.

— Hoje foi um dia legal.

[Pois é.]

— E eu vi um dragão hoje.

[Sim. Não foi o tipo que você gostaria de ver cara a cara mas, sim, viu.]

— “Ver cara a cara” não é a melhor definição. Isso seria assustador.

[Então, prefere ser um mero espectador?]

— Sim, é mais seguro.

[E lutar contra um dragão?]

— Qual é! Você sabe que eu não sou forte o suficiente para isso!

[Hehe! Verdade! Mas não se pode dizer o mesmo nos jogos onlines.]

— Ah, é? Não é como se eu fosse um pro player ou coisa assim. E não estamos em um jogo.

[Mas nos jogos, você acharia que conseguiria matar um?]

— …Olha, talvez.

[Bem, na vida real vai ser meio impossível por ora. Com certeza você morreria de novo.]

— Hm…

O jovem se lembrou que fazia tempo que não via a deusa que sempre o ajudou desde que se conheceram.

— Eu queria poder conversar com a Himawari de novo. Aconteceu muita coisa desde quando ela me deixou por conta própria.

[Ela deve estar ocupada, fazendo seus deveres de deusas ou coisa assim.]

— Você tinha coisas assim também, Sophie? Quando era uma deusa.

[Sim.]

Foi quando ouviram uma batida na porta.

— Quem será?

[Vai lá ver.]

Ao abrir, se encontrou com Ren parado à sua frente.

— Vamos lá?

— …Hã?

— As bolhas lunares! Eu havia te dito isso ontem.

— Ah!

Dante se lembrou rapidamente, mas não imaginou que isso estivesse acontecendo agora.

— Por que isso está acontecendo tão tarde?

— Não sei. Pesquise no Google. Vamos, Dante!

— Certo… só vou pegar meu celular.

— Quê? Essa coisa ainda não descarregou?

— Pra você ver como é um produto de alta qualidade.

Após isso, andaram pela mansão, até chegarem na parte de trás da mansão. Ao adentrarem, os dois foram recebidos por uma friagem que estava pior do que a de manhã. Mas, junto disso, viram várias bolhas transparentes de diversas cores pelo céu.

— Uau…!

Era algo que o garoto nunca experienciou em sua vida, e o fazia ter vontade de ficar naquele lugar frio para aproveitar um pouco.

Todos estavam lá, Chap e seus filhos, e até a cozinheira que não morava na mansão.

— Dante! Dante! Senta aqui! — exclamou Saphir, a pequena empregada.

Obedecendo, o jovem sentou ao lado da garotinha. Viu que estavam fazendo um piquenique: havia uma cesta de palha cheia de pães, uma garrafa de suco junto de uns copos sobre um longo lençol.

— Dante, isso é lindo, não é? — Saphir falou, se agarrando ao pescoço dele.

— Sim… é bem maneiro.

O jovem esticou sua mão em direção à uma das bolhas que estavam caindo lentamente pelo céu. Ela o atravessou.

— Não dá pra agarrar.

O jovem imediatamente pegou o seu celular, tirando uma foto do que estava vendo. Depois disso, tirou uma foto do céu noturno recheado de estrelas.

“Mais uma foto para registrar o momento.”

Ele foi cutucado no ombro, olhou e se deparou com um pão em sua frente.

— Aqui.

Chloe o ofereceu.

— Obrigado.

O garoto comeu aquele pão enquanto olhava para o lindo céu estrelado e essas bolhas coloridas.

“Será que Angel e as outras estão vendo isso agora?”

[Provavelmente sim.]

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