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Som. No momento que Bruno tira um dos pés do chão, ele sabe que iria arriscar-se a fazer barulho na floresta silenciosa. Então ao mesmo tempo que dá o primeiro passo, toda a aura vermelha que o cercava se retrai, entrando pelos olhos e envolvendo o cérebro dele.

340 metros por segundo. Essa é a velocidade do som, ser rápido ao ponto de quebrar as barreiras do som é um feito que alguns seres podem se orgulhar… Mas ignorá-las por completo é algo digno apenas de Maldições.

No momento em que Bruno tira um dos pés do chão. O som dessa ação, combinada com os muitos sons involuntários que seu corpo já produzia, atravessariam o silêncio aterrador da floresta… Isso claro, se Maldição não tivesse aparecido instantaneamente do seu lado.

Sem produzir o mínimo barulho, a criatura o alcançou antes mesmo do pé dele levantar mais que alguns míseros milímetros do chão.

Uma das mãos estava pedindo silêncio, com um dedo indicador levantado na frente do sorriso. Duas outras fazem símbolos em língua de sinais, a muito esquecidas. A última está levantada na direção de Bruno, com a palma aberta.

Uma única boca no meio da palma se abre.

Nenhum som.

Mesmo assim, uma única palavra foi proferida.

— Shi

Bruno é lançado para longe, seus gritos apagados no absoluto silêncio. Rapido como a propria ausencia de som, ele bate de costas contra um dos carvalhos negros daquela floresta.

A espinha leva o grosso do dano, sendo reduzida a farelos, quase todos os outros ossos quebram ou torcem. Os órgãos internos dele nem poderiam ser mais considerados sólidos.

Um Corpus digno de um cadáver, com a sorte de ter conservado um pouco do rosto, por não ter batido contra o carvalho inquebrável de cabeça.

No absoluto silêncio, o Corpus cai próximo às raízes do carvalho, complementando a macabra atmosfera.

A maldição deleita-se com a visão, um orgulho soturno de uma criatura que embelezou a vista da bela e infinita floresta. Logo, a atenção dela é atraída pelo maior sacrilégio naquele local.

Barulho. Distante, mas presente, como sempre é quando seres vivos estão por perto.

A instalação por ter virado uma floresta, e muitas das pessoas ali saberem o que isso significava, instaurou um medo e pânico nos corações, e principalmente, nas mentes dos guardas e caçadores ainda vivos.

As lutas haviam parado no momento que a Maldição do Silêncio fez sua entrada triunfal. Todos preferiram escolher seus próprios buracos para morrer.

A Maldição do Silêncio desaparece. A presença do silêncio é menos aterradora e absoluta, com a ida dela.

O cadáver sem um pingo de vida no olhar, começa a remexer-se. Sem qualquer fruto positivo, fios da aura vermelha fluem até o braço esquerdo, ficando logo acima de partes motoras essenciais, e enrolam-se nelas. Mais aura flui para o braço, substituindo os ossos destruídos e fortificando os poucos pedaços que restam.

O processo é longo e doloroso, mas com a espinha destruída e provavelmente diversas partes do sistema nervoso em um estado não funcional, a resposta à dor é mínima, o resto miserável de aura que restou, é capaz de suprimi-la.

Sozinho… ou quase isso. Bruno está vivo, no limiar entre a vida e a morte, seu corpo de fato já havia o deixado, mas sua mente ainda está em pleno funcionamento. Seu cérebro foi poupado de ser transformado em líquido, devido a proteção de aura que estava ao seu redor, mas ele não funcionará para sempre, dentro de um cadáver. E agora sem poder usar a aura para protegê-lo, seu cérebro começaria o processo de morrer e decompor.

A única coisa que faz Bruno conseguir conspirar contra o destino, é o fato de que ele não é um humano.

Bruno é um devorador de mentes, um ladrão de corpos. Um amálgama.

Uma criatura feita para sobreviver, mesmo após seu “hospedeiro” morrer. Sua biologia garante muitos benefícios, entre eles uma desaceleração geral do processo de decomposição.

“Esse corpo… JÁ ERA!” chorando internamente, o amálgama pensa enquanto utiliza aura no braço “Ele era tão perfeito, e agora todas as facas tão presas dentro da porcaria dos meus braços. Maldição do caralho, além de me matar, ainda quebra o UNICO Mod bom que peguei na vida, energia amaldiçoada roubada da porra.”

“Que merda… Pelo menos eu tecnicamente não errei, só tenho que me aproximar da Bruxa, e aí eu vejo que eu estou certo mais uma vez. Se não der certo-”

Bruno para subitamente, distraído pela dúvida, algo que ele não costuma sentir.

“Eu nunca erro… Nunca.”

Com o pensamento resoluto, ele termina de ajeitar o braço esquerdo, uma improvisação de última hora, e apesar de que teoricamente ele seria capaz de fazer o mesmo com o resto do corpo, isso necessitaria de tempo e muita mais experiência utilizando aura do que ele tinha.

Mover o braço apenas, já exigia concentração completa do amálgama.

“Perfeito, agora tudo que tenho que fazer é me aproximar da Bruxa, sem o capiroto bibliotecário conseguir ouvir o que eu to fazendo e em geral sem poder me mover.”

“Não são as melhores condições, mas-” Bruno interrompe a linha de raciocínio, em uma epifania ele percebe que a chave para sua salvação está no seu braço esquerdo.

“Eu fiz fios de aura? Desde quando tenho todo esse controle? O máximo que conseguia era uns foguinho vei” Depois de um minuto de consideração “Talvez, tenha reagido com a violência extrema que sofri? Desde que eu entrei na instalação eu notei umas pequenas reações da aura, mas nada assim!”

“Não importa! Não agora. Se eu não posso ir até a Bruxa, ela virá até mim!”

Com essa promessa, Bruno começa a reunir aura na mão esquerda e transformá-la em finos fios, que possuem três vantagens. Primeiro: Uma resiliência e força de tração muito maior do que possivelmente qualquer material comum ou exotico, comparando com a facilidade de aquisição. Segundo: A aura é semi infinita, tudo que ele perdeu com o corpo tendo morrido, foi uma mísera perda de eficiência, que não foi majoritariamente significativa. Terceiro: Os fios não produzem barulho, eles são sim visíveis, mas completamente intangíveis.

Bruno está colocando à prova todo seu conhecimento sobre aura, já que aura interagir com coisas físicas é uma habilidade extremamente difícil de aprender, que Bruno conseguiu usar com maestria, devido aos benefícios de ser um amálgama. No entanto, interagir com uma faca é uma coisa, interagir com uma pessoa viva é outra completamente diferente.

Mesmo assim ele continua o trabalho diligente, fazendo mais e mais fios, e testando-os consigo mesmo, uma ou duas vezes ele quase deixou o braço que ele estava testando os fios cair contra o chão. Serviram bem para mandar um pouco de emoção para o coração frio dele.

Vez ou outra Bruno ouve gritos na distância.

“Bastardos, aguentem mais um pouco, eu preciso de mais tempo.”

A cada minuto que passa, a pergunta perdura no ar: Se a criatura voltará para terminar o que começou? Mesmo assim Bruno nada teme, ele é simplesmente muito teimoso para considerar o pior.

Depois do que pareceu uma eternidade.

Fios vermelhos arrastam-se perto do chão, como cobras aproximando-se da sua presa. Silenciosamente, eles começam a se enrolar ao redor dos membros e do torso da Bruxa.

Bruno está com o braço esquerdo levantado na direção da cena. Os mesmos fios de aura saindo de seus dedos. Após ter certeza que os fios estão bem enrolados, ele prepara-se para o salto de fé, uma última ação que se estiver errada ele estaria condenando ambos a verdadeira morte.

“EU NUNCA ERRO!”

Em um puxão usando toda a pouca força que ainda tinha, é o suficiente, os fios começam a puxar ela com força excepcional. A Bruxa voa na direção do cadáver nas raízes do carvalho.

E no meio do percurso…

A Maldição do Silêncio Aparece.

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Olá, eu sou Mulo!

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