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A maldição nada vê, nada sente. Para ela tudo que havia naquela parte da exuberante floresta, são dois cadáveres. Nem mesmo, os pequenos sons involuntários que humanos e outros seres vivos costumam produzir, esses dois estão.

Mas tem algo estranho ali, o barulho da Bruxa sendo içada do chão e atravessando o ar velozmente, ocorreu e ainda está ocorrendo, mas por quê?

O cadáver na árvore está parado, sem produzir um ruído.

Então a maldição percebe, o braço quase parado, mas se movendo e criando rangidos minúsculos.

Esse erro, esses segundos gastos para entender o que aconteceu.

Foi tudo que Bruno precisou.

A Bruxa aterrissa no corpo quebrado do amálgama, esmagando os restos mortais. Bruno agarra ela com toda a força no seu braço esquerdo, garantindo a firmeza do agarrão, ele a mantém o mais próxima possível.

Quando ele olha, na sua frente está a maldição, a poucos centímetros dele. Se ele estendesse um braço ele conseguiria tocar.

A maldição fica ali, observando os dois, sem se mover.

Uma fúria palpável está no ar. Logo antes da Maldição do Silêncio, sumir mais uma vez.

Bruno acertou mais uma vez, mas ao invés de vangloriar-se, a dor que ele guardava explode. Apenas gritos guturais de dor, podem ser ouvidos ecoando pela floresta.

Horas se passam, talvez até dias, mais uma vez, é muito difícil ter uma noção de tempo naquela floresta opressiva, mas Bruno se mantém acordado, agarrado a Bruxa com determinação.

Os barulhos distantes de outros caçadores e guardas, diminuiu, até inevitavelmente o silêncio engolir eles. A instalação sofreu um massacre completo, e poucos ali conseguiram salvar-se da morte eterna trazida pelo monstro silencioso.

A maldição não aparece de novo, mas Bruno tem quase certeza, que depois do silêncio ter massacrado a instalação por completo, ele ficou um pouco mais opressivo naquela seção da floresta.

Bruno continua esperando, uma hora ou outra, a maldição iria embora ou a Bruxa acordaria. Em ambos os casos acabam sendo benéficos para ele.

A Bruxa começa a tremer no abraço de Bruno, durante algum tempo ele ficou inquieto, sem saber o que fazer, mas teorizando que acalma-lá poderia ajudar a fazer a maldição ir embora, ele ajeita a Bruxa, sacrificando o pouco conforto que ele têm em favor do dela. A voz dele ressoa, com uma profundidade sobrenatural, de alguém que não está produzindo som de forma comum.

— Vai ficar tudo bem. Você está segura agora… Você ganhou da caçada, parabéns! — Bruno hesita bastante antes de dizer, com toques de tristeza na voz — Maldições… Não são algo que ninguém deveria utilizar para ganhar uma vantagem ou deveria atrair intencionalmente. Querendo ou não, nosso embate… E principalmente eu ter brincado com você, causou tudo isso. Então eu sinto muito. Se precisar… Apenas jogue toda a culpa nas minhas costas, já estou acostumado com esse tipo de coisa!

Bruno termina de falar com algo similar a um tom de escárnio, no melhor das capacidades da voz sobrenatural dele.

Vez ou outra ele fala coisas similares, tentando acalmar a Bruxa.

Lento e progressivamente a Bruxa para de tremer e proporcionalmente a floresta vai desaparecendo, a presença da maldição vai sumindo também.

Ambos estão de volta em um armazém destruído.

Mesmo com a presença da maldição tendo desaparecido, o silêncio permeia pela instalação. Dessa vez o silêncio não é ameaçador, ou pelo menos, não suficiente para preocupar o amálgama.

Sentindo-se mais seguro, Bruno permite-se relaxar, e quase instantaneamente cai em um sono profundo.

A Bruxa acorda com uma dor de cabeça infernal. A primeira coisa que ela faz é cobrir os olhos com o braço direito, tentando cair no sono de novo. Depois da sonolência ser substituída por surpresa, ela retira o braço do rosto, analisando-o com curiosidade dubia.

Na área do cotovelo, estão marcas visíveis de metais anômalos, ao resto do braço que é completamente feito de Sentezio, ela nota que essa anomalia, também ocorre em pedaços abaixo do cotovelo, fazendo o braço negro ter varios pedaços cinzas.

Suas feridas pelo torso também pareciam curadas.

Tirando a dor de cabeça, ela está nos seus 100%, mais uma vez. A única coisa que a dor de cabeça realmente faz é deixar um pouco mais desafiador a ideia de usar energia psiônica.

— Finalmente acordou, eu já tinha me convencido que você realmente tava morta.

A Bruxa põe-se de pé imediatamente, atacando com as garras na direção da voz.

As garras param, a centímetros da figura cadavérica do líder dos caçadores, encostado na parede do armazém, com uma pequena lanterna entre os dois iluminando a cena.

Os dois ficam se encarando por alguns segundos.

Antes ele já era sinistro, com todo corpo sendo desproporcional e grande. Isso piorou agora que seus olhos não tem nenhum brilho de vida, e ele está cheio de ferimentos por todo o corpo.

— É eu sei. Sou bonitão, e é de… cair o queixo! — Bruno diz, sua voz tentando emular um tom comico.

A Bruxa olha para a mandíbula dele, pendurada por pedaços de pele sintética e fios. Uma carranca aparece no rosto dela.

— Cacete. Público difícil viu, só conheço gente sem senso de humor. Bem agora que você acordou, não vou ter que ficar mais trocando ideia com as vozes na minha cabeça. Até você é mais responsiva que aqueles cuzões!

Um olhar desconfiado é a única resposta que ele consegue.

— Pera… Você acha que eu to tentando te enganar? Quem você acha que botou e ajeitou seu braço? Foi difícil? Não muito, Sentezio é realmente impressionante, você só bota ele ai e o bicho faz o trabalho todo sozinho e — No meio do monólogo, as garras da Bruxa aproximam-se da garganta do cadáver — OW! PERA AI! EU NEM CONSIGO LUTAR NESSE ESTADO. ISSO É INJUSTO!

A Bruxa parece ficar especialmente irritada com o último comentário.

— Tá eu admito, que depois do que eu fiz contigo, falar que isso é injusto não ajuda muito meu caso. MAS, por favor me escute, eu genuinamente, mal consigo mover um braço, eu não — Notando que nada está fazendo ela parar, Bruno hesita antes de continuar — OK! Não tem problema me matar, de verdade! Pode fazer o pior, me torturar e saborear a vitória antes de acabar comigo, mas por favor, não aqui. É tudo que eu te peço.

Apesar do rosto ficar estático, de alguma forma ele produzia uma voz sinistra. Voz essa que trazia consigo, uma pitada de medo, algo muito raro. Ao ouvir como Bruno verdadeiramente, temia a ideia de morrer naquele lugar, a Bruxa observa um pouco dos seus arredores.

Um armazém destruído, mas não tinha nada novo nisso. O que é de fato aterrorizante sobre o lugar, que demora alguns minutos, para a Bruxa perceber, é o fato que a sala que eles estão, está submersa em um mar de energia amaldiçoada.

A Bruxa abre e fecha as mãos. Afiando uma garra na outra, em uma antecipação sombria.

Voltando o olhar para Bruno, ela parece ter um olhar incerto.

— Por favor. Morrer em um lugar com energia amaldiçoada remanescente, nesse nível, é uma experiência desconfortável no melhor dos casos… E no pior deles, é uma das piores torturas que qualquer um pode sofrer.

Ainda considerando a ideia de se livrar do seu inimigo prévio, ela afasta-se dele, e senta perto do local que acordou, oposta ao cadáver.

A Bruxa tira a dúvida da sua mente, balançando a sua cabeça em negação. Seu olhar volta-se para Bruno, com a mesma determinação de quando ela fugiu da cela pela primeira vez.

— Obrigado. Bem, agora que tudo isso são águas passadas, e que você não me abandonou instantaneamente, suponho que você aceitou… Trocar uma ideia?

Mais um olhar de extrema desconfiança.

— Ótimo! Sinto que vamos nos dar suuuuper bem!

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Olá, eu sou Mulo!

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