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Capítulo 0029: Casal de batalha

Gwen deslizou pela taverna como uma sombra, tão rápida que o seu casaco de pele de lobo caiu no chão e a despiu, deixando-a apenas com o seu vestido de seda branca colado ao corpo pela chuva.

Os homens congelaram, sem reação, enquanto ela saltava e rasgava a garganta de um deles com a sua adaga.

Podia ser pequena e de braços finos, mas era forte; sua lâmina abriu o pescoço carnudo do homem como se fosse um pedaço de pão e fez o sangue esguichar em seu rosto.

— Filho da…!

Antes de seus pés tocarem o chão, ela chutou o peito do moribundo, o derrubando e pegando impulso para recuar a uma distância segura dos outros, bem ao lado de Siegfried.

— Aff! Cê tá de sacanagem. — Ela começou a esfregar o rosto com as mãos. — Acho que entrou no meu olho, filho da mãe! Desgraçado!

Enquanto via a garota puxar a gola do vestido para limpar o sangue do rosto e ficar ainda mais irritada ao rasgá-lo no processo, Siegfried sorriu.

Seus olhos desceram pelo corpo dela, do cabelo castanho molhado que grudava na sua nuca, até as pernas finas que gotejavam, formando uma poça d’água onde ela estava. A seda branca se tornara quase transparente, colada ao corpo da garota e marcando bem as poucas curvas que tinha.

— Quê que foi? — perguntou Gwen, ao notar que o rapaz a observava. — Não tem nenhum inimigo escondido entre as minhas pernas, se é por isso que cê não para de olhar pra elas.

— Só tava pensando aqui. Cê fica linda quando cala a boca.

— Quê!? E-ei!

O rapaz a ignorou e começou a caminhar até os mercenários restantes. Quatro homens adultos e meio esfarrapados; grandes, mas estavam mais para gordos do que musculosos.

E Siegfried podia cheirar o medo deles.

Isso fez o seu sangue ferver.

Tinham formado uma linha defensiva, com três na frente, ombro a ombro, e o último atrás dando ordens.

— Ei, isso é sério? — perguntou o rapaz. — Cês tão em maior número, né? Por que não atacam?

— Moleque idiota! — disse o líder deles. — Não sabe nada de táticas militares. Homens!

Os três mercenários deram um passo à frente, mantendo a formação. Nada particularmente impressionante, não se moveram em sincronia e sua base ficou tão ruim que uma boa investida teria rompido sua defesa facilmente.

Mas o líder deles sorriu orgulhoso.

— … É só isso? — Siegfried permaneceu parado, com a espada descansando no ombro.

— Seu merdinha! Tá se achando muito só porque matou um ou dois idiotas. Se é tão bom, por que não vem aqui? Homens!

E ele foi.

Não era tão rápido quanto Gwen, mas não tinha de ser. Os mercenários tinham acabado de dar outro passo para a frente e entraram em pânico assim que o viram avançando em sua direção.

Não tinham escudos, apenas espadas velhas e meio cegas, talvez por isso um deles tenha achado que era uma boa ideia sair da formação e atacar.

Siegfried deslizou por baixo do golpe, sentindo o vento frio da morte bagunçar o seu cabelo. No momento seguinte, já estava nas costas dele.

O couro curtido resistiu bem no começo, mas a ponta da sua espada acabou rasgando o tecido, trespassando a carne e destruindo os órgãos do homem, atravessando o corpo até sair pelo seu peito. Siegfried girou a lâmina, matando-o na mesma hora, e então deu um puxão, deixando o cadáver cair no chão.

Um segundo mercenário gritou de raiva pela morte do seu companheiro e avançou, desfazendo por completo a formação. 

Estava perto demais para desviar, mas bastou uma pancadinha com a sua espada na dele e o homem perdeu toda a sua base. Siegfried rasgou a sua garganta com um movimento rápido e viu o sangue respingar no rosto do terceiro mercenário, que congelou.

Aquilo fez o rapaz sorrir.

— Deuses, eu amo essa parte.

Ele enfiou a ponta da espada no pescoço do covarde, que tentou arrancar a lâmina com as mãos nuas, mas tudo o que conseguiu foi cortar os próprios dedos até cair de joelhos com lágrimas nos olhos.

Siegfried empurrou o cabo da espada para cima, como uma alavanca, e partiu o crânio do homem ao meio.

Nunca tinha tentado isso antes e lhe pareceu uma boa oportunidade. Seria uma ótima história para contar em volta de uma fogueira, com uma boa caneca de cerveja na mão.

De repente ouviu o grito de Emelia e viu Gwen se jogando em cima de um mercenário com uma flecha espetada nas costas; ela puxou a cabeça do homem para trás e abriu a sua garganta até o osso, enquanto ele lutava para alcançar a filha do conde.

Siegfried deu um passo na direção delas, mas teve de recuar por um instante quando o quarto mercenário raspou a lâmina em sua brigantina ao tentar acertá-lo.

— Não vai se achando, não! — gritou o homem, brandindo a sua espada como se fosse um cutelo. — Eu não preciso daqueles idiotas pra te matar, tá ouvindo!? Ein!?

— E tem como não ouvir, com você berrando no meu ouvido?

Bastou dois golpes rápidos para desfazer a base do oponente e forçá-lo a ficar na defensiva, então espetou a sua barriga com a espada, fazendo ele cair de joelhos, e o decapitou com um único golpe, deixando a cabeça rolar pelo assoalho de madeira podre.

— Não, não! — gritou Thorbert, do outro lado da taverna, onde Siegfried o tinha deixado. — Espera–

Sam não quis saber. Enfiou a espada nas costas do mercenário derrotado, uma vez e mais outra.

Foi um trabalho desleixado, o garoto não tinha a força necessária para atravessar o couro curtido com um golpe, mas o que lhe faltava em técnica, ele compensava em determinação; jogou o peso do seu corpo sobre a lâmina e atravessou as costas de Thorbert de novo e de novo.

Quando terminou, o garoto caiu sentado no chão e deu uma olhada ao redor, ofegante, com as mãos tremendo e os olhos molhados. Siegfried podia ver o medo e a raiva em seus olhos, se lembrando da primeira vez que matou um homem.

— S-Sam… — disse Emelia, assustada demais para chegar perto do próprio irmão. — O que você fez?

O garoto olhou as próprias mãos e então a sua respiração ficou irregular, como se sentisse dor, apesar de não estar ferido. Quando a primeira lágrima escorreu dos seus olhos, ele se virou para Siegfried, como que implorando que lhe dissesse algo.

“Ele quer um elogio?”

Não tinha nenhum para dar, mas lembrou de algo que tinham lhe dito após a sua primeira batalha e que parecia adequado naquela situação:

— Na próxima, faça com um golpe só!

De algum modo, funcionou.

Sam ficou confuso no começo, até que pareceu entender algo enquanto o encarava. O garoto se levantou, secou as lágrimas e fez a expressão mais feroz que uma criança de nove anos era capaz:

— Sim, senhor!

— D-do que você tá falando!? — perguntou Emelia, irritada. — Ele acabou de matar um homem!

— E daí?! — Siegfried guardou a espada. — Eu matei quatro, agora a pouco. Isso não é uma competição.

— Ele tem nove anos!

— Hum, é mesmo. — Ele coçou a cabeça. — Eu tinha esquecido disso. Tô até meio com vergonha agora. Eu já tinha onze quando matei o meu primeiro. Mandou bem, garoto.

Siegfried afagou o cabelo de Sam, em sinal de aprovação, e o garoto sorriu, de repente muito orgulhoso de si mesmo.

Emelia já estava abrindo a boca para reclamar de novo, quando notaram uma porta rangendo.

— Cês já esqueceram porque a gente tá aqui? — perguntou Gwen, descendo até o porão com uma tocha na mão.

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