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Capítulo 8 – A emboscada

Antes de prosseguirmos em nossa jornada noturna, Wian se concedeu um breve instante para recuperar o fôlego. Suas respirações pesadas reverberando no silêncio que nos envolvia. Thoran estava ao seu lado, mantendo a vigilância enquanto Belchior verificava os arredores.

A razão para tal exaustão era evidente: escapar da morte iminente e conjurar feitiços repetidamente exigia um tributo físico e mental formidável. Entre suspiros, Wian revelou que o nome daquela conjuração era Rajada Mística – um título apropriadamente enigmático, refletindo a natureza arcana de sua magia.

Foi então que parei, meus olhos varrendo o campo de batalha que deixamos para trás. Seis goblins jaziam inertes, o sangue, negro como a própria noite, jazia no chão, corroendo-o como se fosse um ácido. A visão da carnificina, com seu horror palpável, deveria evocar uma reação visceral em qualquer ser dotado de sentimentos.

Contudo, um vazio gélido havia se instalado em meu peito; minhas emoções, ao que parecia, tinham sido abafadas sob o peso esmagador da adrenalina. Sempre me orgulhei do meu autocontrole, da habilidade de manter a serenidade mesmo diante do caos absoluto, mas naquele momento, a calma que me envolvia era assustadoramente fria. Thoran, com seu semblante sempre sério, parecia compartilhar do mesmo sentimento, embora seu foco estivesse inabalável.

Uma quietude que, em vez de confortar, sussurrava que algo dentro de mim havia se deslocado para além da compreensão humana.

Nesse momento, a compreensão dessas circunstâncias se tornou uma névoa distante, algo fora do meu alcance, perdido nas sombras que se alongavam à nossa frente. Sem hesitação, continuamos nosso caminho, deixando para trás um rastro de goblins abatidos em encontros fugazes.

A sensação constante de ameaça não foi atenuada pela falta de confrontos mais significativos; no entanto, nossa série de sucessos foi interrompida por um erro grave. Em um instante de descuido imperdoável, meu valoroso companheiro falhou ao conjurar um feitiço contra um inimigo quase imóvel, paralisado mais pela surpresa do que pelo medo.

Com a nossa proteção sombria agora desfeita, restava apenas a crua e brutal realidade do confronto direto.

Ah, a ironia de nos vermos em tal encruzilhada, onde a força bruta supera a astúcia e a sagacidade. Quem recorreria a estratégias covardes e artifícios desprezíveis?

Que alma frágil recorreria a táticas tão desprezíveis para salvar a própria pele? Não, enfrentaremos nossos adversários olho no olho, ou melhor, em várias frentes, numa exibição de coragem… ou seria apenas uma tolice desmedida?

Percebendo a clara desvantagem, o monstro corre túnel adentro. Seguindo-o de perto, fomos surpreendidos por um totem imponente que se erguia diante de nós. Com mais de dois metros de altura, suas cores vivas e chamativas pareciam zombar da nossa perplexidade, como se o monumento estivesse ali para lembrar-nos da fragilidade de nossa confiança.

Aquele momento, impregnado de uma sensação de inquietação, nos forçou a confrontar a realidade brutal de nosso caminho. Que espécie de enigma era aquele? Um altar, talvez, adornado com um pedestal que sugeria algo mais do que simples adoração.

Ao mergulhar mais fundo em minhas reflexões, a ideia de uma passagem oculta ganhava uma nitidez inegável. A certeza de que algum mecanismo – uma alavanca, um botão, um artifício qualquer – permanecia oculto, esperando para ser descoberto, tornava-se quase palpável. A expectativa e o mistério mesclavam-se, criando uma tensão que pulsava no ar, como se o próprio cenário estivesse nos desafiando a desvendar seus segredos.

Thoran, sempre prático, começou a examinar o totem, buscando qualquer indício de um mecanismo oculto. Belchior, por sua vez, mantinha-se alerta, pronto para qualquer eventualidade.

Então, sem qualquer aviso, a tranquilidade foi brutalmente estilhaçada pelo estrondo de uma rajada mística. O som retumbante da magia atingindo seu destino rasgou a expectativa do momento, transformando a quietude em uma cacofonia de poder e medo. O ar carregado de energia pulsava ao nosso redor.

“O que está acontecendo?” Thoran gritou, seus olhos varrendo a área em busca de uma ameaça.

Inacreditável, caímos diretamente em uma armadilha — mas desde quando goblins demonstram tal perspicácia ardilosa? Esta revelação soava como um alarme sinistro em minha mente, um complicador inesperado em nosso caminho.

A astúcia traiçoeira desses seres pegava a gente de surpresa, deixando um gosto amargo de dúvida sobre cada passo que dávamos. O lugar, que antes era previsível, agora estava carregado de uma nova e inquietante ameaça. Cada movimento nosso precisava ser pensado duas, três vezes, com uma cautela que até então a gente nem sabia que tinha.

Enquanto me virava, a ficha caiu: a gente tinha cometido um erro daqueles. Uma passagem, tão bem escondida na paisagem que era praticamente invisível, tinha passado batida. Nós, sem querer, ignoramos ela e acabamos caindo numa emboscada.

Os goblins surgiram da escuridão, como sombras tomando forma. No entanto, o destino estava do nosso lado na figura de Wian! O cara, que cuidava da nossa retaguarda, tinha olhos de águia e percebeu o perigo iminente na hora. Com uma precisão devastadora, ele lançou sua magia e mandou os goblins de volta pra onde vieram.

O primeiro monstro caiu, seu corpo se transformando numa barreira intransponível para os outros. Um bloqueio morto que impedia qualquer um de fugir ou avançar.

Sua derrocada selou o destino dos que o seguiam; privados da surpresa e confinados em um corredor de morte, eles estavam prestes a se tornar protagonistas de um massacre.

A armadilha que armaram tornou-se  sua própria prisão. A ironia da situação era quase palpável no ar. Eles, que se achavam tão espertos, prontos para nos emboscar, se viam encurralados pela própria estratégia.

O palco estava armado para um banho de sangue, um espetáculo de vingança estava prestes a acontecer. Eu podia quase sentir a tensão se acumulando, cada um deles percebendo que o jogo tinha mudado e que a morte  era inevitável.

Depois da chacina e com o caminho secreto finalmente revelado diante de nós, decidimos que merecíamos um breve descanso. A vantagem estratégica que o terreno nos oferecia era tentadora demais para ignorar.

Ali, naquela passagem estreita, fortalecida pela nossa vigilância, a possibilidade de sermos oprimidos por uma força maior parecia distante. A geografia do lugar funcionava como um escudo, uma fortificação natural que nos permitia controlar o fluxo da batalha.

Descansamos bem, mas se eu soubesse o que estava por vir… teria aproveitado mais.

Conforme avançávamos, a mudança no ambiente sugeria um prelúdio do horror à nossa espera. O cheiro de morte estava em toda parte, um odor forte, de sangue seco e de decomposição se agarrava às paredes de pedra polida como um véu macabro.

O som dos nossos movimentos ecoava pelo espaço, uma sinfonia sombria que se misturava aos sussurros das tochas. Era como se carregasse o lamento silencioso dos que haviam perecido ali.

“Não, Mir, não havia nada escondido naquele totem. Era apenas uma distração, e, como você viu, eu caí direitinho, mas podemos deixar isso de lado”


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Olá, eu sou Bar do Bardo!

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