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O que Thayala pensou depois de ver seu ataque com as adagas de vento ser frustrado pela segunda vez foi em uma maneira alternativa de lutar.

Assim seu mestre ensinara, e assim também aprendera quando fora batizada como discípula de Juy-Eloi, um grande ceifador do extremo norte dos reinos livres.

Sua mente sempre precisava estar focada em mais de uma maneira de derrotar uma aberração. De acordo com Juy-Eloi, o melhor ceifador era aquele que conseguia vencer um monstro com um golpe. 

E não era apenas a questão de um golpe. Se um golpe o fizesse terminar um confronto às raias da exaustão, não era uma maneira eficaz de lutar.

Poupe sua energia, aprendiz. Não deixe o desespero e a ansiedade te dominarem.

Com Juy-Eloi, Thayala aprendera a usar o terreno a seu favor e, naquele momento, mais uma vez, estava colocando os conselhos em prática.

Lançou três adagas na direção da aberração. A criatura reagiu conforme esperado, contra-atacou com seu grito ensurdecedor.

As adagas foram rechaçadas com a força do ataque do monstro.

Thayala fez um movimento para o lado desviando da área de atuação do grito.

Repetiu o processo. Atacando e esquivando mais três vezes.

Mais uma vez, disse para si mesma.

As adagas voaram.

O grito soou.

E o plano de Thayala funcionou.

Três árvores ao redor da criatura perderam a base e caíram em cima da fera. 

Sangue cinza espichou, miolos espalharam desenhando o chão com os restos do monstro.

Anayê, a espectadora atenta, fez uma expressão de dúvida. Boyak sabia da pergunta a seguir, então se adiantou para responder:

— Eu sei, você não entendeu nada.

Ela abriu um meio sorriso.

— Thayala fez o gritador pensar que ela estava atacando seguidas vezes porque não tinha alternativa, mas, na verdade, ela redirecionava as adagas de vento para atingirem as árvores a cada investida.

Foi como se alguém tivesse dado um soco em seu rosto. Anayê compreendeu em um instante o plano da ceifadora.

— Lutar é saber montar estratégias — Boyak complementou.

O ceifador caminhou na direção de Thayala batendo palmas.

— Não esperava menos da aprendiz de Juy-Eloi.

Ela lançou-lhe um olhar de desprezo.

— Foi incrível! — Anayê falou como uma criança empolgada.

— Vocês estão bem? — ela perguntou.

Os dois assentiram.

— Maldito Ziron — Thayala murmurou.

— O infeliz é realmente sagaz. Tem uma mente esperta para um cocheiro — Boyak comentou. — A minha sorte foi ter uma guarda-costas tão poderosa.

— Assim que chegarmos nas colinas, vou voltar e procurá-lo.

— O mestre não permitirá.

— Você não precisou da permissão dele para sua empreitada na fortaleza de Astaroth.

Boyak cruzou os braços. Ensaiou uma resposta, mas acabou calado.

— De qualquer forma, vamos ter que prosseguir — Thayala afirmou. — Esse não é mais um lugar seguro.

— Bah! Qual é? Está com medo de algumas aberrações? — o ceifador provocou.

— Você é estúpido demais para ter direito a voto e a garota violeta é nova demais para entender das coisas, portanto, cabe a mim tomar as decisões pelo grupo — ela disse com a voz carregada de sarcasmo.

— Ora, ora, você está com medo!

Thayala ignorou os comentários e começou a desfazer a fogueira.

Outra lição aprendida com Juy-Eloi era sempre permanecer humilde e prudente. Subestimar uma aberração era dançar com a morte e esperar sair ileso.

Além disso, Thayala tinha nas mãos duas vidas, o que poderia complicar a luta, caso ambos fossem envolvidos, e ela sabia da teimosia e astúcia de seu companheiro ceifador. Se a situação ficasse difícil, Boyak não hesitaria em entrar no conflito na intenção de ajudar. Entretanto, nas condições atuais dele, sua ajuda se tornaria, provavelmente, uma dor de cabeça para ela.

Definitivamente, Thayala não queria se meter em um combate complicado naquele momento com aqueles termos.

Diferente dela, Boyak não costumava fugir de um confronto, exceto nos casos em que não restava alternativa. Por isso, naquele momento, ele se sentiu extremamente incompetente, mesmo sem revelar ou esboçar tal sentimento. Não fazer nada era humilhante.

Embora o ceifador não odiasse os fracos, ele mesmo odiava ser um deles. Era repugnante a ideia de estar vulnerável e sem defesa diante de uma ameaça.

Esse sentimento de incompetência se juntava com a amarga lembrança das ruínas da lamentação onde falhara com aquelas pessoas amaldiçoadas. Os rostos despedaçados, seus corpos retalhados e seus olhares apáticos voltavam sempre à mente do ceifador.

Ele nunca pensava que a morte podia ter sido a melhor coisa que aqueles seres amaldiçoados tiveram em anos. 

Que o simples fato de ter tirado suas vidas fora a coisa mais importante já feita para eles.

Não. Boyak jamais pensaria assim.

Para o ceifador, a vida era a única e melhor solução. E a morte, quando vinda de uma forma terrível e não natural, era um fardo e um fracasso.

Apenas Anayê amenizava essa agonia em sua cabeça. Salvá-la, de certa forma, aliviava sua pena.

E agora, após a decisão dela, Boyak se sentia ainda mais recompensado.

— Se estiver cansado, posso carregá-lo um pouco — Thayala comentou terminando de colocar um resto de frutas num saco.

— Adoraria ser levado como um rei — o ceifador brincou.

Por dentro, odiou ouvir a frase. Porém, ainda mais difícil era admitir que, se prosseguissem naquele ritmo, ele precisaria ser carregado.

Quando correra para tirar Anayê do centro do ataque do gritador, ele havia se esforçado ao limite do corpo mais uma vez.

Sentia-se imensamente exausto. Quase sempre lutando para parecer heroico, mas totalmente destruído por dentro.

As ruínas da lamentação tinham cobrado um preço alto demais, tanto para seu corpo quanto para seu emocional.

— O rei dos inconvenientes — a ceifadora reclamou. — Venha, majestade.

Estendeu a mão e ajudou-o a levantar.

— GAAAARRRRHHHH!!!

O grito os atingiu um instante depois que Thayala segurou a mão de Boyak.

E nem tempo a ceifadora teve de reagir, pois um segundo grito ecoou de outra direção com maior intensidade.

Boyak foi ao chão com as mãos nos tímpanos e os olhos fechados.

Thayala se recuperou do atordoamento um momento antes de perceber o gritador investindo com suas garras.

A curvatura das pernas e do tronco permitia ao monstro uma flexibilidade e rapidez no ataque, além da facilidade para cobrir bons metros de distância com um salto.

A ceifadora agarrou Boyak pela camisa e lançou-o para o lado com força ao mesmo tempo em que manipulou o vento com a mão esquerda e emitiu uma rajada de ar contra a fera.

Pega de surpresa, a aberração foi arremessada para trás, mas caiu em pé levemente atordoada pelo ataque.

Thayala já preparava suas adagas de vento, aproveitando os instantes de paralisia da criatura.

Porém, seus instintos apitaram pouco antes de notar o segundo gritador avançando em sua direção.

A ceifadora se esquivou do golpe, girando o corpo em um mortal. Acertou um chute no rosto do monstro e quando pousou no chão disparou suas adagas de vento no peito da aberração.

O golpe teve efeito, pois o gritador gemeu.

— GAAAARRRHHH!!!

Thayala desviou do grito da outra aberração. Ela não havia esquecido daquele inimigo.

Se a intenção da fera era atingi-la, teve efeito reverso, pois acertou em cheio sua companheira de espécie, lançando a criatura ferida para longe.

Thayala avançou contra o gritador. Eles não podiam emitir gritos consecutivos em espaços de tempo tão curtos sem perder a potência do ataque.

Fez uma lufada de ar atordoar o monstro e depois disparou suas adagas de vento em seu rosto.

O gritador caiu, morto.

Rapidamente, a ceifadora olhou ao redor.

Boyak estava sentado, ofegante, e Anayê ajoelhada ao lado dele.

— Vocês estão…

Não terminou a frase.

Mais três gritadores haviam chegado.

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Olá, eu sou Naor!

Muito bom ter você aqui!
Espero que esteja curtindo a jornada de Anayê e Boyak.

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