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Seus pés faiscavam no chão, queimando como brasas. Lewis avançou em um ritmo colossal, reduzindo a distância entre nós para incríveis três segundos.

Seu pé esquerdo disparou em minha direção como um míssil teleguiado, mirando obstinadamente em minhas costelas.

O golpe foi desferido com uma elegância letal, demonstrando um grau incrível de habilidade, embora misturado com uma pitada de imprudência, o que contribuiu para o espetáculo emocionante.

Era um encontro, uma dança de fogo e agilidade juntos.

— Pensa rápido! — avisou antes do impacto.

Senti uma mudança interna, uma energia desconhecida correndo em minhas veias. Essa energia mutuamente concedida se fortalecia a cada momento, permitindo que eu organizasse meus movimentos de maneiras que antes eram inconcebíveis.

Então, diante do horror de seus golpes, concentrei-me em usar meu pulso como uma barreira para proteger a área-alvo o mais rápido possível.

O pé de Lewis atravessou o ar como uma lâmina afiada, colidindo com a fáscia extensora da minha mão.

A intensidade do ataque a estilhaçou como se fosse um vidro frágil e enviou ondas excruciantes de dor que percorreram meu corpo. 

Quando me vi no chão, contorcendo-me de dor, Lewis percebeu o quanto havia sido imprudente e ficou paralisado com o choque do que acabara de fazer. 

Durante esse intervalo, reuni toda a força que me restava, decidido a não ceder ao sofrimento e ao desespero, mas rapidamente entendi que até mesmo o menor movimento poderia significar uma catástrofe.

Minha respiração se tornou difícil, e cada respiração soava como um ruído contra o medo intenso que me corroía o peito. Uma nova onda de dor me percorreu quando olhei para minha mão, uma mistura de ossos e carne dolorida. Antes que eu pudesse me conter, um gemido sufocado saiu de minha boca.

— Ngh! — Continuei suprimindo um grito de ajuda. — Ah… doeu como o caralho…

Do outro lado, seu suspiro ecoou no espaço apertado, oco e com algo semelhante ao horror. Seus olhos, arregalados e sem piscar, foram para a minha mão e depois voltaram para o meu rosto. Uma onda de culpa o invadiu, tão forte que era quase visível.

Lewis contorceu suas feições, gravando linhas de arrependimento e de realização em sua expressão antes despreocupada. Ele parecia preso, entre a enormidade do que acabara de acontecer e o peso de suas próprias ações. 

— Ah, caramba… — sussurrou ele, passando a mão pelos cabelos. — Eu não queria fazer isso, de verdade, foi mal. Pensei que você ia se defender.

— É… — Com a voz trêmula, respondi: — … pensei a mesma coisa.

Mordiscou os lábios, visivelmente desconfortável.

— Eu realmente não queria que as coisas chegassem a esse ponto. — Desviou o olhar por um momento. — Uhm… Posso chamar Raven. Ela pode consertar isso, tenho certeza.

— E… quem é essa Raven?

— Bom… — Lewis arqueou a sobrancelha e levantou o queixo, com os olhos no céu. — Uma mulher incrível, de cabelos pretos, veste o mesmo uniforme que todo mundo…

Levantei-me sem nada dizer, apesar da enorme tensão que estava sentindo. 

Com a mão livre, dei um murro direto e forte no estômago de Lewis. O golpe fez com que o seu corpo se inclinasse para a frente e, no movimento seguinte, levei o meu joelho à sua face, machucando-o.

— Se vai ficar aí parado eu vou te descer o esculacho.

Talvez eu tivesse a coragem que nunca percebi que tinha diante de uma circunstância tão terrível. Eu não estava com humor para ter pena. Em vez disso, minha postura ficou rígida e meus olhos, pesados. Foi uma repreensão moderada, uma censura feita pelo poder absoluto de minha raiva contida.

— A-ah… — Ele gemeu de uma forma que poderia ter sido de dor ou prazer, depois um sorriso brincalhão se espalhou por seu rosto. — Bem…

Ele piscou, com um brilho de algo perigoso em seus olhos.

— Tô gostando disso.


Toc Toc

Depois de duas batidas, a porta se abriu, revelando Mikael entrando no escritório do vice-líder.

O escritório era um refúgio particular dentro do enorme edifício, situado no topo. Através das ripas inclinadas, a luz do sol da tarde atravessava a sala, lançando uma luz longa e curiosa. O ar estava carregado de uma tensão indefinível, não muito hostil, mas definitivamente não despreocupada.

A sala era um enigma intrigante. Pilhas proeminentes de documentos e arquivos bem etiquetados coexistiam sobre a mesa com laptops abertos que exibiam fluxos de dados misteriosos. Dossiês perfeitamente alinhados ocupavam um canto, enquanto uma massa desorganizada de papéis soltos cobertos de anotações escritas às pressas ocupavam outro.

Os detalhes exclusivos do espaço sugeriam uma história que não estava escrita nas paredes, mas sim gravada na variedade incomum de artefatos. Livros antigos que detalhavam intrigas políticas que há muito haviam desaparecido da vista do público estavam lado a lado com livros empoeirados sobre ocultismo e suas capas de couro que haviam se desgastado com o tempo. Eles eram os confidentes de inúmeras noitadas, prova da sua erudição.

A vice-líder estava intensamente concentrada enquanto digitava em seu notebook, folheava relatórios e consultava os bancos de dados dos Mephistos.

— Opa, desculpe interromper. — disse ele, fechando calmamente a porta. — Caramba, até esqueço o quão metódica você é.

Ele notou que um painel de cortiça gigantesco ocupava toda a parede. O painel estava coberto de fotos e anotações abrangentes. 

Cada imagem era cercada por recortes de jornais, post-its coloridos e observações escritas à mão que retratavam uma criatura estranha diferente. 

As características e o comportamento da espécie foram meticulosamente registrados nessas anotações. Cada detalhe ali registrado continha conhecimentos úteis sobre tais.

— Tem meu total respeito, sério. Nem eu sou capaz de algo assim. — quando reparou em um detalhe particular, comentou: — Olha só, não sabia que você guardava pets por aqui.

Um aquário estava disposto no escritório, criando um pequeno oásis de serenidade. O aquário ficava em uma prateleira de madeira escura com enfeites elaborados, cercado por uma auréola de luz natural que entrava pelas cortinas entreabertas. 

As plantas aquáticas ondulavam suavemente no fluxo criado pelo filtro, enquanto os peixes Betta splendens exploravam os ângulos do tanque, produzindo uma exibição movimentada de cores.

Mikael aproximou-se para enxergá-los melhor.

— Hahaha, que legal! — Ria como quem estivesse se divertindo. — Acho que a Mandy iria amar ver isso.

— Pois não, Mikael?

Seus olhos fitava-o com austeridade e seu tom de voz era ríspido, fazendo-o tornar a postura formal.

Ahem. — ao fazer uma pausa e limpar a garganta, prosseguiu: — Estou aqui para discutir o destino do garoto.

— A decisão já está tomada. Não pretendo alterá-la.

— Entendo, entendo. Contudo, acredito que ele não merece um destino desse. Krynt nunca teve controle sobre sua natureza desde o início.

— Esse assunto também já foi debatido. O que você realmente deseja?

Mikael, antes de pisar no escritório, tinha pensado na possibilidade que sua ideia poderia dar errado, no entanto, decidiu arriscar.

— Gostaria que o Krynt entrasse para a força-tarefa.

Isto foi o cúmulo que fez a sobrancelha da vice-líder torcer junto a uma mistura de desgosto e perplexidade em seu rosto.

— Isso não afetará apenas nosso trabalho, mas também terá repercussões para mim e todos os que trabalham aqui. Você sequer pensou nisso?

— Já havia considerado que essa questão poderia surgir, mas não será um problema. O garoto está sob minha supervisão. Tenha a certeza de que manterei tudo sob controle.

Com uma postura equilibrada e olhos incisivos, Mikael transmitia uma convicção incontestável em suas próprias habilidades. No entanto, ele mesmo sabia que suas ações anteriores haviam deixado um rastro de incertezas, marcado por escolhas impetuosas e decisões mal pensadas.

Só que, desta vez, ele estava pronto para mudar essa narrativa.

— Suas decisões costumam nos causar prejuízos e colocar nossas vidas em risco. Por que, então, você deseja trazer o garoto para cá?

— Os Mephistos estão evoluindo rapidamente, adaptando suas táticas e se tornando cada vez mais difíceis de combater. Krynt, apesar disso, é o mais indicado para lidar com eles. Contar com ele do nosso lado nos daria uma vantagem estratégica significativa. Na verdade, a integração de Krynt em nossas operações poderia reduzir potencialmente as baixas de Mephistos e diminuir a taxa de mortes de inocentes, que tem aumentado a cada ano desde 2019. Essa é uma oportunidade crucial que não podemos nos dar ao luxo de perder, já que poderia salvar inúmeras vidas e virar a maré a nosso favor.

A vice suspirou, reconsiderando o que dissera.

— Ele ainda é um jovem incapaz de lidar com ameaças maiores do que ele. Temos dois novatos tão novos quanto Krynt, e nenhum deles está preparado para enfrentar uma ameaça mortal de classe. Se o colocarmos em perigo só porque o consideramos um inimigo natural, isso não será favorável à sua condição atual.

E naquele momento, o ar de confiança que o envolvia abrandava, um testemunho de sua incapacidade de enfrentar desafios inimagináveis. No entanto, sua força ainda permanecia enraizada na confiança em si mesmo e em sua habilidade inegável de transformar sua visão em realidade.

— Isso é uma questão de tempo. — Um sorriso resoluto se fez em sua faceta tranquila. — Da mesma forma que conseguimos elevar o nível de Lewis e Mandy para enviá-lo às missões de classe regular, significa que o caso de Krynt não vai ser diferente. O que você realmente precisa é acreditar na próxima geração.

Mikael não precisou recorrer a gestos teatrais ou eloquência exagerada para comunicar sua decisão. As palavras que ele pronunciava eram como um prego sólido, fixando-se firmemente no cerne da questão. 

Sabia da situação perigosa, mas não hesitou em expressar sua crença de que suas capacidades eram confiáveis. A ousadia de suas intenções era equilibrada pela firmeza de suas convicções.

— Sendo assim, garanta que ele não vá causar qualquer tipo de dano severo em caso de possessão. Essa é a sua única tarefa. Espero que entenda o que está fazendo.

— Eu posso dar conta, você sabe. — virou-se para sair, mas com um olhar de canto, prosseguiu: — Nesse mundo ele está no meu domínio.

As palavras que saíram de sua boca foram cuidadosamente escolhidas, carregadas com um peso que indicava uma profundidade de entendimento além de sua idade. 

A vice-líder observava-lhe, os olhos cautelosos, mas com um brilho de curiosidade emergindo. 

A imaturidade que antes havia obscurecido a percepção de Mikael começou a ceder à revelação de um amadurecimento notável.

De repente, pouco antes dele cruzar a porta, um estrondo ecoou até o local.

— O que está acontecendo? — perguntou ela.

— Ah… é mesmo. Eles estão lá fora.

Eles quem?


A tensão que se fazia sentir no recinto intensificava-se a cada evasão eficaz, a cada golpe evitado. Os meus passos rápidos no chão eram abafados pelo crepitar das chamas. À nossa volta, rodopios de chamas e faíscas ondulavam.

Movi-me rapidamente para aproveitar ao máximo a pausa de Lewis na resposta. 

Com um movimento rápido, a minha mão bateu-lhe na barriga nua. Ouvi um som abafado quando a colisão forçou o ar a sair dos seus pulmões. 

Lewis recuou centímetros para trás, ligeiramente fraquejando, mas o seu ímpeto feroz manteve-se inalterável.

Os músculos dele se contraíram com rapidez enquanto se afastava, e o movimento que fez foi uma demonstração incrível de precisão. 

A perna esquerda ergueu-se perfeitamente, apoiada na outra, e a sua postura lembrava uma figura de um antigo guia de artes marciais.

O calcanhar de Lewis estava quase insuportavelmente quente, uma sensação abrasadora que antecedia o impetuoso golpe. 

A força inerente àquele pontapé fazia tremer o ar. 

“Esse cara não para de se mexer igual uma mosca chata. Se eu não agir rápido, ele vai me derrubar fácil.”

Eu tinha consciência de que estava a enfrentar um especialista suscetível de causar danos insondáveis.

Quando dei por mim, estava a desviar-me de um golpe que se dirigia à minha cabeça, curvando-me no último segundo para evitar o que era impensável. 

— Excelente movimento! — elogiou, satisfeito. — Você aprendeu rápido!

O meu coração batia num frenesim, acompanhando o ritmo dos obstáculos que se aproximavam.

Dobrei os joelhos em instantes e deslizei o meu pé esquerdo sobre a sua perna de apoio, prejudicando o seu equilíbrio e levando-o a cair. 

A investida ousada foi eficaz, porém Lewis impulsionou o seu corpo para a frente com uma agilidade espantosa antes de cair sobre a outra perna.

O ruivo, com grande energia, retrocedeu num movimento quase magistral com a perna que lhe restava. Girou no ar como um louco, traçando um arco ascendente a partir da perna livre e lançando-se à minha direção.

O meu cérebro entrou em alerta máximo à medida que eu reagia tão rapidamente como uma chita em perseguição. 

Ao afastar-me, consegui evitar o golpe mortal por uma fração de segundo. 

O vento gerado pela passagem de Lewis fez-me arrepiar os cabelos, e eu sentia o calor abrasador que emanava dele. Era uma dança perigosa em que milímetros significavam a diferença entre a vida e a morte.

— Quase lá. — Sentiu-se genuinamente impressionado. — Você realmente manda bem na luta.

— Tô curioso sobre esse estilo. Juro que nunca vi nada parecido.

— É um estilo exclusivo do Clã Agni, com ênfase em chutes.

— Hmm… — Fiz-me de entendido. — Também sou versado em uma arte marcial.

— Interessante. — Um sorriso animado se desenhou em seus lábios. — Vamos lá!

A luta foi retomada, um duelo sem fim. Era uma guerra de habilidade selvagem entre a ferocidade dos socos, onde as armas eram as mãos e os pés e o combate corpo a corpo era a única lei.

Entendemos que não poderíamos manter esta dança letal indefinidamente.

Era uma corrida para ver quem aguentava mais tempo. Eu e o Lewis éramos combatentes e não íamos deixar que a nossa energia diminuísse. 

O único objetivo era ganhar.

A minha obstinação atingiu um novo grau no momento em que o garoto disparou o seu pontapé no meu caminho. 

Com um impulso, agarrei a perna dele com uma força firme e segurei-a sob o meu braço direito como se a minha vida dependesse disso. 

Era um teste de força e habilidade.

Comecei a torcer o membro preso. Apesar dos seus protestos, ele não conseguiu parar o impulso da rotação. 

Quando o atirei para o lado oposto, como um míssil errante, o ar pareceu estalar com a força do movimento.

— Segura!

O choque do que tinha acontecido ecoou por todo o campo de batalha. Nem eu conseguia acreditar no pretendido. 

Lewis estava a quatro metros de distância, no entanto, o mais espantoso é que continuava de pé, como um felino valente.

— Você tem malhado o braço, né? Tá forte! — ele exclamou, animado.

— Se eu te contar, você não vai acreditar. — retruquei com um sorriso travesso.

— Ah, me dá umas dicas depois, ando precisando melhorar também.

— Infelizmente, não dá para fazer isso. Nem todo mundo nasce com esse talento, sinto muito. — concluí, de forma descontraída.

Certas ações impulsivas muitas vezes nos colocam em situações inesperadas. Percebi que tinha sido precipitado ao subestimar a força de Lewis.

Seus olhos faiscavam de raiva, e eu havia atingido um ponto em que o ódio se transformara em poder.

O ceticismo sobre seus esforços se tornara uma realidade inegável, uma chama ardente que queimava com fúria. Era como se uma mentira tivesse se tornado uma verdade incontestável, uma força que ele canalizava para enfrentar todas as dificuldades.

— …

— Mano?

Lewis odeia isso.

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