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Dairy Queen — 23:42 pm.

Acolhi Benjamin nos meus braços quando me dei conta que ele ansiava por um santuário. Não era apenas conforto físico que ele procurava, mas um porto seguro para os fardos que carregava – o peso de um passado confiado, talvez tolamente, a um homem chamado Klaus Fritz. 

Esse vínculo tácito, uma conexão forjada além de meras palavras, ressoou profundamente dentro de mim, um voto silencioso de vê-lo através da tempestade que assolava sua alma.

A cada momento compartilhado, o cordão invisível que nos prendia se apertava. Tornei-me seu refúgio, um ouvido atento que não julgava, um ombro forte o suficiente para suportar o peso de suas tristezas não ditas. Meu coração doeu, mas ao oferecer consolo, uma promessa silenciosa floresceu – ser seu confidente, sua âncora inabalável nos mares tempestuosos de sua vida.

Levei Benjamin a locais que, à primeira vista, pareciam normais, sob o manto da noite, através de ruas vazias e soturnas. 

Nem todos os locais em que parávamos tinham portas e sinais convidativos. Por vezes, jantar em lugares que deveriam ser destinos gastronômicos populares tornava-se uma operação secreta, uma invasão de território proibido.

Cada local que escolhemos para saciar os nossos desejos parecia exigir também uma pequena dose de audácia e aventura. 

Em vez de as portas estarem abertas, a entrada era conseguida através de uma espécie de invasão voluntária, em que passar o limiar era simultaneamente um desafio e uma afirmação de domínio próprio.

Um arrepio percorreu a espinha de Benjamin ao abrir a porta rangente da cozinha de um restaurante. 

— Sério… Esse lugar parece ser de um filme de terror. Como se estivéssemos prestes a tropeçar em um covil escondido de vampiros.

Uma risada escapou de mim. 

— Talvez estejamos. — brinquei, cutucando-o de brincadeira. — Embora, a julgar pelo estado daquelas batatas fritas, eu ache que a única sucção de sangue que está acontecendo aqui envolve ketchup.

Fiz uma pausa, esperando que um sorriso se formasse em seu rosto. Foi o que aconteceu, um movimento lento e relutante que puxou os cantos dos lábios.

Examinei o restaurante mal iluminado, os letreiros de néon tremeluzentes lançavam um brilho nas cabines desgastadas. 

— Então, essa cidade é sempre assim… legal? — Recostei-me na cadeira mais próxima. — Quero dizer, além de toda essa esquisitice, há tantas outras coisas acontecendo aqui. 

Ele encolheu os ombros.

— Sim, costumava ser. Mesmo eu não diria que realmente experimentei isso.

— Por que não? Tem tantas coisas legais pra fazer. Você sabe, assistir um filme, pegar uma fatia… — Minha voz sumiu, percebendo que eu poderia estar atingindo um ponto nevrálgico.

— Pra falar a verdade? — Suspirou, traçando padrões na mesa pegajosa. — Minha mãe costumava tentar me tirar do quarto, mas… Acho que nunca senti interesse. Não parecia tão interessante comparado às HQs que eu tinha em casa.

— Olha quem está falando sobre ser estranho e anti-social agora, Sr. Eu não preciso de amigos, tenho quadrinhos

As bochechas de Benjamin ficaram levemente rosadas.  

— Não é minha culpa que os livros sejam muito mais interessantes do que as pessoas. — respondeu defensivamente, embora uma pitada de risada dançasse em seus olhos.

— Nah — andei em sua direção e joguei meu braço ao redor do seu pescoço. —, deixa disso. Estamos apenas começando tarde. Esta noite é sua chance de recuperar o tempo perdido. Me considere seu guia oficial para todas as coisas incríveis nessa cidade, começando com a melhor colher gordurosa que você já viu.

Uma careta contorceu o rosto de Benjamin. 

— Ugh. Não quero mais não. 

Eu ri, sentindo uma ponta de empatia por ele. 

— Sim, entendi o que você quer dizer. 

Sentei sobre a beirada de uma mesa mais próxima.

— Sendo honesto contigo, nem eu gosto dessas coisas. Minha irmã mais velha praticamente vive em festas, então eu fico com os dois lados.

Verdade seja dita, às vezes eu invejava seu espírito despreocupado. Mas as multidões, especialmente as barulhentas, sempre me deixavam esgotado.

Ele soltou um suspiro frustrado. 

— É a multidão. Todos aqueles rostos desconhecidos, o barulho… é terrível. As pessoas continuam me chamando de estranho por preferir um bom livro do que uma pista de dança lotada.

— Estranho? Não. Apenas diferente. Não há nada de errado em desfrutar da sua própria companhia. Além disso, quem se importa com o que eles pensam, certo?

— Fácil para você dizer, Sr. Popularidade.

— Touché. Mas, falando sério, não deixe que a opinião das pessoas o incomode. O único julgamento que importa é o seu. Além disso — inclinei-me conspiratoriamente. —, quem precisa de uma multidão quando você tem boa comida e boa conversa, né? As pessoas têm o péssimo hábito de julgar coisas que não entendem. 

— Talvez um bom hambúrguer seja um uso melhor para uma noite de sexta-feira do que evitar bebidas derramadas e falas ruins.

— Exatamente. Então, que tipo de hambúrguer você deseja esta noite? Cheeseburger clássico ou algo um pouco mais aventureiro?

Benjamin pegou um cardápio que estava sobre o balcão e examinou com um interesse recém-descoberto, um brilho brincalhão retornando aos seus olhos. 

— Tudo bem, Krynt. Você pode ter razão sobre o hambúrguer. Mas da próxima vez, vou escolher o lugar.

Um sorriso genuíno se espalhou pelo meu rosto. 

— Negócio.  

Ainda não éramos melhores amigos, mas havia uma conexão se formando, um entendimento compartilhado que transcendia rótulos como “estrangeiro” ou “popular”. Foi o início de algo real, algo construído no respeito mútuo e no simples prazer de desfrutar da companhia um do outro, longe do barulho da multidão.

De repente, meu estômago deu um nó. Havia algo que eu precisava contar a Benjamin, algo que poderia destruir a frágil confiança que estávamos construindo. Respirando fundo, soltei: 

— Ei, escute, tem uma coisa que preciso esclarecer.

Os olhos de Benjamin saltaram do cardápio, um lampejo de preocupação cruzando suas feições. 

— O que é?

— Olha, eu prometi manter isso seguro, e isso significa ser honesto com você. A verdade é que algo semelhante aconteceu comigo uma vez. A vida ficou… confusa. Muitas coisas ruins aconteceram. — As palavras pareciam pesadas na minha língua, a memória era uma mancha escura no meu passado.

Ele permaneceu em silêncio. Havia uma mistura de emoções girando em seus olhos – curiosidade, uma pitada de suspeita, talvez até um pouco de compreensão.

— Você deve ter ouvido falar sobre toda aquela coisa da escola. — Arrisquei, minha voz pouco acima de um sussurro.  — Aquele que está em todos os noticiários.

Não respondeu, mas a maneira como sua testa franziu me disse que ele sabia exatamente a que eu estava me referindo. 

— Sim. — Me forcei a continuar, encontrando seu olhar de frente. — Era eu.

Sua mão apertou o cardápio, os nós dos dedos ficando brancos. Ele abaixou-o lentamente, seus olhos fixos nos meus com uma mistura de choque e descrença. 

— Tá tudo uma bagunça. — Uma risada amarga escapou dos meus lábios. — O mesmo cara que… bem, que fez o que fez, tentando oferecer algum conforto a uma criança. Acredite, entendi a ironia.

A vergonha e o arrependimento me corroeram, mas também havia uma ponta de esperança. Talvez, apenas talvez, ao compartilhar minha verdade, eu pudesse construir uma ponte de confiança com Benjamin.

— Você já se sentiu como se estivesse perdido em um labirinto? Como se cada curva apenas levasse você mais fundo, mais longe da saída? — Balancei a cabeça, um peso se instalando em meu peito. — Sim, aquela sensação sufocante quando a esperança parece uma miragem distante, brilhando fora de alcance. E não importa o quanto você tente, cada passo parece que você está afundando ainda mais em merda.

O silêncio se estendia entre nós, pontuado apenas pelo canto dos grilos. 

— Mas então… — Respirei fundo. — O problema é o seguinte, Ben. Mesmo os labirintos mais esquisitos têm uma rota de fuga. Às vezes, basta uma mudança de perspectiva, tentar um caminho diferente que você não considerou antes.

— Então você está dizendo que mesmo quando as coisas parecem estar piorando, pode haver uma saída?

— É nisso que estou me segurando. Sempre há brechas, saídas escondidas esperando para serem descobertas. Talvez não as que esperamos, mas mesmo assim são saídas.

O peso do meu fardo não desapareceu. Ele grudou em mim como o frescor úmido da noite, penetrando em meus ossos e causando um desconforto contínuo. Era um peso que não conseguia remover completamente. 

Por algum motivo, lágrimas escorriam silenciosamente por seu rosto. Um gesto tão raro, tão vulnerável, que me pegou de surpresa.

— Qual é, cara, o que tá pegando?

Ele tentou enxugar as lágrimas com as mãos trêmulas, um esforço para conter uma emoção que transbordava de si. Era como se a barreira que ele construiu ao seu redor estivesse finalmente cedendo, permitindo que suas emoções fluíssem livremente.

— Sério, o que te fez assim? Isso é meio estranho.

— Obrigado… — Ele finalmente conseguiu dizer, uma palavra simples carregando o peso de mil emoções não ditas. 

O momento se estendeu entre nós, um espaço silencioso onde anos de sentimentos reprimidos poderiam finalmente se espalhar. 

— O mundo é cruel, mas… você não.

Suas lágrimas eram um testemunho de sua vulnerabilidade e, ao mesmo tempo, de sua coragem por deixá-las fluir. 

— Ah… claro. — Andei em sua direção para enxugar uma lágrima perdida. — O mundo pode ser um lugar muito difícil, mas isso não significa que todos devem ser.

Nunca antes, em toda a sua vida, ele havia encontrado alguém que o compreendesse tão profundamente, que o acolhesse em sua vulnerabilidade. 

Eu, por minha vez, senti que estava desvendando camadas do seu ser que ele havia mantido escondidas por muito tempo. 

Em meio à escuridão da noite, sob as estrelas cintilantes, estávamos nos abrindo um para o outro, construindo um laço que resistiria aos desafios que ainda estavam por vir.

— Pode me levar para casa da Amy?

— Quem é?

— Minha amiga.

— Oh… é mesmo.

Ao mencioná-la, um nome ecoou em minha mente: Marie.

Imagens desvanecidas dela surgiram. O seu riso contagiante, os momentos de cumplicidade e os momentos partilhados. No entanto, por detrás deste véu de memórias felizes, pairava uma lembrança negra. As recordações surgiram como fantasmas do passado, mas apertei meus olhos para apagá-los.

— O que foi? — perguntou ele.

— Nada. — Suspirei fundo. — Bom, se ela é sua amiga, tamo indo lá então. Só me guia pelo caminho.


O som dos meus passos ressoavam no pavimento.

Eu observava as fachadas das casas, que tinham uma variedade de estilos arquitetônicos e cada uma oferecia uma visão única. O bairro era tranquilo, com jardins bem cuidados e vasos de flores a adornar as varandas.

— A casa da Amy é ali, a última à esquerda. — Benjamin apontou para uma casa pintada com tons suaves, com luzes amareladas brilhando pelas janelas.

A caminhada prosseguiu e o ambiente urbano deu lugar a um bairro mais residencial. Casas com quintais espaçosos e luzes acolhedoras dão ao bairro uma atmosfera familiar.

À medida que se aproximavam da casa, os detalhes da arquitetura destacavam-se. 

A fachada da casa de Amy era uma mistura de tijolos expostos e janelas adornadas com cortinas que balançavam ligeiramente ao sabor da brisa.

— É bonito. — disse, avaliando a residência. — Depois do que aconteceu, não garanto que ela esteja aí. Parece vazia.

— Me espera aqui.

Ao aproximar-se da porta, Benjamin bateu levemente, revelando a ansiedade de um amigo que apresenta outro ao seu círculo pessoal. 

A antecipação encheu o ar enquanto esperavam por uma resposta, e o som abafado dos passos de alguém a aproximar-se ecoou pelo corredor do outro lado da porta.

A madeira rangeu suavemente quando a porta se abriu, revelando Amy, cujo sorriso caloroso dissipou qualquer resquício de nervosismo que pudesse ter pairado no ar. 

— Oi, Ben! 

Os seus olhos curiosos perscrutaram a figura do seu convidado, prontos para receber mais uma pessoa em sua casa.

— Olha! Ele é seu amigo?

O calor da recepção transformou-se num frio cortante que me percorreu a espinha. 

O sorriso caloroso da Amy, em vez de trazer conforto, provocou-me uma profunda confusão. 

Como um fantasma de um passado recente, Amy estava ali, aparentemente viva, mas os meus sentidos insistiam numa verdade mais sombria.

“Como caralhos?!”

O espanto apoderou-se da minha língua, transformando em silêncio qualquer saudação planeada. No entanto, algo sinistro estava à espreita na escuridão. Foi então que, como um pesadelo que se materializava, um vulto emergiu das sombras. 

— Benjamin!

Uma figura ágil, movendo-se com destreza predatória, convergiu rapidamente para ele. O ar pareceu congelar quando me notei ameaça iminente. Num movimento fluido e rápido, coloquei-me entre Benjamin e o recém-chegado, empurrando a criança para trás e assumindo uma postura defensiva.

Surpreendido pela resposta inesperada, ele ajustou a sua abordagem, reencaminhando o seu ataque para mim. Um objeto afiado, antes escondido na penumbra, brilhou brevemente na luz, e a intenção assassina se manifestou claramente.

Num instante de desespero e adrenalina, consegui esquivar-me parcialmente do golpe iminente, mas não escapei ileso. O objeto afiado deixou um rastro de dor na minha pele, um corte profundo que marcou a ousada defesa.

A dor aguda alimentou a minha mente, e eu insisti com um golpe rápido, afastando o indivíduo o tempo suficiente para me permitir segurar Benjamin e podermos recuar.

— Ah… merda.

O corte profundo marcou a minha pele no lado esquerdo do meu tronco, estendendo-se desde o topo do meu ombro até ao meio das minhas costelas.O sangue escorria, formando um rastro vermelho que lhe manchava a roupa e delineava a extensão da ferida.

— Benjamin Moore… Nossa, vejo que você fez um novo amigo. Ainda não o matou?

A voz de Fritz, contida e fria, perfurou o ar enquanto suas palavras pendiam como um desejo vil. A tensão se enroscou ao redor de nós como uma serpente prestes a atacar.

— Cala a boca, porra. — disse num tom alarmante. — Ou prefere que eu te cale à força? Tava querendo quebrar a cara de um estranho mesmo.

Uma expressão de surpresa nublou seu semblante por um momento. Suas feições geralmente compostas sendo surpreendidas por minha atitude desafiadora. A faísca de fúria dentro de mim ardeu mais intensamente, alimentada pela minha vontade de socá-lo.

— Corajoso… Um cão hostil, eu diria.

As palavras de Fritz estavam cheias de desdém puro, sua voz envolvida em uma certeza irônica que ecoava pelo ambiente. Seu sorriso mordaz abriu em seus lábios, revelando o prazer que ele tinha em subestimar a situação.

Meu olhar agudo, cheio de aversão, encontrou-se com o dele.

— Benjamin, o corajoso pretendente, pronto para defender sua amiga. Mas, como é engraçado que até mesmo os heróis mais valentes possam ser vítimas de destinos cruéis. 

Ele agachou-se ao lado da garota, passando os seus dedos sujos pelo rosto dela.

 — Amy, a donzela em perigo, esperando para ser resgatada.

Inclinou a cabeça, como se estivesse a contemplar uma obra de arte macabra.

— Ah, um casal moderninho e romântico. Um amor que floresce nas sombras da tragédia, como uma rosa cultivada em um jardim de espinhos. Veja bem, o amor é a arma favorita que o destino usa para nos ferir.

Ele deu uma risada baixa e doentia antes de continuar:

— O que é o amor, senão uma armadilha que vocês humanos criam para si mesmos? Uma teia entrelaçada com emoções torturadas, uma ilusão de redenção que muitas vezes leva à própria queda.

Parecia saborear cada palavra, como se estivesse a provar um vinho envelhecido, enriquecido com o sofrimento humano. 

Apesar de tudo, Amy ainda estava sorrindo inocentemente.

Benjamin manteve-se concentrado nela, sem se dar conta do esquema maléfico que estava a ser levado a cabo. 

Os olhos dela, no entanto, refletiam a opacidade de um destino brutalmente interrompido, em vez da luz da vida. 

Benjamin sentiu o choque do reconhecimento nos seus olhos, e então a realidade atingiu-o como um deslizamento de terra deprimente.

— Amy… 

O que restava dela era uma casca fantasmagórica da pessoa que ela tinha sido um dia. 

Benjamin deparou-se com a visão da morte, inevitável e implacável, como um abraço gélido de um destino certo.

— Tem que ser muito sem noção pra fazer uma parada dessa, né, ô seu arrombado?!

Ele parecia surpreendido com a minha reação, como se a minha agressividade desafiadora o tivesse apanhado desprevenido. Mas isto era apenas o início. As palavras afiadas e os olhares desafiadores eram apenas o começo.

— Não…

A dor e a raiva agitavam-se dentro de Benjamin como uma tempestade de emoções. Lágrimas derramadas pelo seu rosto, e os seus olhos ardiam com o calor da raiva controlada. O seu coração estava cheio de revolta e desespero, fazendo com que ele caísse impotentemente de joelhos sobre o chão. 

A visão de Amy presa a um destino injusto era como uma lança perfurando seu coração e enviando uma onda venenosa de desesperança por todo o seu corpo.

O grito contido dentro de Benjamin encontrou finalmente um escape.

— Eu te odeio!

Sua última sentença pendia no ar como um desabafo.

— Eu te odeio do fundo do meu coração!

Da sua esfera sombria, ele deliciava-se a observar a angústia de Benjamin. Os seus olhos estavam cheios de um desejo desumano enquanto saboreava cada segundo do desastre que tinha planeado.

Um sorriso abominável deformou o seu rosto, espalhando a alegria sinistra de um diretor a conduzir uma sinfonia de dor.

Carregado por essas emoções negativas, Klaus disse: 

⌊  Cicatrizes ⌉

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