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— OW! Calma aí, é difícil me mover rapidamente! — Bruno cambaleia, indo logo atrás da Bruxa, que se dirige até o portão de metal entreaberto.

Com uma das mãos monstruosas ela empurra a porta um pouco mais, e apesar de não ter força psiônica, seu corpo metálico ainda é poderoso por si só. Assim, abrindo uma passagem menos estreita, a Bruxa observa o lado de fora da instalação.

O portão fica em um pequeno morro de um ambiente rochoso cheio de crateras de diversos tamanhos, algumas não maiores que uma pessoa, outras com centenas de metros de largura e profundidade. O mesmo morro onde a porta está, é apenas o lado externo de uma imensa cratera, em que a instalação fica.

No entanto, o que verdadeiramente rouba a cena é o céu, ou melhor o espaço acima dele…

O Cemitério Sideral.

Em sua vastidão impossível, centenas de milhões de cadáveres descansavam. 

Cadáveres de abominações tão impossíveis quanto a própria extensão do local onde estão.

Cadáveres de Maldições. Remanescentes de batalhas longínquas e esquecidas, boa parte delas, sendo de uma guerra de todos contra todos.

Poucas estrelas naturais ainda conseguiam guiar seu brilho através da mórbida cena, e aquelas corrompidas pelo poder sobrenatural dos corpos, agora tingiam eles com um brilho estranho e errático. A luz dessas estrelas sobrenaturais transpassa e atravessa a extensão do Cemitério, fazendo com que luzes de diferentes cores rasgassem o céu, como estrelas cadentes.

Uma cena linda presa no tempo e iluminada pelo próprio universo, das consequências de uma luta entre monstruosidades antigas.

Parando para apreciar o Cemitério, Bruno consegue alcançar sua colega, dando longas passadas, seus movimentos parecidos com o de uma marionete, mas com os fios e o marionetista escondidos.

— O Besouro tá lá em cima se você quiser falar com — Bruno aponta para a direção da imensa cratera onde a instalação está, e é interrompido por um olhar irritado da Bruxa, que rapidamente começa a escalar a parede.

— A gente tava se dando tão bem…

A Bruxa continuava sendo difícil de se comunicar, até para Bruno, que é anormalmente perspicaz. 

Mesmo se alguém pudesse observar a mente dela, sua consciência é tão difícil de compreender, se não mais, do que suas ações. Seus pensamentos são escondidos por camadas de tinta e loucura.

De fato, apenas uma criatura supremamente perspicaz e sempre presente seria capaz de entender o que se passava na cabeça da criatura…

A Bruxa após entender melhor a situação como um todo, não está contente em saber que uma das pessoas que a caçaram, agora era um “guarda-costas”. 

Principalmente quando essa pessoa é o líder dos caçadores, que a fez sentir desespero pela primeira vez após acordar da insidiosa manipulação mental daquela raposa. Em cima disso, ambos tendo parte de culpa no massacre da instalação não ajuda a melhorar sua opinião do amálgama.

Claro a situação ridícula de um cadáver falando que iria protegê-lá, quando mal consegue levantar ambos os braços sem ajuda, fez ela esquecer momentaneamente, mas agora está na hora de tirar satisfação com aquele que decidiu trazer o amálgama junto.

Usando as garras das mãos e dos pés, a Bruxa escala a enorme parede da cratera, sem energia psiônica, ela testa os limites comuns de seu corpo mecânico. 

Um Corpus sempre está na melhor aptidão física possível, além de não ter outras preocupações que um corpo orgânico teria, como respirar e transpirar. No entanto, ele ainda simula sensações como dor e cansaço, ambas coisas que a Bruxa sente durante toda a escalada.

Dessa escalada a Bruxa consegue perceber que quando está passivamente fortificando o próprio corpo, ela quase não se cansa ou sente dor física, tirando os momentos que fortifica algo ativamente, mas ainda assim a maioria é fatiga mental. 

Interessantemente seu corpo está completamente recuperado, sem os ferimentos da batalha contra Baku, ao mesmo tempo ela se sentia cheia, como alguém após devorar um baquete.

Subindo para a borda da cratera, a Bruxa observa que o local tem pelo menos um quilômetro e meio de largura e que foi completamente selada com uma porta metálica, igualmente imensa, tampando a parte de cima. 

Perto de onde a Bruxa está, Besouro está no chão com várias telas holográficas flutuando ao seu redor, todas torrentes de código indecifráveis. Com a chegada da Onda, o pequeno robô se vira na direção de sua colega.

— Sra. Sundown, é bom vê-la acordada. Depois de 4 dias inteiros comecei a me preocupar com seu bem estar, perante nossa periculosa missão.

Sem se importar com a saudação do robô, A Bruxa marcha em direção ao Besouro, puxa ele do chão e o leva até a borda da cratera, ela aponta com fervor na direção de Bruno, vários metros abaixo dos dois. 

Pego de surpresa, Besouro remexe-se um pouco alarmado, mas rapidamente se acalma, analisando o que a Bruxa quer exatamente dizer.

— Sra. Sundown… Aquele é o amálgama conhecido como Bruno, se você possui algo que queira comunicar eu sinto muito por não entender.

— Acho que ela provavelmente ta puta por eu ser o guarda costas dela, e por consequência ela ta puta com você!

A Bruxa pula, assustada com a voz de Bruno aparecendo do lado deles, mesmo estando a centenas de metros abaixo deles.

— Que que foi? Como que tu acha que eu via as massas de mofo lá embaixo? Amálgamas conseguem expandir e exercer sentidos a longas distâncias… Falei logo para não ser dedurado de novo! — Bruno adiciona a última parte rapidamente, tentando esconder que explicou isso, só para se exibir perante os dois.

O Besouro leva alguns segundos para considerar como defender sua escolha de trazer Bruno com eles até responder:

— Certo, acho que este momento exemplifica bem o motivo de precisarmos dele, Sra. Sundown… Eu infelizmente não tenho a capacidade de compreender ou me comunicar com total entendimento com você. Enquanto Bruno, tanto agora, como quando vocês conversavam na instalação, parece conseguir se comunicar com eficiência com você. Correto?

A Bruxa ainda parece irritada, mas ela afirma com um aceno.

— Comunicação é chave em nossa missão, uma situação como a que aconteceu lá embaixo não pode acontecer de novo. Apesar de termos saído dali sem grandes consequências, deveríamos ter ido muito melhor do que realmente fomos, já que eu tinha os mapas da instalação e Bruno consegue expandir os sentidos, nos deixando um passo à frente. No fim acabamos dependendo totalmente de você para nos tirar dali.

— Vejo que sua relação com ele é mais conflituosa do que o esperado, então tenho duas alternativas… Caso realmente você não deseje estar na presença dele, podemos deixá-lo aqui, se tudo der certo e eu conseguir acesso a matriz principal, posso baixar mais informações sobre comunicação e relações humanas. O pouco que tenho claramente não é o suficiente e admito que foi um… erro.

A Bruxa levanta uma sobrancelha esperando ouvir a segunda alternativa. Bruno ao longe fica ansioso ao ouvir sobre o prospecto de ficar isolado na pequena lua.

— A segunda alternativa precisaria que você suporte a presença do amálgama, que atualmente não é nem de perto um perigo para nenhum de nós, para que ele sirva como um tradutor, sim eu o contratei sobre o pretexto de ser um guarda-costas, mas ele é mais um tradutor entre nós dois. Caso ainda deseje, assim que eu obtiver acesso à matriz principal, podemos despachá-lo onde for conveniente.

A Bruxa toma alguns segundos para considerar as opções, relembrando o momento em que enfrentou o amálgama. Naquela hora ela sentiu desespero, mas tinha algo mais… 

Durante as lutas contra os caçadores ela foi bastante apática, matando simplesmente para sobreviver, para tentar sair dali.  No entanto com o amálgama foi muito diferente, ela subitamente estava enfrentando uma força invencível e inescapável, mas muito familiar.

Aquele desespero não foi devido a situação em si, mas de uma memória. Uma antiga e encravada na mente da Bruxa. Durante aquela luta, o desespero foi sinistramente similar ao mesmo sentimento nessa memória, que está ligada a um único nome.

Sr. Sundown.

Paradoxalmente, a Bruxa tem noção dessa ligação, mas não consegue lembrar com riqueza de detalhes os conteúdos da memória, apenas que ela sentia desespero e que relacionava-se com lutar contra algo, também invencível e inescapável.

Agora a Bruxa tinha duas novas pistas sobre seu passado. Seu pai, que quer que ele seja, a fez sentir puro desespero no passado e atualmente é a fonte de sua ira.

Saindo dessa tangente, em síntese, a Bruxa não possui tamanho conflito com o amálgama, além da terrível primeira impressão, já que querendo ou não, ele a lembrou de uma memória um tanto traumática. 

O suficiente para atrair a maldição do silêncio e desencadear no massacre que se seguiu, mas que no fim nenhum dos dois sabiam que era uma possibilidade. 

Então apesar de não gostar de Bruno, ela levanta dois dedos perante a sugestão de Besouro.

— Se minha opnião vale de alguma coisa, também prefiro a opção onde eu não sou deixado em uma luazinha mixuruca pra morrer… Se a bruxinha prefere que eu vá embora, eu vou de bom grado, quando meu “contrato” terminar.

— Ótimo, sinto muito pelo desentendimento, vigiei vocês dois enquanto conversavam lá embaixo por algum tempo, antes de me anunciar, e pensei que ambos estavam em melhores termos.

— Cacete, os teus dados sobre interações sociais são péssimos mesmo, viu! De toda forma, agora é a pergunta de ouro… Como caralhos nós saímos daqui, pelos últimos 4 dias tu ficou aqui “analisando dados”.

Antes de responder um longo silêncio permeia na conversa, Besouro finalmente diz:

— Infelizmente, não há nenhuma maneira de sair dessa lua… Sem graves riscos.

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Olá, eu sou Mulo!

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