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Capítulo 17 – Planejamento sob um Cemitério de Abominações

Sob um céu repleto de abominações e no alto de uma imensa cratera, duas figuras e uma elusiva presença olham telas holográficas, que espalham seu brilho alaranjado pela escuridão da noite. Agora não há uma torrente de dados indecifrável, mas vários gráficos, mapas e informações diversas.

Bruno é o primeiro a questionar as informações sobre o satélite natural, que está em uma das telas:

— Então essa lua deserta, não tem nenhum tipo de estrutura, nave ou algo do tipo, capaz de tirar a gente daqui?

— As naves da instalação ficavam no subsolo, que foi afetado pela maldição e pelo Mofo. Os scanners desse corpo não são ótimos para analisar a lua inteira, mas minhas informações sobre, dizem que não há nenhuma construção útil notável.

— Informações que já provaram que podem ser insuficientes.

Besouro demora alguns segundos antes de responder:

— Sim, você está correto. No entanto, esse não é ponto da discussão, porque não temos opções rápidas o suficiente para fugir desse satélite. Estamos contra a parede e com os 4 dias que levou para a Sra. Sundown levou para se recuperar, devemos ter por volta de uma semana e alguns dias até os executivos da zanza chegarem aqui.

— Ae, Bruxinha, a gente meio que já discutiu isso por cima enquanto você tava dormindo, mas resumindo, é praticamente certeza que a maioria dos caçadores que foram mortos por você e o Castor, conseguiram reviver em uma matriz, já que eles morreram antes da maldição e do Mofo, matarem a galera pra valer. Logo, eles vão tentar tirar algo da recompensa, a esse ponto já devem ter passado a informação da sua localização pros executivos.

A Bruxa acena com a cabeça, não tirando os olhos de um mapa local em uma das telas.

— Bruno diz conhecer seus colegas caçadores, então estamos levando essa dedução como uma quase certeza. De toda forma, a vinda de alguns executivos já era esperada por mim, mas as nossas circunstâncias… Estão longe de ser ideais.

Silêncio abate os três, palavras não sendo necessárias para explicitar a tensão perante a situação. 

Cada um dos três têm visões diferentes sobre os executivos, a Bruxa tendo a visão mais nebulosa sobre, imaginando esses são os homens em ternos que perseguiram-na em uma de suas poucas memórias, mas todos sentiam terrivelmente ansiosos perante a palavra.

— É, não gosto da ideia de encarar um executivo como um boneco de pano, imagine a quantidade que vão enviar até aqui, vendo o nível da recompensa na bruxinha.

A Bruxa parece confusa, querendo perguntar algo, mas sem saber como indagar a pergunta presa em sua mente. Olhando para uma das telas, ela vê a imagem de uma figura sombria vestida em um terno, com um temporizador embaixo, dando o exato tempo dito pelo besouro.

Estalando as garras, atraindo a atenção dos dois, a Bruxa aponta para imagem e logo depois pro temporizador com um olhar inquisitivo. 

Depois de alguns segundos em silêncio, Besouro olha ao redor e pergunta:

— Bruno? Estou esperando a tradução.

— Calma aí apressado! Só porque eu consigo entender ela melhor que você não quer dizer que não seja difícil… Eu acho que ela tá confusa sobre o temporizador?

— Isso é óbvio, até para mim.

A Bruxa fica um tanto frustrada, gesticulando da imagem dos executivos e o temporizador, para os céus e pro chão da lua.

— Ahhh. Acho que ela tá perguntando porque dos executivos estarem demorando para chegar. E talvez dizer sobre como você sabe quando eles vão vir esclareça um pouco as coisas também.

A Bruxa aponta na direção da voz de Bruno, com um olhar de gratidão, acenando com a cabeça, confirmando a suposição.

— Certo. Não sei quanto da sua memória foi afetada ao se tornar uma Onda, mas imagino que pelo menos saiba que humanos já alcançaram o marco tecnológico da viagem interestelar — A Bruxa acena com a cabeça hesitantemente — Não vou entrar nos específicos, saiba que uma viagem demora alguns dias no mínimo, mas podemos contar com pelo menos duas semanas do ponto final do ataque dos caçadores para a vinda dos executivos, devido a presença da maldição do silêncio.

— Quando uma maldição superior como a nossa amiga silenciosa, faz uma aparição, também podemos contar com o medo deles de se deparar com uma monstruosidade daquelas e com o caos que ocorre no cemitério sideral, após uma surgir do nada — Bruno interpõe — Como o cemitério e o espaço são praticamente a mesma coisa hoje em dia, esse caos deixa viagens mais difíceis.  

Besouro finaliza trazendo algumas outras telas cheias de cálculos a frente da Bruxa:

— E eu sou mais do que capaz de calcular o tempo aproximado que uma viagem de um dos postos avançados da zanza até aqui, incluindo todas as variáveis, como distúrbios espaciais, modelos de naves usados por eles, diferentes postos que eles podem usar, entre outros.

— Bruxinha não sei o que você fez para atrair tanta gente esquisita pra cima de ti, mas esse robozinho é de longe o mais engenhoso… Logo atrás de mim claro! — Bruno fala com divertimento na voz

A Bruxa acena com a cabeça, tendo sua dúvida respondida, mas não necessariamente aceitando a resposta de ambos, ela volta a olhar para o mapa local.

— Com isso, Sra. Sundown, volto ao ponto inicial da conversa… Existem dois métodos de fuga que podemos considerar — Bruno o interrompe.

— Não querendo colocar a carroça antes dos bois, mas fugir para onde exatamente? Eu não ligo muito para missão que vocês dois tão envolvidos, desde que me paguem claro, mas gostaria de saber qual é o plano depois daqui.

— Com sorte, qualquer local com uma grande atividade humana, quanto mais próximo melhor. 

“Pelo que entendi nossa próxima parada vai ser um local com acesso a matriz central, quem diria que literalmente qualquer local amplamente usado por humanos serviria… Quem é você exatamente Besouro, para conseguir mexer com a matriz central?” Bruno pensa insidiosamente.

— Continuando, há duas alternativas de fuga, a primeira seria usar naves caídas nesse satélite. Teríamos de consertá-las, mas meus registros não dizem o estado que elas estão, apenas que por algum motivo muitas naves caíram nessa lua. Então precisamos encontrar uma e consertá-la antes do tempo limite, algo que acho difícil de fazermos.

— A segunda alternativa — Bruno completa com humor na voz — é ainda pior na opinião do Besouro… Enfrentar e roubar a nave dos executivos. Apesar de que poderia ser mais divertido…

— Não estamos em condições de enfrentar os executivos da zanza. Você está em um estado patético e eu não tenho capacidade de luta nenhuma nesse drone! — Besouro vocifera, claramente exasperado de ter que discutir sobre isso mais uma vez.

— Olha aqui seu insetinho maldito, não tem a menor chance da gente achar uma nave boa o suficiente, que seja consertavel em menos de uma semana, sem contar o tempo para chegar a uma. Você mesmo disse que seu scanner é uma bosta e não cobre a lua todinha, então a gente teria que andar por aí até tu detectar uma utilizável.

— Ainda é mais realista do que jogar todas as esperanças na Bruxa enfrentar um ou até vários executivos sozinha.

Mais uma vez um estalar de garras interrompe os dois. 

A Bruxa está mexendo em uma das telas, pensando que talvez pudesse interagir com uma, quando isso se provou correto, ela começou a procurar algo no mapa local, e agora finalmente encontrou.

Besouro voa até o ombro da Bruxa, e Bruno estende a sua visão até um ponto onde consiga ver também.

No mapa mostrava primariamente a imagem de um local a vários quilômetros de distância da instalação. 

Um cemitério de naves, e o local onde elas caíram com mais frequência no pequeno satélite.

Nas informações sobre esse cemitério tem dois adendos:

  1. A frequência aumentada de quedas nesse local, é diretamente proporcional à força dos impactos ocorridos, ou seja, a maioria das naves caídas aqui, explodiram ou ficaram completamente inutilizáveis. O risco de fatalidades aqui acredita-se ser perto ou igual a 100% de chance.
  1. Este cemitério se encontra em um dos poucos marcos de referência deste satélite, o que parece ser uma montanha, mas na verdade é uma estátua antiga enterrada quase completamente no solo. Acredita-se que o monumento retrata um guerreiro de algum tipo, já que as únicas partes fora do solo, são a de cima de um elmo e a de uma mão segurando uma espada. A estátua está enterrada provavelmente de lado, já que a espada apontada para os céus está perpendicular a posição do elmo, logo o monumento em pé deveria apontar a espada para frente.

A Bruxa aponta para a estátua que aparece ao longe na imagem do cemitério de naves, e depois aponta para si mesma, em seguida, sem deixar um dos dois questionar, ela pega o Besouro o estende ao alto e finge como se estivesse fazendo ele cair até o chão.

Apesar de confuso Besouro apenas espera, ouvindo a voz surpresa de Bruno

— Você… Ela tá dizendo que caiu com uma nave nesse cemitério? — A Bruxa afirma com a cabeça, e com uma determinação nos olhos olha em direção a voz de Bruno — E assumindo que você tem um objetivo em nos dar essa informação, será que… A sua nave sobreviveu ao impacto?

A Bruxa afirma com a cabeça. Suas memórias são muito nebulosas quando se tratam do passado, as poucas lembranças que ela tem são apenas relacionadas aos sentimentos que ela sentiu e raramente coisas mais sólidas que isso. 

No entanto a Bruxa lembrava de passar por uma experiência similar ao que deveria ser uma queda de uma nave e logo depois ver uma montanha de formato estranho, agora ela tinha quase certeza que a montanha deve ser a espada da estátua.

A Bruxa também se lembra que a nave foi completamente destruída com o impacto, mas algo nela precisa ver o local da queda, ali possivelmente pode ter mais dicas sobre seu passado mesmo no meio dos escombros. 

Finalmente a incerteza perante o discurso que ela quis passar serviu ao seu favor, seus colegas não precisam saber que a nave está destruída, não agora. A Bruxa está quase sem perceber manipulando ambos, pois no fim, ela quer enfrentar os executivos, aqueles que são mais uma parte do seu passado. 

Atualmente, procurar sobre seu passado é mais importante do que seguir os desejos do Besouro, ele pode ter objetivos similares, mas a Bruxa não vai se deixar levar pela oferta suspeitosamente boa dele. Além disso, quanto mais ela souber sobre o passado, mais ela pode ser capaz de entender a ira que a consome ao pensar sobre o próprio pai. 

Quanto mais entender, mais fácil e satisfatório vai ser o momento que ela afundar as garras na sua garganta.

— E como exatamente você teria sobrevivido ao impacto nesse local tão mortífero? — Besouro questiona.

A Bruxa considera como responder por alguns segundos.

Sabendo que de acordo com as informações sobre o cemitério, o risco de fatalidade é perto de 100%, existe uma única coisa que faria ela ter sobrevivido a uma queda naquele local sem contar com sorte estúpida.

Sem responder diretamente a Bruxa apenas olha na direção do Besouro e alguns fios de seus cabelos roxos selvagens se enrolam no pequeno drone.

A resposta óbvia é a única coisa que ela poderia contar de verdade.

Suas habilidades psiônicas.

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