Selecione o tipo de erro abaixo

Na alvorada, os jovens se adiantaram, antes mesmo de o sol mostrar seus primeiros raios. Eles já estavam no campo de treinamento, aquecidos e preparados para o que estava por vir.

Sem muitas delongas, quando o sol começou a raiar, o semblante do grande guerreiro e futuro mentor surgiu à vista. Com uma expressão séria, Dario iniciou sua primeira lição, algo crucial para a jornada dos aprendizes.

— Antes de começarmos, vocês precisam entender uma pequena coisa. . .

Ele explicou uma nova mecânica, revelando como funcionava o treinamento da constituição física. Usando palavras simples, descreveu o corpo como um recipiente, uma jarra exemplar. O líquido que permanece em seu interior representava a mana. E para ilustrar a genética, Dario apontou para uma variedade de recipientes: alguns finos, outros maiores. No entanto, todos eram feitos de argila, o que significava ser possível moldá-los por meio de treinamento específico.

Não havia um caminho único; a metodologia variava entre as espécies. A abordagem mais comum envolvia aprimorar músculos, ossos, órgãos, sangue e, por fim, os cinco sentidos.

Os Demi-humanos seguem um caminho semelhante, conhecido como o “Método dos Homens-Feras”. Esse método, criado por um ancestral semelhante a um leão, é dividido em dez estágios. Cada estágio caracterizava um despertar gradual da verdadeira vontade animal que reside em todos os seres vivos. À medida que se avança, os praticantes experimentam um aumento considerável na força física e desenvolvem uma aura amarelada, intimidadora para os mais fracos.

— Nossa! Não fazia ideia que esse tipo de coisa existia — Lukky estava boquiaberto com tanta informação.

Ele nunca imaginou que esse tipo de coisa existisse. Seus olhos se arregalaram enquanto absorvia cada palavra que Dario dizia. O colega, por outro lado, parecia menos impressionado.

— Tu que é desinformado — retrucou o colega, com um tom de superioridade.

Dario, ignorando o comentário, continuou:

— Enfim. . . Irei dar-lhes uma demonstração do que irão aprender. — Ele retirou seu manto, revelando músculos bem definidos ao ar livre. — Para o primeiro estágio, é necessário materializar seu animal em sua mente. Normalmente, colocamos os soldados em uma caverna isolada, mas não é totalmente necessário…

Dario começou a fazer uma série de movimentos em círculo, como um kata. Seus pés se moviam com precisão, e suas mãos se juntavam em sinal de prece próximo ao peito. Uma aura dourada começou a emanar de todo o corpo do homem, envolvendo-o em uma luz brilhante.

— Esse é o primeiro estágio — disse Dario, com um sorriso enigmático. — Nomeado de Despertar Interior. A próxima lição de vocês será aprender isso — Ele entregou um pergaminho aos alunos, com o mesmo ciclo de movimento que ele havia realizado.

Os jovens pegaram o pergaminho com reverência, sentindo o peso da responsabilidade em suas mãos. O papel era antigo, mas as instruções eram claras, detalhando cada movimento com precisão meticulosa.

— Lembrem-se, o Despertar Interior é apenas o começo — Dario falou, sua voz agora mais suave, mas ainda carregada de autoridade. Ele olhou para cada aprendiz com um olhar penetrante que parecia alcançar suas almas. — Cada um de vocês possui um animal espiritual que reflete sua essência mais profunda. Encontrá-lo não será uma tarefa fácil e exigirá mais do que apenas força física; requer introspecção e uma conexão profunda com seu eu interior.

Com essas palavras enigmáticas, Dario se afastou, sua figura desaparecendo na névoa matinal como um fantasma, deixando os aprendizes sozinhos com seus pensamentos e o pergaminho misterioso.

— Me dá esse negócio aí — Lukky estendeu a mão impacientemente, tentando agarrar o pergaminho das mãos de Kraus. — Oshy, essa dancinha do TikTok tá no papo.

— Tenha calma — Kraus puxou o pergaminho de volta com um olhar reprovador. — E muita falta de responsabilidade ele nos dar esse pergaminho e sumir assim. Além do mais, o que acontece quando usarmos isso? Será que cansa muito? Gasta mana ou nossa energia? Há muitas dúvidas que se pararmos para pensar…

Mas Lukky já estava a milhas de distância dos questionamentos de Kraus, seus pés deslizando sobre à terra enquanto ele imitava os movimentos do kata com uma graça surpreendentemente desajeitada. Com um giro final, uma aura negra começou a se formar ao redor dele, tomando a forma de um pássaro majestoso.

A aura pulsava com uma energia selvagem, fazendo Kraus sair de seu transe preocupado para observar Lukky, que agora ostentava um sorriso triunfante.

— Que diabos você fez! — Kraus exclamou, seus olhos arregalados em choque.

— Falei que tava no papo. . . — Lukky começou a se gabar, mas sua voz foi abruptamente cortada quando a aura negra que o envolvia começou a se agitar como uma tempestade furiosa. Seu corpo começou a escurecer e secar, suas feições se contorcendo em uma máscara de desespero enquanto ele encolhia como uma folha sob o sol escaldante do meio-dia, deixando-o com um aspecto macabro e espectral.

Kraus correu para o lado dele, seus passos ecoando no silêncio tenso que se seguiu. Ele desmoronou ao lado do amigo, agora inconsciente e tão pálido quanto a lua cheia em uma noite sem nuvens.

— Lukky, caramba! Acorda! — Kraus sacudiu o amigo com urgência, mas os olhos de Lukky se fecharam lentamente até que ele desmaiou por completo, ignorando os chamados desesperados de Kraus.

Quando começou a acordar, já não estava mais sobre o chão frio e duro daquele lugar, em vez disso, encontrava-se em um ambiente confortável e familiar. Ainda com os olhos fechados, voltando aos poucos à consciência, ele podia ouvir uma discussão acalorada do outro lado da sala.

— Explique direito o que aconteceu, jovem — a voz autoritária de Dario cortava o ar como uma lâmina afiada.

Kraus, ainda ofegante pela adrenalina e pelo susto, tentava explicar: — Então… eu estava pensando em uma forma inteligente de aprender esse tal método, mas esse idiota só olhou o pergaminho de relance e fez os movimentos do jeito que achou melhor e. . . FUNCIONOU! — gesticulava freneticamente com as mãos para enfatizar sua surpresa.

— Hum. . . — Dario acariciava seu queixo barbado pensativamente. — Então… qual animal ele despertou?

— Creio que foi um pássaro ou algo assim. A aura era preta e não amarelada como você mencionou antes.

Dario franziu a testa em preocupação. — Aura preta? Um pássaro? Isso definitivamente não é…

Foi então que Lukky, com olhos sonolentos e confusos, finalmente despertou do seu estado letárgico.

AAaaahhh — ele bocejou longamente, esfregando os olhos com as costas das mãos. — Definitivamente não é o quê?

Olhando ao redor, Lukky percebeu estarem na casa de Nica, um lugar que sempre lhe trazia conforto, mas a senhora estava ausente. Apenas Dario e Kraus estavam lá, sentados como duas estátuas pensativas.

— Ótimo que você tenha acordado… — Dario retomou, sua voz agora tinha um tom de advertência. — Voltando ao assunto, definitivamente não era o método que eu passei a vocês. Provavelmente você fez o movimento de algum kata semelhante… É importante lembrar que os conjuntos de movimentos não são aleatórios; eles seguem um padrão relacionado a uma constelação específica. Com infinitas constelações no céu, um movimento errado pode invocar outra energia celestial e resultar em algo… menos que satisfatório, como no seu caso.

— Outra coisa — continuou Dario, levantando-se e caminhando lentamente pelo cômodo — o método dos ‘Homens-Feras’ não deve ser praticado repetidamente em curtos intervalos de tempo. Como é uma extensão física da sua essência, ele desgasta muito o corpo, músculos e afins. Eu diria que dez tentativas por dia é o máximo que vocês devem se permitir. E mesmo assim, duvido que consigam manter a forma por mais de cinco segundos inicialmente. Mas para começar o treinamento verdadeiro, vocês precisam despertar suas bestas interiores. Todos os seres têm uma; nós Demi-Humanos geralmente já conhecemos as nossas, pois somos semelhantes a elas. Já vocês humanos…

Dario parou por um momento, olhando diretamente para Lukky com uma expressão severa.

— Eu vou indo agora. E Lukky — ele apontou um dedo acusador na direção do garoto — siga as instruções do seu colega para evitar outro incidente como este. Ao anoitecer, voltarei para verificar seu progresso.

Com essas palavras finais e um olhar que prometia consequências sérias se suas instruções fossem ignoradas novamente, Dario saiu da casa de Nica, deixando os dois jovens sozinhos com seus pensamentos e o peso da responsabilidade sobre seus ombros.

— Cara grosso, né? Não lembrava dele ser assim não — Lukky murmurou, ainda tentando sacudir a sensação de ter sido repreendido.

— Ah? cê jura, Lukky? — Kraus respondeu com um sarcasmo tão espesso que quase dava para cortar com uma faca.

— O quê!? Por acaso eu cometi um crime?

Kraus se levantou e encarou Lukky com uma expressão que misturava incredulidade e diversão.

— Eh. . . Ok, vamos esquecer isso e focar no que temos que fazer. Aliás, pega uma maçã para mim — disse Lukky, mudando de assunto enquanto se erguia da cama.

A maçã foi arremessada em sua direção e ele a pegou no ar com uma habilidade surpreendente. Com uma mordida crocante, ele perguntou:

— E agora?

Kraus olhou para o amigo com um sorriso malicioso.

— Agora? Agora você aprende a seguir instruções ou vou te fazer comer esse pergaminho junto com a maçã.

Lukky engasgou com a maçã, tossindo enquanto ria.

— Ta bom, ta bom! Vamos começar esse treinamento antes que o Dario volte e nos transforme em estatuetas de jardim.

Os dois compartilharam uma risada antes de se concentrarem na tarefa à frente. Com o pergaminho entre eles, começaram a decifrar os movimentos antigos e misteriosos, determinados a não terminar o dia como duas estátuas sob o olhar severo de Dario. . .

Picture of Olá, eu sou R-Lkz!

Olá, eu sou R-Lkz!

Comentem e avaliem o capítulo! Se quiser me apoiar de alguma forma, entre em nosso Discord para conversarmos!

Clique aqui para entrar em nosso Discord ➥