Uma onda sem fim de Mofo jorrava pelos corredores, buscando consumir as últimas formas de vida daquele lugar assombrado. A cada segundo aquilo aproximava-se de seus alvos.
Não há escapatória, tudo seria consumido pelo Mofo no fim.
No entanto, o bando atua como um só, naquele momento de desespero. Besouro, dando direções guiando todos a saída mais próxima; Bruno, com sua percepção anormal de amálgama os deixando um passo à frente do Mofo; e a Bruxa, veloz e forte o suficiente para conseguir carregar todos nas costas, nesta fuga desesperada.
— GENTE! Alguém tem um plano?! — O amálgama exclama, entre avisos sobre massas de Mofo no meio do caminho — A onda tá aumentando, logo não vai ter mais espaço para fugir!
Nenhum dos outros dois responde.
Agarrando uma parede com sua garra livre, a Bruxa faz uma curva fechada.
Com uma das mãos segurando Bruno, ela não conseguiria entrar na ofensiva contra a onda. Se ela tentasse alguma estratégia, para conseguir a ofensiva, a coordenação do grupo, mesmo que fenomenal dada as circunstâncias, não seria o suficiente para se adaptar a um plano não discutido.
A Bruxa só tem uma opção: carregar ambos para fora dali em segurança, por conta própria.
— Interseção logo a frente — Besouro avisa, esperando informações sobre massas de mofo do Bruno
— …Massas em todas as direções. É isso aca — Bruno é pego de surpresa com a Bruxa acelerar em vista da nova informação — É isso, ela enlouqueceu. Se for pra morrer, melhor ir logo né?
Ignorando o comentário e indo em direção ao norte da interseção, a Bruxa vê a massa nojenta barrando o corredor, uma parede esverdeada enorme.
Com a sua única mão livre, ela abre próximo dos cabelos, que libera uma coroa de louros na sua palma.
A parede de Mofo ganha vida, acordada pela energia emanando da coroa, ela vai na direção deles, como um monstro faminto.
Não perdendo o momento, a Bruxa pula, jogando a coroa debaixo de si.
Seus olhos brilham com engenhosidade, vendo o Mofo avançar na coroa, priorizando-a ao invés do bando. Bruno e Besouro ficam surpresos com a sucessão de eventos.
Assim que ela alcança o chão, a Bruxa não olha para trás, para ver a onda e a massa convergindo, e rapidamente consumindo a coroa. Apesar de não ter parado o Mofo, isso foi o suficiente para parar seu momentum e criar uma boa distância entre os dois.
— BESOURO! SAÍDA AGORA! — Bruno grita em um misto de surpresa e ansiedade.
— Saída muito longe agora, não deveríamos ter ido ao norte, Mofo vai nos alcançar rapidamente.
A Bruxa para.
— Eu espero que o seu plano brilhante, não seja dar meia volta — Bruno fala com desdém.
Estalando uma garra na outra, ela chama a atenção do Besouro e aponta para cima.
— Estamos no subsolo, dois andares até a superfície. Tem um plano?
A Bruxa acena com a cabeça, determinação incansável no olhar.
Fios de cabelo liberam a última relíquia, o pequeno martelo de construção. A EA liberada por ele, faz o Mofo agitar-se, ansioso para devorar a nova fonte de energia.
Poucos segundos restavam até a onda os alcançar, e a Bruxa planejava usar cada um deles.
Ao fechar os seus olhos, energia psiônica envolve o martelo.
Roxo se mistura com o verde da energia amaldiçoada, em uma dança de cores, uma sobrepujando a outra infinitamente.
Concentrando totalmente no que está prestes a fazer, a Bruxa ignora sons externos, os abafando de sua percepção
Cuidadosamente ela fortifica o martelo, ao mesmo tempo que tenta modificar a intenção da relíquia.
Mais poder… Mais destruição é o que ela precisa.
Tentando guiar a intenção para esse caminho vago falha espetacularmente, divergir muito da intenção guardada na relíquia prova-se também uma tarefa impossível. Com pouco tempo restando, ela passa a tentar modificar pequenos detalhes na intenção.
O martelo tinha uma intenção interessante de fato:
Sempre ao bater contra uma superfície, um segundo impacto será criado, sendo de um prego invisível feito de energia amaldiçoada, do tamanho de um punho.
Seus pequenos testes tentando mudar a intenção, deram a Bruxa uma noção de como modificá-lá, chegando na seguinte forma:
Sempre ao bater contra uma superfície, um segundo impacto será criado, sendo de um prego invisível feito de energia amaldiçoada, o tamanho dele será dependente da força física do usuário.
Um efeito temporário, um golpe no máximo por fortificação, para usar a relíquia modificada.
Além de que sua fortificação perdeu muita eficiência, dando espaço para modificação da relíquia, logo o martelo não está nem um pouco mais forte ou resistente.
Isso não importava mais, a Bruxa abre os olhos, sua percepção retornando ao normal.
O martelo emanava energia roxa, que explode para fora. Bruno está gritando para ela se mover, e mesmo de costas é possível sentir a presença do Mofo em toda sua malevolência.
Em um giro magistral, a Bruxa acerta a onda de Mofo com o martelo.
Instantaneamente, o corredor inteiro treme, agora segurando o martelo, a Bruxa consegue ver um prego espectral, com 4 metros de extensão, perfurar toda extensão do corredor.
Tudo que se quer entra em contato com o prego, simplesmente some.
Como se nunca tivesse existido.
Mas a onda de Mofo é muito maior que o prego, e continua a avançar logo após ele sumir.
Com alguns segundos ganhos, a Bruxa fortifica a relíquia mais uma vez, e pula até o teto, batendo o martelo nele.
Ainda no ar, ela fortifica o martelo uma última vez e joga na onda de Mofo vindo em sua direção.
Apesar de não conseguir mais ver, os dois pregos espectrais aparecem, um fazendo um buraco logo acima deles para o próximo andar e o outro apagando mais mofo da existência e destruindo ainda mais o corredor.
Assim que os pregos espectrais somem, a onda volta a avançar, mas para no meio do caminho, avidamente consumindo o pequeno martelo.
Dando tempo suficiente para a Bruxa alcançar o chão mais uma vez. Prontamente ela salta de novo, usando sua mão livre e pernas para pular pelas paredes do buraco e rapidamente alcança o novo andar.
A mudança de ambiente é absoluta, como alcançar a superfície, depois de estar nas profundezas de um mar antigo.
O novo andar não está submerso em energia amaldiçoada.
O bando consegue ouvir o Mofo ainda se movimentando lá embaixo, mas logo o barulho diminui, enquanto ele se distancia, buscando devorar o máximo do andar submerso em EA.
Percebendo que estão em segurança a Bruxa cai de joelhos, sua dor de cabeça tendo aumentado ao ponto de que está prestes a explodir.
A Bruxa exausta, cai inconsciente. Seus olhos se apagam e voltam a ser abismos de névoa maldita.
Por alguns segundos os outros dois ficam em silêncio, chocados com a situação como um todo. Contudo, rapidamente, eles começam a trabalhar em conjunto, ambos ajudando a mover a Bruxa para longe do buraco.
Os cinco Besouros acabam fazendo a maior parte do trabalho, mas logo o grupo está a uma dezena de metros do buraco que leva para o andar inferior.
A lanterna foi deixada para trás na perseguição, então eles ficam em silêncio, quase na escuridão completa, quebrada apenas pela luz em tons de verde dos besouros. O local onde eles estão é enorme ao ponto que é impossível ver as paredes ou qualquer outra característica da sala, na escuridão.
Depois de alguns minutos organizando os pensamentos, Bruno pergunta:
— Besouro, que tipo de monstro é a Bruxa?
— O que você quer dizer com isso?
— Não brinque comigo! Não precisa ser um gênio para notar que ela é importante, que ela é diferente. Olha o que ela fez com essa instalação! E você vem e fala de uma oferta? Que isso foi inesperado? Tudo que eu peguei disso tudo é que você esperava algo da Bruxa e sabe mais do que deixa óbvio…
O Besouro não responde, mas ele olha atentamente em direção ao amálgama, ganhando uma nova apreciação pelo alienígena e percebendo que ele é bem mais astuto do que parece.
— Um monstro amaldiçoado… Ela é uma Onda do Desespero.