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Ayasaka abriu lentamente suas pálpebras pesadas, tentando assimilar o ambiente ao seu redor. Estranhamente, não sentia a presença de objetos ao seu redor, dando-lhe uma sensação de vazio. Aos poucos, recobrou a visão, que estava embaçada, semelhante a acordar de manhã após poucas horas de sono insatisfatório.

Ela olhou ao redor, mexendo a cabeça pesadamente. Percebeu que estava deitada de lado em um ambiente completamente desconhecido, ela sentou-se desgraciosamente e arrumou o violão que estava em suas costas.

— O que é isso? — murmurou enquanto examinava o estranho ambiente ao seu redor.

Ayasaka estava em um local completamente branco, incapaz de distinguir o chão, as paredes ou o teto. Era um ambiente vazio e opaco. Ela tocou o chão com cuidado, tentando entender se estava sentada ou flutuando. Sentiu um eco sólido que se espalhou como folhas secas quebrando, semelhante ao solo de uma floresta.

Sua última memória era de rolar no chão com a criatura e tudo ficar preto logo em seguida.

“Estranho,” pensou Ayasaka enquanto se levantava e começava a andar por esse misterioso lugar.

Enquanto caminhava, sentiu a sensação de grama orvalhada sob seus pés descalços. Apesar da falta de visão, ela percebeu que estava caminhando como se estivesse em uma floresta.

“Não vejo nada, mas parece que estou andando na floresta,” pensou Ayasaka.

— Talvez eu tenha morrido né — comentou, rindo consigo mesma diante dessa ideia. — Que morte merda hein…

Após vagar pelo ambiente invisível por alguns minutos, Ayasaka notou uma pequena silhueta na distância. Parou e se concentrou na direção daquela sombra, tentando entender o que era. Com cautela, começou a se aproximar, mas a silhueta se afastava conforme ela se aproximava. Era um pequeno borrão cinza que saltitava ao andar.

O pequeno borrão se aproximou um pouco de Ayasaka, mas sempre mantendo uma distância segura. Cada vez que ela tentava se aproximar, a silhueta se afastava. Ayasaka observou com curiosidade, seus olhos vibrantes fixos na figura misteriosa.

— Você está assustado, não é mesmo? — disse Ayasaka, inclinando-se na direção do pequeno ser, que se aproximava timidamente.

 Ele possuía longas orelhas cinzas e olhos azuis, um coelhinho tímido.

— Já sei o que posso fazer por você — Ayasaka sentou-se no chão de pernas cruzadas, ajeitando seu largo manto vermelho e tirando Kazewokiru de suas costas.

— Pronto, pronto. Acho que o tocar aqui não vai fazer mal algum. Temos um amiguinho medroso e tímido para alegrar, Kazewokiru — disse Ayasaka com uma meiga risada enquanto dava leves batidas no corpo do instrumento que estava em seu colo. O instrumento cintilava com uma luz rosa em suas cordas transparentes.

O pequeno animal, curioso com a mudança de postura da garota, observava-a timidamente de uma curta distância.

Ayasaka passou a ponta dos dedos nas cordas de Kazewokiru, preparando-se para começar a tocar uma gentil melodia, julgando pela postura dela.

A garota levantou a mão para dedilhar as cordas do violão, mas, em vez de desferir o primeiro acorde, começou a dar pequenas batidas ritmadas no corpo do instrumento, criando uma inesperada percussão.

Ayasaka fez seu primeiro acorde em um tom maior, intercalando com as pequenas batidas no corpo do instrumento, iniciando uma melodia pausada composta por um acorde, uma pausa e uma batida com os dedos no instrumento.

Era algo diferente do que Ayasaka estava acostumada a tocar, e a garota intercalava olhares entre o instrumento e o animal que estava alguns metros à sua frente, atentamente prestando atenção.

Ayasaka ganhava confiança nesse novo estilo de ritmo e diminuiu o tom com um meio diminuto proposital, sorrindo ao criar uma quebra de ritmo.

Ela começou a dedilhar as cordas do instrumento com mais intensidade a cada acorde pausado, enquanto olhava para o pequeno coelho que se aproximava timidamente. Ayasaka demonstrava um sorriso enorme em seu rosto, aumentando a intensidade dos acordes pausados no instrumento.

O cenário ao redor da garota começou a tomar forma à medida que ela tocava em Kazewokiru. Ela viu árvores semelhantes às do bosque onde havia encontrado o desconhecido, com vultos amedrontadores de criaturas que surgiam brevemente entre as árvores que agora a cercavam.

“Estranho,” pensou Ayasaka, enchendo o peito de ar para começar a cantar.

Conforme começava a cantar de maneira gentil e acolhedora, com sons harmônicos e esticados de sua doce voz ecoando no ambiente mutável, Ayasaka teve visões de um pequeno coelho que tentava desesperadamente fugir de um grupo de criaturas indefinidas.

— Então você quer que eu veja o que você passou, baixinho? — perguntou Ayasaka de maneira calma enquanto continuava sua melodia em Kazewokiru. — Então vamos lá.

Com o tom da sua melodia estabilizada e constante, Ayasaka começou a assistir as memórias do pequeno animal, que cintilavam ao seu redor como pequenos flashes de projeções.

O pequeno coelho tinha caído de um barranco enquanto fugia de um grupo de criaturas que pareciam sombras vagantes, completamente sem características, exceto pelos seus olhos, que lampejavam em uma chama vermelha de violência e ódio, semelhante ao que Ayasaka havia visto quando Sannire enfrentou o desconhecido mais cedo, mas com uma silhueta diferente, semelhante à de um canino selvagem.

Uma das patas traseiras do pequeno coelho estava deslocada após a violenta queda, impossibilitando o pobre animal de continuar sua fuga pelo bosque.

O grupo de animais acabou encontrando o pequenino após alguns instantes, que estava escondido perto de um galho seco no final do barranco onde havia caído.

Os animais rodearam o coelho, que tremia de medo enquanto se encolhia com dificuldades devido à pata que não se movia.

Ayasaka começou a ter uma pequena crise de ansiedade enquanto tocava o Kazewokiru, pois as memórias do coelho, que agora estava bem próximo dela, passavam como imagens ao seu redor. Ela suspirou fundo e tentou acalmar sua mente, focando seus pensamentos na respiração controlada e rítmica. Lagrimas tímidas escorriam pelo rosto da garota, enquanto ela continuava a tocar o instrumento com acordes contínuos e violentos, criando uma melodia grave e sombria que parecia ecoar o sofrimento daquele momento.

Os animais desconhecidos cercavam o pequeno coelho, que permanecia imóvel e sem reação. Um dos animais, que se destacava do grupo, saltou na direção do coelho com sua mandíbula completamente escura, fazendo Ayasaka se assustar e parar de tocar o instrumento.

Ayasaka olhou para o pequeno coelho cinza, que estava confiantemente sentado a centímetros dela, respondendo ao olhar da garota, e disse:

— Entendi… essa é a sua história, né?… — Ayasaka disse com a voz tremula, em tom de choque e lágrimas nos olhos. — Eu sinto muito…

Ayasaka sentiu que deveria tocar uma última melodia em homenagem ao pequeno coelho, que tinha suas patas dianteiras apoiadas em suas coxas, observando-a de perto.

— Claro. Você merece essa, carinha… — disse Ayasaka, reajustando Kazewokiru em suas coxas e se preparando para começar a tocar.

Ayasaka começou a tocar uma sequência de acordes surpreendentemente gentis diante do pequeno animal. Era uma melodia que transmitia uma energia reconfortante, destinada a envolver o pequeno coelho com conforto e carinho. Ayasaka queria que sua música tocasse o coração do animal, que agora se apoiava em suas pernas, ouvindo atentamente os doces sons que as cordas de Kazewokiru produziam.

Enquanto continuava a tocar, Ayasaka chorava. Ela oferecia uma bela homenagem ao pequeno animal que estava diante dela, tocando acordes cada vez mais acolhedores em Kazewokiru. A garota estava se despedindo do pequeno e corajoso animal que o destino a trouxera. Ela e o instrumento estavam em perfeita sintonia, criando uma despedida perfeita para o frágil valente que encontraram.

O ambiente ao redor de Ayasaka parecia tremer enquanto os acordes gentis eram formados por seus dedos ágeis, percorrendo o instrumento de uma ponta a outra. A sombria floresta que a cercava começou a se desfazer diante de seus olhos, desaparecendo lentamente à medida que uma intensa luz brilhava do topo das árvores. A luz envolvia Ayasaka e o pequeno coelho, que desaparecia lentamente enquanto observava a última música de despedida.

— Descanse em paz, baixinho… — disse Ayasaka com os olhos cheios de lágrimas, enquanto a visão era gradualmente consumida por uma luz cegante. Suas lágrimas escorriam lentamente pelas bochechas, forçando-a a fechar os olhos. Seus sentidos se tornavam cada vez mais distantes à medida que sua respiração se acalmava, e o silêncio dominava sua mente. Ayasaka demonstrava um sincero e gentil sorriso.

— Descanse em paz, baixinho… — disse Ayasaka com os olhos cheios de lágrimas, enquanto a visão era gradualmente consumida por uma luz cegante. Suas lágrimas escorriam lentamente pelas bochechas, forçando-a a fechar os olhos. Seus sentidos se tornavam cada vez mais distantes à medida que sua respiração se acalmava, e o silêncio dominava sua mente. Ayasaka demonstrava um sincero e gentil sorriso.

Quando as cordas de Kazewokiru finalmente pararam de reverberar, Ayasaka se viu de volta em seu quarto, sentada de pernas cruzadas na cama, olhando para o alto com lágrimas no rosto. Ela sabia que aquela jornada com o pequeno coelho fora um presente especial, uma conexão única entre dois seres em um mundo cheio de mistérios e desafios. Mesmo com o coração pesaroso pela despedida, Ayasaka sentia gratidão por ter vivido aquele momento.

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